Capítulo 48: Vento contra rato
O ar estava frio e seco nas ruas de Zaguhan, o meio-dia ainda não tinha chegado, mas as costas e a testa de Haun já estavam molhadas de suor. Ele queria descansar, devido a sua idade avançada seu corpo magro não era mais capaz de suportar o fardo de seu trabalho como no passado, mas a necessidade de sustentar sua família era uma motivação forte o suficiente para manter ele de pé. Ele era uma pessoa de fora do centro da cidade, um dos muitos que eram conhecidos como Carregadores, pessoas responsáveis por transportar os nobres da cidade.
Haun olhou para os outros carregadores que estavam levando seu passageiro, havia mais três pessoas além dele, todos com as costas um pouco curvadas devido ao peso do suporte de madeira que eles estavam levando. As pernas deles tremiam toda vez que eles pisavam nas pedras amarelas da estrada, enquanto isso o nobre viajava confortavelmente sentado em cima de suas cabeças em algo que lembrava uma pequena cabana, o tecido protegia o passageiro do sol e do vento frio.
Ao redor dele havia mais dois grupos de Carregadores, eles também estavam levando os jovens mestres para fora da cidade.
De repente Haun se sentiu mais fraco, seu peito já fazia um som estranho a algum tempo toda vez que ele respirava, mas agora ele também sentiu um aperto em seu peito.
Tosse.
Ele estava com dificuldade para respirar.
Tossindo sem parar, ele tentou se controlar e se manter firme. Mas o suporte parecia cada vez mais pesado.
“Haun? Você está bem? Algo aconteceu?” Um de seus colegas de trabalho perguntou preocupado.
Com a intensa tosse de Haun o suporte ficou mais instável e balançou, os carregadores desesperados usaram toda sua força para manter isso estável.
Mas a tragédia era inevitável.
Haun perdeu suas forças.
O suporte de madeira virou e a pessoa acima disso caiu.
Os cidadãos de Zaguhan olharam para isso com atenção, alguns acharam essa cena divertida e cobriram a boca em uma tentativa falsa de esconder uma risada.
Já os Carregadores, tanto os que carregavam os outros dois jovens mestres quanto os que estavam por perto carregando os outros nobres abriram suas bocas em espanto, alguns desviaram o olhar não querendo ver a cena a seguir.
Os colegas de trabalho de Haun ficaram pálidos, todos eles sabiam as consequências de derrubar um nobre. Os três começaram a murmurar orando pela piedade dos Reis Espirituais.
‘Essa não! O que eu fiz?’ Haun pensou.
Ele tentou se levantar para implorar pela misericórdia do nobre, mas antes que ele pudesse sequer tentar, sentiu uma mão poderosa agarrar o colarinho de sua roupa e o puxar para cima com brutalidade.
Cabelos e olhos castanhos, cerca de 18 anos, corpo acima do peso e vestindo roupas marrons de artistas marciais, o jovem mestre apertou o pescoço de Huan com uma única mão, mas sua força quase quebrou seus ossos.
“Como você ousa derrubar o grande Kong da nobre família Rahan?”
Com sua mão grossa o jovem mestre Kong arremessou Huan no chão.
Huan quase sentiu a vida indo embora de seu corpo com o forte impacto.
Seus colegas vendo isso tremeram de medo e suaram frio.
“Você sabe que tipo de pessoa eu sou? Eu sou o discípulo número um do Segundo Dao da Seita do Rato-Toupeira do Monte Gu!” Ele gritou com raiva.
“Minhas roupas estão sujas por culpa de vocês!” Ele olhou para os outros três.
Os três Carregadores colocaram suas testas contra o chão e falaram “Por favor jovem mestre Kong, imploramos pelo seu perdão, tenha misericórdia de nós!”
“Perdão? É assim que vocês mendigos retribuem nossa bondade em deixar que vocês atravessem a muralha?”
Com toda aquela confusão os companheiros da seita dele desceram do suporte. Seus dois companheiros tinham igualmente um físico forte e robusto. Um parecia alguns anos mais velho que Kong e o outro mais jovem.
Kong mais uma vez agarrou Huan no chão e levantou ele como se ele fosse um brinquedo, sua mão foi em direção a cabeça dele para esmagá-la.
Foi nesse momento que uma voz cortou o ar.
“Largue-o!”
