Capítulo 103 - Os dois lados da mesma moeda
“A clareza moral é um farol que guia o guerreiro. A dúvida é a arma dos fracos. O verdadeiro guerreiro sabe que deve escolher um lado e seguir em frente. A clareza moral não é um luxo, mas uma necessidade. Na guerra, a indecisão é uma sentença de morte.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 120
No mundo com três sóis, a atmosfera carregada de tensão envolvia Sérgio Romanov enquanto ele retirava a adaga negra ensanguentada de dentro de Isabella, suas mãos firmes segurando-a com uma determinação sombria.
Com a mão esquerda, ele segurou o ombro da mulher, evitando que o corpo da mesma tombasse no chão, enquanto a lâmina cortava o ar. Enquanto a lâmina refletia a luz, seus olhos não apenas refletiam fúria e ódio, mas também uma determinação inabalável.
Ele sabia que enquanto tivesse a adaga negra em suas mãos, teria forças para resistir aos efeitos da manipulação e às tentativas de controle mental.
O ódio fervilhava dentro de Sérgio, alimentado pela dor de reviver algo tão doloroso novamente, com toda a sua carga emocional. Era como se estivesse vivendo tudo novamente, cada momento de sofrimento e derrota.
Seu ódio não era apenas por Isabella, mas também pelo fato de algo que sempre o atormentava em seus pensamentos, por meio do poder mágico, tivesse sido liberado e ganhado asas, ferindo-o mais uma vez intensamente.
— Não importa mais quem você seja, apenas quero seu sangue.
A adaga mergulhou mais uma vez na carne de Isabella, que tombou no chão em um último suspiro. Sérgio continuou, sua voz impregnada de uma sede de poder insaciável:
— Beba. Beba todo esse sangue.
A manipulação de Isabella sobre a realidade e a mente começava a desvanecer, seu poder perdendo eficácia diante do desfecho trágico. Com um resquício de ressentimento e tentativa de agressão, ela murmurou mais algumas palavras:
— Você nunca será igual a seu irmão gêmeo. Você nunca terá a outra metade da adaga negra. Você está apenas se aproveitando dos restos deixados por ele — antes que ela pudesse concluir, Sérgio Romanov a interrompeu brutalmente, perfurando-a na boca, silenciando-a para sempre.
Um riso sádico escapou dos seus lábios enquanto ele contemplava a cena, sua mente imersa em uma espécie de êxtase sombrio.
— Com seu sangue, minha adaga negra está completa novamente. E eu posso trazer novamente um eu do futuro e adquirir seu conhecimento.
Seu riso ecoou pelo ambiente, ecoando como uma sinistra premonição.
— Leve o tempo que levar e a carnificina que eu irei causar… No fim, tenho todo o tempo do mundo — Sérgio parecia falar mais consigo mesmo do que para qualquer outra pessoa, sua mente imersa em um plano sinistro e implacável.
Enquanto observava o corpo inerte de Isabella, uma massa de energia mágica emergiu de seu interior e fugiu rapidamente. Sérgio Romanov franziu o cenho, ponderando sobre a origem desse fenômeno.
“Deve ser algum tipo de parasita que se apossa do corpo.” — refletiu ele, sua mente já arquitetando os próximos passos de sua jornada sombria — “Se fosse a adaga de meu irmão, sobraria o sangue apenas, mas como é minha adaga, sobrou apenas a energia mágica.”
Enquanto isso, em um outro mundo, Harley encontrava-se imerso em um ambiente de mistério e trevas. Aqui, as formas eram distorcidas por uma névoa negra que tudo envolvia.
Cada avançar era como uma jornada através de um labirinto de sombras, um reino de incertezas, onde as leis da realidade se dobravam e a escuridão reinava soberana.
Neste novo mundo, Harley flutuava como uma entidade sombria em constante movimento. O desconforto inicial de sua paralisia havia cedido lugar à curiosidade e exploração.
Ele mergulhava cada vez mais fundo nos mistérios desse universo sombrio, começando a decifrar suas leis e a compreender as possibilidades que se estendiam diante dele. Cada deslocamento era uma jornada de descoberta, uma exploração das nuances e das energias que permeavam esse reino sombrio.
