Capítulo 42 – Desenvolvimentos estranhos
por SnowBearEra em momentos como esse que Lith sentia o quão irritante era um gargalo. Normalmente, em tal situação, ele usaria Acumulação, transformando seu tempo de inatividade em uma sessão de treinamento enquanto também estudava como seu corpo estava se desenvolvendo.
Mas agora essa opção não estava mais disponível e, estando preso nesse estado por quase um ano, ele conhecia seu corpo por dentro e por fora, a ponto de ter memorizado onde cada impureza estava localizada.
Depois de meia hora, ele estava prestes a adormecer.
“Espero que o Conde não se importe que eu ronque um pouco.” Ele pensou.
“Lith, por que não abrimos o presente de despedida da Nana? Estou realmente curiosa.” Solus disse.
“Não estou. Aquela velha mesquinha acabou de me dar um pedaço de papel. Aposto que é uma lista de souvenirs1 que ela quer que eu compre para ela.”
Uma pequena aposta amigável era melhor do que não fazer nada, então ele pegou o pequeno envelope e leu seu conteúdo. Lith tinha perdido a aposta, era uma carta breve.
“Caro Lith,
Agora que você está indo para uma Academia de Magia, longe dos olhos curiosos dos seus pais, você merece saber a verdade. A magia doméstica contém um feitiço proibido que eu nunca lhe ensinei. Agora você tem idade suficiente para saber.”
Seguiu-se uma breve, mas precisa descrição de como usar magia negra em si mesmo para evitar consequências indesejadas de compartilhar intimidade com garotas. Era um feitiço de controle de natalidade. A carta fechava com um
“Lembre-se de sempre ser um cavalheiro e se divertir! Você vai me agradecer depois.
Com amor, Nana”
“Que velha safada. Não tenho nem doze anos.” Lith não conseguia parar de rir alto. A ideia de Nana ser a única preocupada com sua vida sexual era hilária.
“Isso é sobre algo que Lady Nerea escreveu? Uma anedota? Posso ver também?” O Conde estava muito curioso, ver Lith rir era uma ocorrência muito rara.
Após ler a mensagem, o Conde Lark ficou roxo de vergonha. A cena fez Lith rir ainda mais alto.
“Oh meu Deus, o Conde é tão molenga. Ficar nervoso com uma coisa tão estúpida. Às vezes ele parece que seiu de um mangá.”
“Lith, isso não é motivo para risos,” Disse o Conde.
“Eu aprecio a preocupação de Lady Nerea, mas ainda acho que é inoportuna e vulgarmente expressa. Os assuntos do coração devem ser tratados com mais tato, especialmente com alguém tão jovem quanto você.”
Lith não conseguiu evitar rir novamente.
“Ele realmente chamou isso de ‘questões do coração! É só sexo, cara!”
O clima leve não durou muito, a longa viagem logo fez os dois homens adormecerem.
Quando o cocheiro os acordou, eles já tinham chegado.
A visão da academia Grifo Relâmpago era realmente impressionante.
O prédio em si parecia um enorme castelo, saído diretamente dos sonhos molhados de um engenheiro medieval. No entanto, era impossível vê-lo claramente, eles ainda estavam muito longe.
A academia ficava no centro de uma enorme floresta que se estendia em todas as direções até onde a vista alcançava.
“Isso explica por que é tão distante de áreas povoadas, é basicamente um Condado próprio. A floresta pode até ter uma extensão superior à floresta de Trawn.” Lith pensou.
“Por que paramos aqui? Ainda estamos muito longe, como vamos chegar à academia?”
O Conde estava animado como uma criança em uma loja de doces.
“Não se preocupe e siga-me.”
Ele levou Lith até uma pequena casa de tijolos na orla da floresta, onde dois homens tomavam chá enquanto conversavam tranquilamente.
O Conde se apresentou e mostrou-lhes as autorizações.
O homem que agora segurava os papeis sussurrou algumas palavras, a tinta se reorganizou, saindo da folha e formando uma espécie de círculo mágico no chão.
“Até as licenças são um item mágico?” Lith ficou chocado.
