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    “Um guerreiro não é definido por suas vitórias ou derrotas, mas pelas escolhas que faz ao longo de sua jornada. O verdadeiro desafio não é escolher, mas carregar o fardo dessas escolhas.” 

    O Código do Guerreiro Solitário, Verso 10.


    Antes de colocar Isabella em suas costas, e aproveitando a proteção e isolamento proporcionados pela barreira de magia que afastava a horda insana de criaturas, Harley fez uma vistoria minuciosa no corpo de Astrid. 

    Seu objetivo era encontrar qualquer sinal de um artefato mágico que pudesse ter resistido aos tumultuados eventos da batalha. No entanto, seus esforços foram em vão, não encontrando vestígios do precioso artefato que Sergio havia buscado com tanta avidez.

    Ele ponderava sobre o destino do artefato. A possibilidade de que o constante uso durante a luta o tivesse destruído cruzou sua mente, mas a hipótese mais plausível era a de que Sergio o tivesse adquirido durante o confronto. Esses pensamentos ocupavam a mente de Harley enquanto ele avançava pelo terreno desconhecido.

    Enquanto carregava Isabella, ele também não demonstrava ressentimento pelas últimas ações ou escolhas que sua ex-noiva havia tomado. Apesar de toda irritação e arrogância que ela havia adquirido, ele sempre a lembraria como aquela jovem prometida em casamento que, uma vez por ano, passava sete dias com seus pais em sua tribo, tímida e assustada. 

    Ela era uma verdadeira companheira de brincadeiras e disputas. A garota era alguém que não admitia derrota em nada e sempre o desafiava para os mais variados estilos de competição. 

    A irritação e raiva provenientes da humilhação sofrida durante o cancelamento do compromisso de casamento já não tinham mais nenhum efeito sobre Harley. Tudo parecia que tinha acontecido a uma eternidade para o jovem. 

    Uma promessa, para ele, representava a capacidade de alguém manter sua palavra ou tomar decisões, independentemente das surpresas e mudanças que o tempo poderia trazer. E isso dizia muito sobre o caráter de alguém que, mesmo em condições prejudiciais, ainda preferiria honrar suas escolhas do que voltar atrás. 

    Para o jovem, a verdadeira coragem estava em enfrentar as consequências de suas decisões, assumindo a responsabilidade por elas. Ele via toda promessa como um bilhete premiado que poderia ser honrado, descartado ou ainda ser um engodo.

    Ele considerava pretensioso que as pessoas tomassem escolhas por outras, submetendo vontades e desejos, e ainda esperassem que o futuro se curvasse aos seus caprichos.

    Harley não culpava Isabella por exercer sua vontade; no entanto, acreditava que ela havia feito escolhas prejudiciais para sua vida. Com todas as suas falhas com certeza ele seria um candidato a marido muito melhor do que Sergio. Como toda liberdade, essas escolhas trariam consequências sem a participação de ninguém para culpar ou lamentar. 

    Era a natureza inevitável das decisões pessoais, e ele preferia olhar para o futuro com a sabedoria de que cada um colhia o que plantava, independentemente das promessas feitas no passado. E sua escolha também foi um alento para ele que não se via preso a um casamento arranjado. 

    Isabella, por sua vez, permanecia inconsciente durante a longa marcha que eles tinham percorrido e só despertou algum tempo depois, já nos ombros do seu agora companheiro de viagem. 

    Engolindo em seco, ela evitou demonstrar surpresa pelas ações cuidadosas de Harley. A consciência do fato de que ele a salvara, mesmo após ela ter se aliado a Sergio, pairava no silêncio desconfortável entre eles.

    Mesmo percebendo os cuidados médicos aplicados por seu ex-noivo, Isabella optou por manter o silêncio sobre esses gestos benevolentes. Como se ao não mencionar essas ações, pudesse negar a existência delas. Ela escolheu ignorar os esforços de Harley em seu favor. Talvez fosse uma tentativa de preservar uma imagem de independência ou de simplesmente não se render à gratidão.

