Índice de Capítulo

    No dia seguinte as carroças já estavam de volta nas estradas, rumo em direção à cidade. As estradas estavam mais difíceis, com buracos e pedras no caminho que dificultavam a rolagem das rodas, por isso as carruagens haviam se distanciado muito das outras.

    As posições continuavam as mesmas, com Erik no meio e Joseph como último. A única coisa que havia mudado era que agora era a maga, Liv, quem estava na última carroça e a Mina na primeira, porque ela não se sentia confortável estando na mesma carruagem que o Richard.

    Uma das coisas que também não havia mudado, era que Ken ainda continuava dormindo, mesmo que já fizessem horas desde que partiram de manhã.

    Sentado na carroçaria da carruagem, Richard estava com os dedos entrelaçados e mordia a unha.

    “O que aconteceu com a Mina, porque ela está desse jeito? Ainda está ressentida pelo que aconteceu noite passada?”

    Estas eram as perguntas que ele fazia a si mesmo desde que partiram, sempre repetindo.

    “…”

    Liv apenas olhava para ele com incredulidade.

    ‘Realmente idiota. Você gosta dela, mas toda vez que fala com ela a faz chorar.’

    Liv já havia percebido que Richard tinha uma certa paixão pela Mina, e mesmo Mina também parecia gostar dele. Mas por causa do comportamento egoísta e arrogante de Richard, nunca haviam se aproximado, e na verdade, apenas os estava distanciando cada vez mais.

    Por isso Liv não sabia o que Mina via em Richard, porque embora fosse bom com espadas, também era um idiota.

    ‘?’

    Olhando para Richard, ela percebeu que ele não parava de olhar com o rosto sério para o canto da carruagem. Quando ela seguiu seu olhar, percebeu que ele estava olhando para Ken que dormia.

    O manto escuro cobria todo seu corpo e o capuz escondia seu rosto. Então ela não sabia sobre sua verdadeira aparência, apenas sobre sua altura e corpo colossal.

    ‘Também tem esta pessoa.’

    Pensou Liv.

    Ela não tinha particularmente nenhum pensamento sobre ele, mas hoje de manhã começou a se perguntar o que se passava com ele. Já fazia um dia e várias horas desde que partiram da cidade, e ele ainda continuava dormindo. 

    Até chegaram a pensar que ele estava morto, mas mudaram de opinião assim que ouviram sua respiração.

    ‘Tenho um idiota e um preguiçoso na mesma carroça. Sinceramente.’

    Achando que seu dia começou da pior maneira possível, ela decidiu tentar não se preocupar muito com as coisas para não se estressar.

    “Enquanto aqui estou eu, em conflito com a Mina e sem saber o que fazer, este homem fica dormindo tranquilamente, claramente sem problemas na vida. Que idiota. Você não acha?”

    Mas infelizmente o momento de calma de Liv foi interrompido pelas palavras sarcásticas de Richard.

    “…Sim, você tem razão.”

    Mas para não se estressar muito, Liv sorriu forçadamente e apenas decidiu concordar com suas palavras, não querendo entrar em uma discussão desnecessária.

    “Sinceramente, não importa o quão grande ele seja. Homens preguiçosos que ficam dormindo durante dias, definitivamente não conseguem satisfazer uma mulher.”

    “…Sim, você tem razão.”

    “Verdade, não é mesmo?”

    Liv já estava começando a se aborrecer, mas continuava com seu sorriso.

    “…E se ele tiver alguma coisa haver com o humor de Mina?”

    “O quê?”

    Mas então sua última pergunta a surpreendeu, fazendo-a perguntar, confusa.

    “Desde ontem ela ficava defendendo-o, depois foi embora chateada, e agora ela não quer ficar nesta carruagem. Como pensei, esse cara deve ter feito alguma coisa.”

    “…”

    Neste ponto ela achava que ele estava sendo nada além de ridículo. Culpar alguém pelos seus próprios erros, para ela era ir longe demais.

    “Será que devo acordá-lo e perguntar por mim mesmo?”

    Ela podia sentir que ele estava falando sério, o que a fez se arrepender de não tê-lo parado mais cedo com suas teorias.

    “…Melhor não te precipitares, Richard. Haverão consequências se…?”

    “?”

