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    Ponto de Vista de Elena (33 anos atrás – 18 Anos)

    — Já tá quase na hora… está pronta, Elena? — Galliard perguntou.

    — Há tempos! A demora agora é só com a princesa — respondi em um tom sarcástico.

    — Melissa, vamos logo!

    — Por que só eu? Cadê o Ezequiel? — gritou.

    — Ele já foi na frente, sabe como é quando ele fica ansioso.

    — Tsc! Já vou!

    Reunidos no breu, Galliard proferiu seu feitiço.

    — Subtraia! — de forma calma.

    Uma forte luz iluminou o espaço, abrindo um buraco para o lado de fora. Nós passamos para o outro lado, chegando em uma planície desértica, cercada por destroços e cadáveres decompostos.

    — Sério, eu nunca vou me acostumar com isso — comentei.

    — Melhor do que ser pego de surpresa no meio da noite.

    — Nisso ele tem razão.

    — Pelo menos já está acabando — olhei para trás, me despedindo da enorme pedra que  nos escondia — Parece que estamos perto de Shryne.

    — Finalmente! Depois de tantos anos — Melissa expressava sua empolgação com pequenos pulinhos.

    — Não fiquem tão otimistas, afinal, ainda tem uma guerra rolando.

    — Não seja tão pessimista, Gal! — Ezequiel, vindo em direção a nós, exclamou.

    — É a realidade, já faz 8 anos desde que Verdena se tornou o maior campo de batalha, seria um milagre se Shryne ainda estivesse de pé.

    — Tá voltando por quê? – perguntei.

    — Encontrei o exército do nosso amigo general no caminho.

    — Então tá me dizendo que VOCÊ voltou porque encontrou aquele demônio?

    — Talvez exista um mundo onde esse cara seja racional — Melissa completou.

    — Eu duvido que esse mundo exista! — o mesmo afirmou confiante — Só voltei porque achei que seria interessante vocês verem o que ele pretende fazer.

    Chegando mais perto do exército, vimos Bizon, ainda com um de seus braços decepados, marchando sem parar, deixando suas pegadas gravadas profundamente na areia. Olhando para o horizonte, na direção de sua marcha, ele daria de encontro com uma ruína antiga.

    — O que ele quer com um lugar completamente destruído?

    — Vai saber, talvez ainda esteja procurando o “livro”

    — Acho difícil, faz 6 anos que tudo que ele faz é gritar “Insetos insolentes” pra lá e pra cá.

    — Ele tá obcecado pela gente…

    — E até quando a gente vai ficar se escondendo? — Ezequiel resmungou rangendo os dentes.

    — Viu o rastro de destruição que ele vem deixando — Galliard se opôs — Acha que consegue vencer?

    — Tá de brincadeira? Não pensei o contrário nem por um segundo. E não só eu, vocês também venceriam, afinal… — Continuou ao deslizar pelo montante de areia — ABAIXO DESSE CÉU, TUDO É NOSSO!

    — Ezequiel! — gritamos.

    Nós fomos atrás dele, sabendo que todo esse tempo nós escondendo não poderia ser em vão. Nos últimos 6 anos que passamos viajando, nós aprimoramos e descobrimos mais sobre nossas habilidades, cruzamos dois continentes até chegarmos em Verdena, matando demônios que obstruem nosso caminho. O General Bizon nos procurou por todo esse tempo, sua obsessão fez com nos afastasse de Shryne várias vezes, mesmo assim, nunca o confrontamos, até hoje, ainda que tivéssemos matado.criaturas tão fortes quanto ele.

    O motivo disso era bem simples, sua pressão era algo que nenhuma criatura jamais havia emanado, sua presença era poderosa e ameaçadora, causando um sentimento único de medo.

    — Por que ele tem que ser assim? — perguntei furiosa.

    — Ele já se segurou tempo demais! — Galliard respondeu — Chegou o dia!

    — Finalmente! — Melissa riu com uma expressão ansiosa.

    Ao que parecia, eu era a única medrosa.

