[ Maio de 2003, Era da Balança. ]

    A mulher deslizou seus dedos pela face do pequenino. A sutileza dos seus toques só não era maior do que a delicadeza da face do recém-nascido em seus braços.
    A mulher era jovem. Seus longos cabelos da cor do céu noturno eram um contraste perfeito com os poucos cabelinhos brancos do bebê.
    Ela sorria. E como sorria. A cada baixo resmungo da criança, seu sorriso se alargava ainda mais.

    — Meu pequeno…

    A mulher o levantou um pouco, embrulhado com tecidos leves e fofos, abraçando-o a si, bochecha a bochecha.
    A criança estendeu sua mão, menor que qualquer coisa, e tocou o rosto da mulher. E ela riu baixinho. Esforçava-se muito para conter seu entusiasmo.

    — Vai assustá-lo assim — disse uma segunda voz, mais robusta e grossa. Era do homem que acabava de entrar no quarto. Ele deu alguns passos lentos para o cômodo de madeira, sempre no apoio de sua bengala do mesmo material.

    — Eu sei, eu sei… mas é que ele é tão lindinho! — falou a mulher, segurando imensamente a vontade de apertar o pequenino nos braços.

    O homem sorriu. Parecia ter alguns anos a mais do que ela. Sua franja branca cobria as marcas iniciais da idade. Uma gaze cobria seu olho esquerdo, mas o direito tinha como cor um vermelho desbotado, quase sem cor, mas gentil.

    — E então? Decidiu o nome? — perguntou o homem de voz tenra.

    A mulher ficou pensativa, voltando o olhar para a criança. O silêncio a tomou. Nomes são muito importantes! Mas ela pensou em tantos que não conseguia decidir.
    De repente, ela sentiu o bebê se mexendo. Pela primeira vez, aqueles pequenos olhos se abriram e tiveram o primeiro contato com a luz. Tão frágeis, olharam para a pessoa que mais o amava.


    E eram azuis. Tingidos, pelo mais puro azul. Um azul tão claro como o do céu.

    — …Sora. — ela disse, acariciando o cabelo cor de nuvem.

    O homem pôs força na bengala para andar. Aproximando-se, abraçou os dois.

    — É um belo nome.

    A criança estendeu suas mãos. Aqueles dedos tão pequenos tentavam tocar o cabelo da mulher.

    — Sora, gostou do seu nome? A partir de hoje, esse dia vai ser o seu aniversário!  — A mulher soltou um riso. Com as bochechas rosadas e os olhos brilhando, ela o abraçou. — Vamos comemorar juntinhos, ano por ano! Eu prometo!

    [ • • • ]

    [ Tempo presente ]

    — Ok, acho que tá de boa!

    Sora estava de pé na frente da escrivaninha do quarto. A cortina fechada deixava que apenas alguns feixes de luz do entardecer entrassem pela janela.
    Acima da mesa, tinha alguns pães de leite empilhados com uma vela acesa furando-os no meio. Era a maior fonte de iluminação do quarto.

    — E parabéns pra mim!

    Ele apagou a vela com um sopro forte e juntou as mãos. Não se pode passar pelo aniversário sem fazer um pedido, né?

    Depois de tirar a vela, Sora pegou um dos pães e deu a primeira mordida.

    — Ah… Isso é gostoso mesmo. Acho que eles iam gostar de provar.

    Forçou uma risada, mas ela não saiu.

    — …Com hoje, são quinze. Isso! Rumo a dezesseis em diante, sem desanimar!! — o garoto ergueu um dos braços, abrindo um sorriso frágil. — Sem desanimar, né…?
    Recolheu o braço, apertando os pães. Suas mãos ficaram trêmulas.

    Ninguém aqui aceitaria uma pessoa como você“.

    O silêncio dominou o quarto, com essas palavras ressoando na sua cabeça.
    Eram só os dois, o garoto e o silêncio.
    A brisa passou pela janela, levantando a cortina. Isso permitiu que a fraca luz da rua passasse e iluminasse seu rosto e as lágrimas que caíram no pão.

    — Parabéns pra mim…

    Até o amanhecer do outro dia, Sora não saiu do quarto.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota