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    Em Brasília, na sede da Torre, a comandante Ava andava apressadamente pelo corredor na direção da sala principal de reuniões, segurando dezenas e dezenas de pastas. Ela entrou na sala e, os dois novatos e estagiários, Cole Fuller e Nicolas, estavam sentados ao redor da mesa quando a comandante se aproximou e colocou as pastas sobre a mesa.

    — Separem essas pastas de acordo com os arquivos sobre a possível ligação do Conclave com a Fundação e a suspeita de que Rod Sugg, o presidente da Torre Brasileira, possa estar envolvido com o Conclave — instruiu ela, com o olhar sério.

    — O presidente está com o Conclave? — Nicolas levantou as sobrancelhas.

    — Apenas verifiquem os arquivos, certo? Existem outros documentos importantes nessas pastas, então prestem atenção para separar certamente e não misturarem nada — Ava ignorou a pergunta de Nicolas, e preparou-se para sair da sala.

    Antes que ela fechasse completamente a porta, Cole levantou a voz — Comandante, para onde está indo? Não podemos ficar sem supervisão total, lembra? Somos estagiários.

    Ava parou por um momento e olhou para os dois — Eu sou a comandante geral das atividades, análises e operações diretas da Torre nesse país. Vocês estão sob minha permissão, por isso ninguém vai incomodá-los, mesmo que sejam estagiários e estejam sozinhos. Se alguém perguntar por mim, digam que fui à Central de Contenções, conversar com Tahiko. Entendido?

    Os dois estagiários assentiram, e Ava saiu da sala, deixando-os a sós com as pastas.

    Após alguns minutos descendo para a vasta e tecnológica área subterrânea da Central de Contenções, a comandante Ava caminhou com sua postura impecável, até ela se aproximar da cela onde Tahiko estava preso.

    Assim, ela ouviu os socos que ele desferia contra a parede da cela e esperou por alguns instantes antes de se revelar.

    — É todo dia assim? — perguntou ela, cruzando os braços ao aparecer na frente da cela.

    Tahiko parou de socar a parede e a encarou com um olhar frio — Se veio tentar me convencer… não vai rolar — respondeu com um tom ríspido.

    — Eu não vou demorar. Vim aqui somente para te oferecer uma proposta: coopere com a Torre, como seus “amigos” — ela fez uma pequena pausa, enfatizando a palavra.

    — Quem disse que sou amigo deles? Nos conhecemos em Dynami, quando vocês da Torre deixaram de salvar milhares de pessoas.

    — Não tínhamos o que fazer naquela situação. Isso eu não discuto mais, Tahiko — firmemente, ela retrucou.

    Tahiko riu, um riso cínico e cheio de desprezo.

    — Eu odeio ser moralista, porque sou um falso moralista, mas quem liga? Eu sou um portador. É normal que portadores sejam arrogantes, narcisistas, desumanos… Mas vocês, humanos, nem conseguem usar a humanidade que possuem.

    — Não vim aqui para escutar discursos. Vim para saber se vai ou não cooperar — Ava revirou os olhos, com certa impaciência.

    Tahiko se aproximou das grades da cela, com seu rosto se endurecendo — Eu não vou cooperar com vocês — afirmou ele.

    Ava permaneceu impassível, mas decidiu mudar de abordagem.

    — Nesse exato momento, Koji e Saik estão enfrentando o Conclave, eles estão nos ajudando. Se acha que não sinto nada pelos fracassos da Torre em salvar vidas, está enganado. Mas, se você decidir nos ajudar, sei que neutralizaremos um inimigo em comum.

    — A Fundação… — uma faísca de interesse em meio a raiva de Tahiko surgiu.

    — Sim. A Central de Inteligência descobriu que o Conclave pode estar ligado à Fundação. Sei que você odeia a Fundação tanto quanto nós. Talvez até mais.

    Tahiko permaneceu em silêncio, olhando fixamente para Ava, sem revelar seus pensamentos. O silêncio entre os dois era denso, quase palpável, e ela percebeu que ele não daria uma resposta imediata.

    — Não vou te obrigar a aceitar na minha frente — disse ela, tirando um pequeno caderno de sua jaqueta — Se mudar de ideia, escreva qualquer coisa na primeira folha. Se recusar, deixe como está. Entregue ao segurança, ele me informará sua resposta.

    Ela entregou o caderninho e uma caneta preta para Tahiko, que pegou o objeto sem quebrar o olhar sério e frio que mantinha sobre ela. Ava deu meia-volta e saiu.

    De volta à sede da Torre…

    Nicolas examinava os arquivos, separando-os cuidadosamente em pilhas organizadas sobre a mesa. Cole também estava focado, até que algo chamou sua atenção. Ele pegou um arquivo específico.

    — Como é que é… — murmurou ele, incrédulo.

    — Achou os papéis do Rod? — perguntou Nicolas, sem levantar o olhar.

    — Rod? Quem é Rod?