Sua essência era uma fusão de escuridão fluida e energia latente, guiada por sua intuição para as tonalidades mais claras no espectro do negro. Cada deslocamento era uma dança entre sombras, onde ele absorvia e fundia-se com outras massas sombrias, enriquecendo sua própria densidade e potência.
Ao transitar para tonalidades mais escuras, ele deixava para trás uma leve trilha de sombras mais claras, uma marca sutil de sua passagem.
Após uma jornada longa e sinuosa através deste mundo etéreo, Harley chegou a um local ocupado, cercado por formas indistintas de massas sombrias semelhantes à sua.
Embora não pudesse vê-las com os olhos, sua essência vibrava em reconhecimento. Ivana estava lá, rodeada por outras massas sombrias muito mais densas e pulsantes de energia. Essas formas tinham uma aura distinta, uma presença que anunciava poder e determinação.
O jovem pairou no ar, observando a cena com curiosidade e cautela. A presença de Ivana era como um farol de influência, irradiando uma aura que não podia ser ignorada. Ele podia sentir as ondas de energia emanando dela, pulsando e envolvendo as massas sombrias ao seu redor.
Enquanto imergia na atmosfera carregada, Harley percebeu que algumas das entidades sombrias circundando a figura que outrora fora a mulher de olhos puxados, agora apenas mais uma massa sombria, pareciam ressoar com uma intensidade singular.
Eram como sinos negros, ecoando uma melodia sombria alimentada por uma fonte de poder desconhecida. Curioso, ele avançou cautelosamente, sentindo a energia vibrante pulsar em seu âmago, uma chamada misteriosa que o atraía para o centro desse enigma sombrio.
À medida que se aproximava, ele percebia que as massas sombrias ao redor de Ivana estavam em um estado de excitação, como se estivessem aguardando algo com expectativa. Sua intuição alertava para a presença de algo significativo prestes a acontecer, algo que poderia mudar o curso deste mundo sombrio para sempre.
Um zumbido elétrico percorreu o ar, ecoando através das massas sombrias enquanto Harley se aproximava. Ele podia sentir a eletricidade estática em sua essência, uma energia que o impulsionava para a frente, apesar de todas as incertezas que pairavam no ar.
Então, em meio à agitação das massas sombrias, uma voz ecoou, cortando o silêncio como uma lâmina afiada.
— Estava curioso para saber que tipo de detrito minha filha trouxe para cá.
À medida que se aproximava, Harley percebia que Ivana estava contida, envolta por outras massas que pareciam estar canalizando energia sombria para sondar suas capacidades e poderes. O ambiente estava impregnado de uma tensão densa, como se o ar mesmo estivesse saturado com o peso do escuro.
O jovem fixou seu olhar na mancha que reconhecia como sendo Ivana, mesmo sem ter sentidos físicos para guiá-lo. No entanto, uma sensação familiar e inegável o envolvia quando direcionava sua atenção para ela.
Era como se uma conexão intrínseca os ligasse, uma ligação que transcendia os limites do físico e do sensorial.
À medida que focalizava Ivana, uma estranha sensação de conflito se apoderava de Harley. Como poderia ele, mesmo sem braço devido às ações traiçoeiras dela, sentir o desejo de salvá-la?
Uma parte racional de sua mente gritava, relembrando-lhe das injustiças e traições que sofrera por sua causa. No entanto, algo dentro dele parecia desafiar essa lógica, uma centelha de empatia ou talvez compaixão que o impelia a ignorar as mágoas passadas.
Enquanto ele lutava com esses sentimentos contraditórios, Harley percebeu algo peculiar na formação das entidades sombrias ao redor de Ivana. Elas pareciam convergir, alinhando-se em um corredor sinistro, como se estivessem aguardando sua chegada para iniciar algum tipo de evento ou cerimônia destinada a ele.
Nesse instante, a voz da entidade mais poderosa daquele lugar ecoou, ressoando como um trovão sombrio em meio à escuridão.
— Vamos julgar seus atos e ver se vocês podem sonhar, ao menos, com a morte.
As palavras soaram como um presságio sombrio, surpreendendo Harley e lançando uma sombra de apreensão sobre sua mente. O que ele teria feito para atrair essa avaliação implacável?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.