Capítulo 7 — Início
O assassino olhava para a Chama Noturna como se estivesse paralisado. Ele sabia de sua força, mas a pressão que seu oponente emanava era forte demais.
À sua frente caiu uma maça medieval flamejante esmagando o chão. O calor da arma era tão intenso que o fazia suar sem parar.
— Que seja! — exclamou ao disparar para cima de seu oponente — suas chamas não são tão poderosas ass- — um clarão apareceu subitamente a sua frente.
Um movimento tão rápido que mal viu chegar acertar sua mandíbula e o mandou direto para a parede.
Antes mesmo que percebesse, o buraco da parede tinha o formato de sua cabeça e ele estava derrotado no chão com o queixo deslocado. Novamente, a maça caiu bem na sua frente, mas dessa vez, com sangue sendo queimado pelo fogo.
O brilho das chamas incessantes desapareceu e a escuridão tomou conta do ambiente. Com seus últimos esforços, ele mirou seus olhos para cima e congelou de medo.
Os olhos da mulher a qual acabara de o derrotar com um único golpe, brilhavam em vermelho. O olhar dela penetrava sua alma e o fazia repensar todos os seus atos de sua vida.
— Nunca mais chegue perto dessa casa, entendeu? — o ameaçou pisando em sua cabeça e se aproximando do seu rosto — pensando melhor… você não terá outra chance — acendeu novamente a chama em seu pé.
— Não! Eu imploro! ME DEIXE IR! — foram suas últimas palavras antes de ter o seu crânio carbonizado e esmagado, sendo assim assassinado brutalmente.
As chamas novamente se apagaram e de forma sangrenta, aquela noite terminou.
No dia seguinte, Saki se levantou e foi para a cozinha. Lá estava Galliard, preparando alguns legumes enquanto ouvia uma música que saía de um aparelho o qual Saki não reconhecia.
— Boa Dia, Sr. Galliard — disse Saki com os olhos piscando lentamente. Apesar de já estar acordada, ela demorou para recobrar todos os sentidos.
— Ah! Bom dia Saki.
Saki esfregou seus olhos na tentativa de despertar totalmente — O que é aquilo em cima do armário?
O dispositivo em cima do armário era uma simples esfera branca com um ponto brilhante azul em cima — Isso aqui? Se chama rádio.
— É bem diferente do que eu conheço… — Saki não se atentou muito às diferenças dos objetos da sua antiga vida, apenas passou a aceitar sem fazer tantas perguntas.
Ela seguiu para perto da mesa, puxou uma cadeira lentamente e se sentou. Galliard pôs uma cesta de frutas na mesa e voltou para cortar seus legumes.
Preparando sua primeira refeição, colocou um pão, algumas uvas e uma maçã em seu prato, e enquanto comia, ouvia o rádio junto a Galliard:
Interrompemos a música para uma notícia urgente! — interferiu o locutor da rádio parando a música — nessa manhã, um criminoso procurado foi encontrado morto no meio da rua. Ao que tudo indica, ele lutou contra um monstro enquanto voltava de uma noite de saques. Ele foi derrotado e terminou com o seu crânio completamente carbonizado e esmagado… — Os dois se chocaram com a notícia que escutaram, Saki deixou uma das uvas escorregar pelos seus dedos perceber — … A Rainha Melissa tranquilizou os cidadãos alegando que iniciaram as investigações, mas garante que não existe monstro algum — finalizou retomando a música
— Se esse cara foi derrotado assim… Esse monstro não deve ser fraco! — exclamou Galliard com uma expressão séria e melancólica.
— Pela forma que foi morto, não sei nem como ficou tanto tempo foragido — Elena chegou de repente interrompendo a fala de Galliard.
— Bom dia pra você também — disse Saki em tom irônico e provocativo.
— Fica na tua pirralha — com desdenho, Elena passou por Saki fazendo pouco caso da sua provocação.
Ela atravessou a cozinha em direção a Galliard. Apesar do seu jeito de ser, Elena ainda era uma moça bonita e elegante. Saki reparou nisso e não deixou de se impressionar enquanto a via desfilar na sua frente com seu corpo bem desenvolvido e suas belas curvas.
— E então? Quando vamos começar? — perguntou de forma sensual colocando sua mão aquecida no peito de Galliard.
— Acho que hoje ainda podemos começar — respondeu retirando a mão em seu peito e olhando fundo nos olhos de sua amada — Houve uma mudança de planos, então não vou poder te ajudar.
