Índice de Capítulo

    Saltando para cima das árvores, Theo se encontrou com o demônio. Ambos se encaravam friamente e preparando suas chances definitivas de concluir aquilo da forma mais rápida.

    Os galhos das árvores saltaram para cima como um exército de chicotes, ricocheteando na própria atmosfera e se chocando casualmente. Os movimentos ágeis e fortes causaram uma certa perturbação na atmosfera, tal feito que não incomodou Theo.

    Assim como faz com os vetores do vento, Theo tentou se expandir para além do corpo; manipular a energia dos átomos e moléculas visando criar uma combustão com o próprio ambiente. Em questão de segundos, uma pequena região da floresta explodiu para o céu, deixando apenas uma nuvem flamejante para trás.

    Repentinamente, Theo surgiu frente ao demônio empunhando sua espada enquanto despencavam para o chão.

    A lâmina da zweihänder brilhou intensamente em amarelo.

    Theo não precisou falar, apenas pensar para que o corpo reagisse ao comando da ignição base.

    “Primeira configuração; Minguante!”

    A zweihänder cortou o ar deslizando na atmosfera, como a mais afiada das facas cortando uma fina folha de papel. E então, ao concluir uma meia-lua, três cortes de energia em formato de uma lua minguante se deslocaram da espada de Theo e partiram contra o braço direito do demônio.

    Um dos cortes atingiu a ponta do chifre, enquanto o segundo feriu superficialmente o ombro e o terceiro chegou para arrancar o braço do demônio.

    Cravando seus pés no peito do demônio, Theo agarrou seu chifre com a mão esquerda e criou uma explosão de vento, imbuída com fogo, para jogá-los contra o chão. Assim que o demônio teve seu corpo cravado no chão, Theo saltou para longe e se preparou para o contra-ataque.

    De repente, o demônio saiu do incêndio florestal, causado por Theo, e desferiu uma barragem com o único braço restante. Theo se viu encurralado por alguns instantes, até se distrair por completo.

    A zweihänder, embora tenha um encantamento para deixá-la leve, ainda era grande demais para o porte físico de Theo. Aquele detalhe o incomodava, e este foi o motivo de seu desvio.

    No momento que ele parou para pensar nisso, o demônio cravou o punho no ligamento do cotovelo de Theo e o jogou para longe. O rapaz atravessou as árvores incomodado com a dor de seu braço, mas cravou a espada no chão e tentou parar o movimento forçado.

    Ele se levantou e aproveitou a espada cravada no chão, pegando no cabo e despejando a frustração em um grito de rasgar a garganta, Theo partiu o solo com sua zweihänder enquanto pensava noutra configuração.

    “Segunda configuração; Lua Calamitosa!”

    Sete cortes, ainda em formato de meia-lua, rasgaram o solo e ascenderam ao céu. 

    Retirando a zweihänder do chão, Theo apontou na direção dos cortes.

    “Terceira configuração; Tempestade negra!”

    Os sete cortes desmoronaram contra o demônio e, antes de encostar no chão, dezenas de pequenas meias luas começaram a girar contra o monstro. Os pequenos cortes, embora ágeis, serviam apenas como um bumerangue; rasgavam superficialmente a pele do demônio e voltavam a girar pelo ar.

    Distribuindo energia por sua pele, visando criar uma armadura de energia, o demônio tentou se proteger dos cortes de Theo.

    A espada caiu no chão, pois Theo havia fraquejado. Ainda que a energia do núcleo não tivesse sido gasta nem pela metade, ele já estava exausto. Tentando se apoiar na espada, um lamento genuíno escapou de seus lábios:

    — Desculpa…

    Ao notar o que falou, ele se irritou com si próprio.

    — Desculpa é o caralho! Por que eu me desculpei?!

    Seus olhos se arregalaram pois, sem perceber, o demônio escapou dos cortes e surgiu o golpeando novamente. Desta vez, o monstro estava irritado; cortes superficiais estavam por todo seu corpo e um líquido viscoso jorrava. 

    Theo sentiu apenas uma pressão esmagadora acertando a lâmina da zweihänder e o jogando para longe. Criando um ponto de pressão, Theo conseguiu parar no ar antes de se chocar contra uma montanha de pedras.

    No entanto, o demônio surgiu diante dele desferindo um gancho com o braço restante, o monstro suspendeu Theo no ar e, posteriormente, o chutou com a canela, cravando-a na costela do jovem. Sem deixar o rapaz se recuperar, o demônio surgiu novamente apenas para acertar-lhe um jab no rosto.

    Theo foi jogado para em uma abertura na montanha. O lugar era escuro e pouco estreito, semelhante a um corredor de castelo.

    Mesmo zonzo pelos impactos repentinos, Theo criou uma espécie de reação em cadeia, tal qual gerou explosões para fora daquela estrutura. A explosão saiu da montanha e cobriu o demônio.  Ainda assim, este saiu intacto daquela nuvem de explosões emanando uma sede de sangue insaciável. 

