Índice de Capítulo

    A intensa ventania gerada pelas asas do Demônio-Pássaro destruía todo o interior da ilha, levando pedras e plantas aos céus.

    — O que é isso? — perguntei eufórico.

    — Que aparência é essa? — Gwen estava tão surpresa quanto eu — Ele tava se segurando?

    — Ele tem uma pressão esmagadora, não acho que temos a menor chance!

    — E agora? A gente foge?

    — ENTREGUEM O ARTEFATO! — o demônio rugiu com sua voz demoníaca

    — Não… — me segurando contra o vento, firmei meus pés no chão com bravura — Não podemos deixar que ele pegue o livro! — acendendo o meu corpo em chamas impetuosas.

    — Acha que tem alguma chance contra aquilo? — perguntou com séria dúvida.

    Não fazia muito tempo desde que saí de Antares, as chamas azuis ainda eram um patamar difícil de se alcançar. Nos últimos meses, tentei me lembrar da sensação que tive ao possuir aquele poder, o que me fez chegar até ele, mas… nunca consegui vê-las novamente nem por um segundo. Em uma tentativa de me consolar, acreditei que inevitavelmente conseguiria despertar tal poder novamente se continuasse a treinar, mas infelizmente, diante de uma criatura como aquela, percebi que não poderia deixar que o destino fizesse as coisas no seu tempo.

    — Não sei, vamo ter que descobrir!

    — Que saco… — preparando-se para a luta ao meu lado — Se justo você não vai fugir… que outra opção eu tenho?

    — Hehe! É melhor lutar do que não fazer nada!

    — Para de falar frase bonitinha e presta atenção! — me empurrando para o lado ao ver o demônio mergulhar em nossa direção.

    Com o inimigo entre nós, não perdemos tempo e partimos para cima. Sua velocidade estava ainda maior, voando ao nosso redor sem ao menos o enxergarmos direito.

    — Se já era difícil acertar ele antes, como vamos fazer isso agora?

    — Vou pensar em alguma coisa! — respondi ao mesmo tempo que evitava seus golpes a milímetros de mim — Enquanto isso, só tenta não morrer!

    — Falar é muito fácil! — exclamou bloqueando uma de suas investidas com um escudo de gelo, que logo se despedaçou — Eu quase não consigo parar ele!

    Seus ataques me acertavam levianamente, era praticamente impossível de evitá-los.

    “Talvez se eu conseguisse trazê-lo para perto, teria como lutar frente a frente com ele… não! Meu bastão foi destruído, lutar com as mãos vazias não vai funcionar…” meus pensamentos eram interrompidos a cada pancada que recebia “preciso acendê-las de novo, devo conseguir poder de fogo o suficiente se chegar àquele estado novamente!”

    Por um pequeno deslize da minha parte, uma de suas investidas me acertou quase que em cheio, deixando um pequeno buraco do lado esquerdo da minha cintura.

    — Akira! — Gwen gritou preocupada.

    Eu olhei para trás rapidamente, vendo a criatura avançar novamente.

    — Atrás de você!

    Assustada, a vampira, por puro reflexo, saltou para o lado se esquivando do golpe.

    — Tsc… usar fogo para me curar é extremamente cansativo — reclamei ofegante.

    — Levanta! Ele tá vindo!

    Sem cessar, o pássaro nos atacava de novo e de novo. No centro da ilha, sem água por perto, não tinha mais como minha companheira nos proteger, então, por um momento de desespero, criei uma cortina de fogo a nossa frente, para ao menos nos tirar do seu campo de visão.

    Ao ver seu bico veloz passando acima de nossas cabeças, soltei um suspiro aliviado, que não durou por tanto tempo, já que o inimigo já estava pronto para atacar, com alto vigor como sempre. O demônio pássaro mergulhava rasgando os céus, enfurecido, mas dessa vez, sua velocidade foi decaindo ao longo do percurso, pousando suavemente a nossa frente.

    Ofegante, com as asas abertas, seu peito subia e descia pelo ar e em suas narinas, abaixo do seu bico, escorria uma pequena corrente de sangue.

    — O que é isso? Ele cansou? — arqueei a sobrancelha em confusão.

    — Choque térmico… — Gwen afirmou convicta.

    — Tá falando sério?

    — Só pode ser agora! — a vampira correu rapidamente em direção a ave, criando, do suor em seu corpo, uma adaga de gelo.

