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    Yoou estava parado em frente à grande porta, esperando que algum colega pedisse sua ajuda. Ele brincava com o cubo azul que havia usado para prender a maga momentos antes, jogando-o para cima e apanhando-o em um ritmo compassado e constante. O local estava silencioso agora, o círculo ritualístico desfeito e as portas desaparecidas, revelando apenas duas saídas: uma escadaria e uma longa porta obstruída por um robusto tronco.

    A tranquilidade de Yoou foi abruptamente interrompida quando ouviu passos apressados atrás de si. Virando-se, ele ficou surpreso ao ver um enorme meio-lobo, Pacificador, segurar um elfo e partir seu corpo em dois diante de seus olhos.

    — Pacificador? — exclamou Yoou, perplexo. — Ah, merda! Achei que viriam pelo outro lado!

    O gigantesco Doberman nem se dignou a olhar para ele. Sem uma palavra, lançou o cadáver partido escada abaixo e voltou sua atenção para a sala, onde um enorme buraco circular na parede e um círculo ritualístico começavam a brilhar novamente.

    Yoou observou, intrigado e frustrado. “Eu podia jurar que havia destruído o círculo com a sua invocadora,” pensou ele, vendo as runas élficas se ativarem e iluminar a sala com um brilho esverdeado.

    A atenção de Yoou foi então capturada por uma flecha que atravessou a sala, mirando diretamente na cabeça de Pacificador, que estava de costas para o atirador. O guerreiro segurou o projétil no ar, sem mesmo olhar para trás. Ele fungou o ar, cheirando a aproximação inimiga.

    Soliana, a arqueira da guarda real, estava com a flecha em mãos, apontando para os dois membros do exército de libertação.

    — O que fizeram com Tália? — gritou ela em fúria.

    Os dois se entreolharam, e Pacificador tomou a dianteira na palavra:

    — Meu oponente era Mirthal, então acho que essa é por sua conta Yoou.

    — Beleza. — Conformou-se ele, esticando as mãos e se preparando para um novo duelo. — Contra quem você lutou? — Yoou observou atentamente o uniforme dela, a túnica verde com fios dourados ainda intacta. — Não foi contra Harpia, Lótus ou muito menos Khan. Dragonslayer não caiu conosco, então só resta o Xerife. — Ele riu. — Você conseguiu derrotar aquele velho cuja única magia útil é a de reflexão? Você não usa magia de dano direto, se usasse, estaria morta agora.

    Yoou tomou uma posição de cautela, percebendo que sua nova adversária era forte o bastante para ter derrotado um membro do exército de libertação. Soliana preparou uma nova fecha, enquanto Yoou preparava seus discos.

    Nenhum dos dois obteve sucesso. Um vulto esquelético, trajado com o casaco de Xerife, transpassou uma parede e apareceu no meio do comodo.

    — Sua sentença foi bem clara… — Os olhos vazios da caveira se encontraram com os olhos castanhos de Soliana. — Eu disse MORTE!

    Assustada pela aparição da criatura fantasmagórica, Soliana disparou sua flecha contra o esqueleto, mas o projétil apenas atravessou a entidade intangível. A mão cadavérica agarrou o pescoço da elfa, apertando-o sob o olhar desesperado da arqueira.

    Soliana desabou no chão, desacordada, enquanto o corpo de Xerife lentamente se restaurava à sua forma original.

    — Pensei que fosse matá-la… — comentou Yoou, desapontado. — O que aconteceu para que ela escapasse de você?

    — Apenas uma covarde — respondeu Xerife de forma ríspida, recarregando sua arma.

    — Mais uma para minha coleção. — Yoou se aproximou do corpo e o tocou com as mãos, transformando Soliana em mais um de seus cubos.

    — Não estou gostando desse círculo de ritual, está ficando cada vez mais forte. — disse Pacificador, retornando à sua forma humana.

    — Prendi a conjuradora original, não pode ser um ritual de magia de reforço — afirmou Yoou, ajoelhando-se para analisar os símbolos rúnicos com mais atenção. — Como está o seu élfico antigo, Xerife?

    — Não o uso há quase duzentos anos, vai demorar um pouco — explicou Xerife.

    Conforme ele se aproximava do círculo brilhante, seus olhos se encheram de pavor e medo.

    — Maldito seja o Imperador que nos usou como marionetes! — praguejou, tomado de ira.

    — O que aconteceu? O que está escrito aí? — questionou um confuso Yoou.

    — Não viemos para tomar a cidade, viemos para ativar esse ritual… Ele precisava de muito sangue mágico no solo para ser ativado, e o Imperador sabia disso. É pior do que pensei.

    — Por que não chama o Imperador pelo nome? — perguntou Yoou, intrigado.

    — Se você falar o nome dele, vai ativar o último passo do ritual, não faça isso – alertou Xerife, se afastando do círculo.

    — Qual o problema de falar Erobern? — Pacificador fez justamente o que Xerife temia.

    — Idiota! 

    O círculo se apagou, juntamente com todas as tochas e lamparinas que iluminavam a sala. Do chão, ergueu-se uma mulher de aparência divina, que cativou os olhares dos três homens. Ela segurava uma ampulheta na mão direita e uma cajado com uma cobra na outra. A cobra do cajado engolia sua própria cauda.

    — Iniciando procedimento para o início de um novo ciclo, deseja continuar? — Ela olhou fixamente para Pacificador, que a encarava de forma atônita.

    — É o quê? — respondeu ele ao recobrar os sentidos.

    — Início do quadragésimo segundo ciclo configurado, deseja alterar a geografia mundial? — Ela continuava a olhar para Pacificador, esperando a resposta dele.

    — Como assim alterar a geografia mundial? — Yoou questionou para Pacificador.

    — Seria bom, detesto o lugar onde nasci, gostaria que fosse perto da praia e do mar, não nas montanhas. — Ele pensou em voz alta.

    — Fiquei quieto! — bradejou Xerife.

    — Novo mapa atualizado, versão atual 3.1 — A mulher ficou parada por um momento, como uma estátua. — Deseja manter os heróis?

    — Não, os heróis devem exterminados. — Pacificador respondeu uma terceira vez sem pensar muito.

     — Peço desculpas, permissão negada. — A mulher girou a ampulheta na mão, e a cobra se enrolou ao redor de seu pescoço. — Encerrando o quadragésimo primeiro ciclo, motivo da falha: morte do receptáculo. Iniciando o quadragésimo segundo ciclo. A falha de Erobern em adquirir um corpo saudável resulta no não cumprimento da profecia dos deuses e no fim de Testfeld. Erobern deve ser capaz de lutar em igualdade contra os heróis; qualquer cenário alternativo é considerado uma falha e deve ser reiniciado imediatamente.

    Ela bateu o cajado no chão, e a cobra picou seu pescoço. Tudo se tornou uma luz intensa, cegando os três membros do exército de libertação. Quando retomaram a visão, sentiram seus corpos se movendo para trás, repetindo as ações que haviam tomado antes. Yoou viu, apavorado, enquanto removia o cubo de Soliana de seu casaco e a colocava de volta, deitada. A cada segundo, suas ações revertiam-se em um ritmo cada vez mais intenso, até o ponto de não conseguirem discernir o que acontecia.

    Tudo voltava ao seu ponto de origem…

    Era o início do 42º ciclo, uma nova tentativa para a sobrevivência de Testfeld.

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