Um híbrido metade gambá corria pelos apertados e escuros corredores que interligam a enorme estrutura chamada de ninho. Ele estava ofegante e visivelmente exausto, mas a intensidade da notícia que carregava iria muito além do que qualquer desconforto que ele sentia naquele momento.

    Após mais alguns minutos e metros percorridos por aqueles corredores, o hibrido finalmente chegou até o seu destino. Uma porta dupla enorme e blindada de metal, sendo guardada por dois híbridos com características de cachorros que guardavam cada lado da porta.

    — Erhg… É… Urgen… — As palavras não saiam da boca do gambá, que apoiava ambas as mãos nos próprios joelhos enquanto recuperava o folego. — É URGENTE! EU TENHO UMA MENSAGEM URGENTE! 

    Os dois cães de guarda não esboçaram nenhuma reação com o grito do pequeno hibrido, apenas permaneceram na mesma postura de guarda, com ambos os braços cruzados, emitindo uma áurea ameaçadora, que fez o hibrido com características de gambá recuar alguns passos.

    — O Sr. Dony está muito ocupado agora — disse um dos guardas, que tinha uma aparência semelhante a raça Dogo argentino.

    — Qual seria a mensagem? — indagou o outro guarda, com aparência semelhante a um Fila-brasileiro. 

    — In-invasores… — gaguejou o pequeno hibrido, ainda intimidado com os guardas de aparência amedrontadora. — Invasores estão nos atacando!

    Em um cubículo mal iluminado Fang estava sentando em uma poltrona velha e descascada, de frente para uma mesa redonda, com alguns outros híbridos assentados em seus devidos lugares ao redor da mesa. 

     — É muito sério? — indagou um dos híbridos ao redor da mesa. Do tronco para cima ele não era diferente de um homem, mas da cintura para baixo seu corpo era como o de uma serpente, sendo comprido ao ponto de dar voltas e formar espirais.

    — Sim, mas acredito que a situação pode ser contida rápido quanto mais cedo agirmos — respondeu Fang, com um tom de voz sério e carregado. — Foi por isso que convoquei essa reunião, para chegarmos a uma resolução plausível. 

    — Foi estupidez sua ter subestimado o inimigo, e mais estupidez ainda não ter nós alertado sobre a situação — disse um híbrido com metade do corpo de uma mulher humana de aparência esbelta e da cintura para baixo o seu corpo assumia a forma de uma aranha. — Quantos invasores são e o quão próximos estão do ninho?

    — São quatro humanos, e pelos meus cálculos, devem chegar na cidade amanhã de manhã — disse Fang, lambendo uma de suas presas. — Temos tempo o suficiente para montarmos um plano para a captura dos invasores antes que o mestre possa sequer suspeitar que algo de estranho esteja acontecendo. 

    A porta da sala onde Fang e seus colegas estavam fazendo a reunião foi aberta de abrupto, chamando a atenção de todos ali. De início Fang achou que era um de seus subordinados, mas após ver uma silhueta pequena sendo acompanhada por outras duas maiores, suas esperanças foram por água abaixo. 

    — Dony, o que está fazendo aqui? — indagou Açu, o hibrido com características de um enorme jacaré, ao ver a figura odiosa do pequeno hibrido com forma de capivara que estava sendo acompanhado por seus guarda-costas pessoais. — O assunto dessa reunião não é de sua área.

    Dony ignorou a fala de Açu e continuou seu percurso até a mesa redonda onde os outros híbridos estavam reunidos. Nenhum dos assentados próximos à mesa levantou um dedo para impedir a aproximação de Dony, apenas observaram com olhares de ódio o pequeno sujeito chegar até eles e sentar por cima da mesa. 

    — Para que esses olhares sanguinários, meus companheiros? — indagou Dony, arrumando seu paleto caro azul-marinho. — Todos nesses sala fazem parte da elite, não é? Os melhores dos melhores. Aqueles selecionados a dedo pelo Mestre. 

    — O que você quer aqui, Dony? — indagou Fang, afiando uma presa na outra. 

    — Mesmo não sendo tão forte, ágil, ou resistente como vocês, o Mestre ficou impressionado com minhas habilidades cognitivas e me colocou na parte administrativa do ninho. É um trabalho muito importante e desgastante, sabe, tanto quanto o de vocês — disse Dony, com um tom de voz carregado de ego e superioridade.