    — Eu vou criar uma barreira ao redor da ruína e dar suporte para vocês! Vocês duas cuidem do exército e depois ajudem o Ezequiel!

    Ezequiel se aproximava do General rapidamente, o provocando para uma luta.

    — Achei vocês! — o grande demônio exclamou.

    — Elena! — Melissa gritou com a palma da mão virada para cima.

    — Beleza! — com um rápido toque, meu corpo ficou leve como uma pena — EU VOU EXPLODIR ESSES FILHOS DA PUTA!

    Em um único salto, voei para cima do exército do general, causando uma grande explosão no impacto.

    — Ela é uma besta…

    — E é a única que não sabe disso…

    — EU OUVI ISSO!

    Conjuração da Luz: Sol, essa era a minha magia. Para simplificar, meu corpo age como se fosse o próprio sol, ao fazer a mana fluir sobre mim, ela gera, por um curto período, uma grande quantidade de energia, criando explosões a qual sou imune. Por ter sido desperta cedo demais, não conseguia controlar esse processo, então a medida que mais explosões eram geradas, mais quente e mais brilhante eu ficava, exatamente como o sol.

    Melissa, por outro lado… já manifestava suas habilidades com perfeição desde que despertou.

    Em segundos, uma barreira sob o seu apareceu, ela dividia em um domo perfeito o nosso campo de batalha do resto do mundo.

    — Parece que subiram de nível… — o general levantava seu machado — MAS AINDA É INÚTIL! — ao batê-lo no chão, dividiu a “arena” em dois lados, deixando Ezequiel isolado de nós.

    — Ele planeja nos matar um por um! — Galliard tentou saltar para o outro lado, mas foi interrompido pelo seu amigo.

    — Nem vem! Um homem de verdade não recusa um duelo!

    — Deixa de ser idiota!

    — Relaxa! Não tem a menor chance de eu perder pra esse cara!

    Ponto de Vista de Ezequiel:

    Eu sempre fui impulsivo e irresponsável, tinha a ganância e os desejos do mundo inteiro, o senso de humor refinado e uma personalidade extravagante. Sempre fui muito habilidoso, quase um prodígio, mesmo nunca tendo treinado e tendo uma postura relaxada, não houve uma única vez em que eu havia perdido uma luta. Basicamente uma criatura perfeita.

    6 anos atrás eu experimentei o gosto amargo da derrota. Fiz o possível para não pensar nisso e esquecer aquele dia, mas a cada segundo que passava, eu sentia aquele gosto amargo se expandindo pelo meu corpo.

    Todas as coisas me pertencem, todas as criaturas me pertencem, todas as conquistas me pertencem, logo, tudo que está abaixo deste céu me pertence.

    Minha família detestava a minha determinação e sem hesitação me jogaram para fora, mesmo assim, eu sabia que eles eram a minha família, logo me pertenciam. Encarei aquela situação como uma forma de mostrar ao mundo a grandiosidade daquele que declararia o posto de rei do mundo. Foi assim que me joguei no campo de batalha.

    Desde que fui transportado para perto dessas pessoas, fui aos poucos percebendo o quão sem graça é ter tudo estando sozinho. Eu resolvia todos os nossos problemas com pequenas demonstrações do meu poder, protegendo aqueles que lentamente foram se tornando uma nova família que conquistei para mim.

    Porém, em um dia qualquer, meus olhos avistaram algo que eu não poderia alcançar: aquelas jovens crianças superando seus limites a cada dia. Ver aquilo despertou uma chama dentro de mim. Passei incontáveis dias me aprimorando, alagando todo lugar por onde passávamos com o suor do meu esforço.

    Meus seguidores pararam de clamar pela minha ajuda e mais uma vez, percebi que estava ficando para trás. Não importa o quanto eu corria, eles insistiam em me ultrapassar.

    Observando-os de longe, vi que suas forças não me pertenciam e quase cheguei a duvidar do meu lugar nesse mundo, mas antes que deixasse uma desgraça como essa acontecesse, uma luz me apareceu e então… finalmente entendi meu propósito.