    Enquanto a Liv tentava convencer Richard de não fazer nada idiota, algo ao seu lado chamou sa atenção, e quando olhou, ficou extremamente chocada. Richard também teve a mesma reação assim que olhou na mesma direção.

    Ken não estava mais encostado dormindo no canto da carruagem, agora estava levantado e com a parte superior do corpo inclinado para a parte frontal da carruagem, fora da lona.

    Mas antes que os dois tivessem tempo de processar direito as coisas.

    *VASH!*

    “Kyaa!?”

    Ken pulou para fora da carruagem como uma bala, deixando uma pressão de vento que balançou a carruagem e voou em uma velocidade extrema para a próxima carruagem. 

    Ele passou logo pela carroça da segunda carruagem, chegando na boleia empurrou o comerciante Erik e Einard para fora da carruagem, pela esquerda e direita.

    “!”

    “!”

    Eles não entenderam nada até que o verde da floresta já estivesse em suas visões e não estavam mais na carruagem.

    Mas Ken não parou, pisou na boleia e rapidamente pulou para a próxima carruagem. Nem um segundo havia se passado desde que Ken deixou sua carruagem e agora estava alcançando a primeira.

    Na primeira carruagem, a mulher brincava com sua criança na carroça, enquanto Mina olhava para o chão com o rosto sombrio.

    Foi neste instante que um trovão rugiu e o céu foi iluminado com um forte azul. E então dois raios caíram instantaneamente nas duas carruagens.

    *Boom!*

    Uma enorme explosão ocorreu, destruindo e pulverizando as duas carruagens, criando dois grandes buracos onde os raios haviam caído, e fazendo fumaça branca subindo por cima das árvores.

    Um acontecimento tão inesperado havia pego a todos de surpresa da terceira carruagem. A cabeça de Joseph ficou um bom tempo em branco diante do desastre à sua frente, até que começou a entender a verdade da situação. 

    “Pai?…Pai! Você está bem!? Pai!”

    Tendo finalmente recobrado a consciência, Joseph rapidamente saltou de sua carruagem e correu para o local da carruagem de seu pai. 

    Depois de alguns segundos ele havia chegado. Tudo estava destruído, as mercadorias, a carroça. O sangue preenchia o local e ele podia sentir o cheiro de carne torrado, embora pudesse apenas ver alguns pedaços do corpo do cavalo.

    “Pai?…Pai!!”

    Lágrimas estavam começando a se formar em seu rosto ao pensar no pior cenário possível, não importava onde ele olhasse, não conseguia encontrar seu pai.

    “Estou…aqui…”

    “!”

    Até finalmente ouvir a voz de seu pai vindo do interior da floresta. Então ele rapidamente correu naquela direção.

    “Pai!”

    Os olhos de Joseph se iluminaram de alívio e felicidade.

    Erik, o comerciante, estava jogado entre um amontoado de arbustos, o que por sorte havia suavizado sua queda.

    “Você está bem, pai? O que aconteceu?”

    Quando Joseph chegou ao seu pai, começou ajudá-lo a se levantar.

    “Ohoho, não sei. Quando me dei conta já estava voando na floresta no mesmo instante em que um raio caiu na carruagem. Então estou tão confuso quanto você.”

    Disse o comerciante enquanto ria sem jeito.

    “Vocês estão bem!?”

    Foi então que Einard se juntou a eles, com Richard e Liv vindo com ele.

    “Estou bem, não te preocupes meu amigo. E você?”

    “Como podes ver, estou bem. Ao que parece apenas a nossa carruagem e a primeira foram-! Espera! E os outros!?”

    Enquanto tentava entender a situação, Einard se lembrou que haviam dois raios que caíram, um deles claramente havia caído na carruagem da frente.

    “Espere! A Mina não estava na primeira carruagem!?”

    Perguntou Liv em desespero.

    “!?”

    Einard e Richard ficaram surpresos ao se lembrarem deste fato.

    “Mina!”

    Richard rapidamente correu na direção da primeira carruagem, deixando todos para trás, mas que depois começaram a segui-lo.

    “Mina! Onde você está!?”

    Com a fumaça ainda nublando os arredores, Richard não conseguia encontrar o paradeiro deles. 

    “Mina! Você está bem?! Min-!?”

    Ele continuou gritando seu nome, mas assim que chegaram no local da primeira carruagem, seus olhos se arregalaram. Os que chegaram em seguida tiveram a mesma reação, com exceção do Erik.

