Capítulo 66: Teste após teste

Tristan esperava pelo retorno de Diji e os outros. Ele estava sentado na beirada de um telhado de uma casa velha perto do beco onde estivera anteriormente, com os pés balançando para frente e para trás enquanto limpava o sangue que sujava uma moeda de bronze com um pano.

A claridade diminuía com a chegada da noite, o que na maioria dos lugares daquele mundo indicava a hora de dormir. As movimentações nas ruas já não eram tão intensas quanto durante a tarde, o que era conveniente para ele.

Sua cabeça virou para o lado ao notar a aproximação de alguém. Eram Diji e seus dois companheiros. Novamente, eles não estavam sozinhos, mas, desta vez, não era um velho mendigo barbudo que os acompanhava. Tristan observou outros cinco jovens entrando no beco; alguns pareciam um pouco mais jovens que ele, enquanto outros eram mais velhos.

Todos estavam sujos e vestiam roupas imundas. ‘Parece que me obedeceram desta vez’, pensou. Analisando a aparência deles, supôs que todos eram mendigos também, o que indicava que suas ordens haviam sido seguidas corretamente. Por um momento, ele achou que Diji e os outros poderiam ter sequestrado crianças que viviam nas casas próximas para economizar tempo, não que ele tivesse algum problema com isso.

Quando Diji e as outras crianças entraram no beco, olharam de um lado para o outro à procura de Tristan.

“Não tem ninguém aqui! É melhor isso não ser mais um de seus golpes,” um dos garotos mais velhos disse, lançando um olhar irritado para Diji e seus companheiros.

Tristan pegou uma caixa de madeira que estava perto dele e pulou em direção ao beco, surpreendendo-os com sua súbita aparição.

Observando as expressões preocupadas deles, Tristan falou: “Como eles devem ter dito a vocês, eu preciso da ajuda de vocês com algo. Irei recompensá-los, independente do resultado.”

Um dos garotos falou com receio, “O que você precisa que a gente faça?”

“Primeiro, quero que vocês me respondam algumas coisas.” Tristan fez uma série de perguntas constrangedoras e embaraçosas sobre a vida pessoal e a saúde deles nos últimos dias, buscando qualquer indício de doença grave.

Devido à sua falta de conhecimento, ele não seria capaz de identificar vírus e bactérias perigosas, então esse método era o único disponível no momento. Pensou na possibilidade de tentar isso com as crianças nobres do centro da cidade, que seriam muito mais saudáveis e apresentariam menor risco de doenças, mas, devido à alta quantidade de testes que precisaria fazer, decidiu que não valeria a pena chamar tanta atenção.

Eles ficaram vermelhos com suas perguntas, e alguns tentaram se recusar a responder, mas uma moeda de bronze para cada um foi suficiente para fazê-los falar. Um garoto e duas garotas foram descartados por causa de suas respostas, deixando Tristan apenas com mais dois para testar.

Ele fez um exame visual e, com sua habilidade de diagnóstico, não encontrou nada muito preocupante.

“Vamos para o teste real agora,” disse Tristan.

Um dos garotos reuniu sua coragem e perguntou: “O que você precisa que a gente faça?”

“Eu quero o sangue de vocês,” Tristan respondeu, de forma tão direta que eles pareceram petrificar.

“O quê?” exclamaram em uníssono.

“Fiquem calmos, eu só preciso de uma gota de sangue,” ele disse, enquanto pensava: ‘Por enquanto.’

“Vocês não vão morrer por causa disso.”

Tristan pegou uma pequena agulha de costura e furou o dedo dos jovens, pingando uma gota de cada um em um pedaço de vidro.

Depois, ele pegou dois pequenos copos usados para bebidas alcoólicas que havia conseguido na cozinha da seita. Um pouco de líquido carmesim estava dentro dos copos: era o sangue de Yue e Jaeng. De vez em quando, Tristan transferia um pouco de essência da Luz para preservar o sangue deles.

Com a agulha esterilizada, ele pegou uma gota de sangue de Yue e misturou com o dos outros dois. Em seguida, usou sua habilidade Tyrannical Eye para examinar as reações a nível microscópico.

O tipo sanguíneo poderia ser analisado por um exame de DNA ou pela reação da adição de um antígeno no sangue. Analisar DNA estava completamente fora de suas opções, então restava apenas uma alternativa.

Em um exame de tipagem sanguínea comum, o sangue seria separado usando uma centrífuga, e um antígeno — um reagente — seria adicionado às hemácias para ver se reagem com os anticorpos, indicando um tipo sanguíneo específico. Com magia, Tristan podia simplificar o processo, observando as reações diretamente com seu feitiço de diagnóstico.

