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    Na manhã do outro dia, fomos direto para o nosso ponto de encontro, agora finalmente com as ideias organizadas e um plano a ser seguido. De repente, antes que passássemos pela porta do bar, uma sombra no formato de uma pessoa se projetou no chão, nos surpreendendo.

    — Parece que finalmente vão agir — olhando para cima, lá estava Gwen, com um sorriso arrogante no rosto — Já estava cansada de esperar.

    — Não tem problema ficar no sol? — perguntei com uma séria dúvida.

    — Quê?

    — Digo, você é uma vampira… não devia estar usando uma capa ou um guarda-sol?

    — Do que você tá falando? Não é como se um vampiro você alérgico ao sol! — respondeu claramente confusa — E eu esqueci minha capa dentro daquele galpão podre… — desviando seus olhos envergonhados.

    — Entendi…

    — Nós estamos indo para o bar agora — Noelle interrompeu — vamos discutir nosso plano para ajudar o Dullaham.

    — Vão fazer isso enquanto bebem? São idiotas?

    — Não vamos beber! Mas não existe lugar melhor para esse tipo de coisa! — confirmei com a mais absoluta certeza.

    — Sabe que, LITERALMENTE, existem lugares específicos pra isso, não é?

    — Só cala a boca e vem com a gente!

    — Por que eu te obedeceria?

    — Você quer o livro ou não?

    Sem palavras e de cara fechada, Gwen nos seguiu até o bar.

    — Finalmente chegaram! — Ranga nos recebeu com um sorriso.

    Na mesa em que estava sentado, ele limpava um de seus rifles com o maior zelo do mundo.

    — Há quanto tempo você tá aqui? — Akira perguntou.

    — Tava realizando um favor nesse vilarejo e aproveitei pra dormir aqui mesmo!

    — Você dormiu no bar?

    — Acredite se quiser! — rapidamente se inclinou para o lado olhando para o barman — o dono desse lugar é gente boa pra caralho e me deixou passar a noite! — O barman acenou sutilmente com a cabeça.

    — Vamos logo ao que interessa! — a vampira interrompeu agressivamente, andando diretamente para a mesa.

    — Olha só, ela veio mesmo! — com seu sorriso simpático, estendeu a mão para ela — sinto muito por apontar uma arma na sua cabeça. Negócios são negócios.

    — Me poupe desse seu cinismo! — o deixando no vácuo.

    — Quanta frieza…

    Assim como Gwen queria, nos reunimos ao redor da mesa e fomos direto ao assunto. Rapidamente, ao ver a seriedade da situação, o dono do bar logo fechou o estabelecimento. 

    — É muito simples — mexendo com os itens em cima da mesa do bar, comecei a ilustrar o plano — Sabemos que nosso inimigo está em busca do Livro Mágico e acreditam que a família do Dullaham está o escondendo. Então, primeiro usaremos o Dullaham para atrair os demônios para uma emboscada. Depois vamos os capturar, caso resistam, não vamos hesitar espancá-los até pedirem por misericórdia. E por fim, o interrogatório, queremos saber para quê eles pretendem usar o Etheris, se estão agindo por conta própria e quantos deles são.

    — E depois de tudo isso. Acabamos com eles! — Ranga exclamou girando uma pistola no seu dedo.

    — Exatamente!

    — É um plano interessante… mas tem alguns problemas nisso — o mesmo pontuou.

    — Vá em frente.

    — Primeiro, está subestimando o inimigo, nada garante que eles não usem metade dos seus neurônios para desconfiar da nossa emboscada.

    — Temos que abusar do desespero deles! — comentou a vampira

    — Segundo, não sabemos o quão forte são os demônios com que estamos lidando. É arriscado demais se jogar em uma batalha sem informações cruciais dos nossos inimigos.

    — Acredito que sejam de classe média ou alta — Noelle interviu — se for o caso, conseguimos lidar com 2 ou 3 deles.

    — Se garante tanto assim, Bruxa Arrogante? — Gwen a provocou.

    — É só uma estimativa com base no que sei sobre eles, mas existem criaturas que tenho certeza que ainda não sou capaz de lidar — respondeu sem ao menos se importar com o comentário.

    — Então é melhor reunirmos informação antes de executar o plano…

    — Concordo — todos ao mesmo tempo.

    — Antes disso, precisamos de informações sobre a nossa equipe.

    — Somos uma equipe agora? — Ranga brincou.

    — Equipe, grupo, squad… o que preferirem.

    — Hehehe! Eu concordo com você! Quanto mais informação tivermos, melhor — colocando seu rifle de assalto e sua pistola sobre a mesa, começou — Essas belezinhas são os meus tesouros, Cassie e Monique!

