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    Antes que Koji e Saik andassem de vez para entrar na onda de energia, alguém chamou a atenção dos dois. Um militar, pulou do banco de motorista de um dos veículos da Torre e disse.

    — Vocês dois! Esse aqui é para vocês — falou apontando para o veículo — Temos ordens para garantir que cheguem ao destino o mais rápido possível.

    — Agradecemos — Koji gesticulou com um aceno de cabeça.

    — Vamos nessa, então — Saik se dirigiu ao carro.

    Eles subiram no carro sem mais demora, Saik assumiu o volante enquanto Koji fechou a porta. Deixando os demais para trás, não no sentido ruim, rumo a cidade mais próxima, Primavera do Leste.

    O veículo blindado rugia pela estrada deserta e sob um céu que repentinamente ficou azul e sem nuvens, onde a vegetação ao redor era verde e bem cuidada, sem contar as inúmeras fazendas.

    — Então, depois desse trampo, vai sair da Torre e ir direto para Aurora? — perguntou Saik, sem desviar os olhos do caminho à frente.

    — Não, não posso simplesmente sair. Tem o tratado que assinei com a Torre. Posso sair por um período, mas nada definitivo.

    — Lembra da primeira vez que ficamos frente a frente com a comandante? Ela disse que nós, como portadores, poderíamos decidir sair da Torre e até matar todos os funcionários do departamento se quiséssemos. A Torre é feita de humanos que não podem decidir nada sobre portadores, foi o que ela disse.

    — Tem certeza que ela disse isso?

    — Não com essas palavras, mas foi exatamente essa mensagem que ela passou pra gente.

    Com o vento que soprava fortemente, os cabelos dos dois balançavam sem parar. Para se posicionar de maneira mais confortável, Koji desceu mais no banco e soltou uma respiração de paz.

    — Aah… esse ventinho e essa calmaria… sem barulho de prédio sendo destruído, de solo se rachando, isso aqui é muito bom — com os olhos fechados diante do vento e do silêncio da paisagem, Koji comentou.

    — Eu só estou com saudade dos meus pais — Saik dobrou levemente os lábios, sorrindo discretamente, quase como se estivesse imaginando a última vez que os viu — Estou torcendo para que role umas férias depois de tudo isso, assim eu posso visitá-los.

    — Acabamos de entrar na Torre, tenho certeza que não teremos férias tão cedo.

    Koji ficou calado, olhos fechados e corpo relaxado no banco. E Saik continuou.

    — Sempre é complicado manter a cabeça no lugar quando se trata da família, especialmente em tempos de conflito. Mas, de alguma forma, eu sempre sinto que eles estão bem. Acho que uma rápida e sincera oração não mata ninguém.

    Refletindo sobre as palavras de Saik, Koji pensou em seu silêncio.

    — Oração… Quando foi a última vez que fiz isso?

    Ele nunca foi muito religioso, mas a ideia de uma oração simples, apenas num momento de paz em meio ao caos, parecia atraente.

    — Eu não sei se quer falar disso, mas… além dos familiares que perdeu, tem mais alguém? — Saik perguntou ao Koji.

    — Para ser honesto, sempre senti que minha família era pequena. Muitos sempre brigavam, nunca havia concordância entre eles. No geral, sempre fui eu, meu pai e minha mãe.

    — Isso parece ser bem ruim, mas na real… acho que no fundo, todos sentem a mesma coisa. Todos sabem que no fundo, a família é você, seus pais e seus irmãos.

    — É…

    — Ó! Olha lá! — Saik avistou a cidade de Primavera do Leste pouquíssimos quilômetros à frente. Foram rápidos minutos até finalmente chegarem.

    O brilho das luzes e a movimentação nas ruas indicavam que a cidade estava viva, o que os fez questionar se o Conclave realmente estava atuando por ali.

    — Já chegamos.

    — Parece que está tudo normal por aqui — Koji comentou.

    — É, não vejo sinais de destruição ou pânico. Será que precisamos mesmo ficar de vigia aqui? — Saik desacelerou o veículo ao entrar nas ruas.