— Como se eu precisasse da sua ajuda…
Saki olhava aquilo tudo de longe com uma cara de nojo.
— O que cês tão fazendo ein?
— Não é da sua conta — ela recebeu uma resposta que já esperava vindo de alguém um pouco agressiva.
Passado certo tempo, Noelle apareceu. Ela cumprimentou a todos e se sentou ao lado de Saki para comer.
As duas conversavam de forma descontraída, comentando sobre o dia anterior e mais algumas futilidades. Galliard admirava a cena, ele gostava de ver como as duas se davam bem mesmo com personalidades tão diferentes.
Infelizmente, interrompeu o momento a fim de fazer um comunicado.
— Desculpa atrapalhar o papo, mas preciso aproveitar que as duas estão aqui para contar algo — explicou.
— Aconteceu alguma coisa? — O coração de Noelle logo acelerou preocupado.
— Nada disso — a confortou — Bem, Saki, você entende a importância da sua jornada aqui?
Ela não soube responder. Mesmo que tenha sentido o peso das palavras de seu pai na gravação, não compreendeu o significado delas.
— Seu pai não me disse qual é o seu objetivo, mas disse que precisa ser forte em corpo e mente — afirmou de forma calma e firme — Você é forte e precisa saber usar isso.
— Entendo…
— Por isso, você vai receber um treinamento especial no Dojo Imperial.
— Quando? Por quanto tempo? — perguntou com um olhar determinado.
— Quando quiser, já está tudo pronto para começar. Lembre-se, não precisa ter pressa, vá no seu ritmo.
— Certo.
Noelle ficou apreensiva com o que ouviu. Após chegar em Shryne, não havia parado para pensar em como seguiria dali em diante. Sem Saki por perto, achava que não tinha para onde ir.
— Eu vou hoje mesmo — disse enquanto passava a mão pela sua nuca — Ele disse que eu sou a única que pode fazer isso, então eu tenho que fazer e melhorar rápido — afirmou com um olhar determinado.
— Aqui — Galliard estendeu sua mão segurando uma carta — é do seu pai.
— Uma carta?
— “Entregue a ela quando não tiver mais dúvidas” Foi o que ele disse.
Com a carta em mãos, Saki olhava para ela com um olhar incerto
“Quando não tiver mais dúvidas… Já que eu estou aqui e não posso voltar, só me resta seguir em frente, não é?” perguntou para si mesma “Não estou pronta para uma guerra… Ao menos sei o motivo dela estar acontecendo, mas não tenho dúvidas de que devo fazer isso, eu acredito nele” imersa em seus próprios pensamentos, ela olhava para carta pensando se deveria abri-la ou não.
De repente, ela sentiu um toque em seu ombro. Era Galliard, com seu sorriso enorme e gentil, dizendo — Não precisa ter pressa, não precisa fazer nada que não queira — suas palavras a confortaram, em um instante, Saki dobrou a carta e a guardou em seu bolso. Ela se virou em direção às escadas e seguiu — Eu vou arrumar minhas coisas — disse ao passar por Noelle.
Noelle esfregava sutilmente seu dedão por cima do nariz enquanto via Saki passar.
No quarto, Saki colocava algumas coisas que tinha comprado no dia anterior em sua mochila. Ela escutou o som da porta abrindo e desviou seu olhar para ver quem era.
Noelle se escondia atrás da porta, ela queria falar algo para Saki, mas lhe faltou coragem. Mesmo assim, uma parte de seu cabelo aparecia pela fresta da porta — Noelle? — perguntou ao ver seu cabelo prateado.
Ela empurrou sutilmente a porta com a ponta dos dedos e em seguida entrou no quarto com a cabeça para baixo.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
— Eu só queria dizer… — seus lábios se entortaram ao tentar falar e seu rosto foi ficando cada vez mais avermelhado — Boa sorte. Com o treinamento…
Saki sorriu sutilmente — Valeu! — e logo agradeceu com um sorriso mais aberto e amigável.
A noite caiu. Saki já estava preparada para ir e Galliard já havia instruído o caminho que deveria seguir. Ela foi até a porta e ao tocar a maçaneta, sentiu um calafrio por todo o seu corpo.
Mais uma vez, abrir uma porta poderia mudar o rumo da sua vida. Sabendo disso, hesitou em continuar. Ela se lembrava de como era confortável em sua casa, lendo mangás e ouvindo músicas. Por mais que não estivesse há tanto tempo fora de casa, sentia falta dos dias comuns e tediosos.
Realizando que não tinha mais volta, seguiu em frente girando a maçaneta lentamente.
— Boa sorte, Saki! — Galliard gritou ao fundo quando Saki estava prestes a fechar a porta.
Ela colocou a mão para dentro da casa com o dedão levantado e continuou seu caminho.
— Vai precisar…
Saki caminhou pelas ruas de Shryne em direção a uma montanha ao norte da cidade. Uma montanha simples, com uma trilha e uma árvore gigante de folhagem rosa no topo.
E sob o luar, Noelle se sentava em cima da casa vendo Saki ir para longe.
Saki chegou no pé da montanha. Ela olhou ao redor à procura de uma placa indicando o caminho, mas não encontrou, então decidiu seguir a trilha como Galliard havia recomendado. Subindo a montanha, foi surpreendida por um vento gelado atacando seu rosto. Rapidamente tirou sua jaqueta da mochila e ao puxar o agasalho, um papel dobrado caiu em sua frente.
Depois de pôr a jaqueta, ela abriu o papel. A carta que seu pai havia escrito era iluminada pela luz da lua. Saki passava a mão pelos amassados lentamente, até que decidiu ler de uma vez.
Chegando no topo da montanha, limpando suas lágrimas, Saki se deparou com uma árvore enorme. Encantada com a beleza dela, ela admirou as folhas rosas caírem sobre a cidade com um céu limpo e estrelado.
— Pensei que não viria mais — uma voz soou por trás da árvore assustando Saki.
— AÍ PORRA! — disse gritando.
— Que pena… eu assustei o bebê? — Elena saiu de trás da árvore rindo em tom irônico.
— O que é que você tá fazendo aqui? — perguntou recuperando o fôlego.
— Aff — respondeu com um suspiro — não faz muita pergunta, garota, vem logo — tornou-se para a árvore.
— Que mau-humor, eu ein — resmungou — vem cá… ir pra onde? — indagou mais uma vez.
— Você é burra? Galliard lhe disse que iria treinar no Dojo Imperial e eu sou a dona desse lugar.
Elena apontou a palma de sua mão para o centro da árvore onde havia um pequeno buraco. Sua palma passou a tomar uma cor vermelha, até que foi disparada uma rajada de fogo dentro do buraco.
Em seguida, um som foi emitido de dentro do buraco “Assinatura de Mana confirmada. Bem Vinda Mestre”
“A árvore fala?” perguntou espantada.
O buraco na árvore aumentava se tornando um pouco maior do que um ser humano normal. Elena levantou seu braço direito enquanto continuava de costas para ela — Vai, entra aí — disse ela indo em direção à entrada do Dojo.
— Então tá…
Ambas entraram na árvore, tudo estava escuro, Saki olhou ao seu redor, mas não encontrou nada além de um breu infinito.
— Tsc! Não acredito que vou mesmo fazer isso — resmungou Elena em um suspiro.
Ela levantou sua mão e com um simples estalar de dedos, o cenário inteiro foi criado. Um dojo de madeira escura e adornos dourados surgiu em sua frente. Pétalas de flores de cerejeiras caíam suavemente no lago de peixes que era dividido por uma ponte da mesma madeira composta pelo dojo. O ambiente era bem arborizado e algumas árvores possuíam frutos belos e suculentos.
— Dimensão artificial… — disse Saki admirando toda a cena.
— Quer dizer que seu cérebro funciona? — perguntou Elena tentando provocá-la.
— Olha, pra uma esquentadinha, até que cê tem um gosto bem calmo e relaxante.
Elena parecia ter algum tipo de aversão natural por Saki, já que apenas por ouvir uma resposta dela era possível ver as veias em sua testa pulsando.
— Adianta! Vou te mostrar aonde vai dormir — falou enfurecida.
Enquanto Saki estava prestes a começar o seu treinamento, Noelle continuava no telhado da casa olhando as estrelas e pensando na sua própria vida. Ela escutou alguém subindo as escadas e desviou o seu olhar em direção ao som das mãos pesadas que seguravam o metal.
Então Galliard apareceu, com um sorriso estampado no rosto, dizendo — Noelle, pensa rápido! — jogou um chapéu preto e pontiagudo em sua direção.
O chapéu pousou suavemente nas mãos de Noelle, ela olhou para aquilo com um brilho nos olhos e uma expressão de quem não acreditava no que seus olhos viam — Ta… Tá falando sério?
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