Índice de Capítulo

    Entre os corpos dos bandidos derrotados, o jovem espadachim e a demônio trocam olhares quietos, acompanhados do som do crepitar das chamas que lentamente consome uma das barracas. 

    O rapaz, que se demonstra apreensivo e confuso, observa a presença inesperada daquela criatura nos arredores daquele local, enquanto segura sua espada prateada e banhada em sangue, firmemente, pronto para reagir a qualquer investida de Rubi. 

    Seu alarde se estende até aos corvos negros empoleirados nos ombros dela que o encaram com os olhos vermelhos atrelados a expressões estáticas, que o jovem compreende como uma ameaça velada. 

    A demônio de cabelos rosa, por outro lado, no momento está desarmada, com o arco dourado pendurado nas costas, pois não teme o jovem no meio do acampamento. Sua cauda, inquieta sob o casaco, serpenteia, denunciando a curiosidade que ela sente sobre o rapaz.

    Ele não me atacou ainda, já é um bom sinal. Bem melhor que a maioria, ela pensa, bastante otimista. Vamos ver até onde consigo conversar com ele.

    “Pensei ter ouvido que era seguro me mostrar”, a demônio fala, com alguma ironia. “Pra que essa arma?”

    O jovem se demonstra relutante em responder. “Sei o que eu disse, demônio”, ele alerta, cheio de cautela e um pouco nervoso. “Não esperava que a ajuda viesse de uma figura tão… inusitada.” Ele baixa a arma, mas não deixa de segurá-la e ainda se mantém atento.

    Ele parece ser do tipo educado… Por que está tão nervoso? Não parece estar com medo, ela reflete. Será que é do tipo tímido?

    “Por que a gente não se apresenta de uma vez?”, a demônio pergunta. 

    Melhor fazer isso logo, senão ele vai ficar me chamando de demônio isso e aquilo, ela pontua. 

    “Pode me chamar de Rubi.”

    O jovem pensa por alguns instantes. “Guiliman…”, ele diz com receio. “Pode referir-se a mim como Guiliman.” 

    Eu já desconfiava pelas roupas dele, mas pelo jeito requintado de falar, com certeza ele é algum nobre rico, Rubi conclui. Ainda mais se comparar com o grupo da Jenny. A espada dele com certeza é mais cara do que aquela que ela guardava para ocasiões especiais.

    “Estou surpreso com a sua presença por aqui”, Guiliman comenta. “Não cogitava que houvesse outros como você pela região.”

    “Acho que foi o acaso. Vi de longe a bagunça que você fez. Não vai nem cogitar que não sou aquela conhecida como Último do Oeste?”

    “Não. Isso eu sei que você não é”, Guiliman afirma, cheio de propriedade. “O Último é um Behemoth, e você com certeza está longe de ser uma.”

    Um Behemoth? Interessante, ela pensa, intrigada.

    “Eu não sabia disso. Me chamaram por esse nome recentemente.”

    “Não ouvi nenhum boato de um diabo novo na região.”

    “Quem me chamou daquilo, não parecia do tipo que espalha boatos por aqui”, ela afirma.

    Nem deve conseguir mais, ela supõe.

    “Não conheço os seus motivos, mas mesmo sendo um demônio, agradeço pelo que fez por mim. Agora, Rubi, peço que se retire daqui”, ele fala, sem tripudiar.

    Essa é nova pra mim. Sem me ofender e me dando uma chance, Rubi pensa, com alguma surpresa. Mas não quero ir embora de graça. Não descobri por que ele me chama atenção, nem consegui ver se os bandidos têm algo útil.

    A demônio ignora o pedido de Guil e permanece no mesmo lugar. “E se eu quisesse algo desse acampamento?”, a demônio questiona, retrucando-o. 

    “E o que esses bandidos poderiam ter, que seria do seu interesse?”, Guiliman devolve a pergunta, em um tom sério.

