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    “Aquele que olha para o horizonte e vê apenas o brilho do sol, pode perder a sombra das suas próprias intenções. A verdadeira batalha não está na força aparente, mas nas percepções ocultas.”

    — O Código do Guerreiro Solitário, Verso 20.


    Estava longe de seu verdadeiro domínio: os laboratórios de pesquisa, onde suas invenções tomavam forma. Representar politicamente fora desse ambiente era uma tarefa que incomodava profundamente.

    Solarium ajustou o grande traje que cobria seu corpo, a armadura brilhava com um tom metálico, refletindo a luz suave do sol do deserto. O capacete, translúcido, permitia que suas expressões fossem vistas, mas escondia a complexidade dos seus pensamentos. 

    Ao seu lado, um exército se estendia até onde os olhos podiam ver, uma força imponente que causava um peso esmagador no ambiente ao redor. 

    O exército composto de soldados, máquinas de guerra e criaturas fantásticas emanava uma força tão intensa que até o próprio ar parecia estremecer ao seu redor.

    Ela sentiu o olhar curioso de Doravan, o comandante da Escola de Ciência e Tecnologia, uma figura imponente com uma nova armadura negra. 

    Ao olhar para o líder da Escola de Ciência e Tecnologia, Solarium foi tomada por uma lembrança vívida. Eles eram os dois maiores discípulos e herdeiros do grande mestre, o fundador da Escola de Ciência e Tecnologia. Juntos, haviam treinado sob sua rigorosa tutela, competindo e se fortalecendo ao longo dos anos. 

    Com o súbito desaparecimento do mestre, a escola ficou sem liderança, e os poderes do mundo mágico negociaram uma nova ordem. 

    Doravan assumiu a liderança da Escola de Ciência e Tecnologia, mas não sem um preço: a Escola de Exploradores Interdimensionais conseguiu impor um acordo, inserindo um discípulo em suas fileiras, alguém que ninguém suspeitava ser filha de Solarium e do cônsul dos Exploradores.

    Agora, ao encarar aquele homem que muitos conheciam como professor, a lembrança trazia uma dor profunda. Sua filha, que fora plantada como parte daquele acordo, havia realizado um ato heroico, mas acabou capturada por Doravan. 

    A dúvida sobre seu destino, se estava morta ou transformada em um híbrido tecnológico, atormentava a Consulesa diariamente. 

    A aliança, que um dia fora uma estratégia brilhante, agora parecia uma armadilha cruel que ela própria havia ajudado a construir.

    Atrás do líder da Escola de Ciência e Tecnologia, alinhava-se um exército de bestas artificiais capazes de assumir formas diferentes conforme a necessidade. 

    Em um instante, podiam ser veículos de transporte, levando dezenas de soldados ou outros construtos artificiais menores para a batalha; no outro, transformavam-se em figuras humanoides, prontas para o combate direto. 

    Algumas eram colossais, assemelhando-se a dragões metálicos, enquanto outras lembravam predadores da natureza.

    Solarium observava essa força com atenção. E ela sabia que tudo aquilo era uma demonstração clara do poder que Doravan controlava, e que ele estava pronto para utilizar sem hesitação.

    Ao lado dele, destacava-se uma figura envolta em sombras profundas, cuja presença era tão perturbadora quanto a dos seres sinistros que a acompanhavam. A Guardiã Sombria, conhecida por sua fama sombria e influência temível, estava ali, irradiando autoridade e poder.

    Sua pele negra e radiante contrastava com as sombras que pareciam dançar ao seu redor, enquanto seu porte aristocrático exalava uma majestade inquestionável. 

    Cabelos encaracolados caíam em cascata sobre seus ombros, formando uma coroa natural que realçava ainda mais sua beleza imponente. Vestida com trajes exuberantes e magníficos, adornados com detalhes que refletiam sua posição de poder, ela emanava uma aura de realeza inata.

    Ela era uma aliada temida e respeitada, conhecida por seu controle absoluto sobre as forças das sombras. Ao seu comando, um exército de seres sombrios se erguia, cada um deles armado com as relíquias roubadas da destruída Academia de Batalha Tradicional. 

    Espadas longas, lanças e escudos, outrora símbolos de honra e bravura, agora eram carregados por essas entidades sinistras, suas formas indistintas e etéreas oscilando como sombras à beira do desaparecimento.

    O exército das sombras surgia em uma sincronia quase sobrenatural reforçando o exército de Doravan. O ambiente ao redor parecia escurecer quando aquela totalidade de sombras surgiu. 

    Os que portavam armas mantinham-se na linha de frente, enquanto outros, menos definidos, pareciam derreter no chão, prontos para ressurgir onde fossem necessários.

    Solarium observava tudo com uma expressão impassível. Ela era a única que sabia da verdade sobre seu próprio exército, uma ilusão criada pela tecnologia mais avançada da Escola de Exploradores Interdimensionais. 

