Capítulo 22 - Imortais
Ponto de Vista de Saki:
Ser capaz de defender uma explosão como aquela e ainda por cima proteger os outros é algo que apenas alguém com experiência e força seria capaz de fazer. Sig, o barman aparentava ter ambos.
— Me desculpem pelo atraso, o tempo longe de lutas e minha idade avançada enferrujaram minhas habilidades.
— Obrigada! Não sei se conseguiria resistir a algo assim.
— Seus braços estão bem? Não estão queimados?
— Tá um pouco quente, mas acho que consegui aguentar um pouco por conta da armadura de mana.
— E o rapazinho?
— Estou bem — respondeu enquanto ainda afastava os esqueletos que pulavam em sua direção.
Os núcleos que ocasionaram a explosão de alguns minutos atrás levitaram suavemente no ar. A energia mágica se acumulava novamente aos poucos, reconstruindo seu corpo despedaçado.
— Um exército imortal, não questionam e apenas seguem as ordens, que magia poderia criar algo assim? — Sig se questionava sobre as criaturas, enquanto as mesmas nos atacavam.
O monstro descarnado havia chamas em seus olhos e por eles as disparou em um feixe duplo de fogo. Sig conseguiu segurar as chamas criando uma bolha d’água em sua volta, nesse momento, encontrei uma oportunidade para atacar. Corri rapidamente para o seu lado e em um único salto cheguei a altura da cabeça. Ele a virou completamente, como se houvesse a separado de seu corpo, sua boca se abria, criando uma esfera de fogo em seu interior. Um golpe simples para um usuário do fogo, Elena e Akira os usam casualmente, mas com seu poder destrutivo aumentado poderia facilmente destruir aquela ilha.
Eu já estava preparada para me defender do ataque, até que Sig prendeu seu maxilar em águas que o aprisionaram ao chão como correntes. Mudar minha posição em pleno ar mais uma vez iria me fazer perder o equilíbrio e eu não poderia perder essa oportunidade para atacar. Em um ato imprudente, agarrei sua boca que estava presa na água, o monstro se desfez das correntes movendo sua cabeça para os lados quebrando o seu pescoço que rapidamente foi posto no lugar.
— Merda! — o cadáver ambulante fechou a boca, mordendo assim a minha mão, me prendendo a ele.
Ele balançou sua cabeça para cima e para baixo, me chacoalhando como um brinquedo. Tonta, sem conseguir ver exatamente o que estava acontecendo, usei a mão que estava livre para tentar socar sua cabeça. O sangue da lua que fortalecia meu corpo me ajudou a abrir um buraco onde consegui soltar minha mão e logo em seguida fui arremessado aos ares.
Em pleno ar, uma rajada de fogo foi disparada em minha direção, mas com sorte, consegui usar meu braço para desviar a trajetória das chamas. Eu caí com tudo ao lado de Shosuke, com meu braço brilhando em um calor escaldante.
— Saki?
— Porra, minha mão! — a mordida do monstro fez um corte profundo no topo da minha mão, o sangue escorria entre meus dedos e eu mal conseguia movê-la.
Tentei me apoiar para levantar, mas não senti o chão logo abaixo de mim, e ao invés disso, meu braço passou direto por um buraco escuro. Eu perdi o equilíbrio completamente e quase caí para dentro do buraco. O susto fez meu coração palpitar fortemente, quase era possível enxergá-lo bater em meu peito.
— DE ONDE SURGIU ESSE BURACO?
— A explosão de antes fez com que as pedras caíssem no chão e abrissem esse buraco — Shosuke me respondeu sem tirar os olhos do exército de esqueletos que não paravam de atacar.
Sig continuava a bloquear os ataques do monstro seco, dissipando suas chamas.
— Espera aí… isso é… — olhando atentamente para o buraco, algo parecia soprar o ar para fora, isso seria impossível em um túnel fechado. Observando atentamente, vi um fluxo de mana escuro saindo de dentro do buraco e pensei instantaneamente — A névoa negra… não dá pra ver direito devido à poeira, mas a mana escura é idêntica à da névoa.
— Saki! — Sig chamou estendendo seu braço para mim. Uma corrente d’água veio até a minha mão ferida, limpando o sangue e o corte — Isso vai impedir que a ferida se torne uma infecção. Dá pra ver que tem névoa saindo desse buraco, só vocês podem entrar aí, vão depressa!
— Mas e você?
— Eu vou cuidar de tudo por aqui, não se preocupem.
Receosa, sem saber se seria capaz de suportar a maldição decidi acreditar em Sig. Shosuke poderia ir sem problema, então pedi para que fosse na frente.