“Senti um pouco de mana vindo delas, mas imaginei que fosse apenas algum tipo de selo mágico de autenticidade, não algo tão complexo.” Explicou Solus.
“Merda! Estamos completamente no escuro sobre itens mágicos, e não há menção a isso em nenhum livro que lemos até agora. Ou encontramos uma maneira de corrigir essa situação, ou nossas viagens serão muito mais difíceis no futuro.”
Seguindo as instruções do homem, Lith e o Conde entraram no círculo, que instantaneamente se tornou uma esfera amarela translúcida.
Ela subiu suavemente no ar, antes de começar a voar a uma velocidade alucinante em direção ao castelo. Apesar de se moverem mais rápido do que Lith jamais havia feito antes, eles não se sentiam diferentes de estarem parados no chão.
‘Essa coisa é como um giroscópio estabilizado! Que ideia brilhante!” Pela primeira vez, Lith quase se arrependeu de sua escolha. Quase.
A viagem foi curta, mas Lith ainda conseguiu ver muitas feras mágicas enormes correndo dentro da floresta. Elas até chegaram perto de colidir com uma águia do tamanho de um avião de caça. Seus olhos estavam cheios de desprezo e ela gritou algo que soou como uma reprimenda para elas.
“Sou só eu ou só tem feras mágicas aí dentro?” Lith perguntou ao Conde, que assentiu.
“Sim, bestas mágicas e Bestas Imperadoras, é claro. Elas vão explicar tudo para você quando você se matricular.” O Conde tinha um tom paternal, mas Lith também podia ouvir claramente uma pitada de condescendência do tipo “Eu avisei”.
A esfera pousou em uma sacada antes de se dissipar. Uma jovem de vinte e poucos anos que usava uma túnica de mago estava esperando por eles.
Ela os guiou por escadas rolantes e corredores mágicos, antes de levá-los para a antecâmara da Diretora. Ela falou por meio de um pequeno amuleto comunicador o tempo todo, dando ordens sobre tarefas servis.
Na experiência de Lith, isso significava más notícias. Sempre que ele tinha uma entrevista de emprego, a atitude da secretária em relação aos candidatos era um indicador de como a empresa tratava seus funcionários e quais eram suas expectativas sobre um candidato.
Ela os ignorou o tempo todo, não lhes dando um passeio nem uma explicação sobre nenhuma das maravilhas mágicas que eles haviam encontrado.
Para alguém que queria ser rejeitado, porém, era uma boa notícia.
O Conde estava hipnotizado demais pelo interior do castelo para notar o comportamento rude da maga. Seus olhos se moviam para cada peça de mobília, sua boca aberta em admiração. O quarto em si era um prodígio.
Apesar de não haver nenhuma fonte visível de luz, sejam janelas, tochas ou pedras de luz, cada canto e fresta estava iluminado, como se o sol da manhã estivesse brilhando acima de suas cabeças.
“O que você acha disso?” Perguntou o Conde como uma pergunta retórica, esperando que Lith demonstrasse um entusiasmo igual ou superior ao seu.
“Sinceramente? Acho isso pretensioso e arrogante. Tudo no quarto faz parecer que o mestre está olhando para nós, tentando intimidar o hóspede e colocá-lo em seu devido lugar.”
“Sério?” A bolha dos sonhos do Conde desapareceu abruptamente.
“Sim. Quero dizer, um pouco de esplendor é bom, mas isso? É demais.” Ele apontou para a decoração dourada que continuava mudando para prata e platina, e para as pedras preciosas bordadas em cada canto, como olhos brilhantes olhando para eles com desprezo.
“E como você explica a atitude rude daquela garota? Ela mal olhou para nós.”
“Oh, céus.” O Conde engoliu em seco. “Agora que você apontou isso, esta sala lembra muito a antecâmara do Rei para hóspedes indesejados.”
“Existe algo assim?” Lith estava curioso.
“Sim, é meio que um segredo aberto. O quarto do Rei tem mais de uma sala de espera, dependendo do quanto ele se importa com o visitante. A dos convidados indesejados é cheia de coisas cafonas como essa, para lembrar o visitante do poder da Coroa.