    O homem que conduzia a carruagem, a mulher, a criança, felizmente estavam ilesos enquanto se abraçavam e choravam com uma mistura de alívio e tristeza.

    Mas o que os surpreendeu foi a pessoa parado ao lado deles. Um homem alto e grande, com cabelos brancos platinados amarrados em um rabo de cavalo que balançavam com o vento, uma pele tão branca como o próprio papel, e olhos negros como a meia noite, mas a áres do olho esquerdo escondido com um tapa-olho.

    A pessoa era Ken.

    Aqueles que estavam curiosos com a sua aparência, agora puderam ver sua verdadeira face.

    “Você está bem?”

    Perguntou Ken enquanto olhava para algo que pagava em seu braço esquerdo.

    “S-sim! Obrigada!…”

    A pessoa que Ken carregava em seu braço esquerdo parecendo uma criança, por causa de seu tamanho era a Mina. Suas bochechas ficaram vermelhas como tomate ao sentir o olhar de Ken perto dela, enquanto gaguejava uma resposta e agradecia.

    “!”

    Richard sentiu seu coração apertar ao ver aquela interação. 

    ‘Porque você está assim, Mina? Você nunca olhou assim para mim.’

    Vendo a forma que ela olhava apaixonadamente para outro homem e não para si acendeu uma chama de ciúmes dentro dele e uma fúria o dominou.

    Neste momento foi como se algo tivesse quebrado dentro dele.

    “Desgraçado! O que você fez!? Solte ela!”

    Ele desembainhou sua espada e com fúria correu na direção de Ken.

    “Richard!? Pare!”

    Einard, percebendo o estado alterado de Richard, tentou pará-lo, mas a esta altura ele já era tarde demais.

    Foi como se todo o ressentimento que se acumulou ao longo do tempo sobre Ken tivesse explodido naquele momento. Ele o culpava por Mina estar com raiva dele, por estar sendo considerado infantil e por ter sido repreendido por Erik, seu contratante. 

    Agora ele estava carregando a garota de quem gostava em seus braços, como se fosse sua propriedade.

    A situação de agora não importava mais, ele não sabia como os trovões caíram do céu ou como todos estavam vivos, mas para ele Ken era o culpado por tudo.

    A verdade não importava mais para ele, porque a única verdade era o que ele pensava e nada mais importava.

    “Moraaaaaa!”

    Assim que Richard chegou até eles, brandiu sua espada em um corte no peito de Ken.

    “Richard, para!”

    Mina, sua companheira, gritou tentando parar ele, mas a esta altura ele já não estava mais ouvindo ninguém.

    Ken tinha permanecido calmo durante todo este tempo, mas quando a espada foi em direção em seu peito, empurrou com seu braço direito mirando em sua espada.

    *Bang!*

    “!?”

    Richard sentiu um enorme peso em todo seu corpo ao colidir com o bracelete prateado de Ken. Não apenas isso, por causa da forte colisão a lâmina de sua espada se partiu em vários pedaços, alguns cacos arranharam seu rosto e outros cortaram seu corpo no processo, e seus braços que não aguentaram o impacto recuaram para trás de forma estranha e ele foi jogado para longe. 

    Assim que caiu no chão começou a rolar, até parar.

    “Ugh!…”

    Ele ficou confuso e sem entender nada. Ele foi com tudo para cortá-lo com sua espada, mas foi ele quem foi repelido para trás.

    ‘O que foi isso? Foi como se tivesse sido atropelado!…!’

    Ele começou a levantar com dificuldade, mas assim que se levantou, ainda incrédulo, percebeu que não estava conseguindo sentir seus braços, quando olhou, seus olhos se arregalaram de horror.

    “AHHHHHHHHHHHH!”

    Ele começou a gritar de horror ao perceber que seus braços estavam quebrados a partir do cotovelo.

    “Ahhhhh! Drogahhhhh!…”

    Ken começou a andar lentamente até onde os outros se encontravam, passando por Richard que ainda gritava, mas antes disso deixou uma mensagem.

    “Agradeça por ser apenas seus braços quebrados. Caso contrário eu teria te matado.”

    “!”

