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    Por ora, seu ponto de reunião com a Santa seria o cômodo secreto da biblioteca.

    — Então, Sprout Ruderalis é, na verdade, uma Dríade… — murmurou Minerva Clergyman, com o dedo no queixo fino. — E posso saber qual o motivo para ela te revelar esse segredo? Não parece ser algo que outra pessoa do campus saiba.

    — Não posso contar.

    — Entendo, suponho que eu ainda não seja tão confiável assim. De maneira semelhante, não confio em você para compartilhar algumas informações.

    Um silêncio inquietante surgiu após o fim da fala da Santa. Esse lugar tinha um ar muito pesado, principalmente pelo fato do corpo do bibliotecário permanecer ali, sentado na mesma pose do momento fatídico.

    Minerva ergueu uma barreira no lugar para ocultar ainda mais sua presença, contudo isso fez a aura da deusa Lucy se espalhar por todo o lugar, reagindo ao Fator Divino de Kurone.

    “Fator Divino” era um termo novo que a garota à sua frente cuidou de explicar — era nada menos que a presença da aura de um deus em um corpo mortal. Esse fator era o principal responsável por Minerva desconfiar tanto de Kurone.

    — Quanto ao seu encontro com a Inquisidora…

    — Sim, também concordo que é melhor você ficar por perto, só por garantia. 

    — Tentarei, mas por possuir um Fator Divino em sua Arma Lendária, não poderei me aproximar muito sem levantar suspeitas. — A Santa levantou-se, indo pegar algo em sua bolsa próxima a uma prateleira. 

    — E isso?

    — São fórmulas da pesquisa do bibliotecário. É muito perigoso eu ficar com todas, ainda mais considerando que Azazel van Elsie roubou todas as que estavam com o bibliotecário no momento que retirou sua alma.

    — Parece que vou ter problemas se eu aceitar isso — suspirou Kurone.

    — E vai mesmo. Não é que eu confie em você, mas as fórmulas fragmentadas não valem de nada, de qualquer forma. Por isso ainda temos uma vantagem sobre Azazel van Elsie: ela não deve saber com quem está o resto das fórmulas.

    O que a Santa tinha em mãos eram diversas folhas sujas, como se uma xícara de café derramasse seu conteúdo sobre elas. O garoto pegou com cuidado cerca de vinte folhas, com instruções quase ilegíveis para ele — havia vários desenhos de círculos mágicos na maioria das folhas.

    — Não acha muito arriscado isso ficar com só duas pessoas? É melhor esconder e fazer um mapa do tesouro.

    — Como consegue brincar em uma situação dessas? — inquiriu a jovem loira, um pouco irritada. — Mas não digo que você está completamente errado, por isso já diluí um pouco dos riscos antes mesmo do início das aulas.

    — Posso saber como?

    — As armas que dei de presente para a senhorita Cynthia na última visita, dentre elas havia um pergaminho com algumas fórmulas. Orientei a senhorita Cynthia a guardar todos os presentes no Tesouro de Karllos Sophiette.

    — Boa jogada, dona Santa, mas apenas por curiosidade, qual era a cor do tubo do pergaminho?

    Minerva pareceu confusa com a pergunta repentina, mas logo respondeu:

    — Vermelho com amarelo. Por que pergunta?

    — É que… Cynthia trouxe uma mala cheia de bugigangas pra cá, e entre as tralhas tinha um tubo de pergaminho nessa cor.

    Não é preciso descrever o quanto os olhos da Santa se arregalaram ao ser frustrada dessa maneira.

    Uma escuridão sem fim, devido à presença de nuvens densas no céu, tomavam conta do campus da Universidade Mágica nesse momento. 

    Kurone foi obrigado a usar seus outros sentidos para se localizar. Não estava tão tarde, a ausência de alunos nos corredores era exatamente por conta das trevas incomuns, esse cenário era estranho, isso só tornava o seu encontro com a Inquisidora mais perigoso.

    [Ela ficará em alerta máximo.]

    “Valeu, Ellohim, meu senso de perigo tá apitando, ainda mais com esse lugar esquisito aqui que ela escolheu.”

    O garoto olhou para cima. Não precisaria andar muito para chegar ao local que encontraria a Heroína Ádvena, e o problema era exatamente esse: o ponto de encontro era o telhado dos dormitórios.

    Kurone materializou a sua faca de combate militar de curvatura esquisita e, chutando o chão sob os seus pés com força, alavancou. 

    Apesar de ter dominado diversas habilidades nos últimos tempos, a levitação ou vôo estavam fora do seu alcance, o que fazia para chegar ao alto era simplesmente impulsionar-se, cravando a faca curvada na parede e se lançando novamente para o alto.

    Em pouco tempo, chegou ao seu destino.

    A silhueta de uma garota com o corpo magro envolvido em um moletom e os cabelos longos sendo balançados pelo vento frio surgiu em seu campo de visão. 

    Devagar, ela virou-se para ele, mesmo a escuridão não conseguia ocultar a beleza do seu rosto jovial. 

    — Foi um lugar peculiar que você arrumou pra gente conversar — falou limpando a poeira, tentando quebrar o gelo.

