Capítulo 14 - Julgamento Por Combate
“Se um fragmento da chave está com eles e nós fomos divididos, tudo isso deve ter sido pensado pelo Sr. Galliard. Saki e Akira também devem estar atrás desses fragmentos, eu tenho que pegá-lo e continuar para a caverna”
Impedi-los se tornou uma questão individual, a nossa saída da caverna dependia dos fragmentos da chave.
— Tudo que podemos fazer é acabar com aquele desgraçado que arruinou as nossas vidas! Então, por favor, não tente impedir — disse o mais novo.
Ambos avançaram em minha direção, suas mãos tremiam, mas não por falta de experiência e sim por raiva e frustração.
Seus ataques desorganizados e sincronizados acabavam sempre me confundindo. Enquanto eles tentavam me acertar fazendo alguns cortes superficiais, eu tentava agarrar o fragmento que carregavam.
Meus reflexos eram apurados, então me esquivar não era uma tarefa difícil, porém a movimentação estranha deles criava pontos onde eu não conseguia defender como desejado.
Por mais que seus ataques não fizessem muito estrago, aos poucos ia me desgastando. Em um combate corpo a corpo eles iriam me derrotar eventualmente. Pensando nisso, recuei para um combate a longa distância.
Com pequenas descargas de raios, eu os mantive longe sem aberturas para atacar.
— Escuta, seus problemas não vão ser resolvidos matando esse tal Assassino Sanguinário! Isso não vai trazer o seu tio de volta!
— NÃO IMPORTA! NÓS NÃO VAMOS CONSEGUIR DORMIR ATÉ QUE ELE PAGUE COM SUA VIDA!
Eles avançaram mesmo com raios sendo disparados em sua direção.
— E a mãe de vocês? Ela gostaria que seus filhos se tornassem assassinos também?!
Levi, o mais velho, parou ao me escutar, mas Bruno continuou correndo enfurecido até que seu irmão o parasse com o braço.
— Irmão? O que foi?
— Eu já havia pensado nisso…
— Do que está falando?
— Nosso tio era a pessoa mais querida da família, foi uma grande perda pra todo mundo, mas… até mesmo seu irmão seguiu em frente e continuou sua vida.
— Não me diga que está pensando em desis…
— Não é isso! — disse em um grito — Eu ainda sinto muita raiva daquele desgraçado, mas se matarmos ele… Isso não nos tornaria iguais?
— …
— Noelle, você quer isso, não é? — perguntou erguendo o fragmento em sua mão — Você podia ter nos derrotado quando quisesse, enquanto tentávamos te acertar, você só mirou nessa coisa.
— É…
Levi lançou o fragmento ao chão, caindo bem à minha frente.
— IRMÃO!
— Você parece saber o que fazer com isso, nas nossas mãos, é só um pedaço de ferro.
— E o que vocês vão fazer agora?
— Quem sabe? A Silvia precisa de um pouco mais de atenção — Levi passou andando ao meu lado segurando seu irmão mais novo pelo braço.
Bruno esperneava sobre o que Levi havia feito, ele ainda era muito imaturo em relação ao seu irmão.
— Eu achei isso aí perto da caverna, não sei se serve de algo, mas é a única coisa que sei sobre.
— Obrigada! Antes que eu esqueça, diga a sua mãe que essa foi a melhor sopa que já tomei!
— Haha! Eu vou dizer!
Com o fragmento em mãos, tudo que me restava era encontrar Saki e Akira novamente, então fui em direção à caverna.
Mais uma vez, estava em um lugar escuro e frio, escutando apenas gotas d’água caindo nas poças.
Após caminhar um pouco na escuridão, ouvi o som de uma pedra sendo arrastada atrás de mim, ao mesmo tempo que as tochas de chama branca se acenderam.
Não tinha mais como voltar.
Segui o caminho onde as tochas estavam acesas, um longo percurso que me levou de volta aos 3 caminhos no qual nos dividiram.
Em seguida, escutei passos vindo dos dois caminhos onde Saki e Akira andaram.
— O quê? De novo aqui? — Saki se aproximou notando que estava no mesmo local de antes.
— Pelo menos estamos voltando pelo mesmo caminho que fomos — resmungou Akira.
Ao se aproximar do centro, Saki finalmente me viu.
— Hm? Noelle? Há quanto tempo tá aqui?