    — ROOOOOOOAR! — seu rugido estridente nos atordoava.

    A criatura voou novamente, tomando distância de forma cautelosa. Minha ferida já estava praticamente curada graças a Gwen, me dando mais uma oportunidade de lutar.

    Minha companheira se levantou em seguida, levitando para perto de mim.

    — Akira…

    — Fala! — vendo a confiança em sua voz e postura, abri um sorriso, sabendo do que estava por vir.

    — Vamo acabar com esse cara!

    — Tava demorando! — reacendendo minhas chamas.

    Com a confiança maior do que nunca, avançamos agressivamente em direção ao demônio. O fogo em meus pés me impulsionava para cima, me deixando cara a cara com nosso inimigo, que ainda estava levemente atordoado.

    Sua velocidade reduzida nos deu a chance de enfim acertá-lo, mas mesmo assim, em sua nova forma, seus ferimentos eram rapidamente curados e suas penas eram ainda mais resistentes.

    Nos jogando novamente para longe, levantou suas asas agressivamente e as bateu com fúria, gerando fortes vendavais.

    — Ele só sabe fazer isso? — resmungou a vampira.

    — Ele não sabe o que fazer com suas habilidades… que falta de criatividade… chega a ser sem graça!

    — Não seja tão arrogante! Ainda estamos levando uma surra!

    — É, por enqu- — antes que pudesse terminar de falar, senti meu corpo voar pelos ares.

    Tudo de repente ficou de cabeça para baixo, com exceção do demônio, que me encarava com ódio em seus olhos.

    Ao me largar no chão, tentei me levantar rapidamente, mas a tontura debilitou minha agilidade e, mais uma vez, caí de joelhos.

    — Entreguem o artefato… e darei a vocês uma morte indolor…

    — Nem… fodendo… — ofegante.

    O demônio impaciente jogou suas penas perfurantes em mim, tão rápidas quanto ele, mas por pouco, consegui bloqueá-las com meu braço. As três penas cravaram intercaladamente entre meu pulso e meu cotovelo, se forçando a atravessar meu corpo.

    “Agora vai!” Pensei ao repelir as penas e fechar os furos com minhas chamas, que ainda não chegaram a temperatura que almejei.

    Lentamente, em meio aos fortes ventos, a ave se aproximava de mim. Incendiando a palma da minha mão, atirei bolas de fogo em sua direção, mas o mesmo apenas as bloqueava com suas asas.

    — Estava tão arrogante agora há pouco, mas agora… tudo que vejo em seus olhos é desespero, o medo de morrer.

    — AKIRA! — tentando se aproximar de mim, Gwen foi atirada para longe pelos vendavais.

    Eu paralisei imponente no chão, sem forças para me levantar. Suas penas perfuravam meu corpo uma a uma. Meu coração, que outrora ardia confiante, começou a esfriar sem esperança.

    “Kaiser… Layla… me perdoem…” Naquele momento, já havia chegado ao meu limite. Eu olhava para o lado e via Gwen, com seu corpo trépido, se levantando mais uma vez.

    — Tsc, que droga… — grunhi, também tentando me erguer com as pernas bambas — isso é cansativo pra caralho… — ao me curar lentamente, retirava as penas cravadas em meus braços.

    — Como… COMO? — o demônio rugiu furioso — POR QUE SE LEVANTA MESMO NESSE ESTADO PATÉTICO?

    — Vai saber… conheço pessoas que morreriam de pé por muito menos. Não posso ficar pra trás! — acendendo meu punho com chamas alaranjadas com pequenas labaredas azuis.

    — Isso não faz o MENOR sentido! — reclamou.

    — Não culpe a mim, sou só um “maria vai com as outras”

    Uma vez, Noelle me contou que as pessoas estão prestes a morrerem, seus corpos atingem um nível de adrenalina estupidamente alto. Bom, era óbvio que eu não estava contente com a ideia de morrer pra um passarinho, mas ao menos, pude me levantar mais uma vez para lutar.

    Novamente em chamas, avancei ferozmente com meu punho ardente, tirando força de onde não havia mais. A criatura, ainda com sua velocidade retardada, disparou contra mim, retomando nosso confronto. Nós trocávamos golpes enquanto Gwen sobrevoava a tormenta ao nosso redor, procurando uma brecha para atacar.

