Capítulo 59 – A importância dos status [2/2]
por SnowBearO professor Marth era um homem com cerca de quarenta anos, cerca de 1,78 metros de altura, com cabelos loiros e grossos. Além do cavanhaque, seu rosto estava perfeitamente barbeado, revelando uma aparência calma e jovem.
A julgar pelas bolsas sob seus olhos e pela postura curvada, era evidente que ele não dormia bem. Não era de se espantar que ele tivesse pedido ao Professor Vastor para substituí-lo.
Quando viu os estudantes, ele se endireitou e sorriu para a pequena multidão.
— Com prazer, caro colega. Desculpe por termos perdido nosso compromisso, crianças. Desde que o Professor Manohar retornou, as coisas têm estado agitadas. Há muita coisa que ele precisa colocar em dia.
A classe fez uma pequena reverência, aceitando suas desculpas. Eles estavam ansiosos para aprender com um dos dois chefes mais famosos do departamento de magia de luz da Grifo Branco .
— Primeiramente, a impossibilidade de regenerar membros ou órgãos é um equívoco comum. O corpo humano realmente tem tais capacidades, mas elas normalmente estão adormecidas. Para despertá-las temporariamente, é necessário usar uma quantidade enorme de energia.
— Estamos falando de tanta mana que é impossível para um único mago executar a magia sozinho. Normalmente o procedimento requer duas equipes. A primeira a executar a magia, colocando o processo de regeneração em movimento.
— O segundo, em vez disso, tem que dar energia ao paciente para que ele sobreviva. Caso contrário, a tensão de crescer um membro inteiro em questão de minutos drenaria todos os nutrientes do corpo, matando-o na hora.
— A maioria dos órgãos é ainda mais complicada, já que o tempo é de suma importância. Um único mago pode regenerar órgãos pequenos como rins, mas órgãos maiores ou vitais geralmente requerem muita energia. É melhor para um mago solitário manter os órgãos vitais estáveis enquanto clama por ajuda.
“Interessante.” Lith pensou. “Com base no pouco que sei, talvez o grande gasto de mana se deva ao fato de que o que eles realmente fazem, sem saber, é coletar e estimular células-tronco adultas no corpo do paciente. Isso ou neste mundo eles têm um fator de cura, mas duvido muito.
Se eu estiver certo, com magia verdadeira eu poderia fazer todo o processo sozinho, mas levaria dias, senão semanas. A natureza intermitente da magia falsa torna as coisas muito difíceis para o curador e para o paciente. A magia verdadeira, em vez disso, permitiria que o curador dividisse as coisas em etapas, como eu fiz para Tista.”
O professor Marth continuou.
— Vocês vão se divertir muito, pois eu estava prestes a começar a desenvolver um novo braço direito para o capitão Zarran.
O soldado sorriu sem jeito, ele não estava mais se sentindo como um cavalo de mercado, mas sim como um rato de laboratório.
— O primeiro passo é levar em consideração o sexo e a constituição física do paciente e, então, escolher o melhor modelo de membro à nossa disposição.
— Modelo? — Lith repetiu, estupefato, atraindo olhares de reprovação de seus colegas.
— Sim, modelo. Não podemos permitir que o novo membro cresça infinitamente. O feitiço requer medidas específicas para funcionar corretamente.
Um assistente trouxe um carrinho cheio de braços de madeira para Marth e o professor os comparou com o membro restante, procurando o mais próximo possível.
— Cada um desses modelos corresponde a uma magia diferente. Aqui no Grifo Branco, temos o maior arquivo de magias de regeneração de todo o Reino. Gosto de pensar que, em parte, é graças ao meu trabalho.
Depois de escolher o melhor, o Professor Marth chamou o resto da equipe através de seu amuleto de comunicação, formando duas equipes de três magos cada.
— Tecnicamente, dois magos por grupo devem ser o suficiente. — Ele explicou. — O terceiro é pra ter certeza de que tudo vai bem. Esta não é uma zona de guerra e não há necessidade de correr riscos desnecessários.
Ambas as magias levaram apenas alguns segundos para serem lançadas, o novo braço começou a crescer novamente a uma taxa incrível. Depois de cerca de meia hora, o novo membro estava completamente formado. A classe explodiu em aplausos, toda a equipe médica aceitou com uma pequena reverência.
O capitão Zarran estava chorando de alegria, flexionando seus novos dedos. Ele ainda não conseguia acreditar, aos seus olhos, era um milagre. Ele não era mais um aleijado, logo ele seria capaz de retomar o serviço ativo, em vez de ficar preso atrás de uma mesa.
A única nota discordante em toda aquela atmosfera alegre era Lith. Ele estava olhando atentamente para ambos os braços, notando as diferenças. O braço real era mais musculoso, com maior densidade óssea e era até um pouco mais longo do que o novo braço substituto.
Ele ofereceu ambos os dedos indicadores a Zarran.