Me senti aliviada por ver que nada havia acontecido com eles.
— Que bom que estão bem. Eu acabei de chegar, assim como vocês.
— Mas que droga, voltamos ao início!
— Agora foi diferente, eu consegui isto — estendendo o braço, Akira revelou um objeto de metal com a mesma coloração do fragmento que eu tinha conseguido, porém, com um formato distinto.
— Calma aí, me dá isso aqui — Saki tomou o fragmento para si.
Ela pôs a mão em sua mochila, e dali tirou um outro pedaço de metal.
Com os dois fragmentos em mãos, ela os juntou.
— Eles se completam! Parece…
— O cabo da chave! — interrompeu Akira — Noelle! Você conseguiu um também?
— Hã? Sim! — eu mal conseguia acompanhar o raciocínio rápido dos dois, mas entreguei o último fragmento que restava.
— Certo, com isso, acho que a gente consegue a chave!
Ao juntar todos os pedaços da chave, as rachaduras que as dividiam se unem, retornando a chave ao estado original.
Ela brilhava enquanto Saki a segurava, a luz dourada que ela emitia era capaz de cegar os nossos olhos se a olhássemos por muito tempo.
O chão se abriu subitamente em forma de um quadrado assustando todos nós. A partir do buraco criado, uma espécie de altar, repleto de gravuras com a estética nórdica, é erguido em nossa frente, vindo junto a uma névoa.
O altar possuía uma tábua de madeira no topo e quatro pés de madeira que o sustentavam.
“A Chave Dimensional foi obtida” uma voz feminina e robotizada veio a nossos ouvidos
— Chave dimensional? — questionou Akira olhando para o altar que já flutuava no ar.
— A gente conseguiu a chave! Acabou, não é?
“…”
Não obtivemos nenhuma resposta de Galliard e a chave que Saki segurava, passou a voar em direção ao altar.
A chave pairava por cima do altar, descendo lentamente e encaixando suas extremidades bem ao meio da tábua de madeira.
“5 minutos para concluir a leitura elemental”
— O que tudo isso significa? — perguntou Saki.
“…”
— Galliard não nos responde, alguma coisa deve ter acontecido.
— Seja o que for, ele tem 5 minutos pra resolver! — exclamou Akira.
Os 5 minutos se passaram e Galliard não deu um único sinal de vida.
“Iniciando o protocolo ‘Fase Final’.”
Tudo à nossa volta foi tomado pela escuridão. De repente, o ambiente começou a mudar, pilares decrépitos feitos de quartzo surgiram sustentando um templo branco e destruído com arquibancadas arrebentadas. Perante toda essa estrutura acabada, havia um trono dourado e azul intacto no fim no salão.
— O que tá acontecendo? Que lugar é esse? — Akira não entendia nada do que estava acontecendo, era a primeira vez que presenciava algo do tipo.
— A forma como essas coisas apareceram é de uma dimensão artificial. Galliard deve ter alterado o espaço depois que conseguimos a chave — explicou Saki.
— Exatamente, de qualquer forma, é estranho. Ele não disse que teria algo assim e também não está respondendo.
— Uma dimensão artificial? Isso é possível?
— Quando falamos do Sr. Galliard, a pergunta certa deveria ser “O que não é possível?” — Os poucos meses em que treinei com o Sr. Galliard foi o suficiente para entender que nada é impossível para ele.
— E agora o que a gen…
— EU EXIJO UM JULGAMENTO POR COMBATE!
Um grito rasgado ecoou por todo o templo, o chão tremeu por um breve momento e em seguida, os pequenos pedaços de quartzo se ergueram lentamente.
Rapidamente, nos preparamos para o pior, algo não parecia correto. Instintivamente, demos as costas uns para os outros enquanto olhávamos para todos os lados.
O suor frio começou a escorrer pelo meu rosto, a apreensão fez com que nossos corações acelerarem a cada segundo até que em um piscar de olhos, algo desceu dos céus abrindo um buraco no teto.
Um forte vento correu pelo salão, a poeira subiu escondendo a silhueta de algo que eu não conseguia identificar de forma alguma.
— Tem algo aqui… — murmurou Saki
— Sim…
— Não vacilem nem por um segundo! Não baixem a guarda — Akira ordenou.
Aos poucos, a poeira baixava e a silhueta que se escondia foi sendo revelada.