— Shosuke, pode ser que a névoa esteja vindo daí de dentro. Temos que olhar!
— Você não vai conseguir passar pela névoa. Vai morrer.
— De alguma forma, eu passei por ela antes, eu tenho que arriscar.
— Tsc. Eu vou na frente — saltou para dentro do buraco.
— Devo avisar aos seus amigos? — perguntou Sig.
— O quê? Bem… pode ser que a Noelle tenha um ataque do coração, então… apenas peça para me esperarem.
— Certo! Agora vai!
“Cara, quão fundo é isso?” Eu ainda não havia escutado se Shosuke havia chegado ao chão ou não, parecia um grande buraco.
Ponto de Vista de Noelle:
Akira e eu nos levantamos com nossas roupas encharcadas. Enquanto nos secávamos, escutamos passos lentos vindo em nossa direção, que rapidamente se transformaram em uma legião de mortos vivos.
— O que há de errado com esses caras? Mesmo que a gente os derrube eles se levantam de novo e de novo!
— É magia de conjuração das trevas! Estão tomados pela névoa negra, são todos que foram atingidos por elas — os meses que passei treinando com Galliard não apenas me fizeram mais forte em termos mágicos, mas também me trouxeram muito conhecimento. Passar tanto tempo com alguém inteligente como ele com certeza traria algo do tipo, horas de estudo, vendo cada detalhe sobre a mana, graças a isso, eu tive uma ideia sobre o que fazer quanto a névoa negra.
— Mas aquele cara! Certeza que ele usava a conjuração do ar!
— Tem duas possibilidades — de repente, um esqueleto no qual Akira acabou deixando escapar pulou em minhas costas, mas antes que pudesse me acertar, seu crânio foi aberto por uma bola de fogo.
— Foi mal, são muitos.
— Valeu! Mas como eu tava dizendo, existem duas possibilidades. A primeira é que ele é um divergente.
— Um divergente? O que diabos é isso?
— Uma pessoa que pode ser um usuário tanto de conjuração quanto de manipulação, esses são os divergentes comuns…
— Depois me explica! Não vou conseguir entender nada com esses merdinhas atrapalhando — interrompeu.
— De qualquer forma, ele pode ser um divergente elementar e usar o Ar e as Trevas. E a segunda é que ele não está sozinho!
— É o quê? — ele parecia surpreso.
— Tsc! Vamos sair logo daqui!
Corremos em direção à torre que Saki e Shosuke haviam caído e no meio do caminho subimos em alguns escombros para que eu pudesse explicar minhas teorias.
— Como eu estava dizendo, divergentes comuns podem usar a manipulação e conjuração do elemento, mas esse não parece ser o caso. Ele pode ser um divergente elementar, isso explicaria a magia das trevas e vento em conjunto.
— Entendi… Então existem pessoas capazes de usar mais de um elemento,,,
— Julgando o livro pela capa, ele não parecia ser alguém capaz de usar dois elementos em conjunto por tanto tempo assim. Tá certo de que a maldição não é mais controlada por ele, mas uma maldição desse nível exige muita habilidade e por isso, eu acredito que ainda exista uma outra pessoa por trás disso.
— Você tem razão, ele só parece um louco, sem contar que teve um momento que alguém parecia falar na cabeça dele.
— Exatamente! Essa pessoa não deixou que ele nos atacasse, só nos jogasse para longe.
— Mas como eles estão se comunicando?
— Você reparou que a névoa negra cercava o trono que estava sentado? Ela estava vindo dali, a segunda pessoa não deve estar tão longe.
— Entã-
Antes que Akira pudesse falar algo, o som de uma grande explosão chegou aos nossos ouvidos. A onda de calor que foi gerada esquentou até mesmo os metais espalhados nos escombros. Assim que olhamos para a mesma direção da explosão, vimos que a torre que estávamos indo, desapareceu completamente.
— SAKI! — meu corpo se moveu sozinho correndo até o lugar onde eles estavam.
Os esqueletos no caminho foram subjugados pelos raios que saiam do meu corpo, eu segurava meu chapéu para que ele não voasse ao mesmo tempo que eu impulsionava meu corpo com a eletricidade, indo tão rápido que deixei Akira para trás.
Chegando lá, tudo que encontrei foi uma horda de esqueletos e um grande monstro cadavérico lutando contra o Barman bigodudo.
— B-Barman?
— Ugh! Pode me chamar e Sig! — usando a água com técnicas extremamente refinadas, ele segurava o exército morto vivo sozinho.
— O que aconteceu? Por que tem tantos deles por aí?
— Eu quem deveria estar perguntando isso. O que vocês fizeram?
Contei à Sig exatamente o que havíamos feito. A pessoa que supostamente assolou a ilha com a maldição da névoa negra disse que deveríamos agradecer pela misericórdia de Deus, mas mesmo assim, nos separou, nos atacou e disse que poderíamos fugir, por mais que seja impossível sair dessa ilha.
— Um Deus que machuca as pessoas nunca seria um Deus adorado pelos Ravenianos.
— Raven nunca teve um Deus. Seja o que for, precisamos descobrir o que está acontecendo.
— Seus amigos já estão a caminho.
— O quê?
— Saki pediu para que você esperasse, vamos ter calma.
— Como é? Sozinhos? Vamos ajudar! — respondi correndo em direção a um buraco aberto no chão.
— Não! — Uma bolha d’água surgiu, tapando o buraco — Não podemos ir lá.
— E o que vamos fazer? Temos que ajudá-los!
— Nós já temos uma função.
— Eu vou segurá-los aqui e garantir que nada os atrapalhe. Enquanto isso, preciso que você encontre Karayan e o traga aqui.
— E depois?
— Eu explicarei tudo quanto nos reunirmos.
— A-Antes de ir… Posso perguntar algo?
— Claro! Essas criaturas não são nada.
— Sobre a minha… quer dizer, sobre a Viollet… você já sabia?
Em um longo suspiro, respondeu calmamente:
— Sim… me desculpe por não ter contado antes.
De repente, um peso em meu coração desapareceu e o vazio deixado por ele se preencheu com mais perguntas e dúvidas.
— Muito obrigada — saí dali rapidamente.
Enquanto corria por cima dos escombros, pulando de casa em casa procurando pelo bebum, me segurei para não fraquejar e deixar minhas lágrimas caírem.
Ponto de Vista de Akira:
— Tsc! Ela é muito rápida!
— Algum problema garoto? — uma voz desgastada e velha chegou aos meus ouvidos.
Olhei para o lado assustado, dando de cara com a Dona da pousada Asa de Corvo, a senhora Yoki, que voava pelas ruas em cima de uma rocha.
— AÍ CACETE! Eu não sabia que esses esqueletos eram tão rápidos.
— Esqueleto é a sua avó! — respondeu acertando uma pedrada em minha cabeça
— Ah! Foi mal aí! Eu me confundi.
— Humpf! Onde estão seus amigos?
— Um magricelo nos dividiu, a Noelle estava comigo, mas ela correu rápido demais, não consegui acompanhar.
— Você precisa arranjar uma forma de se locomover, é o básico para um usuário da magia — trazendo uma pedra um pouco menor ao meu lado, pediu — Vai, sobe.
— Valeu aí!
A Dona Yoki me levou rapidamente em direção à explosão que havia acontecido, nos encontrando com o Barman.
— Barman! — o cumprimentei de longe.
— É Sig!
— Sig! O que está fazendo? — Yoki se aproximou, descendo da pedra voadora.
— Segurando essa horda de monstros.
— E esse esqueletão aí?
— Tsc, já perdi a conta de quantas vezes o derrotei.
— Cadê a Noelle? Ela veio aqui atrás da Saki e do menino fala mansa.
O exército de esqueletos se acumulava ao nosso redor, nos cercando enquanto conversávamos. Minhas chamas não eram suficientes para torrar seus ossos, tudo que conseguia era desmontá-los, mas logo em seguida eles se erguiam.
Sig me explicou o que cada um estava fazendo, o que me fez ver que só eu estava sendo inútil.
— Garoto, eu estou velho, não vou conseguir manter as coisas assim por muito tempo. Temos que acabar com esse grandão logo!
— Esse bicho tem dois núcleos de fogo, estou em desvantagem, não consigo fazer nada contra ele.
— Do que está falando, garoto — a Velha Yoki interrompeu — Nesse mundo não existe nenhuma desvantagem elemental.
— Como é?
— Magos, Bruxos, Guerreiros, seja lá o que for, tudo depende de quem usa melhor as suas habilidades.
— Escute a velha, rapaz. No fim, tudo não passa de uma batalha de inteligência.
Enquanto duvidava de minhas capacidades, o foco do grande esqueleto mudou. Seus núcleos mágicos se remexiam, gerando um calor imensurável. Concentrando toda a magia em um único ponto, ele disparou um feixe de chamas contra mim.
Eu tentei parar o ataque imitando o seu golpe, mas em questão de segundos, suas chamas engoliram as minhas.
Eu falhei, não fui o suficiente, porém, minha vida foi salva por uma grande pedra, que ao ter suportado as chamas do monstro, se transformou em uma bola de magma.
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