Os olhos de Haun ainda borrados com lágrimas encontraram a figura de uma jovem garota que estava se aproximando, roupas amarelas, cabelos e olhos azuis claro.
Os cabelos dela pareciam estar dançando enquanto balançavam no vento e seus olhos estavam afiados enquanto encarava os discípulos mais velhos.
O discípulo Kong parou por um momento, surpreso com a intervenção, e soltou Haun, que caiu no chão, respirando ofegante.
Yue não hesitou. Ela se colocou entre o discípulo e Haun, seus olhos azuis brilhando com determinação.
“Você não tem vergonha? Você se acha muito forte oprimindo os mais fracos? Que tipo de artista marcial é você?”
O rosto de Kong ficou vermelho e contorceu de raiva.
“Quem você pensa que é para falar com um discípulo da nobre Seita do Rato-Toupeira do Monte Gu assim?”
Seus punhos fecharam com força. Ele sempre se orgulhou de ter estado nos ranks mais altos dentro da sua seita, seu talento era bem conhecido, ele nunca tinha sido humilhado em público antes muito menos por uma criança.
“Meu nome é Zhou Yue, discípula da Seita da Espada Voadora!” ela gritou e sua voz se espalhou pela multidão ao redor, surpreendendo a maioria deles.
Os olhos de Kong arregaram e ele engoliu em seco.
‘Seita da Espada Voadora?’, suas emoções intensas murcharam depois de ouvir da onde aquela garota petulante vinha. Obviamente ele sabia sobre uma seita tão importante e poderosa como essa. Os famosos discípulos do Dao Voador não eram algo com que pessoas de seitas menores com a dele poderiam sonhar em enfrentar.
Pelo menos não normalmente, ele se encheu de confiança quando olhou novamente para a garota, ela era tão jovem que mal ultrapassava o tamanho de suas pernas. Ele viu a faixa vermelha ao redor do corpo dela mas isso não o impressionou, afinal ele também tinha uma. Claro, alguém na idade dela conseguir entrar para o Segundo Dao era uma prova de um talento enorme mas ele não estava sozinho.
Um de seus companheiros, o mais jovem, se aproximou dele e falou em voz baixa.
“Kong, para alguém tão jovem quanto ela ter alcançado o Segundo Dao pode significar que ela seja uma nobre de uma família poderosa é melhor a gente não arranjar problemas com ela!”
Mas então eles ouviram a voz da garota.
“Eu não venho de uma família poderosa nem sou uma nobre! O que foi? A seita de vocês só tem covardes que só tem coragem para maltratar aqueles que não conseguem se defender?!”
Yue disse com confiança em sua voz.
Kong olhou para a multidão de pessoas ao seu redor, alguns não demonstravam se importar com isso e pareciam estar lá apenas para apreciar o entretenimento, já outros olharam para com um pouco de desprezo.
Ele prestou atenção no que eles estavam falando.
“Mesmo sendo tão jovem ela demonstra ter muita confiança.”
“As pessoas das grandes seitas realmente são bem diferentes das menores.”
“Sempre ouvi que os discípulos da Seita da Espada Voadora eram muito corajosos e ousados, parece que isso não era mentira.”
Cerrando os dentes Kong falou:
“Garota, você não tem respeito com os mais velhos? Seus pais não te ensinaram que não é assim que você deveria se comportar? Ou você também é uma cria das favelas?”
Sem vacilar ela disse com o mesmo tom anterior:
“Você só sabe insultar as origens das pessoas? Ser de uma família importante faz você achar que é melhor que alguém? Meus pais me ensinaram que só pessoas sem honra usam sua força para oprimir os mais fracos!”
“Sem honra? Eu? Um membro da nobre família Rahan! Um membro da Seita do Rato-Toupeira! Como alguém que nem é nobre ousa falar comigo dessa forma?”
Kong sentiu seu sangue ferver, seu rosto redondo ficou mais vermelho.
“Garota você ultrapassou os limites, eu tentei evitar um conflito mas você continuou insultando a minha honra, como um artista marcial eu não posso tolerar isso!”
Ele pegou seu guitoudao, um sabre curto, curvo e de um único gume.
“Haha uma piada de artista marcial como você nunca seria capaz de derrotar uma pessoa de origens simples como eu!”
Zhou Yue também pegou sua espada.

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