Capítulo 110 - A luta que abalou o mundo
“Uma luta que abala o mundo é um testemunho da coragem e da determinação. É um grito contra as forças que procuram nos subjugar, uma prova de que o espírito humano não pode ser quebrado. É o momento em que tornamos cada golpe em uma declaração e cada defesa vira uma promessa.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 134.
A entidade sombrias estava consumida por um ódio descomunal, uma fúria insaciável que rasgava qualquer vestígio de compaixão. Ao herdar o poder de seu pai, sua arrogância se expandiu, transformando-a em um ser obcecado por sua própria supremacia.
O sacrifício de seu pai, a honra do passado, as entidades que testemunhavam o embate, nada disso tinha valor. Sua única obsessão era exterminar Harley, aniquilar cada parte dele, até que o próprio conceito de sofrimento se tornasse irrelevante. Com essa determinação, ele lançou-se para o golpe final, implacável e sem hesitação.
“Chegou o fim!” — esse era o pressentimento que pairava sobre todos os presentes, um abismo de inevitabilidade que os envolvia. Ivana resignou-se ao destino, compreendendo que agora era o fim.
No fim, os limites do possível haviam sido ultrapassados, e qualquer tentativa de mudança se tornara inútil. Milagres e improbabilidades, por mais poderosos que fossem, esbarraram em seus próprios limites, e a força, implacável, sempre se imporia.
Harley, agora encurralado, mal podia prestar atenção aos murmúrios de espanto ao seu redor antes que o inimigo o atacasse com uma fúria imensa. Cada movimento seu era uma luta desesperada pela sobrevivência, mas seus recursos se esgotavam com rapidez.
Sentindo que a única chance de se salvar era se dividir, ele concentrou sua energia para se multiplicar em fragmentos de si mesmo interconectadas, cada um com a mesma consciência. No entanto, sua força naquele tempo só foi suficiente para gerar quatro fragmentos. Essas sombras incompletas mal tiveram tempo de reagir. E foi ali, entre o desejo e a realização, que o golpe o alcançou, implacável.
O ataque da entidade foi devastador, destruindo duas de suas partes instantaneamente. A dor que seguiu foi indescritível, uma agonia que dilacerava sua essência, uma sensação de fragmentação irreversível. O golpe o desintegrou parcialmente, deixando uma sensação de vazio e perda devastadora.
Um silêncio mortal se espalhou entre as entidades sombrias, uma pausa pesada diante da gravidade do momento. A ideia de que a força mais pura sempre triunfaria era uma verdade incontestável neste mundo.
Contudo, a insensatez do fraco, ao buscar equilibrar, atrasar ou até mesmo questionar a imutabilidade da força absoluta, brilhava tal qual uma anomalia rara, algo que jamais fora testemunhado ou contado antes.
No centro desse embate, o pai de Ivana observava, sua mente surpreendida pelas estratégias incomuns e astutas de Harley. Com um gesto silencioso, ele deu uma ordem a todos os presentes, uma instrução implacável.
Cada entidade soubera que, uma vez presenciado o confronto, nada mais poderia ser compartilhado com os habitantes do mundo sombrio. A força absoluta reinava ali, e sua dominância era inquestionável.
Harley absorveu o impacto dessa ordem sem controle, enquanto sua mente era invadida por pensamentos caóticos. Uma lembrança distante surgiu em sua mente: a imagem de um animal de sua terra, encolhido diante do perigo.
A absurda negação da realidade pulsava em sua mente, uma contradição que ele não conseguia aceitar:
“Como entidades ditas sábias poderiam agir contra a própria evolução?”
Ele sabia que o tempo, implacável e inexorável, teria o papel de catalisador, acelerando o curso dos acontecimentos e conduzindo inevitavelmente ao confronto final com a realidade.
Pois, uma vez quebrado, o cristal da confiança jamais pode ser restaurado. As fissuras da dúvida e os estilhaços do medo permanecem gravados na forma de cicatrizes eternas nos corações que ousaram acreditar.
Mesmo diante das improbabilidades, a ordem estava dada: todos apagariam da memória os eventos testemunhados, para que o desfecho final não fosse mais do que uma sequência de fatos irrelevantes.
Porém, para Ivana que assistia a tudo, o próximo golpe seria o decisivo, selando o destino de ambos. Observando o desenrolar da cena, ela viu sua última centelha de esperança se apagar. Resignada ao destino, seu corpo e alma cederam ao domínio imutável da força, que há tempos ditava os rumos e as leis do mundo sombrio.
A entidade atacante, sentindo o peso da aprovação do pai de Ivana, sabia que todos separariam essa memória sob o aspecto de um fragmento isolado. Embora fosse apagada da consciência, a lembrança permaneceria, latente, esmaecida pelo tempo, mas sempre presente.
Seria uma memória desbotada, mas irremovível, de maneira idêntica a um eco sussurrante que persistiria nas profundezas da mente de todos, mesmo diante da ordem implacável de silenciar tudo.
O ódio, no entanto, nunca se apagaria. A vergonha da derrota permaneceria enraizada em sua psique, uma mancha indelével, uma humilhação causada pela falha de não destruir completamente seu oponente.