“Também está cheio de pinturas retratando os reis e rainhas anteriores matando nobres ou magos rebeldes. Depende de quem ele quer pressionar.”
“Como essas?” Lith apontou para muitas pinturas mágicas, todas elas curtas-metragens, mostrando como a Associação de Magos se livrou de famílias inteiras de nobres rebeldes ao longo da história.
O evento retratado chegaria ao ponto de mostrar o derramamento de sangue e as mansões incendiadas, antes de começar a recontar sua história desde o início.
“Exatamente.” O Conde engoliu em seco.
Esperando ter que esperar por horas, Lith se acomodou, tentando dormir novamente. Ele não ficou desapontado. Quando o Conde o acordou, ele podia ver em seu rosto que ele tinha bastante estresse reprimido.
Ele esperou pacientemente tempo suficiente para receber a mensagem.
“Não diga uma palavra. Se quisermos salvar essa coisa, precisamos de tato e diplomacia. Deixe tudo comigo.” O Conde Lark disse com um mero sussurro.
O escritório da diretora era muito menos cafona que sua antecâmara, lembrando muito o escritório de um diretor comum da Terra. Ela era uma mulher pelo menos tão velha quanto Nana, mas o tempo tinha sido mais gentil com ela.
Seu rosto estava cheio de rugas, mas seus olhos estavam cheios de energia e vida. Ao contrário de Nana, ela estava pronta para viver uma vida longa e se mantinha ereta como um poste.
Seu cabelo estava quase completamente grisalho, restando apenas um tom de amarelo. Ela usava uma túnica com as cores de sua academia. Era de um azul claro, enquanto todas as decorações eram de um amarelo brilhante, provavelmente dourado.
A maneira como seu tecido foi tecido fazia com que cada movimento da Diretora parecesse o vento se movendo no céu, enquanto o bordado dourado aparecia e desaparecia como relâmpagos repentinos.
Ela só tinha sorrisos e palavras gentis, mas os instintos de Lith não conseguiam sentir calor nela.
“Caro Conde, não nos vemos há tanto tempo!” Ela estendeu a mão para ele.
“Você é muito gentil. É tudo culpa minha não poder lhe trazer jovens promissores o suficiente.” O rosto impassível do Conde estava impecável. Todos os traços de estresse e ansiedade tinham desaparecido. Suas palavras eram calmas e gentis, como se ele estivesse encontrando uma irmã há muito perdida.
“Por favor, sente-se. Desculpe pela longa espera, mas como você sabe, esta é a época mais movimentada do ano.” O pedido de desculpas soou tão falso quanto uma nota de três reais.
“Não se desculpe, eu entendo completamente. Agora, desculpe se eu vou direto ao assunto, não quero desperdiçar mais seu precioso tempo.”
O Conde pegou uma pasta que continha uma crônica de todos os feitos que Lith havia realizado, juntamente com sua contagem oficial de méritos.
A diretora empurrou a pasta de volta.
“Não precisa. Nós sempre fazemos uma verificação completa de antecedentes de cada candidato. Devo dizer que você me trouxe um sujeito realmente interessante.”
Desta vez foi a vez de Lith engolir em seco, com suor frio descendo pela espinha.
“O que diabos eu fiz de errado?” Ele pensou.
Ela pegou uma pasta própria, muito mais grossa que a anterior.
“Posso ver que esse jovem, Lith, ganhou muitos méritos curando os pobres e livrando-se de muitas das ameaças que ameaçavam seu Condado. Você sabia que o submundo do crime o apelidou de Flagelo?”
“Não entendo como diabos meu título de besta chegou aos ouvidos deles. Como delinquentes e bestas mágicas podem me ver da mesma forma?” Lith pensou.
“Parece que ele gosta de suas recompensas mortas como um prego no caixão, e isso é bom. Ser misericordioso com a escória da terra só pode te morder nas costas, mais cedo ou mais tarde. Ele também teve uma série de desafios mágicos com alguns jovens nobres.”