    Enquanto ela permanecia calada, o jovem continuava avançando pelo terreno desconhecido, carregando não apenas o peso físico da mulher em suas costas, mas também o peso das circunstâncias e das escolhas que haviam moldado a narrativa deles até aquele momento. 

    Em um tempo desconhecido o som dos passos de Harley fora interrompido pelas primeiras palavras de Isabella: 

    — Você poderia acelerar um pouco? Estou ficando entediada aqui em cima. Ainda temos um mundo inteiro para explorar, e você está me levando a passo de tartaruga.

    Harley suspirou, desconsiderando as reclamações e a ingratidão, enquanto não demorou muito para que ela redirecionasse o foco de suas queixas.

    — Por que levou tanto tempo para derrotar aquele dragão? Poderia ter sido muito mais rápido. E o que é essa história de construir essas muralhas? Está com medo dessas criaturas? Você continua evitando o confronto, como sempre fez em sua vida — concluiu Isabella, rindo.

    Com um sorriso malicioso, Harley respondeu:

    — Medo? Eu? Nunca! Só estou sendo cuidadoso. Afinal, não quero que nada aconteça com você. Afinal, com seus trinta e tantos anos, não é mais a jovem deslumbrante que costumava ser.

    Isabella estreitou os olhos, furiosa.

    — Você está insinuando que estou velha?

    Harley entre risso respondeu: 

    — Claro que não, apenas que o tempo passa para todos. Mas, para acalmar seus ânimos, acho que ainda é bonita, de uma maneira madura. Claro que um jovem como eu não poderia aspirar nada de alguém já nesta fase desenvolvida da vida como você. Tenho muito pouca experiência e poucas coisas a oferecer.

    Isabella bufou, claramente insatisfeita. Harley não deixou barato:

    — A propósito, como está o casamento? Como conseguiu conquistar alguém disposto a lidar com seus encantos envelhecidos? Ameaças? Extorsão?

    Ela respondeu com sarcasmo:

    — Foi a melhor coisa que fiz na vida. Imagine eu estar associada em um casamento com um inútil como você? Se eu não tivesse te chutado da minha vida, com certeza estaria em desespero agora.

    Harley não deixou passar a oportunidade:

    — Ah, sim, um casamento com um pervertido sádico deve ser realmente emocionante. Deve ser difícil manter o romance vivo quando seu marido adora tortura e matar mulheres. Quantas vezes ela já tentou te matar? Não o culpo, eu faria o mesmo todos os dias com você. 

    Isabella se irritou com as palavras e o riso e respondeu:

    — Pelo menos eu não fujo dos problemas. Você está sempre evitando confrontos. E agora, com esse novo poder, ficou ainda mais cômodo para você.

    Harley riu alto.

    — Evitar problemas? Eu? Minha querida Isabella, eu simplesmente escolho os problemas que valem a pena enfrentar. Além disso, não é culpa minha se sua escolha de marido parece ter sido feita por alguma desejo masoquista e suicida.  

    — Você acha que pode conquistar uma princesa ou qualquer pessoa com essa sua personalidade fraca e palavras que não combinam com sua força?  

    — Acho que, com meu charme e sagacidade, e principalmente a minha juventude, eu posso conquistar todo o mundo. Já você com essa sua idade atual, além do psicopata que te abandonou, nenhum outro príncipe vai querer parar o cavalo branco para olhar para uma dama de trinta e tantos anos?

    Isabella ficou sem palavras por um momento. Harley, satisfeito com sua provocação, continuou:

    — E sobre o fato de você ser casada, sabe, eu não me envolvo com mulheres casadas. Parece que, mesmo em outro mundo, certas regras ainda se aplicam.

    Isabella, enfurecida, tentou enforcar Harley, levando-o a soltar abruptamente o corpo dela de suas costas. O impacto da queda acabou reabrindo seus ferimentos. Essa ação brusca interrompeu a troca irracional de provocações, acendendo a preocupação e os cuidados do jovem, que retornou prontamente para atender à dama agora silenciosa. 

    Em um acordo tácito que não necessitava de palavras, os dois continuaram em silêncio. Mas a jornada pelo mundo desconhecido prometia ser longa, e os atritos entre os dois companheiros de viagem estavam longe de acabar.

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