    Ainda não teve a oportunidade de ter uma conversa real com a Inquisidora e não sabia como deveria lidar com a situação, afinal a sua expressão indiferente impossibilitava que entendesse como era a personalidade dela.

    De repente, ecoou o som de algo cortando o ar pela escuridão.

    — Iolite… o que você busca na Universidade Mágica? — questionou a Heroína Ádvena, apontando a ponta da sua katana para o jovem à sua frente. — Os dados das minhas pesquisam apontam que você é claramente alguém com segundas intenções.

    — Parece que você andou xeretando a minha vida por aí, não é mesmo?

    — As fórmulas.

    Hm?

    — Eu sei que você tem as fórmulas desenvolvidas pelo senhor da biblioteca. Se me entregá-las, não irei lhe punir, afinal sou justa. Eu jamais quebraria minha palavra.

    Mentiria se dissesse que o seu coração não acelerou. A Inquisidora era direta e não desejava esconder as suas intenções como faziam os outros. 

    — Não sei do que você tá fa…

    Vosh!

    Uma corrente de ar violenta foi em direção a Kurone, obrigando-o a saltar para o lado, a fim de evitar ser atingido. 

    — Não minta. Mentira é um pecado imperdoável. A mentira deve ser punida severamente — disse a garota, com o cenho franzido. Ela estava genuinamente irritada com as palavras de Kurone.

    — Posso saber o que te faz pensar que eu tô mentindo?

    — Eu sei da sua relação com o homem da biblioteca. Então, irá me entregar as fórmulas?

    — E o que você vai fazer com elas?

    — Não é óbvio? Queimarei. Ir contra as leis da natureza é um pecado repugnante. Ninguém deve almejar a vida eterna. Demônios são imundos porque utilizam de seus truques para aumentar o seu tempo de vida neste mundo. Dê-me as fórmulas e eu prometo queimar todas.

    Novamente, ela foi direta. Kurone podia sentir que não havia mentiras nas palavras dessa garota. Hime, a Heroína Ádvena, buscava apenas punir os pecadores e deixar as coisas em ordem. 

    Se o seu objetivo não fosse se tornar um pecador e alcançar a vida eterna, colaboraria sem pensar duas vezes, porém…

    — Eu deixei as fórmulas em Sophiette porque aqui não é seguro — disse com firmeza. — Azazel van Elsie pode atacar a Universidade Mágica a qualquer momento.

    — Azazel van Elsie é o maior dos seres profanos, mas será punida caso tente atacar a Universidade Mágica. 

    Por algum motivo, sentiu o seu corpo mais leve ao saber que havia ali alguém que poderia lidar com a terrível demônia. Essa garota, como poderia odiá-la quando ela era tão direta e justa? Kurone Nakano era o verdadeiro vilão nessa história.

    Tsk… Tá bom, tá bom, você venceu. Eu vou mandar o pessoal trazer algumas coisas de Sophiette, e as fórmulas juntas a essas coisas, vai demorar pelo menos uma semana pra primeira carruagem chegar aqui pelas rotas mais seguras. Vou pedir pra que sejam enviadas em carruagens diferentes, só por garantia, então em pelo menos um mês deve tá tudo comigo.

    — Ótimo, estarei aguardando.

    Hm? Caiu nessa assim tão fácil… Quero dizer, que baita confiança em mim, hein?

    — Acreditarei que você não está mentindo, pois sabe que se estiver, será punido com uma morte dolorosa. Mentir é um pecado, e o salário do pecado é a morte.

    Sem dar tempo para o garoto pronunciar qualquer coisa, a Inquisidora saltou e desapareceu na escuridão.

    [Ela acha que a Heroína Ádvena não estava brincando sobre a morte dolorosa.]

    “Tô sabendo.”

    Suspirou profundamente. Tinha que pensar em alguma coisa para lidar com a essa pessoa que poderia se tornar a sua verdadeira inimiga. Apesar de ser muito extrema, essa Hime não era uma má pessoa, não poderia simplesmente tentar matá-la — talvez nem conseguiria.

    “Tem algo errado aqui, eu tô me aliando com os bandidos e ficando contra as pessoas boazinhas…”

    [A Celestial pensa que você sempre esteve mais no lado da escuridão do que da luz.]

    “Não precisa jogar na cara que eu não sou um cara bom sem a Nie.”

    Ahhh, escutou tudo? — Kurone disse de repente para a pessoa que surgiu às suas costas.

    — Sim. Você tem talento para mentir, falou com bastante confiança algo improvisado tão de repente — disse Minerva. — Quero ver como vai escapar de tantos problemas, principalmente desse. — Ela apontou para a escuridão no céu.

    — O que quer dizer?

    — Já deve ter notado que essa escuridão não é normal. Alguém está viajando pelo reino sem querer ser notado. Essas trevas são algo para confundir os sentidos, e para ter se estendido até aqui, o responsável deve querer chegar no território da Universidade Mágica.

    Engoliu em seco. Tinha tantos problemas ultimamente que o responsável pelas trevas podia ser qualquer pessoa da sua lista. 

    Todos tinham motivos para encontrá-lo, mas poucos vinham com a intenção de deixá-lo vivo. 

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