07 / Céu
[ Maio de 2003, Era da Balança. ]
A mulher deslizou seus dedos pela face do pequenino. A sutileza dos seus toques só não era maior do que a delicadeza da face do recém-nascido em seus braços.
A mulher era jovem. Seus longos cabelos da cor do céu noturno eram um contraste perfeito com os poucos cabelinhos brancos do bebê.
Ela sorria. E como sorria. A cada baixo resmungo da criança, seu sorriso se alargava ainda mais.
— Meu pequeno…
A mulher o levantou um pouco, embrulhado com tecidos leves e fofos, abraçando-o a si, bochecha a bochecha.
A criança estendeu sua mão, menor que qualquer coisa, e tocou o rosto da mulher. E ela riu baixinho. Esforçava-se muito para conter seu entusiasmo.
— Vai assustá-lo assim — disse uma segunda voz, mais robusta e grossa. Era do homem que acabava de entrar no quarto. Ele deu alguns passos lentos para o cômodo de madeira, sempre no apoio de sua bengala do mesmo material.
— Eu sei, eu sei… mas é que ele é tão lindinho! — falou a mulher, segurando imensamente a vontade de apertar o pequenino nos braços.
O homem sorriu. Parecia ter alguns anos a mais do que ela. Sua franja branca cobria as marcas iniciais da idade. Uma gaze cobria seu olho esquerdo, mas o direito tinha como cor um vermelho desbotado, quase sem cor, mas gentil.
— E então? Decidiu o nome? — perguntou o homem de voz tenra.
A mulher ficou pensativa, voltando o olhar para a criança. O silêncio a tomou. Nomes são muito importantes! Mas ela pensou em tantos que não conseguia decidir.
De repente, ela sentiu o bebê se mexendo. Pela primeira vez, aqueles pequenos olhos se abriram e tiveram o primeiro contato com a luz. Tão frágeis, olharam para a pessoa que mais o amava.
E eram azuis. Tingidos, pelo mais puro azul. Um azul tão claro como o do céu.
— …Sora. — ela disse, acariciando o cabelo cor de nuvem.
O homem pôs força na bengala para andar. Aproximando-se, abraçou os dois.
— É um belo nome.
A criança estendeu suas mãos. Aqueles dedos tão pequenos tentavam tocar o cabelo da mulher.
— Sora, gostou do seu nome? A partir de hoje, esse dia vai ser o seu aniversário! — A mulher soltou um riso. Com as bochechas rosadas e os olhos brilhando, ela o abraçou. — Vamos comemorar juntinhos, ano por ano! Eu prometo!
[ • • • ]
[ Tempo presente ]
— Ok, acho que tá de boa!
Sora estava de pé na frente da escrivaninha do quarto. A cortina fechada deixava que apenas alguns feixes de luz do entardecer entrassem pela janela.
Acima da mesa, tinha alguns pães de leite empilhados com uma vela acesa furando-os no meio. Era a maior fonte de iluminação do quarto.
— E parabéns pra mim!
Ele apagou a vela com um sopro forte e juntou as mãos. Não se pode passar pelo aniversário sem fazer um pedido, né?
Depois de tirar a vela, Sora pegou um dos pães e deu a primeira mordida.
— Ah… Isso é gostoso mesmo. Acho que eles iam gostar de provar.
Forçou uma risada, mas ela não saiu.
— …Com hoje, são quinze. Isso! Rumo a dezesseis em diante, sem desanimar!! — o garoto ergueu um dos braços, abrindo um sorriso frágil. — Sem desanimar, né…?
Recolheu o braço, apertando os pães. Suas mãos ficaram trêmulas.
“Ninguém aqui aceitaria uma pessoa como você“.
O silêncio dominou o quarto, com essas palavras ressoando na sua cabeça.
Eram só os dois, o garoto e o silêncio.
A brisa passou pela janela, levantando a cortina. Isso permitiu que a fraca luz da rua passasse e iluminasse seu rosto e as lágrimas que caíram no pão.
— Parabéns pra mim…
Até o amanhecer do outro dia, Sora não saiu do quarto.

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