    O rifle tinha uma cor predominantemente branca e possuía adornos pretos, ela possuía uma aura sombria, como se os adornos possuíssem almas perdidas que sussurravam em agonia. Já a pistola era robusta como um revólver do velho oeste, tendo uma cor cinzenta em sua maior parte.

    — Deu nome para as suas armas? — Akira perguntou em um tom de deboche.

    — Toda arma merece um nome, as tornam mais fortes! — continuou erguendo o rifle em suas mãos — ambas parecem armas comuns, mas cada uma desperta sua peculiaridade ao envolver mana ao seu redor. Além disso, sou um conjurador de magia das sombras, mas me limito apenas a invocações de objetos que registrei previamente com a minha mana.

    — É uma baita limitação…

    — É um pouco frustrante… mas existem meios de não depender da magia.

    Em sequência, Noelle, Akira e eu apresentamos nossas habilidades brevemente, restando apenas uma pessoa que hesitava em abrir a boca.

    — Que é? — perguntou Gwen, desconfortável com os nossos olhares que esperavam pacientemente por ela — Ah… — suspirou angustiada — certo, vocês já sabem que não sou uma humana como vocês, fora isso, tudo que precisam saber é que tenho a capacidade de manipular o gelo como bem entender, seja sua temperatura ou formato.

    — Isso não seria um manipulador de água? — perguntou meu amigo.

    — Não é incomum algo do tipo, ainda assim, cada um tem sua especialidade, não é?

    — Sim, minha especialidade são magias de vasta área.

    — Resumindo, ela não é tão precisa na sua forma de manipular o elemento, então opta por focar em quantidade ao invés de qualidade — resumi brevemente.

    — Eu não disse isso! — gritou furiosa.

    Enquanto a garota de cabelo rosa fazia um escarcéu por conta da sua falta de habilidade, Noelle parecia concentrada em algo além daquilo.

    — Ainda falta uma coisa — a jovem bruxa comentou, gravando uma runa mágica na mesa de madeira.

    Diretamente da runa, uma corrente de mana avançou no pulso da vampira, se enrolando em seu braço.

    — Qual é o seu problema? — berrou novamente, com ainda mais raiva.

    Gwen desfez rapidamente a corrente, libertando seu braço.

    — Então realmente consegue fazer isso, mas como? — Noelle avançou curiosa — Não está carregando nenhuma runa protetiva? Como interferiu no feitiço tão facilmente? Por acaso vampiros tem uma resistência mágica acima da média humana?

    — Saí de perto! — a afastando erguendo sua voz.

    — Ah! Desculpa! — Noelle enfim percebeu o que estava fazendo — Acho que me empolguei.

    — Você acha? — reclamou.

    — Mais da metade dos estudos sobre vampiros foram perdidos anos atrás, atualmente é difícil estudar sobre uma raça que vive escondida enquanto mantém a ética.

    — Não estamos nos escondendo… — sussurrou quase que para si mesma.

    — O que disse?

    — Nada! — se arrependendo das palavras ditas.

    — Mas aí… — chamei sua atenção — tem certeza que não tem mais nada para nos contar?

    — Tsc! O que vocês bruxos precisam para conjurar um feitiço, vampiros como eu conseguem fazer isso naturalmente.

    — Sem runas? — Noelle se espantou, ela olhava para Gwen com brilho nos olhos.

    — Agora já era — eu ria sabendo o que aquela coitada iria passar com o entusiasmo da minha amiga.

    Em meio ao turbilhão de perguntas que Noelle fazia, o barman chegou subitamente ao nosso lado, colocando uma chave na mesa. Ele nos olhou com seriedade, limpou sua garganta e disse.

    — Se me dão licença, deixarei esse lugar sob sua proteção — dando destaque para sua enorme mochila nas costas.

    — Não tá muito cedo pra fechar o bar? — perguntei com leveza.

    — Acredito que pelo tema da conversa, em breve, a região se tornará um caos e não quero estar aqui para ver isso.

    — Mas e o seu bar?

    — Podem usar a vontade — virando-se de costas para nós — apenas livrem Nebuloria dessas criaturas malditas! — com um singelo sorriso, se despediu.

    — É um carinha gente boa — comentou Ranga.

    — Então está decidido! Vamos nos separar e coletar todas as informações que precisamos!

    — Nós estamos em cinco, alguém vai ficar sobrando… — meu amigo trouxe um pequeno e irrelevante problema.

    — Pois é…

    Ponto de Vista de Akira:

    É claro que eu ficaria sozinho no final. Saki e Ranga foram preparar o terreno perfeito para a nossa emboscada final, enquanto Noelle e Gwen foram reunir o máximo de informações possíveis sobre os nossos alvos. Já eu… fiquei responsável por garantir a segurança de Dullaham, o que não me deixava nem um pouco seguro.