“E isso é ruim, certo?” Lith cerrou o punho, cheio de expectativa.
“Isso também é bom. Um verdadeiro mago não deve ter medo de defender a si mesmo ou seu nome, em nossa linha de negócios talento e poder são mais importantes do que etiqueta.
“Sem falar que quem não tem habilidade não deve voar muito perto do sol e depois reclamar que vai se queimar.”
Lith sentiu como se a terra estivesse desabando sob seus pés.
‘Então, em vez de sabotar, eu me auto-promovi todo esse tempo?! Merda desgraçada!”
“Mas…” De repente, as esperanças de Lith renasceram, como uma fênix renascendo das cinzas.
“… infelizmente, devo dizer que ele não atende aos requisitos para uma bolsa de estudos. Sinto muito mesmo.”
“Porra, sim! Eu te perdoo, sua vadia enganadora! Eu consegui, e é isso que importa.”
O Conde ficou pálido como um fantasma.
“Posso saber por quê? Talento, habilidade, coração. Ouso dizer que ele é o melhor candidato que já trouxe aqui até agora.” Sua voz estava quebrada, Lith sentiu pena do pobre homem.
“Claro que pode. Você merece saber. Veja bem, o problema real não está no seu protegido, mas sim no mentor dele.”
“Como é?” O sangue voltou ao rosto do Conde.
“Nerea é uma maga caída, semelhante a um filho renegado da academia, se não de toda a Associação de Magos. Assim como é proibido aos nobres ajudar os membros rejeitados de sua família, o mesmo vale para nós, ou pelo menos para mim.
“Ela trouxe vergonha para a instituição e, até hoje, continua se intrometendo conosco. Para piorar as coisas, mesmo que indiretamente, Lith esteve envolvido no expurgo de duas famílias nobres.
“Como um mago, não posso enfatizar o suficiente o quão desprezível eu acho arrastar a Associação dos Magos para cada pequena disputa. É um abuso de poder, e eu quero enviar uma mensagem a todos os magos desonestos por aí rejeitando seu discípulo.
Você pode tentar levá-lo para outras academias, mas acho que a resposta será a mesma.”
“O quê?” O Conde agora estava vermelho brilhante, seus olhos quase saltando das órbitas de raiva.
“Lady Nerea protegeu e ajudou o Condado de Lustria por anos, enquanto todos os outros não fizeram nada! Este jovem salvou minha vida, minha família.
Ele fez o que fez apenas por autopreservação, e você está me dizendo que está disposto a arruinar a vida dele por sua própria vingança mesquinha? Por política?”
“Como você ousa falar comigo desse jeito no meu escritório!” A diretora pulou da poltrona, seus olhos brilhando com poder.
“Eu ouso! Eu ouso duas vezes e chamo isso de besteira!” Lith nunca pensou que o Conde fosse um lutador tão corajoso.
“Você está apenas sacrificando um mago, e um poderoso, para seu próprio ganho político! Lith, vamos lá. O ar daqui fede.”
Antes de sair pela porta, o Conde se virou e gritou.
“Isso não acaba aqui! Vou deixar todo mundo saber o quão baixo a Academia Grifo Relâmpago chegou. Você nunca mais receberá uma única moeda de cobre do meu Condado ou de qualquer um dos meus vassalos. E, a propósito, ele é o inventor do tabuleiro de xadrez na sua mesa.”
A porta bateu atrás deles, sem lhe dar a oportunidade de repreender o Conde.
“Cara, sério? Tanto tato e diplomacia. Você é uma pequena engrenagem em uma grande máquina. Suas ameaças não passam de pensamento positivo.” Lith pensou.
A felicidade de Lith foi ofuscada por suas preocupações sobre as consequências que o ataque de raiva do Conde poderia ter tanto em sua terra natal quanto em seu amigo. O Conde Lark havia lutado por ele ferozmente, e isso era algo que Lith nunca esqueceria.
- souvenirs significa “memórias”, ou seja, souvenir é um objeto que resgata a memória de um determinado lugar, por isso encontramos em toda viagem, e claro, são os presentes preferidos para dar de lembrança⤶