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    Novamente, da palma da mão de Belfegor, aquele brilho marrom cintilou.

    Ele voaria sobre Tâmara e a mataria com um golpe. Mas algo o impediu. A mão de Renato segurou o punho do demônio.

    Belfegor enrugou a testa, incrédulo. Em seguida, direcionou aquela energia para o garoto e a lançou.

    Renato desviou da energia e, com um toque com a palma da mão, mudou a trajetória dela. A energia bateu contra uma parede e a danificou, enchendo-a de rachaduras, e deixando a marca circular da colisão.

    O prédio tremeu como se fosse atingido por um terremoto.

    Tâmara disparou mais duas vezes.

    Belfegor saltou para trás, evitando as balas, abrindo seus dois pares de asas e disparando duas rajadas de energia ao mesmo tempo.

    A primeira rajada, Renato rebateu, fazendo-a subir em direção ao teto.

    A segunda explodiu no peito dele.

    O garoto foi arremessado para trás, até suas costas tocarem a parede, porém ele não desfez a guarda de luta em nenhum momento.

    — Vire pedacinhos!

    Mical estava com um dos joelhos apoiados no chão, e sobre seu ombro, tinha aquela bazuca enorme.

    Ela disparou. E, ao invés da granada propelida costumeira, o que saiu do cano metálico foi uma bola de energia mágica destrutiva, dourada como seus cabelos, com alguns traços de cor esmeralda.

    Belfegor bateu as asas e ganhou altura.

    O disparo de Mical bateu contra a parede, estourando-a e abrindo um rombo nela, e fez estilhaços choverem sobre o jardim e o chafariz do cupido.

    A explosão fez a cadeira onde Andrei estava preso tombar, e ele caiu no chão com um gemido de dor.

    Diante de Belfegor, surgiu Clara. Num movimento veloz, tal qual tivesse se teleportado, e ela golpeou com a espada, num movimento horizontal.

    Mas Belfegor era rápido também e desviou do ataque sem dificuldades. Ele tocou a palma da mão no abdômen dela e…

    — Gravidade de Júpiter!

    E Clara despencou, e bateu com força contra o chão. E, abaixo dela, o concreto começou a se distorcer e rachar, até que o chão se quebrou, e ela caiu no piso do andar de baixo, que também não suportou o peso e cedeu. 

    E ela despencou por todos os andares, até bater contra o piso do térreo. E, lá embaixo, com o impacto, arrebentou o chão e uma cratera se formou, erguendo poeira e destroços. Estava sendo puxada, como se a gravidade da terra fosse aumentada e multiplicada em volta dela.

    Batendo as asas, Belfegor evitou os tiros de Tâmara.

    Jéssica correu, tomando impulso, e saltou sobre o demônio, e o agarrou por trás.

    — Crux sacra sit mihi lux! Non draco…

    Ao ouvir as palavras de exorcismo, Belfegor foi tomado por um mal estar que o deixou atordoado. Ele se debateu, tentando livrar-se de Jéssica, mas Lírica também pulou sobre ele, ajudando a imobilizá-lo.

    E, enquanto tentava livrar-se, o demônio foi atingido por dois tiros no rosto, disparados por Tâmara. A cabeça dele tremeu, e ele sentiu que seu crânio explodiria. Dois filetes de sangue escorreram por seu rosto, obstruindo a visão de um dos olhos.

    Renato, de posse de sua espada, se aproveitou da situação e avançou, num movimento de estocada, mirando o peito da criatura.

    Mas, batendo as asas, e girando seu corpo feito um tufão, Belfegor lançou as duas garotas para longe e, materializando sua própria espada, ele bloqueou a lâmina de Renato.

    A lâmina do demônio era cristalina, transparente e fosca, como o quartzo. Furta-cor, variava entre o azul, o vermelho e o violeta, conforme a luz batia sobre  a superfície gelada. Era como se a lâmina tivesse sido esculpida de um cristal puro.

    Ao cruzar as espadas, elas tiniram. O garoto sentiu seus braços vibrarem e os ombros estalarem.

    O demônio girou no próprio eixo, num golpe horizontal da espada.