    A frieza na voz de Ken fez a espinha de Richard arrepiar, a dor de ter seus braços quebrados era insuportável, mas a voz de Ken também era horripilante.

    “Hick…”

    Ele então começou a chorar, apercebendo-se de sua própria tolice ao tentar atacar alguém sem saber que está em um nível bastante acima. Mas acontece que o arrependimento não podia mudar o passado.

    Ken ignorou ele e continuou a andar até chegar onde estavam os outros. Einard, Liv e Joseph ficaram cautelosos vendo Ken se aproximando, mas quando chegou ele, Ken olhou para Liv e perguntou.

    “Você sabe alguma magia de cura?”

    “!”

    Liv ficou surpresa pela pergunta repentina de Ken. Mas o que realmente a surpreendeu foi outra coisa.

    ‘Como ele sabe que eu sou uma maga?’

    Ken nunca havia interagido com ninguém desde que partiram da cidade, então a surpreendeu quando esta pergunta soou tão natural ao sair de sua boca.

    “Você sabe?”

    “S-sim, eu sei. O básico.”

    Ken voltou a perguntar, e desta vez ela respondeu apressadamente. 

    “É o suficiente.”

    Depois de dizer estas palavras, Ken se abaixou e colocou a Mina no chão.

    “Ela quebrou sua perna direita, cuide dela.”

    “Sim…”

    A maga se abaixou para cuidar de Mina, mas então ela pude ver o rosto de Ken mais de perto, seu olhar a deixava inquieta e sua voz estranhamente fazia seu coração palpitar.

    Ela até se esqueceu que esta pessoa a sua frente havia praticamente quebrado os braços de seu companheiro, que ainda continuava chorando.

    Ao se levantar, desta vez Einard se aproximou dele.

    “…Primeiramente, obrigado por não ter matado ele.”

    Cerrando o punho, Einard bateu em seu peito e falou com Ken, agradecendo por Ken ter poupado a vida de Richard.

    Batendo o peito com o punho cerrado é uma tradição em Vinland dizendo que você reconheceu a pessoa a sua frente como alguém digno de respeito. Porque em Vinland, a não ser que seja por um duelo, desembainhar sua espada contra alguém significa que você está pronto para matar ou ser morto, portanto, se Ken tivesse matado Richard, ninguém poderia culpá-lo.

    Agora ele sabia que Ken não era alguém normal. Não apenas pela sua aparência anormal, mas pela forma de como havia derrotado terrivelmente Richard apenas se defendendo de seu ataque. Não apenas isso.

    “Também permita-me agradecer por não salvar apenas a mim, mas também a todos os presentes.”

    Ele também sabia que Ken era o responsável por empurrar a ele e Erik para fora da carruagem antes que o raio caísse, e que também era responsável por salvar Mina e aquela família.

    “…”

    Mas Ken não respondeu e apenas ficou olhando para ele, o que o estava deixando cada vez mais nervoso. Como o silêncio prolongado parecia cada vez mais sufocante, ele decidiu perguntar cautelosamente por algo. 

    “Você…por acaso sabe o que realmente aconteceu?”

    Ele perguntou olhando diretamente no olho de Ken mesmo que estivesse nervoso, provando ser um verdadeiro Vilandese.

    Mas depois de um tempo, Ken olhou para o céu, depois respondeu.

    “Eram balas perdidas. Dois magos estavam lutando.”

    “Balas perdidas!?”

    Surpreso, Einard seguiu o olhar Ken e também olhou para o céu. Mas não importava onde olhasse, não conseguia ver nada.

    Mas havia sim alguma coisa lá no alto e Ken conseguia ver. Haviam dois pontos acima das nuvens que pareciam invisíveis a olho nu.

    [Raio branco, 5%]

    Usando o raio branco o olho negro de Ken brilhou em branco e sua visão se intensificou, assim conseguindo ver com mais clareza a verdadeira identidade deles.

    Eram duas pessoas que voavam a vários quilômetros no alto. Um deles era um velho com um manto azul forte, e outro um homem de meia idade vestido com uma roupa aristocrática.

    Depois de um tempo eles desapareceram, voando para longe, como se o estrago que haviam feito não importasse.

    Mas Ken captou a face dos dois e os guardou em sua memória. 

    “Um dia nos encontraremos.”

    Eles haviam perturbado seu sono, então uma hora ou outra haveria retaliação.

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