    Quer mesmo continuar nessa de ficar jogando verde um pro outro? Por mim, tudo bem, a demônio pensa. Só vai ficar um pouco dificl sacar qual é a sua. 

    “Eu não sei”, ela responde, despretensiosamente e fazendo menção de se aproximar. “Eu teria que entrar e…”

    Guiliman ergue sua espada e a aponta na direção de Rubi. “Não posso permitir que se aproxime mais ainda”, ele avisa, impondo-se firmemente contra Rubi.

    Rubi, surpresa com aquela atitude repentina, hesita em seu movimento. Que estranho. Eu disse alguma coisa que não devia? Ou…, ela analisa, cheia de curiosidade, com um sorriso discreto surgindo em seus lábios. Eu bati na tecla certa? 

    “E por que não, Guiliman?”, pergunta ela, em um tom afiado e provocador. “Por acaso tem alguma coisa aí que você não quer que eu veja?”

    O rapaz fica mais tenso ainda, como se a demônio o encurralasse contra a parede. “Mesmo que você tenha me ajudado, há pessoas presas nesse acampamento. Não posso permitir que você entre e as coloque em risco”, ele responde de forma concisa, esperando alguma compreensão por parte da demônio. “Ainda mais… se o que você procura for uma delas.”

    Rubi sente novamente aquele arrepio quente percorrendo seu corpo. Entendi, ela pensa, em um momento de epifania. É por isso que ele não queria que eu me aproximasse.

    Entre as cinzas da barraca ao fundo, que pouco a pouco é consumida por chamas ardentes, ela começa a olhar para o rapaz com novo entendimento.

    No final, ele é só… uma boa pessoa, Rubi conclui ao encontrar a resposta de sua dúvida. É isso que ele tem em comum com a Arielle. Ele é muito bonzinho. O Zander… de um certo ponto de vista, também era, a não ser pela parte que queria me matar. 

    Guiliman estranha a mudança de postura de Rubi, mas mantém sua posição firme.

    A demônio suspira fundo. “Não quero pessoas”, ela fala, calma, deixando de lado qualquer tom provocativo. “Quero poções ou coisas mágicas que eles tiverem.”

    Guiliman arqueia uma sobrancelha, cético. “Só isso?”, ele questiona, com uma nota de desconfiança na voz.

    Rubi coloca a mão no queixo e pondera por alguns segundos. Se eu estivesse sozinha, seria uma oportunidade de testar o dreno de energia de novo. É um pouco de desperdício, mas não vou ser gananciosa, ela contempla brevemente a possibilidade perdida. …Parando para pensar… acho que esse é justamente o tipo de coisa que o Guiliman quer evitar. Talvez ele tenha razão. Só que eu não iria machucar ninguém.

    “É tudo que eu quero”, ela responde, firme em sua decisão.

    “Se você concordar, posso eu mesmo verificar se há algo”, propõe Guiliman. “Não me importo com as coisas roubadas, só com as pessoas presas.”

    “Não vejo problemas nisso”, Rubi responde, assentindo. Ao olhar para os bandidos caídos, um sorriso espirituoso instaura-se nela. “E esses bandidos? Não tem medo que eu os coma enquanto você vai até as barracas?” ela brinca, provocando-o.

    Guiliman arregala os olhos e, por um breve momento, fica sem palavras. Ele encara os bandidos tenso, como se um grande peso recaísse sobre seus ombros. “Por mais que eles tenham feito por merecerem… ”, ele comenta enquanto ainda pondera. “Sinto que deixar você devorá-los seria mais cruel do que simplesmente deixá-los morrer. Tenho que pedir que não faça isso.”

    Ele levou a sério mesmo, né?, a demônio pontua, quase desacreditada.

    “Estou brincando”, ela diz, e o rapaz solta um suspiro de alívio imediato.

    É Guiliman, o tipo herói combina mesmo com você, ela reflete, com um sorriso discreto.

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