    O garoto seria partido ao meio.

    Mas, num reflexo rápido, ele chutou o chão e saltou para o lado, evitando o golpe.

    A pressão causada pelo golpe percorreu toda a sala como um vento forte, e a pressão da lâmina riscou a parede mesmo à distância.

    — A Justiça de Deus cai sobre aqueles que praticam o mal!

    Jéssica se ergueu. Seu olho direito tinha adquirido uma cor amarela alaranjada, como areia seca. E, seu punho de mesmo lado, emitia um brilho fraco, na mesma cor.

    — E que o Perdão caia sobre aqueles que se arrependem! — disse Mical.

    O olho e o braço esquerdo dela brilhavam num tom alaranjado.

    Belfegor, pela primeira vez, ficou realmente chocado com o que viu.

    — A semente dos nefilins? E Bênçãos Angelicais?!

    Mical disparou sua bazuca. Aquele não era o projétil costumeiro.

    Ela tinha visto enquanto estava desacordada. A magia do Anjo do Deserto afetou todo seu corpo, seu espírito, e até suas armas. Ela não ficaria sem munição jamais, pois não era mais aquelas granadas propelidas que ela estava disparando. O projétil era feito puramente energia santa, uma variação da energia hermética que fluia através dos anjos.

    Mas o demônio bloqueou a energia usando sua própria espada, e a rebateu, mudando sua direção, e fazendo ela explodir contra o teto.

    E, mal tinha concluído o seu movimento, o punho brilhante de Jéssica bateu contra seu rosto.

    E, enquanto girava e caía para o lado, ele emitiu aquele ataque de energia cor de terra, que explodiu contra o abdome de Jéssica, e fez ela ser arremessada.

    Jéssica atravessou a sala inteira e voou através do buraco na parede, e caiu em cima da estátua de cupido no jardim, transformando-a em pedaços.

    — Aaaahh! — Mical gritou. E foi um grito carregado com ódio, gutural, quase animalesco. — Maldito! Morra!

    Ela, de posse da bazuca, preparou mais um tiro, mas, antes que pudesse disparar, Renato passou correndo por ela e avançou em direção ao Belfegor.

    — Desgraçado! — gritou o garoto, e saltou, e assim que chegou perto o bastante, golpeou com a espada, num ataque de cima para baixo.

    Belfegor saltou para trás, evitando ser atingido, e contra atacou pela lateral.

    Renato bloqueou o ataque dele, cruzando as lâminas.

    Então Belfegor abriu suas asas e pulou sobre Renato, investindo em mais um ataque, mas o garoto foi envolvido por uma sombra gelada que projetou duas asas nas costas dele.

    E os dois subiram ao ar enquanto trocavam socos.

    O punho de Renato atingiu o rosto de Belfegor; e o rosto do demônio ondulou com a onda de choque, e ele cuspiu saliva misturada com sangue.

    — Maldito filho de Adão! Macaco de barro!

    Belfegor conseguiu tocar o abdômen do garoto, e aquele brilho marrom cintilou como uma explosão.

    Primeiro, Renato sentiu frio. Foi como se terra molhada tocasse sua barriga. E então aquela pressão o jogou longe.

    Ele passou pelo buraco na parede, sobrevoou o muro, e só parou quando bateu contra um poste, e o impacto quase o partiu ao meio, e aparentemente quebrou alguma costela, então ele finalmente caiu no chão, com a testa sobre a calçada gelada e suja, e uma dor infernal que percorria cada pedaço de seu corpo.

    Belfegor pousou próximo dele e recolheu as asas. Lançou ao garoto um olhar soberbo, com desprezo, e nada além de uma insinuação de sorriso nos lábios.

    — Então você é o Homo Sapiens que anda causando tanta comoção? Francamente, estou decepcionado.

    Renato  riu, e seu riso foi amargo, misturado com algo parecido com um rosnado.

    — Você… ainda não viu nada.

    Com a testa ainda colada ao chão da calçada, sentindo o cheiro de esgoto que fluia na sarjeta, Renato pôs seu punho sobre o concreto, buscando apoio para se levantar.

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