E aquele erro de não ter lançado todo o seu poder de imediato, esse momento de descuido, ressoaria em sua alma para sempre.
“O fim!” – esse era o sentimento que dominava as entidades sombrias, um pressentimento de inevitabilidade que apagava qualquer possibilidade de resistência.
O combate parecia ter alcançado seu auge, mas para todos, permanecia a inquietação pelo desfecho que ainda não se concretizara.
O mundo sombrio testemunhava apenas o primeiro movimento de um embate que havia sido há muito alongado.
Movida pelo ódio e pela necessidade de uma conclusão, a entidade avançou com um poder avassalador. Ela não hesitou, sabia que precisava esmagar o forasteiro de uma vez por todas. Seu ódio era o combustível de sua força. Com determinação implacável, ela avançou, resolvida a garantir que Harley fosse finalmente aniquilado.
O jovem Ginsu sentiu o golpe se aproximando semelhante a uma onda de escuridão prestes a engolfá-lo. Seus movimentos eram frenéticos, mas o desespero já tomava conta de sua mente. Sem alternativas, ele encarou o abismo, plenamente ciente de que o fim se aproximava, incapaz de evitar o golpe iminente.
“Seria realmente o fim?” – a dúvida invadiu sua mente, como um sussurro de desesperança. Mas mesmo em meio à desesperança, uma chama de resistência ainda queimava em seu interior, frágil, mas persistente.
“Nada!?” – ele murmurou, tentando se agarrar à última chance. Não seria esse o seu fim.
O olhar atento das entidades parecia consumir cada movimento de Harley, sua agonia alimentando as crenças de inevitabilidade no destino.
No entanto, contrariando a crença geral, uma pequena faísca de possibilidade começou a brilhar dentro dele. Algo, talvez uma convicção silenciosa, algo que ele ainda poderia fazer para mudar os rumos do combate.
A mente de Harley se lançou em um mar de possibilidades, buscando qualquer resquício de esperança, qualquer brecha que lhe permitisse sobreviver.
Ele revisitou todas as experiências passadas, as invocações e manipulações de energia, até mesmo o contato com a adaga negra.
Cada tentativa era equivalente a abrir um livro interminável, onde apenas mais e mais páginas vazias surgiam. O vazio se expandia, e a esperança se extinguia lembrando a efemeridade da fumaça perdida no ar.
Enquanto seu inimigo se aproximava, pronta para esmagá-lo, Harley teve um lampejo de memória: um confronto mental com Isabella, uma batalha que o havia marcado profundamente.
Ele se agarrou àquela lembrança, à sensação de conexão compartilhada por todas as entidades sombrias que experimentava incessantemente desde sua chegada àquele mundo.
Com isso, concentrou-se em influenciar o estado mental de seu oponente, intensificando a transmissão da ideia para todas as entidades, e de forma deliberada para seu adversário, de que agora ele era o marido de Ivana e que nenhum ser inferior ousaria desafiá-lo.
A entidade, ferida em seu orgulho, vacilou. Ela sentiu as humilhações de suas falhas e erros sendo jogadas em sua face, um peso insuportável que a fez hesitar, mesmo que por um breve momento.
Essas lembranças também ressoaram em todos os presentes que haviam anteriormente separado suas memórias e agora, assim como seu agressor, teriam que enfrentar novamente o influxo dessas lembranças vexatórias.
“Um milhão de mortes é o que você merece!” – gritou a entidade em sua conexão aberta com todos os presentes, concentrando toda sua raiva novamente em um golpe fatal.
Ela ansiava por destruir Harley completamente, erradicando-o da existência, sem deixar sequer um grão de energia sombria após o impacto final. Mas o jovem Ginsu, de maneira inesperada, acolheu o golpe com uma sensação de uma conquista grandiosa.
Expressou sua gratidão pelo tratamento que estava recebendo, inclusive dirigindo palavras de apreço a todas as entidades presentes, considerando o maior dos prêmios ter conseguido infligir tamanho desonra e, ainda assim, escapar deste mundo sem sofrimento.
Sua atitude emanava uma sensação de vitória, sugerindo o triunfo ao receber uma morte sem dor e sofrimento como recompensa.
“Maldito!” — gritou a entidade.
Seu inimigo, furioso, não conseguiu mais manter toda sua força. Desferiu apenas metade do golpe, suas emoções agora em tumulto. E Harley, com um sorriso silencioso, alcançou seu objetivo: desviar o seu adversário de sua intenção de aniquilá-lo de imediato. O preço foi alto, porém.
A dor que se seguiu foi avassaladora. Naquela Dimensão Sombria, não havia sangue, feridas ou marcas visíveis: apenas uma agonia imensa que se infiltrava em cada partícula de sua essência sombria.
Era equivalente a seu próprio ser sendo destruído por chamas invisíveis, uma tormenta que golpeava diretamente sua alma.
E, no meio desse sofrimento, uma faísca de esperança ainda queimava. Era uma resistência silenciosa, uma determinação feroz de lutar até o fim, sem sucumbir.
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