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    Nebuloria, o dito Lar dos Demi-Humanos. A medida que nos aproximávamos, víamos as peculiaridades daquela cidade. Além de roupas modernas, estranhamente idênticas as quais via em meu mundo, seus corpos eram predominantemente de humanos comuns, porém, havia detalhes como orelhas, narizes e olhos semelhantes a animais.

    — Noelle… — Akira a chamou, com curiosidade no olhar — essa é a sua terra natal? — olhando para suas orelhas de lobo.

    Minha amiga estava completamente distante de nós em espírito.

    — O quê? — ela parecia ter voltado de seu próprio mundo — Não. Eu sou de uma pequena cidade na fronteira entre Verdana e Brasslyn.

    — Não sente saudades dos seus amigos?

    — Não fiz muitos amigos lá…

    — Que chato… — antes que o clima ficasse estranho, mudei o assunto rapidamente — Então… pra onde fica o hotel?

    Em meio a cidade cheia de prédios brilhantes e infinitas pessoas circulando pelas ruas, pensei que seria impossível encontrar o lugar onde a rainha havia nos enviado.

    — Deve ser aquele ali — Noelle apontou diretamente para frente, indicando um enorme prédio no fim da rua — ela disse que era o maior prédio da cidade.

    — Como é que eu não tinha visto isso ai? — decepcionada comigo mesma.

    — Eu nem me surpreendo… — Akira debochou.

    Após presenteá-lo com um belo galo na cabeça, fomos ao luxuoso “Hotel Nebulous”, aparentemente, o mais caro de toda a cidade. Fizemos todas as burocracias chatas antes de conseguir entrar no hotel, que graças a rainha Melissa foi extremamente mais rápido que o convencional.

    — OLHA O TAMANHO DESSE LUGAR! — gritei surpresa ao ver que o quarto do hotel era praticamente do mesmo tamanho que a casa de Galliard e Elena, talvez até maior.

    A casa, digo, o quarto era repleto de móveis luxuosos e decorações caras, o chão polido brilhava tanto que ao ver nossos reflexos, quase ficávamos cegos pela luz.

    — TEM BANHEIRA! — Akira berrou empolgado.

    — É uma pena a gente ficar pouco tempo aqui… — reclamou Noelle.

    — E é por isso que vamo aproveitar!

    Em poucos minutos, arrumamos e nos acomodamos no quarto. 

    — Certo, e agora? — Perguntou Akira enxugando seu cabelo enrolado recém-molhado.

    — Vamos procurar por pistas.

    — O lugar que a mensagem foi enviado fica num vilarejo aqui perto, devemos encontrar alguma coisa lá — respondeu Noelle.

    — Beleza, vamos agilizar tudo! Assim deve sobrar um tempo para desfrutar a cidade.

    Com algumas informações que reunimos pelo caminho, conseguimos chegar ao vilarejo sem problemas, uma caminhada um tanto longa, mas tranquila. Lá, nos separamos para poupar tempo, indo todos para direções diferentes em busca de informação.

    No fim do dia, infelizmente sem muitas respostas úteis, nos encontramos no único bar que havia no vilarejo.

    — Antes de vocês começarem a falar, eu tenho uma pergunta — Akira, o último a chegar, levantou de sua cadeira — Por que a gente sempre acaba em um bar, ein? — com um tom de voz indignado.

    — Tem algum lugar melhor? — retruquei.

    — Tsc! — sem pestanejar, desistiu da discussão — Que seja! Já pedi o de vocês — mostrando uma garrafa de saquê e um copo de suco na mesa.

    — Como sabia que a gente ia pedir isso? — perguntou Noelle ao se sentar.

    — Não é a primeira vez…

    — Ah para né! A única vez que a gente esteve em um lugar assim foi em Raven!

    — Na verdade, teve aquele em Antares também… — minha amiga corrigiu.

    — E aquele antes das termas… — Akira completou.

    — Tá, tá, eu tinha esquecido disso…

    — Enfim, conseguiram alguma coisa?

    — Nada relevante — Noelle suspirou decepcionada.

    — Mesma coisa… 

    — Ai, ai… — relaxando suas costas na cadeira, Akira deu um sorriso confiante — o que seria de vocês de mim…

    — Se você descobriu alguma coisa, desembucha logo — dando uma golada na garrafa de saquê.

    — Quando cheguei aqui, perguntei ao Barman se sabia de algum pedido de ajuda enviado daqui e por coincidência, ele confirmou que há alguns dias um viajante chegou ofegante, assustado e pedindo por socorro.

    Antes mesmo dele terminar de falar, Noelle e eu já estávamos indo em direção ao balcão de bebidas.

    — Barmans sabem de tudo mesmo, não é?

    — Não sei como não pensamos nisso antes!

    — Espera aí! — gritou para as poucas pessoas dentro do bar ouvirem — tão indo pra onde? — abaixando sua voz após o constrangimento.

    — Ué, falar com o barman.

    — Eu já perguntei tudo pra ele, não precisamos mais…

    — Então pra onde o remetente foi? — interrompi ao perguntá-lo da forma mais sincera que pude.

    — … — seu silêncio quase me fez perder a audição.

    — … — esperei pacientemente por uma resposta.

    — E se eu te falar que esqueci… — respondeu sem saber onde enfiar a cabeça.

    — Não consigo nem ficar surpresa…

    Antes que a noite caísse por completo e o movimento no bar aumentasse, até o balcão de bebidas reunir todas as informações que podíamos com o Barman. O digníssimo possuía um cabelo grisalho, revelando seus longos anos de vida e chacoalhava sua coqueteleira com maestria enquanto contava com detalhes o que aconteceu na noite em que um homem assustado chegou em seu bar.