    E Nicolas disse, subindo levemente o tom — O presidente da Torre, oh mané! Rod Sugg!

    — Ah, é… — Cole balançou a cabeça — Não, não achei nada sobre ele. Achei outra coisa…

    Nicolas finalmente levantou o olhar, com curiosidade — Então fala. O que é?

    Cole olhou para o arquivo que segurava.

    — O Koji… o sobrenome dele é Fuller.

    — E o que tem isso? — Nicolas ergueu uma sobrancelha, de maneira indiferente e confusa.

    — Meu sobrenome também é Fuller… Cole Fuller — disse ele, apontando para si mesmo.

    — Isso é legal! Porra, tu tem o mesmo sobrenome de um portador. Isso é muito foda! — respondeu Nicolas, com uma animação inesperada.

    — Legal?! Não, cara! Não entendeu o que isso significa?

    Nicolas deu de ombros — Significa que vocês têm o mesmo sobrenome.

    — Sim, mas só existe uma linha familiar dos Fuller’s no mundo inteiro… Não há outra família Fuller.

    Nicolas finalmente processou o que Cole estava tentando dizer, e rosto mostrou uma faísca de compreensão.

    — Espera… tá dizendo que tu e o Koji são…?

    — É… — interrompeu Cole, sentindo o peso da descoberta — Parece que somos parentes.

    Os Fuller (852 -) eram uma das dez grandes famílias milenares da história, e uma das quatro ainda existentes nos dias atuais, cuja trajetória havia sido apagada
    por uma espécie de limpeza temporal. Seus poucos membros
    restantes eram considerados fantasmas de uma linhagem à beira da extinção.

    As famílias milenares nasceram de antigos clãs e, com o passar dos séculos, cultivaram uma aura de poder e mistério em torno de seus conhecimentos. Suas atuações influenciavam não apenas o mundo físico, mas também o mundo intitulado como não-humano. A existência das chamadas Escritas e Pactos foi, por muito tempo, sussurrada como mitologia. Esses tratados, que ligavam o mundo dos homens a forças incompreensíveis, só se tornaram amplamente conhecidos no século XIII, precisamente no ano 1258.

    Naquele ano, um pequeno grupo de andarilhos, fugindo das invasões mongóis que causou o Cerco de Bagdá, sobre o Islâmico Califado Abássida, que resultou no início do declínio da Era de Ouro Islâmica, encontrou um manuscrito antigo num refúgio em terras distantes. As páginas do manuscrito tinham páginas amareladas pelo tempo, descreviam de forma chocantemente direta as Escritas e os Pactos, e compromissos místicos entre humanos e entidades que eram, na época, relegados às lendas e superstições.

    Além dos Fuller’s, havia outras nove grandes famílias milenares cujas influências se estenderam pelo mundo e pela história, cada uma carregando seu próprio mistério e poder. As três famílias gregas, Lykaios (1.088 a.C.), Daskalakis (1.073 a.C.) e Kouris (1.016 a.C.), destacavam-se por suas alianças com os deuses e criaturas da antiga mitologia helênica, cultivando um domínio sobre forças que desafiavam os limites entre o humano e o divino.

    A Osíhorus (3.300 a.C.), única família egípcia entre as dez, traçava suas raízes aos antigos faraós e era guardiã de saberes ligados ao submundo e aos segredos da mumificação, obtendo seu poder diretamente dos antigos deuses egípcios.

    Na Grã-Bretanha, os Henson’s (397 d.C.) mantinham uma relação com a natureza e os elementais, manipulando forças ancestrais para proteger suas terras e linhagem.

    A Yin’s (2.195 a.C.), a família chinesa, dominava conhecimentos espirituais e físicos, movendo-se entre a sabedoria do taoismo e os segredos das artes marciais. A francesa Anjou (574 d.C.), por sua vez, consolidou-se na aristocracia europeia com pactos de sangue e alianças sobrenaturais, usando a corte como palco para influências ocultas.

    Os Vitelos, da Roma Antiga (720 a.C.), eram guerreiros de uma estirpe indomável, moldados por Vitellius I, que criou uma linhagem de lutadores. Através de sacrifícios e ritos de sangue, garantiam uma força física e espiritual que os tornava praticamente indestrutíveis.

    E então, havia os Oxford’s, a família mais misteriosa e enigmática. Suas origens remontam a eras desconhecidas, com primeiras inscrições datadas de cerca de 70 mil a.C. Povoados primitivos no Chile, onde santuários de madeira marcados com a sigla “Ox” foram encontrados, desapareceram após deixarem esses símbolos. Embora haja indícios arqueológicos de suas atividades antigas, o consenso histórico é que os Oxford’s emergiram há cerca de 15 mil anos na região onde hoje se encontra Göbekli Tepe, na Turquia. Considerados a base do “não-humano” na Terra, os Oxford’s guardam segredos e poderes que ultrapassam a compreensão humana, conectados a algo além do nosso mundo.

    Archive Jimmy Oxford, 1901, do O Livro das Famílias Milenares

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