    À medida que nossos ataques se chocavam, meu corpo esquentava ainda mais e aos poucos eu sentia uma sensação familiar queimar em mim. Um pequeno e leve brilho azul iluminava meu rosto periodicamente, ao mesmo tempo que sentia meu vigor sendo restaurado sempre que aparecia.

    — Se esse é o caso… — olhando para o lado com perversidade — basta eu acabar com sua motivação idiota! — com ódio, arrancou em alta velocidade em direção a Gwen.

    — NÃO! — em um único salto explosivo, alcancei as costas da ave.

    Eu agarrei seus ombros com firmeza, incendiando suas asas, minha companheira vampira por sua vez, usando o suor do seu corpo, criou uma luva de gelo e acertou o seu rosto, deixando uma rachadura no bico da criatura.

    — ROOOOOOOAR! — seu rugido atordoante nos lançou no chão.

    Nós nos levantamos com a força que nos restava, enquanto o demônio odioso pousava suavemente com suas asas pegando fogo.

    As chamas azuis, ao que aparentam, me resgataram do perigo da morte.

    — Mesmo nesse estado, esse merdinha continua muito forte…

    — Vamos aumentar a escala!

    — O quê? — perguntou surpresa — Tem certeza?

    — Uhum! — cerrei meus punhos com um sorriso confiante — Acho que peguei a manha.

    — Ele tá se recuperando do choque térmico, sua velocidade vai ser um problema.

    — A não ser que…

    — Ele não tenha pra onde fugir — completamos ao mesmo tempo.

    — Acho que a gente ta se entendendo aqui!

    — Vamo acabar com esse desgraçado!

    — Ele é todo seu…

    Com sua habilidade de voar, Gwen começou seu embate contra a criatura. No caminho, pegou as penas afiadas espalhadas pela ilha, as usando como adagas.

    Ela demonstrou uma exímia habilidade com as adagas, se movendo com agilidade e elegância. As penas, por mais afiadas e resistente, sozinhas eram facilmente quebradas por suas asas repletas das mesmas penas, assim, o confronto se estendeu por toda a ilha, com Gwen substituindo suas adagas sempre que eram estilhaçadas.

    De repente, um intenso vapor começou a tomar conta da ilha e a temperatura aumentava a cada segundo que se passava. Ao largar uma das penas no chão, a vampira alçou voo, fugindo do demônio pássaro, que rapidamente reagiu, iniciando uma perseguição.

    Ambos voavam entre as nuvens de vapor que subiam lentamente, Gwen se esquivava dos ataques da ave com certa dificuldade, que aos poucos, aumentava sua velocidade. Para ele, sua vitória estava certa, até que subitamente, quando estava prestes a alcançá-la, Gwen se virou com um sorriso, segurando uma pena congelada.

    — AÍ, SEU URUBU! — gritei do centro da ilha, com meu corpo inteiramente imerso em chamas vermelhas.

    A vampira atirou a adaga em seu ombro, congelando a área atingida.

    Lembrando perfeitamente da sensação que senti na minha luta contra o Rei Antariano, aumentei ainda mais a temperatura das minhas chamas. Uma tiara flamejante cobriu minha testa, assim como um manto de fogo cobria meu corpo da cintura para baixo. 

    — A PREVISÃO DE HOJE DISSE QUE SERIA UM DIA NUBLADO! — Naquele momento, concentrei minha mana nas extremidades do meu corpo, transformando minhas chamas, por alguns segundos, em chamas azuis e em seguida, explodindo uma onda poderosa onda de calor, evaporando grande parte da água do lago.

    Olhando para cima, com sua imponência estampada no olhar, viu acima da sua oponente, uma gigantesca nuvem de chuva. Enfim, uma única gota de sangue escorreu pelo seu nariz, decretando o seu fim.

    — Com altas chances de chuva de granizo…

    Furioso e desacreditado, disparou velozmente rumo ao horizonte.

    LÁGRIMAS DE NIFLHEIM! — congelando as partículas de água presentes na nuvem, alvejou o demônio com inúmeros projéteis de gelo, o atravessando e o congelando à medida que era atingido.

    Ele tentava evitar os disparos com acrobacias em pleno ar, mas o ataque em larga escala não deixava brechas para se mover livremente. Sua velocidade reduzida o levou a desgraça, tendo seu corpo perfurado e estraçalhado pelo gelo.

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