    — Elena! — exclamei para a criança — vem aqui, tem uma surpresa pra você!

    — O que esse idiota quer agora… — resmungou.

    Chegando até mim, no alto de um precipício, perguntei.

    — O que você acha que acontece se cair daqui?

    — Deve ter mais de 100 metros, talvez eu morra.

    — Tem certeza?

    — Não… — a empurrei — AAAAAAAAAAAH!

    Pouco tempo depois ela voltou, completamente suja e com folhas em seu cabelo.

    — SEU IDIOTA! EU PODIA TER MORRIDO!

    — Mas não morreu, agora tem certeza.

    — Eu ainda mato você…

    — Vai me agradecer mais tarde.

    Pouco a pouco eu dava uns empurrõezinhos.

    — Melissa! Chega mais!

    — O que foi?

    — Você tem estado meio avulsa esses dias…

    — Avulsa?

    — É! No mundo da lua tá ligada?

    — Entendi… acho que eu tô mesmo.

    — Ainda tá bolada com a Elena?

    — Não sei dizer…

    — Acho que devia esquecer isso, deixar pra lá sabe?

    — Como? Não da pra deixar isso passar!

    — Por que te incomoda?

    — Por algum motivo, o simples fato dela falar algo sem saber de nada me irritou profundamente.

    — E por que isso importa? — me levantei rapidamente — Se ela não sabe de nada, por que isso é tão ruim pra você? Aliás, ela é esquentadinha demais, nem deve ter pensado antes de ter dito aquelas coisas — e saí elegantemente em uma saída dramática.

    Empurrá-los para frente, expandir seus potenciais, tudo o que eu queria era fazê-los chegar acima do meu céu…

    — VOCÊ VAI MORRER PRIMATA IMUNDO! SEU CORPO SUMIRÁ NESSA TERRA SECA SEM RASTROS! — O Pequeno General Bizon e eu avançamos em um último golpe. Ambos completamente destruídos.

    — Não me importa se meu corpo vai sumir ou não! — de peito aberto, recebi seu golpe de bom grado — Mesmo que eu morra… — transformando todo o metal a minha volta em duas lâminas — O FUTURO SERÁ MEU!

    Com uma lâmina presa em cada braço, rasguei o ar com uma enorme força, decapitando a cabeça do general. Meu corpo estava sem forças para gritar, a luta me deixou completamente esgotado, não sabia nem como me mantinha de pé.

    — EZEQUIEL! — escutei minha família gritando por mim.

    — Idiota! Por que não deixou a gente ajudar?

    — Um homem deve saber quando chega ao seu limite…

    — Limite? Desde quando você tinha um limite? — Elena gritou.

    — E aquela história de rei do mundo? O que você pensa que tá fazendo? — lágrimas escorriam pelo rosto do meu amigo.

    — Eu já conquistei o mundo há muito tempo.

    — Para de falar besteira e deita aí! Eu vou pegar algumas ervas e- 

    — Não…  ele cortou quase metade do meu corpo, nem mesmo você conseguiria alguma coisa.

    Elena, aos prantos, disparavas suas chamas em mim.

    — Merda! Merda! Merda! — aquelas chamas não ardiam nem esquentavam, porém não alcançava o resultado que ela desejava — Por quê não funciona? — lamentou.

    — Calem a boca e me escutem, eu ainda tenho que partir com estilo… — eles se calaram imediatamente — Eu odeio admitir, mas não sou eu quem vai conquistar as estrelas que tanto almejei. Vocês são pequenos monstros, monstros além do que eu algum dia seria — Minha vista começava a escurecer e a silhueta de uma coroa surgia em minha mente — Sei que um dia essa guerra vai acabar, e sei que é nesse dia em que vocês alcançarão o topo — em um sorriso, após ver quem estava vestindo aquela coroa, dei o meu suspiro final — Abaixo desse céu, tudo é nosso… mas acima dele, é tudo de vocês…

    Ponto de Vista de Elena:

    Mesmo depois da morte, ele estava de pé. Mesmo com metade do corpo partido ao meio, ele estava sorrindo.