Ponto de Vista de Elena:
Enquanto Saki treinava, eu não tive um minuto de descanso, a Lua de Sangue não era algo que eu poderia observar de longe, isso precisava ser estudado.
Eu procurei por todos os livros da biblioteca de Shryne, a cidade do conhecimento. Poucas coisas se relacionam com esse elemento, eu mal consegui extrair alguma informação útil, até eu achar um livro chamado “Prelúdio, Alma e Perdição”
— Puta merda… — foi a minha reação ao ter estudado cada letra daquele livro.
Ponto de Vista de Saki:
Algo perigoso parecia estar na nossa frente, sua respiração era pesada e seu corpo parecia enorme.
Passei meses treinando com um monstro, aquilo não me parecia nada de mais. Após a poeira baixar completamente, me surpreendi com o que vi e meus olhos não queriam acreditar.
Um homem alto estava de pé. Seu cabelo era loiro e ressecado, como se não fosse lavado há anos, ele usava uma calça marrom com um rasgo em sua perna esquerda e também tinha uma chave pendurada em sua alça. Seu corpo era tão magro que era possível ver os seus ossos grudados em sua pele. A parte direita de sua costela estava completamente exposta e se olhasse de perto, conseguiria até mesmo ver o seu pulmão funcionando em perfeito estado.
Em meio a tudo isso, o que me surpreendeu não foi o seu estado deplorável e sim o que ele carregava.
Um martelo de madeira gigantesco estava apoiado no ombro dos ossos finos de seu corpo. A madeira já parecia desgastada, porém era maciça e resistente feito aço. A parte superior do martelo possuía um arco de ferro com espinhos que estava coberta de sangue já ressecado.
— Esse negócio deve pesar uma tonelada! Como ele tá segurando isso? — Akira perguntou assustado.
— Não sei, mas parece tentar compensar alguma coisa — não para que fui fazer uma piada tão sem graça em um momento como aquele, não foi uma boa ideia.
— EU EXIJO UM JULGAMENTO POR COMBATE!
Sua voz rasgada rasgava meus tímpanos, enquanto ele lentamente erguia o martelo e o arremessava em nossas cabeças.
Por conta de sua baixa velocidade, conseguimos esquivar facilmente.
“Ele é devagar, talvez não seja um problema”
— Ele é um problemão! Não se deixem enganar pela sua mobilidade — assim que Noelle gritou, o chão se rachou rapidamente. O impacto fez com que pedaços de quartzo caíssem sobre a gente.
Aquele homem olhava para nós com um olhar assassino, cheio de sede de sangue, enquanto desviamos das pedras.
Quando a chuva havia cessado, todos nós olhávamos imóveis para o corpo esquelético com força sobre humana sem entender o que poderíamos fazer.
Eu decidi dar o primeiro passo em direção ao meu oponente, ignorando completamente os medos.
Ponto de Vista de Elena:
“Preciso contar isso para o Galliard, quando ele descobrir, é capaz de cair no chão” eu andava rapidamente pela rua em direção a minha casa querendo contar tudo para Galliard.
“O nono elemento… é claro que ele seria o fim de toda essa destruição. Finalmente a era do medo vai acabar! E pensar que eu poderia ter feito isso, como eu era tola!”
Ponto de Vista de Galliard:
Assim que Noelle entrou novamente na caverna, Elena arrombou a porta da casa com o chute.
— GALLIARD!
— Querida?! O que houve? — respondi assustado.
— Eu tava fazendo umas pesquisas, mais precisamente nos livros de história da biblioteca de Shryne e você não vai acreditar — seus olhos ardiam em fogo enquanto falava.
— O que foi? Fala de uma vez!
Ela tirou do bolso um pequeno caderno vermelho e o entregou em minha mão.
— Tá tudo aí! — após me dar o caderno, andou rapidamente para a cozinha.
Eu dei uma breve olhada rápida pelas anotações, o que foi o suficiente para me fazer cair no chão.
Elena voltou com um copo de água resmungando — Eu não acredito que tava tudo debaixo do nosso nariz — disse em um suspiro.
— E-Elena, O que exatamente é isso? — questionei com medo da resposta.
Elena mal conseguia se controlar, suas mãos pegavam fogo, fazendo a água do copo evaporar.
— Você procurou isso por anos. E ela tá aí! Bem na nossa frente! Esse… esse é o Caos.
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