    O ambiente urbano estava tranquilo, com moradores andando para lá e pra cá, veículos circulando e conversas ecoando pelas ruas e estabelecimentos. 

    Eles desceram do carro e começaram a caminhar pelas calçadas, observando tudo com atenção. As pessoas pareciam alheias a qualquer perigo iminente.

    — Por que elas estão tão calmas? Parecem não se importar com a onda de energia — Koji estava pensando.

    Então, ele minuciosamente se aproximou de uma roda de homens que conversavam animadamente em frente a uma oficina. 

    Eram cinco homens, todos de meia-idade, alguns vestindo uniformes de trabalho sujos de graxa, outros com bonés desbotados e rostos marcados pelo sol.

    — Estão falando de futebol — murmurou ele, um pouco surpreso.

    Um dos homens, um sujeito corpulento com uma camiseta do Flamengo, gesticulava enquanto falava.

    — Eu falei, cara! O moleque vai ser o próximo ídolo do Mengão! Ele é bom de bola, só precisa de mais tempo em campo.

    Outro homem, de boné do Vasco, riu e respondeu com um tom de deboche.

    — Ih, lá vem com essa história de novo! Esse menino aí é só mais um desses que vocês flamenguistas ficam babando. Dá dois anos e ele tá jogando na Turquia ou no Japão!

    — Que Japão o quê!? O moleque tem potencial pra Europa, isso sim! O Flamengo sempre forma moleque que resolve, já vocês que tão passando fome. Ha! Ha! Ha!

    Saik, ao lado dele, disse baixinho.

    — Não parecem estar vivendo sob o domínio de um grupo de portadores violentos.

    — É, tem alguma ideia aí? 

    — Vamos naquele barzinho ali, bora pegar uma água e nós voltamos a andar pela cidade. — disse Saik, apontando discretamente para um pequeno bar do outro lado da rua.

    Eles cruzaram a rua, entraram no bar, que aliás tinha uma temática rústica e antiga, com luminárias pendentes e uma estética retrô que convidava à reflexão. Se acomodaram nos bancos do balcão, onde o leve cheiro de madeira envelhecida e cerveja fresca chamava atenção.

    — Acha que vamos demorar para achá-los? — perguntou Koji, virando-se para Saik.

    — Não sei, mas precisamos pegar o máximo de informações. Por que essa cidade, que é feita de humanos, está aparentemente bem, mesmo dentro da onda de energia? E onde exatamente é o começo dessa onda? Essas perguntas precisam de respostas.

    — Talvez o começo esteja em Cuiabá — sugeriu Koji, mas logo, o bartender se aproximou.

    — O que vão querer? — com um sorriso acolhedor no rosto, perguntou o rapaz.

    — Duas garrafinhas d’água — respondeu Saik.

    O atendente assentiu, pegou as garrafas de um refrigerador antigo atrás do balcão e as colocou diante deles.

    — Nunca vi vocês aqui antes. São novos na cidade?

    — Sim, estamos só de passagem — Koji tentou parecer mais casual e descontraído.

    — Então precisam conhecer o pessoal daqui — falou o bartender, com uma certa animação.

    Saik olhou cuidadosamente para o rapaz, analisando a situação. A atmosfera do lugar era acolhedora, e o atendente parecia genuinamente amigável. Porém, algo nele parecia despertar um leve desconforto no Saik.

    — E quem deveríamos conhecer primeiro? — num tom suscetível, Saik entrou na conversa.

    — Ah, tem várias figuras interessantes por aqui. Mas acho que vocês gostariam de conhecer o senhor Juan. Ele sabe de tudo que acontece na cidade. Um verdadeiro historiador local, por assim dizer.

    — E onde encontramos esse senhor? — perguntou Koji, agora interessado.

    — Ele costuma estar na praça, logo depois do almoço. Pode ir até lá que com certeza vão encontrá-lo, mas vocês não podem demorar para conhecê-los, tá?

    — Conhecer quem? — Koji ficou curioso, e Saik Também — Conhecê-los? Quantos são e quem são?

    E o rapaz respondeu.

    — Quem são? Vocês não conhecem? Eles são Iluminados! Elevados e Justos! São os nossos guias…

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