    — Em resumo, um cara todo encapuzado entrou no bar e mandou um pedido de ajuda no mesmo instante. Não sabemos nada sobre sua aparência, mas ele deixou isso para trás — durante minha recapitulação dos fatos, coloquei sobre a mesa um elástico de cabelo adornado com joias douradas — o que indica que a pessoa provavelmente faz parte de uma das grandes famílias de Nebuloria ou possui um cargo importante dentro da alta classe…

    — Uhum! — limpando sua garganta, o Barman interrompeu — Sinto muito interrompê-los, mas preciso contar mais uma coisa antes que mais clientes cheguem.

    — Ah, certo! Já estamos de saída!

    — Muitos clientes aqui relataram a existência de demônios infiltrados em nebuloria Nebuloria. Obviamente, vários deles bêbados e fora de si, mas devido a alguns acontecimentos recentes, não seria estranho…

    — Entendi… — deixei em seu balcão algumas moedas — obrigado pelas informações, e claro, pelas bebidas — me despedi ao dar as costas para ele.

    — Hum… — o barman analisava uma das moedas meticulosamente — Vieram de tão longe para um simples pedido de ajuda? — perguntou mostrando o rosto de Rei Welt gravado na moeda.

    — Nah… eu só queria me livrar disso.

    Enfim saímos do bar, a lua já se destacava no céu junto as estrelas, foi assim que percebemos que seria melhor voltarmos para o hotel.

    — Saki, se seu palpite estiver certo, por que alguém nessa posição viria para este pequeno vilarejo só pra mandar um pedido de ajuda? — Akira indagou enquanto caminhávamos.

    — Dos casos parecidos que vi em Antares, pode ser que até mesmo seus entes mais próximos não sejam confiáveis. Assim, a forma mais segura de pedir ajuda seria com uma mensagem anônima em algum lugar onde não criasse suspeitas.

    — Sim — Noelle reafirmou — de qualquer forma, esse elástico reduz as chances de ser uma pessoa comum a fazer o pedido, mas não as anulam, não podemos descartar essa possibilidade.

    — Independente de quem seja o remetente, tenho certeza que isso tem algo a ver com os demônios — disse com certeza absoluta.

    — O quê? — meu amigo berrou ao ouvir o “absurdo” — como pode ter tanta certeza?

    — Sei lá… pode ser que eu tenha virado um rastreador de entidades demoníacas — respondi com um deboche.

    — Demônios adoram festas e luxúria, não custa nada investigar — em um tom de seriedade, a jovem bruxa propôs.

    — Eu topo! Amanhã uma das 3 grandes famílias vai dar uma festa super luxuosa perto do hotel!

    — Como é que você sabe disso, ein? — Akira duvidou.

    — Fechado!

    — Espera aí! Eu não concordei com isso ainda!

    — Já são 2 contra 1 — respondi com um sorriso no rosto.

    — E como é que você vai encontrar os demônios por lá? Vai ficar perguntando pra todo mundo que nem uma idiota?

    — Não vamos lá encontrar ninguém — Noelle interrompeu — só queremos nos livrar dessa suspeita quanto antes, ou no pior dos casos, acabar com ela.

    Decidido o nosso próximo passo, nos preparamos para ir a grande festa. Graças a Rainha Melissa, se misturar entre os barões da alta sociedade não foi um desafio. Na maleta que nos foi entregue antes de chegarmos na cidade, havia roupas e acessórios de luxo.

    Finalmente chegada a hora, Noelle, Akira e eu estávamos em frente ao lugar da festa. Noelle, elegante e formosa como sempre, vestia um vestido prateado, semelhante ao que usou em Antares, com brincos azuis-celestes que acentuavam seus olhos tão brilhantes quanto uma joia preciosa. Já Akira, um pouco mais despojado, usava um casaco vermelho entre aberto, mostrando uma simples camisa preta em seu peito. Ele estava completamente adornado com acessórios caros e joias de ouro em seu pescoço e pulso, além de uma calça larga que cobria seu calçado, um tênis de cano alto, semelhante a um Air Jordan. Infelizmente, tive que abrir mão do meu conforto e também deixei de lado minhas roupas comuns. Coloquei um grande casaco preto por cima do meu curto vestido da mesma cor, deixando-o um pouco abaixo do meu ombro e dando um destaque a mais para o meu rosto. Meu colar, que nunca desgrudou de mim, foi ofuscado pelo brilho das minhas pratas, que vinham do pescoço ao pulso, acompanhando meu amigo.

    — Só pra deixar claro, ainda não concordo com isso! — Akira reafirmou.

    — Acredite se quiser, eu sou última que gostaria de me enfiar nesse tanto de gente — mal pude escutar a voz da jovem bruxa por conta do som da festa.

    — Não precisa ir se não quiser — tentei confortá-la.

    — Alguém precisa tomar conta de vocês… — brincou.

    — Já tá soltinha, né?

    Antes de entrarmos na festa, um dos dois enormes seguranças na porta do estabelecimento nos parou com uma expressão nem um pouco empática. Em seguida, ele gentilmente estendeu sua mão para Noelle, revelando dois tampões de ouvido. Seu colega educadamente apontava para suas próprias orelhas, instruindo a única demi-humana entre nós, que assim o fez.

    “Espero que essa coisa funcione…”

    Noelle parecia mais relaxada, agora o barulho da festa não seria um grande problema, então, assim que nos misturamos na multidão, nos separamos em direções opostas e começamos a investigação.

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