— Aperte-os o mais forte que puder.”
Depois desse teste, ele balançou a cabeça.
— Professor Marth, é normal que o novo braço seja tão desproporcional e fraco?
Ele podia ver a maioria dos seus colegas olhando feio ou gesticulando para que ele calasse a boca.
“Idiotas.” Lith zombou interiormente. “Em qualquer campo científico, os pesquisadores estão sempre procurando por pessoas curiosas que façam perguntas e desafiem o conhecimento padrão. Eles não precisam de macacos treinados que apenas seguem ordens.
Sem dúvidas, não há progresso, apenas estagnação. As crianças são tão ingênuas.”
— Sim, é. Levará alguns anos de treinamento e terapia, mas depois disso, deve ser tão bom quanto o antigo. Boa sacada, é raro ver alguém tão jovem mostrando tanta atenção aos detalhes, em vez de me importunar para lhe ensinar algum feitiço.
O elogio fez seus colegas se sentirem tão estúpidos quanto ovelhas. O professor Vastor estava rindo.
— Eu sabia! Ouro puro. Graças aos deuses pelo meu talento.
— Por quê? Há algo errado? O que você faria diferente? — Marth perguntou.
Lith ponderou por um tempo antes de responder.
Ele não conseguia acreditar que tal oportunidade se apresentaria logo de cara. Todos aqueles anos gastos se preparando para ensinar magia de cura a Tista estavam prestes a lhe render uma recompensa inesperada.
— Professor, não quero ser rude, mas o quanto o senhor sabe sobre anatomia?
O professor Marth inclinou a cabeça para o lado, surpreso com a pergunta aparentemente boba.
— Eu sei tudo o que preciso. O formato e a posição dos ossos, o que e onde os vários órgãos estão localizados, e assim por diante. Eu sou um curandeiro, não um médico. Eu só preciso saber o básico para que minha magia tenha o melhor desempenho.
Percebendo o quão superficial era seu conhecimento, Lith entendeu que o uso da magia deve ter desacelerado, se não parado completamente, o progresso científico no Reino. Ele não ficou desapontado, muito pelo contrário.
Isso só tornou o que ele tinha a oferecer ainda mais precioso.
Lith arrancou uma página em branco de seu caderno e então usou magia de água para escrever em detalhes um de seus feitiços pessoais de magia falsa que ele havia criado para Tista anos atrás.
— Uma imagem vale mais que mil palavras. — Ele disse entregando a página ao Professor Marth.
— Você está realmente disposto a compartilhar seu feitiço de diagnóstico com a academia e o Reino? — O Professor Marth ficou pasmo, enquanto o Professor Vastor estava pálido como um fantasma.
“Ele não pode ser tão burro! Por que diabos ele está abrindo mão de uma vantagem dessas contra seus concorrentes? Será que meu talento finalmente falhou?” Ele pensou.
— Não é um feitiço de diagnóstico. — Lith explicou. — É algo que criei há muito tempo para entender melhor o corpo humano. Eu nem uso mais, mas acho que pode ser essencial para sua pesquisa neste campo.
Ambos os professores suspiraram aliviados. Eles tinham visto muitos jovens talentosos tão ansiosos para agradar que cometeram erros irreparáveis.
Cheio de curiosidade, o Professor Marth estudou o feitiço. Era realmente fácil, sem dúvida um feitiço de nível um.
— Feito. Agora?
— Por favor, use-o no braço original do capitão.
Depois de realizar os sinais de mão perfeitamente, o professor Marth disse:
— Vinire Mark Urth! — Gerando um pequeno fio de luz, que ao contato, envolveu o braço em uma luz branca e quente. De repente, sua mente recebeu fluxos de informações, que o deixaram sem palavras.
O feitiço era uma versão intencionalmente mais fraca, falha e imprecisa do que Lith conseguia ver graças a Revigoração. A diferença entre os dois era como o céu e a terra.
O feitiço era incapaz de mostrar ferimentos, detectar o fluxo de mana ou núcleo, ou mesmo a força vital do paciente. Para evitar que Tista acidentalmente tropeçasse na magia verdadeira, Lith se certificou de que tudo estava como ele havia planejado.
Não deu nenhuma dica sobre nenhum desses elementos, a única maneira de adicioná-los ao feitiço era reconstruí-lo do zero e saber exatamente o que procurar. Seu propósito era ensinar anatomia à irmã de Lith em detalhes, sem desmembrar humanos, como Lith fez.
Na verdade, Vinire Mark Urth não fez nada mais do que mostrar uma imagem 3D fixa da parte do corpo em que foi usada, dando ao usuário uma compreensão perfeita do corpo do paciente.
— Isso… Isso é… — O Professor Marth ficou pasmo, considerando todas as possíveis aplicações do feitiço.
— Veja bem, se eu estivesse no seu lugar, usando esse feitiço…
— Segure esse pensamento! — Marth o interrompeu, saindo correndo com a página fechada em seu punho.