    Aquilo que parecia ser uma força imponente e inabalável, capaz de rivalizar com qualquer exército no campo de batalha, não passava de uma projeção holográfica, uma miragem tecnológica muito realista destinada a enganar e intimidar os inimigos. 

    Ela podia sentir a pressão, o cheiro de ferro e óleo das bestas mecânicas, o peso dos passos das sombras no solo árido. Mas no fundo, ela sabia que se a batalha começasse de verdade, seu exército se dissiparia instantaneamente. 

    Ela não podia se dar ao luxo de mostrar qualquer sinal de fraqueza. Solarium olhou para Doravan e para a Guardiã Sombria, que permanecia ao lado dele como uma figura imponente e letal. 

    Ela respirou fundo, ciente de que cada palavra, cada gesto que fizesse seria crucial. A ilusão de poder que tinha ao seu lado era sua melhor arma naquele momento, mas ela sabia que uma guerra aberta seria catastrófica. 

    A mãe de Milenium precisava ganhar tempo, avaliar as intenções dos seus inimigos, e encontrar uma maneira de sair daquela situação sem provocar um conflito devastador.

    Já à sua esquerda, o líder da Escola de Magia dos Ossos de Dragão, um jovem de aparência frágil, mas de uma idade ancestral, observava o cenário com um olhar desdenhoso. Ele cuspiu no chão ao olhar para o exército de Solarium, um gesto de desprezo que não passou despercebido. 

    Embora parecesse apenas um adolescente, todos sabiam que ele já havia visto eras se passarem, e seu poder era vasto e incompreensível.

    O local da reunião era desolado, um grande deserto sem pedras, sem vida, apenas um vazio árido onde um círculo havia sido desenhado na areia. Cinquenta metros de diâmetro, um espaço provisório onde as três forças se reuniriam para decidir o futuro do mundo mágico. 

    Cada exército mantinha uma distância segura, formando um triângulo invisível ao redor do círculo central, onde os líderes se encontrariam.

    Solarium deixando seu exército seguiu até o circulo. Seus passos eram firmes, mas ela sabia que os olhos de todos os seus inimigos estavam sobre ela. Ela se dirigiu ao centro do círculo, onde os outros dois líderes já a esperavam. 

    Doravan e Draco chegaram ao círculo, não houve troca de cumprimentos. A tensão no ar era palpável e eles estavam ali para decidir o destino do poder e da administração do mundo mágico, e todos sabiam que dali poderia sair um acordo ou o início de uma guerra devastadora.

    A Consulesa parou diante dos outros líderes, seus olhos se encontrando com os de Doravan por um breve instante, antes de se voltarem para o líder mágico. 

    O peso do passado que ela compartilhava com ele era palpável, uma sombra invisível que pairava sobre ambos. Ela reprimiu as emoções que ameaçavam vir à tona, concentrando-se na tarefa à frente.

    Foi o líder da Escola de Ciência e Tecnologia quem quebrou o silêncio, sua voz carregada de autoridade e uma ponta de desdém: 

    — Parece que o Cônsul não considera este encontro tão importante, já que delegou a responsabilidade a você.

    Solarium manteve-se impassível, sua postura firme e inabalável. Ela sabia que qualquer resposta poderia revelar mais do que era permitido, então optou por não se engajar na provocação, deixando que o silêncio fosse sua resposta.

    O líder da Escola de Magia dos Ossos de Dragão, interveio. Sua voz era suave, mas cheia de uma confiança: 

    — Não viemos aqui para lançar ameaças vazias, Doravan. Todos nós sabemos do que somos capazes. A verdadeira questão é: estamos dispostos a pagar o preço por nossos atos? — seus olhos penetrantes se fixaram na bela mulher, como se tentasse ler seus pensamentos, suas intenções mais profundas — E você, Solarium? Está disposta a arriscar tudo?

    Ela sabia que hesitar seria perigoso, que qualquer sinal de dúvida poderia ser interpretado como fraqueza. E naquela arena, fraqueza era algo que ela simplesmente não podia se permitir.

    — Todos nós estamos aqui por uma razão. — respondeu ela, sua voz firme, controlada, cada palavra cuidadosamente medida — Compreendemos o que está em jogo. No entanto, também entendemos que uma guerra aberta seria devastadora para todos. Estamos dispostos a negociar, mas não a qualquer custo.

    O silêncio caiu sobre o deserto, cada um deles ponderando suas opções. 

    Finalmente, Doravan quebrou o silêncio novamente, seu tom mais moderado, mas ainda carregado de ameaça velada: 

    — Vocês têm dez horas para decidir. Minha proposta é simples: ou vocês, e todo o Mundo Mágico, se submetem a mim, ou deixarão de existir.

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