    — Merda… maldito orgulhoso!

    — Ele foi um idiota até o fim… — Melissa, de costas para seu corpo e com uma voz chorosa.

    — Um verdadeiro idiota… — Galliard segurou suas lágrimas.

    Nós enterramos seu corpo em um lugar não tão distante dali, acreditamos que Ezequiel gostaria que seu corpo fosse sepultado onde teve o seu fim, não… morte não é um conceito que se aplicaria a esse sujeito… de alguma forma, ele ainda parecia estar vivo.

    O sol parecia estar mais quente do que o comum e o céu estava azul assim com seu cabelo, diria que um clima digno para pessoa que se foi.

    — Temos que ir, estamos mais perto de Shryne do que nunca — Melissa afirmou.

    — Antes disso, preciso fazer uma coisa.

    Galliard correu até o corpo morto do general, se aproximando de sua arma.

    — Ainda está se desfazendo — falei ao ver seu corpo virando pó.

    Transporte dimensional.

    Galliard, ao pousar suas mãos sobre o machado, invocou uma fenda acima do mesmo, o transportando para um lugar desconhecido.

    — Desde quando pode fazer isso?

    — Venho treinando há alguns meses, mas não consigo transportar pessoas ou objetos com grande quantidade de mana.

    — Ezequiel ia gostar de ver isso…

    — Sim, era pra ser uma surpresa.

    Em um clima melancólico, nos despedimos uma última vez do nosso falecido amigo, e partimos, rumo ao nosso destino final.

    A caminhada era… silenciosa, nós não imaginamos quanta falta ele poderia fazer em nossa jornada, todos seguravam suas lágrimas em seus lábios contorcidos, até finalmente, Melissa ceder.

    — Não dá! Eu não consigo mais!

    — Melissa! — Galliard a envolveu nos seus braços fofos.

    Ambos choravam, meu medo crescia ainda mais, o céu se tornava cinza, mas ainda assim, tínhamos que continuar.

    — Levantem! — gritei — chorar no chão não vai resolver nada!

    — Como você pode… — Melissa se enfurecia — SER TÃO INSENSÍVEL!

    — Não estou sendo insensível — respondi com um olhar determinado — Ele se foi e isso não vai mudar! Aquele idiota pediu por isso.

    — QUE MERDA VOCÊ- 

    — Cabe a nós honrarmos seus desejos. 

    “Sei que um dia essa guerra vai acabar, e sei que é nesse dia em que vocês alcançarão o topo” suas palavras vieram a minha mente.

    — Eu vou alcançar o topo! Vou conquistar tudo que tiver que conquistar! Acima do céu tudo será meu!

    “BAROOM!” De repente, um raio em meio ao deserto.

    — São belas palavras — uma voz rouca e velha soou — nunca me canso de ouvi-las.

    — Quem é você? — gritei ao virar me para o senhor.

    Ele tinha um cabelo e barba longos e grisalhos, vestia um simples jaleco branco por cimas das suas roupas pretas. Ele não era nada elegante, pelo contrário, era despojado da cabeça aos pés. Porém, um pequeno detalhe me intrigava, o seu tapa olho do lado esquerdo de seu rosto, emanando uma quantidade de mana que jamais havia visto.

    — Pode me considerar um aliado, estou aqui para ajudar — dando um passo para frente.

    — Parado aí! — estendendo meu punho brilhante — Eu perguntei quem é você! — meu braço tremia de medo.

    — Ah… — suspirou — já disse, sou um aliado. Mas se de alguma forma te acalma, pode me chamar de Nakamura.

    Esclarecendo algumas coisas: Acredito que não tenha ficado claro nos últimos capítulos, então gostaria de dizer com todas as palavras aqui. Os poderes de cada personagem não se limitam aos elementos ditos nos capítulos iniciais da obra, a expressão “derivados” utilizada no capítulo 10 referem-se as habilidades não convencionais, mas que tem ligação com um ou mais elementos.

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