Ele retornou depois de apenas um minuto, arrastando outro homem pelo braço, como uma criança petulante.
— Não significa não! — O homem sendo arrastado gritou. — Você não pode me perturbar toda vez que algum nobre idiota estiver prestes a morrer! Seja o Rei ou seus filhos, eu não me importo. Se eu passar mais uma hora com toda essa papelada, isso vai me deixar louco!
— Pela última vez, ninguém está morrendo! Cale a boca e escute!
Todos apontavam para o novato como se ele fosse uma fera mítica.
“Núcleo roxo! Aposto que ele é Manohar.” Solus gritou.
— Por que você continua tentando me enganar? Qual a utilidade do dinheiro?
Enquanto Lith e Solus estavam tendo uma discussão mental, Marth explicou tudo a Manohar, entregando-lhe o feitiço. Depois que ele o executou também, ambos os professores olharam para Lith com olhos cheios de expectativa.
Manohar era um homem de quase trinta anos, com cabelos pretos e tons de prata destacados por toda parte. Ele tinha cerca de 1,74 metros de altura, com uma constituição esbelta e barba por fazer de pelo menos três dias.
— Por favor, continue. — Disse Marth.
— Como eu estava dizendo, eu usaria esse feitiço antes de enviar os soldados mais valiosos para a frente para poder regenerar seus membros originais se for necessário. Isso evitaria todos os efeitos colaterais do feitiço que você acabou de me mostrar.
— Além disso, em casos como esse, eu pegaria as informações do braço restante e as usaria para gerar uma imagem espelhada para substituir o membro perdido. Os membros esquerdo e direito não são os mesmos, mas o resultado ainda seria muito melhor do que este.
— E isso não é tudo! — Manohar interrompeu, uma luz louca apareceu em seus olhos.
— Poderíamos até mesmo inventar uma magia que fosse capaz de pegar essa informação por si só, e gerar os membros de acordo! Poderíamos finalmente jogar fora todos esses modelos inúteis, usando apenas uma magia em vez de muitas.
Todos ficaram chocados com a ideia. Manohar frequentemente desaparecia sem aviso ou agia como uma criança fazendo birra, mas esse tipo de loucura era o sinal de um verdadeiro gênio. Ele tinha sido capaz de ver mais longe do que o criador do feitiço em questão de segundos.
Manohar pegou seu amuleto comunicador, abrindo a conexão com o departamento administrativo.
— Qual é seu nome, garoto? — Ele perguntou.
— Lith de Lutia, senhor.
— Ah! Eu deveria saber! Finalmente, outro mago inteligente para conversar. Você não tem ideia de como é difícil para mim. Só consigo ter uma conversa adequada com Marth e alguns outros. Todo mundo aqui é tão estúpido!
— Harrumph. — Uma voz do amuleto comunicador interrompeu suas divagações.
— Ah sim, quase esqueci. Atribuição de pontos para o aluno Lith de Lustria por compartilhar uma magia de nível um. 1000 pontos.
— 1000 pontos?! — Repetiu a voz masculina do amuleto comunicador, incrédula.
— 1000 pontos!? — Exclamaram quase todos os seus colegas ficando verdes de inveja.
— 1000 pontos? — Perguntaram Lith e Quylla. Eles nunca tinham estado em uma academia antes, então nenhum deles tinha ideia se eram muitos pontos ou não.
— Sim, 1000 pontos! É tão difícil de entender? — Manohar ficou indignado com a academia ter a ousadia de contratar um funcionário mudo ou surdo, se não ambos.
— Eu sei que é muito pouco… — Ele disse se desculpando para Lith.
— … Mas não posso lhe dar mais nada até que eu discuta com o conselho. Além disso, você receberá uma compensação por cada uma de suas sugestões. Boas ideias não têm preço no campo da pesquisa. Seja gentil e se forme rapidamente.
— Preciso de mais pessoas como você e menos idiotas como essa secretário por aqui.
— Senhor, a comunicação ainda está aberta. — O funcionário fez um ótimo trabalho mantendo a voz sem emoção.
— Eu sei que está aberto, seu idiota. É por isso que estou dizendo para você consertar seus ouvidos. Não posso fazer nada pelo seu cérebro, mas nunca perca a esperança. A magia avança a cada dia aos trancos e barrancos.
O funcionário educadamente desligou a ligação.
— Como você criou esse feitiço? — O interesse de Marth foi despertado. A ideia era simples, mas inovadora.
— Ele pode guardar para a biografia! — Foi a vez de Manohar arrastar Marth pelo braço. — Para a papelada, pela minha vida! E depois para o conselho! Você fala, eu não falo besteiras.
O gongo soou mais uma vez, marcando o fim das aulas. Após se despedir do Professor Vastor e de seus três competidores, Lith se afastou em direção ao corredor do prêmio.
Pelo que ele entendeu, era hora de fazer umas comprinhas.