    Devo confessar que meu medo era grande, afinal, a última experiência que tive com alguma dessas criaturas não foram nada agradáveis. Os últimos anos que passei em Antares foram de grande ajuda, aprimorei minhas habilidades ao ponto de enfim conseguir lutar ao lado dos meus amigos, mesmo assim, eu me perguntava se era o suficiente para bater com os demônios frente a frente.

    Quatro dias após a divisão, em seu próprio quarto, Dullaham enchia um pequeno copo com alguma bebida que eu não conhecia.

    — Não parece muito bem… — disse ao se aproximar de mim, estendendo o copo na minha direção.

    — Você acha? — respondi virando meu rosto pálido e preocupado para ele.

    — Não acredito que você que vai me proteger…

    — Pois é, nem eu…

    “Nheeec” a porta do quarto de Dullaham abria lentamente.

    — Humano… — uma voz grave e agressiva chamou.

    Nunca me escondi tão rápido em toda a minha vida, eu me pendurava entre os lustres e arranjos no teto no quarto, enquanto tentava fazer até mesmo meu coração parar de bater para não ser notado. Infelizmente, a quantidade exagerada de decorações no quarto me impedia de vê-los.

    — Encontramos o livro — por uma fração de segundos, meus batimentos realmente cessaram.

    “Eles descobriram? Nosso plano deu errado?” minha mente se enchia com pensamentos indesejados “Se eles descobriram onde está o livro, significa que a Noelle foi pega por eles! Devo agir agora? Não! Isso deixaria as coisas ainda piores!”

    Tudo que eu podia fazer era esperar e prestar atenção nos seus próximos passos.

    — Quer dizer que vão me deixar em paz agora? — perguntou com certo alívio.

    — De forma alguma, você ainda nos será útil — respondeu com um sorriso maligno — e mesmo quando não for, não sairá vivo!

    — O quê? — a voz de Dullaham se tornou trêmula e chorosa — Não era esse o trato!

    O jovem caía de joelhos em lágrimas

    — HAHAHAHAHA! VOCÊ REALMENTE ACREDITOU NESSA PIADA? — com sua risada irritante, o demônio levantou o queixo de Dullaham com sua unha afiada — É melhor estar lá na hora se não quiser ver a cabeça da sua irmãzinha em uma bandeja!

    — S-Sim…

    — Humanos são realmente burros pra caralho! — ele continuou rindo ao sair e bater a porta brutalmente.

    — Aí, cara! Cê tá bem? — desci tão rapidamente quanto subi.

    — O que você acha?

    — Não vai acontecer nada com a sua família! Não vou deixar!

    — Você não entende… — secando suas lágrimas — não há nada que possa ser feito!

    — Então é isso? Vai ficar aí no chão chorando?

    — O que mais eu poderia fazer?

    — Acredite se quiser, mas eu me pergunto isso todos os dias.

    — Eu acredito…

    — E mesmo assim eu tô aqui. Então se você realmente entende o que tô querendo te dizer, me fala pra onde devemos ir!

    Levantando-se lentamente e com seus olhos levemente marejados, Dullaham me respondeu com firmeza.

    — Os demônios se encontram no escritório do meu pai sempre que vão sair. Mesmo sendo criaturas nefastas, eles são sistemáticos e só se encontram em um determinado horário.

    — Mas por que lá? O que tem de tão importante?

    — Um círculo mágico. Eles o usam para ir aonde quiserem, mas por sorte, existe um tempo de espera para cada uso.

    — Quanto tempo?

    — Cinco dias.

    — Qual foi a última vez que usaram?

    — Isso já faz quatro dias.

    — Ufa! — suspirei aliviado, pensando em que meus companheiros ainda estivessem seguros — Ainda temos tempo. Vou informá-los agora mesmo! — já com os pés prontos para pular da janela.

    — Espera!

    — O quê? — perguntei assustado.

    — Eu ainda não disse quando usarão o círculo mágico…

    — Ah, é mesmo… — voltei levemente envergonhado.

    — Eles costumam se reunir no final da tarde, estão ansiosos para conseguir esse artefato, então não devem querer esperar mais tempo.

    — Entendido! — novamente, prestes a sair — Ah, Han! Posso te chamar de Han, não é?

    — Tanto faz.

    — Não se preocupa. Em quatro dias já vai estar tudo resolvido!

    — Espero que sim…

    Saí de lá o mais rápido possível para ir ao bar relatar tudo que descobri. Um frio angustiante corria pela minha barriga, a sensação de que não poderia falhar permeava por todo o meu corpo, me lembrando daquele dia em Antares. Os sentimentos ruins que me assombravam naquele dia também me traziam as memórias do que aconteceu, a vingança que deixou um vazio em mim, juntamente da vitória que conquistei com minhas próprias mãos.

    “Espero não perder o controle dessa vez…”

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