    Ao invés de tentar rivalizar, Theo se impulsionou para trás com o vento. Ele buscou correr para dentro daquela estrutura, pois sabia que não conseguiria mais bater de frente com o demônio. 

    Pelo menos não exausto daquele jeito.

    Após tanto fugir do demônio, Theo enxergou uma luz azul no fim do túnel. Não era algo tão chamativo, mas causava um sentimento confortável e seguro. Sem raciocinar duas vezes, Theo se impulsionou para a fonte da luz.

    Com sua última explosão de vento, Theo aumentou drasticamente a distância entre ele e o demônio. No cessar de seu último impulso, Theo caiu num chão frio que emanava energia por todos os cantos. Ele pensou em averiguar o lugar, mas um grunhido afiado de dor, remanescente do próprio demônio, entrou em seus ouvidos.

    Por instinto, Theo escondeu sua cabeça debaixo dos braços e se calou. 

    Tentando ignorar sua exaustão e fraqueza, buscou ignorar o demônio, ainda que não fosse a melhor decisão naquele momento. Porém, dados todos os motivos do cansaço, ele não pensou muito bem na própria sobrevivência.

    Alguns segundos se passaram e Theo criou coragem para retornar contra o demônio. Afinal, se não tivesse o matado, então devia estar esperando o jovem recuperar força o suficiente. Demônios não era o forte do conhecimento de Theo, mas ele sabia que, mesmo dentro da raça mais traiçoeira e moribunda do universo, alguns demônios ainda possuíam a honra do rei do inferno.

    Theo agarrou sua zweihänder e se virou rapidamente, no entanto, para sua surpresa, encontrou o motivo para o qual o demônio não havia o atacado.

    O monstro tinha sido petrificado por uma lança de energia que atravessava seu peito. Theo começou a ofegar de satisfação, ao nível de lacrimejar por ainda estar vivo.

    Foi a primeira vez que aquela sensação lhe abraçou. Ainda era um pouco de frustração, pois ele tinha absoluta certeza da vitória contra o demônio. No entanto não aconteceu, e isso lhe causou uma grande insegurança.

    O jovem cravou a espada no chão e a utilizou como apoio para se levantar.

    — Vai se foder — xingou a si próprio. Seu linguajar se tornou livre após a assimilação. — Para de lamentar. Você está vivo, esse é o ponto principal.

    Theo bocejou e olhou para trás, tal onde estava a fonte da luz azul. Ele conseguiu entender o lugar que estava; era uma enorme sala circular, sustentada por pilares de pedras que tinham algumas tochas quase apagadas. Em sua frente, estava um enorme altar circular, feito por uma passarela de plataformas que se completavam por degraus. 

    Um caminho de luz azul iluminou e se estendeu até Theo, o convidando para seguir até uma torre de luz no topo do altar.

    Ele ponderou seguir, porém, ao mesmo tempo pensou em retornar para ajudar Selina. Mas, devido a sua exaustão atual, ele iria atrapalhar na luta, isso se conseguisse chegar no local da batalha sem desmaiar no bosque. Além do mais, aquele altar parecia muito aconchegante para ele.

    Por fim, ele decidiu caminhar até o topo das plataformas.

    Theo seguiu a trilha de luz azul arrastando sua espada, buscando sempre a deixar deitada para não arrastar o fio e desgastar sem necessidade. No fim da trilha ele se deparou com uma escada, tal qual cortava as plataformas. 

    “Eu tô indisciplinado demais…” pensou Theo, um sono indescritível o agarrou.

    Nas laterais da escadaria, frases escritas em todos os idiomas possíveis se iluminaram pouco a pouco, acendendo uma luz azul conforme Theo subia ao topo. Notando isso, ele buscou um idioma que conseguisse compreender.

    Neste solo sagrado, onde os ventos sussurram ao vazio e os céus dançam em harmonia com a terra, jaz protegido pelo véu do Ser Todo Poderoso. Sob a égide do djinn Nihaya de Marid, os grandes três cantos entoam sua guarda eterna, imunes às interferências do mundo exterior, mantendo sua pureza inabalável perante o prisioneiro do caos. 

    — Um lugar daquele djinn…

    Theo olhou para o topo onde a torre de luz se mostrou mais visível e nítida. Uma runa, quase projeção, flutuava no centro: um círculo contornado por curvas fluidas que irradiam para fora.

    A runa lembrava bastante a famosa lâmpada do gênio.

    Após caminhar com os olhos pesados de sono, Theo chegou ao topo próximo da runa. A torre de luz o banhou, caindo de uma fenda no teto da estrutura onde uma cachoeira de mana fluia. O rapaz se sentiu seguro e então, após tanto pestanejar, decidiu descansar ali.

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