O grupo de vigilantes seguia pelas ruas abandonadas da cidade fantasma, sendo guiados por Aline, que ia na frente mostrando a rota utilizada pelo escavador. 

    “Esse caminho não é o que eu to pensando, é?” pensou Stalker, que estava em silêncio desde que o grupo havia deixado o parque, onde ele havia sido capturado, apenas falando quando alguma pergunta era feita a ele, o que havia acontecido poucas vezes até então.

    — Permissão para falar? — indagou o hibrido, já esperando um tapa de Maycon, o que não aconteceu.

    — Fala — disse Maycon, logo atrás do híbrido. 

    — Essa rota que vocês estão seguindo, por acaso pretendem chegar até a entrada do ninho por ela? — indagou Stalker.

    — Sim, por quê? — perguntou Aline. — É a única entrada que conhecemos.

    “A esse ponto a galera da elite já deve saber sobre eles, então com certeza essa entrada esta sendo vigiada ou, pode até ser que eles tenham montado uma armadilha para os humanos. Eu até podia deixar eles seguirem esse caminho e serem capturados, mas provavelmente eu também seria visto como um alvo por estar junto com os humanos. Droga, não tem outro jeito” pensou o Stalker, refletindo qual seria a melhor possibilidade para livrar a sua pele.

    — Responde ela, lagartixa — berrou Maycon, dando um chute de leve nas costas do prisioneiro.

    — Olha, eu não acho que seja uma boa ideia — disse Stalker, massageando o local onde Maycon havia chutado. — A esse ponto eles já sabem sobre nós e devem ter direcionado uma guarnição para a entrada que vocês estão indo, já que é a única utilizada pela legião. 

    — É, faz sentido — disse Poti, que já estava pensando em propor ao resto do grupo o cancelamento da missão, mesmo sabendo que já não tinha como voltar atrás. — Você tem algum outra ideia, então? 

    — Bem, existe uma entrada alternativa, mas não garanto que ela ainda seja utilizável — disse o Stalker.

    — Uma rota alternativa? — indagou Maycon, curioso. — Conte mais.

    — Bem, tem um cano de esgoto que deságua no rio que corta a cidade. O pessoal responsável pelo transporte do ultra até as cidades humanas costumava pegar o carregamento da droga lá, já que era mais prático do que vir até o centro da cidade — disse o Stalker, coçando o pescoço escamoso. 

    — Se era tão prático assim, por que não utilizam mais? — indagou Poti, suspeitando da história do híbrido. 

    — Quando chovia, o que acontece constantemente, o rio aumentava de nível e entrava água pelo cano que utilizávamos como acesso ao ninho, consequentemente inundando a tubulação. Perdemos muitas cargas de ultra até que o mestre decidiu fechar esse acesso… — disse o hibrido, dando uma pequena pausa para agarrar com a língua uma mosca que voava perto de seu rosto. — Mas eu ainda acho que exista uma rota que ainda pode ser usada para entrar no ninho por aquele acesso abandonado. Porém, é como eu disse antes, não é certeza. 

    Com um gesto com a cabeça, Maycon chamou Poti para discutir longe do resto do grupo, deixando o prisioneiro nas mãos de Vidal.

    — Você confia nele? — indagou Maycon, cuspindo no chão. 

    — Nem fudendo! Quais as chances de ele estar nos levando para uma armadilha? — disse Poti, virando-se para trás para observar o hibrido de longe. 

    — Olha, eu não confio 100% nele, mas o que ele disse sobre a entrada principal faz sentido. É furada, não vai dar certo. No máximo vamos fugir com ferimentos graves, no máximo — disse Maycon, ansioso com relação à situação.

    — Então devemos confiar nele e ir até esse segundo acesso abandonado?  — perguntou Poti, com um tom de voz bem desconfiado.

    — Você tem alguma ideia melhor? — disse Maycon, encarando nos olhos de seu parceiro veterano.

    — Não, não tenho — respondeu Poti, desviando o olhar.

    — Então é a nossa única opção — respondeu Maycon, indo em direção onde o resto do grupo estava. — Olha só oh lagartixa, se você estiver mentindo ou tentando botar a gente em uma furada, pode ficar sabendo que vou garantir que você venha para a vala junto comigo, estamos entendidos?! 

    — M-mas eu já disse para você que estamos no mesmo barco, chefe. Eu sou um alvo tanto quanto… — dizia o hibrido, antes de ser interrompido por um tapa de Maycon.

    — Estamos entendidos ou não? — perguntou Maycon mais uma vez, encarando o hibrido nos olhos.

    — S-sim, estamos entendidos chefe — respondeu o hibrido com a voz tremula.

    — Perfeito — disse Maycon, amarrando a corda presa nas mãos do prisioneiro de volta na sua cintura. — E mais uma coisa: não me chame de chefe, nunca.

    De pé em frente ao bueiro aberto, estava o grande lobo, Fang, encarando a paisagem neblinosa e com silhuetas que criavam formas abstratas quase que fantasiosas, como se aquilo tudo fosse um sonho lucido. Os pelos por todo seu corpo estavam arrepiados e a tensão era constante. Ele não parava de batucar sua pata direita no asfalto, como se isso fosse trazer os intrusos até ele como magica. 