    — Qual o seu ponto, gorducho — disse o hibrido metade serpente, com um tom pejorativo. 

    Um dos guardas de Dony rosnou em direção à serpente, que não recuou e apenas sorriu em direção ao cão raivoso, mostrando suas pressas carregadas de veneno. 

    — O meu ponto, Peçonha, é que assim como vocês eu sou um membro da elite da legião que serve ao Mestre, e devo ser tratado como um — disse Dony, ponde a mão no ombro de um de seus guardas que rosnava em direção a Peçonha. — Não é a primeira vez que sou deixado de lado em uma reunião como essa, ainda mais uma que trata de um assunto tão importante como a invasão de intrusos no ninho.

    As palavras de Dony espantaram todos na sala, menos seus guarda-costas. Fang pulou de sua cadeira, e com as pressas expostas, gritou:

    — Como você sabe sobre os invasores? Quem te contou?

    — Hum… — Dony coçou a garganta antes de falar, ajustando a gravata em seu pescoço. — Você me subestima muito, Fang. Eu tenho meus contatos. Sei de muita coisa que você não faz nem ideia. 

    Fang espumava pela boca. Sua raiva estava chegando a um nível que ele poderia perder o controle dos próprios instintos selvagens, mas foi seu autocontrole que fez ele voltar a sua postura seria e intimidadora. 

    — Certo, Dony, chega de seus joguinhos — disse Fang, voltando a sentar-se. — O que você quer em troca de não expor tudo ao Mestre?

    — O que eu quero, meu amigo Fang? — disse Dony, com um sorriso que ia de orelha a orelha. — Quando os invasores forem capturados, eu vou querer dois deles como prisioneiros pessoais.

    O pedido inesperado de Dony causou confusão em Fang. “O que ele quer com os humanos? Extrair informações? Talvez, mas por que ele precisaria de dois deles? Não, tem alguma coisa a mais nisso tudo.” pensou Fang em silêncio. 

    — Posso saber qual a utilidade esses prisioneiros teriam para você? — indagou Fang, olhando no fundo dos olhos de Dony que esboçavam o seu enorme ego.

    — Eu tenho algumas ideias que queria colocar em prática faz um tempo, nada de mais — respondeu Dony, ainda com um sorriso no rosto. 

    — Certo, não vejo porque não — disse Fang, levantando-se de sua cadeira e indo até o pequeno hibrido que não media nem metade de seu tamanho. 

    — Temos um acordo então? — indagou Dony, estirando uma de suas mão em direção a Fang, esperando um aperto de mãos.

    — Sim, temos um acordo — respondeu Fang, apertando a mão de Dony com delicadeza, antes de apertá-la com força e puxá-lo para perto. 

    Os guardas de Dony estavam prestes a avançar para cima de Fang quando o seu chefe fez um sinal para que eles esperancem. 

    — Não brinque comigo, Dony — cochichou Fang no ouvido do híbrido metade capivara, soltando a sua mão logo em seguida.

    — Eu não brinco, Fang, eu não brinco — disse Dony com a voz tremula, enquanto se afastava a passos curtos da mesa redonda até sair da sala junto de seus guarda-costas.

    — Acho que você fez ele cagar nas calças — disse Miss, a hibrida metade aranha, dando uma risada tímida. 

    — Esse merdinha se acha muito, Fang apenas colocou ele no seu devido lugar — disse Peçonha, deixando a sua língua bifurcada escapar por entre seus lábios. 

    — Não, ele nos fez de idiotas — disse Fang, esmurando a mesa de metal e deixando a silhueta de seu punho nela. — Tem alguém vazando informações para ele.

    — Que se foda isso tudo — disse Açu, indo em direção à porta por onde Dony havia saído. — Os invasores chegaram antes do previsto, esse é o real problema agora. Temos que lidar com eles antes que o mestre comece a suspeitar de algo. Porque se ele descobrir que deixamos invasores chegarem até o ninho… 

    Um silêncio mórbido tomou conta da sala. De repente, todos começaram a temer por suas vidas e seus corações galopavam por dentro de seus corpos. Suas mãos tremiam e suas pernas estavam bambas. Nada trazia mais medo a àqueles seres do que a figura pequena, mas ameaçadora do seu Mestre.

    — Cabeças irão rolar — disse Fang, engolindo em seco. — Cabeças irão rolar…

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