Após analisar a reação com o sangue de Yue, ele repetiu o processo com o sangue de Jaeng.

‘Nenhum deles é compatível.’ Ele ficou decepcionado, mas não estava surpreso.

Ele ordenou que Diji e seus amigos buscassem mais pessoas.

Exame após exame, Tristan precisou analisar vinte e três jovens ao longo da noite até encontrar quatro que eram compatíveis com o sangue de Yue e Jaeng.

‘Aparentemente, nenhum dos dois tinha um tipo sanguíneo raro. É bom ter um pouco de sorte de vez em quando.’

Ele queria encher quatro jarros de sangue. Pensou na possibilidade de matar aqueles jovens para conseguir todo o sangue de uma vez, mas achou que fazer isso com pessoas inocentes seria desnecessário naquela situação.

Por isso, decidiu esperar até encontrar quatro pessoas compatíveis.

“Bom, agora só resta a última etapa.” Tristan pegou quatro potes de tamanho médio de sua bolsa. “Eu preciso encher esses frascos com o sangue de vocês.”

Os jovens à sua frente ficaram pálidos com suas palavras e deram um passo para trás. “Isso não é perigoso?” um deles perguntou com temor.

Ele balançou a cabeça. “Nem um pouco. Vocês têm quase dez potes desses dentro de seus corpos. Um ou dois não farão diferença. Podem confiar em mim; juro pela minha honra como artista marcial.” Tristan mentiu descaradamente; ele não tinha a menor ideia de quanto sangue poderia tirar de pessoas tão jovens com segurança.

“Para que você precisa de tanto sangue?” outro jovem ousou perguntar.

“Isso? Nada demais. Só vou realizar um ritual proibido.” As expressões deles ao ouvir isso fizeram Tristan sorrir por dentro. “Invocar Baloph, sacrificar esse sangue para ele e quebrar meu limitador para que eu possa avançar no meu cultivo e ascender aos céus.” Pelos olhares de horror deles, julgou que suas palavras foram convincentes, embora qualquer pessoa entendida no assunto o acharia estúpido ou suicida.

Ele falou algo tão ridículo apenas como distração, caso suas ações chegassem a ouvidos problemáticos.

“Eu também darei quatro moedas de bronze para cada um de vocês se me ajudarem.”

Os jovens hesitaram. O medo do desconhecido permeava suas mentes. No entanto, ao ver as moedas, ignorar o grito da necessidade era uma tarefa difícil. Eles se entreolharam, como se esperassem que alguém tomasse uma decisão primeiro.

“A gente não vai irritar os Espíritos por ajudar você?”, uma garota murmurou.

“Vocês já irritaram os Espíritos Celestiais antes de nascerem; caso contrário, não estariam vivendo esse tipo de vida. Se estão tão preocupados com a opinião dos Espíritos, doem o dinheiro para algum templo e peçam perdão pelo que fizeram nas suas vidas passadas.” Tristan repetiu alguns trechos que aprendera das religiões locais nos últimos meses; ele conhecia a vida após a morte melhor do que ninguém, então não acreditava em nada disso.

Tristan balançou um saco de moedas na frente deles. “Vocês são livres para decidir. Se quiserem passar esta semana com fome, também posso procurar outras pessoas.”

Finalmente, suas palavras os convenceram.

Com a permissão deles, Tristan iniciou o procedimento.

Após sair da loja do artesão, ele foi ao Parque de Jade e esterilizou todos os utensílios com água fervente e fogo.

Ele pegou várias agulhas de costura que conseguira na seita; havia um furo nelas feito com magia de escuridão.

Depois de encher todos os frascos com o sangue extraído, os jovens pareciam estar relativamente bem. Eles estavam um pouco mais lentos, mas Tristan estava satisfeito por ninguém ter desmaiado no processo.

Como prometera, deu quatro moedas de bronze a mais para cada um deles, o suficiente para que comessem pão todos os dias durante cerca de três semanas.

Ele deu mais algumas moedas para Diji e seu grupo. Todo aquele gasto de dinheiro fez seu coração apertar.

Porém, ao pensar no que poderia acontecer caso não fizesse isso, achou que se sentiria pior ao deixar uma pessoa como Yue morrer dessa forma. Quanto a Jaeng, ele poderia cobrar por isso no futuro.

Agora que havia conseguido tudo o que precisava, finalmente estava pronto para retornar à Seita da Espada Voadora. No meio da noite, correu de volta ao monte com toda a sua velocidade.

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