    — Que merda, onde ele esta? — indagou Fang, cerrando os punhos e apertando-os com força.

    Após mais alguns minutos de espera, um híbrido metade sapo surgiu em meio a nevoa e a saltos longos, ele foi em direção a Fang, que era maior que ele em tamanho.

    — Desculpa a demora, chefe. Croac! — disse o hibrido, soltando um som que se assemelhava com um soluço no final da frase. — Eu trouxe as informações que o senhor pediu a respeito do grupo de vigia que foi atacado. Croac!

    — Diga de uma vez, já perdi muito tempo aqui — disse Fang, tentando ao máximo controlar sua raiva e não despedaçar aquele peão na sua frente. 

    — Sim, senhor, claro, senhor! Croac! — disse o hibrido, fazendo uma saudação militar. — Pelo que me disseram, foram encontrados dois corpos no local do confronto, sendo ambos os corpos dos vigias responsáveis por aquela área. Os dois corpos tinham buracos nas cabeças, causados por pequenas bolas de metal que foram encontradas próximas dos corpos. Croac! 

    — Dois corpos, você disse dois corpos? — indagou Fang, interrompendo o relatório do seu subordinado. 

    — Correto, senhor. O terceiro membro do grupo de vigia não foi encontrado. Não encontramos nenhum rastro dele, além de marcas de sangues na areia e outras perto de um poste. Croac! — disse o sapo, coçando a sua papada volumosa. 

    — Então quer dizer que eles pegaram um dos membros do grupo de vigia como prisioneiro?! — disse Fang, levando uma de suas mãos até o queixo.

    — Provável. Croac!

    “Merda, isso muda tudo. Com um dos nossos como prisioneiro, eles podem conseguir extrair informações importantes sobre o ninho e sobre a legião, incluindo informações sobre os membros de elite. Se antes teríamos vantagem por enfrentar um inimigo que sabe quase nada sobre nos, o que nos daria uma vantagem colossal, agora essa vantagem foi jogada na merda! Mas isso não importa. De qualquer forma, a única passagem que eles tem até o ninho é essa, então a única coisa que tenho que fazer é preparar uma armadilha para capturá-los. Não importa o quanto eles saibam sobre a nossas habilidades, essa vantagem vai ser inútil contra um ataque surpresa.” pensou Fang, abrindo um sorriso no rosto, enquanto abria uma de suas enormes mãos com garras do tamanho de facas, fechando-a abruptamente logo em seguida.

    — Eles vão cair na armadilha como patos, como patos! — disse Fang, gargalhando com uma alegria doentia e um desejo crescente por sangue. — Croc, informe aos grupos de vigia para ficarem em alerta máximo. Qualquer informação sobre a localização dos intrusos deve ser informada primeiramente e unicamente a mim, entendido? 

    — Senhor, sim, senhor! Croac! — respondeu Croc, o hibrido metade sapo, pegando o rádio preso na sua cintura e sintonizando-o na frequência usada pelo grupo de vigias. — Mais alguma coisa que deseja adicionar antes de eu repassar suas ordens, senhor? Croac!

    — Ah, claro — disse Fang, virando-se em direção ao seu subordinado. — Diga para evitarem ao máximo confronto, esses intrusos são de alta periculosidade. 

    — Entendido! Croac! — disse Croc antes de começar a falar no walkie-talkie. 

    Bem distante de onde Fang permanecia em patrulha, o grupo de vigilante seguia a nova rota proposta pelo prisioneiro, seguindo-o pelas vielas estreitas da cidade fantasma. 

    — Falta muito, lagartixa? — indagou Maycon, que ia logo atrás do híbrido. 

    — Mais algumas quadras e devemos chegar no rio — respondeu o hibrido, que caminhava de maneira estranha e incomum, com uma postura bem corcunda. 

    — Você tem certeza disso, Maycon — indagou Aline, cochichando ao lado do seu irmão. 

    — Relaxa, o máximo que pode acontecer é todos nos morrermos, de resto… — disse Maycon, com um tom irônico. 

    — Não brinque numa hora dessas — disse Aline, dando uma tapa no ombro do irmão. — Eu falo sério. Tem certeza que ele não está nos levando para uma armadilha? 

    — Olha, Aline, essa missão era para ter sido furtiva desde que entramos nessa cidade maldita, mas por causa do imprevisto no parque acabamos nessa situação e nossa presença na cidade foi revelada — disse Maycon, desfazendo o sorriso em segundos. — A verdade é que deveríamos cancelar essa missão e meter o pé daqui o mais rápido possível, mas como você mesmo disse: essa é uma chance de ouro, talvez a única que a organização tera para resolver esse problema de uma vez por todas, então não podemos desperdiçar essa chance.

    Aline permaneceu em silêncio, apenas fazendo um gesto de confirmação com a cabeça e voltando para sua posição atrás de seu irmão. O grupo continuou o seu caminho pelas vielas escuras e estreitas da cidade fantasma.

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