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    Do alto, o Mestre Arcano e a mulher observavam o campo de batalha abaixo, onde os exércitos, antes em um movimento caótico, agora permaneciam em um silêncio denso, com soldados e líderes aguardando o próximo comando. 

    Ambos os lados, marcados por perdas e desgastados pela intensidade do combate, haviam recuado para se reorganizar. Invisíveis aos mortais, o Mestre Arcano e sua companheira flutuavam sobre a cena, testemunhando o momento de pausa. 

    Sergio havia ordenado um recuo tático, e o Cônsul aproveitara a brecha para reordenar suas tropas. Assim, o avanço de ambas as forças tinha sido interrompido, congelando-as como estátuas em suas posições. Cada guerreiro, cada líder, parecia contido pela gravidade daquele momento.

    Harley e Sergio, cercados pelos seus homens, se encaravam como os pólos de uma energia contida, cada exército imerso em uma quietude pesada, à beira de uma explosão iminente, prestes a eclodir novamente.

    Harley mantinha sua postura, e os olhos escuros, já marcados pelas batalhas, revelavam determinação ao encarar Sergio, o homem que se tornara seu maior inimigo.

    A mulher, ao lado do Mestre Arcano, apontou sua adaga para baixo, como se desenhasse possibilidades invisíveis no ar. A lâmina brilhou em resposta, e o Mestre Arcano pôde ver as probabilidades dançando à frente de seus olhos. Em algumas delas, um mar de corpos caía sem vida; em outras, o próprio tecido da realidade tremia, distorcido pela liberação do caos.

    O campo de batalha se estendia como um palco sinistro, onde a natureza se curvava, quieta, à chegada de forças que poderiam moldar o futuro. Os rochedos frios da caverna pareciam congelados no tempo, testemunhas da escolha que se revelaria entre os dois guerreiros. 

    Sergio avançou em direção a Harley, o rosto traindo uma frieza resoluta. Cada passo seu era ecoado pela formação de seu exército, que abria espaço, formando um corredor sombrio. Era como se a própria multidão reconhecesse a importância daquele confronto, onde apenas um vencedor sairia vitorioso.

    Harley permanecia imóvel, os olhos fixos em Sergio, cada movimento seu sendo estudado. Ao redor deles, os soldados de ambos os exércitos observavam em silêncio, com as armas prontas, aguardando um comando ou a primeira faísca de agressão. 

    Naquele instante, Harley sabia que seu próximo passo seria decisivo, que a luta entre ele e Sergio carregava o peso de antigos pactos rompidos e destinos entrelaçados. Com um último olhar aos seus, ele começou a avançar em direção a Sergio, como se seguisse um caminho inevitável.

    Do alto, o Mestre Arcano estudava as reações do exército de Harley. Sentia o temor sutil, os olhares fixos, cada guerreiro preso à incerteza. As armas que empunhavam pareciam pesadas, como se soubessem que talvez não sobrevivessem ao que estava por vir. 

    Do outro lado do campo, Sergio finalmente parou, fixando seu olhar no de Harley. Com um gesto deliberado, ergueu o braço e fez uma reverência gélida, as sombras de um sorriso passando por seu rosto.

    — Há um modo de resolvermos isso, Harley, sem sacrificar nossos exércitos — disse ele, com a voz calma, controlada — Em outro mundo que visitei, os homens têm uma tradição antiga. Eles chamam de “duelo de campeões”, onde os líderes resolvem suas disputas cara a cara, poupando o sangue de seus homens.

    Harley o encarou, a expressão imóvel, mas as palavras ecoaram em sua mente. Ele já ouvira histórias semelhantes quando estava no clã Dragões de Sangue, sobre povos antigos que resolviam suas disputas com duelos, em vez de guerras. 

    Talvez, em outro tempo, em uma realidade distante, isso pudesse ter funcionado. No entanto, diante dele, estava Sergio, e Harley sabia que o homem à sua frente jamais jogaria limpo.

    — Mas isso… — continuou Sergio, a voz carregada de uma ameaça velada, que se desenhava em cada palavra — …se você sobreviver.

    Num movimento rápido, a mão de Sergio deslizou para o pulso, onde uma pulseira metálica com seis botões brilhava. Ele pressionou um dos botões, e um som metálico cortou o ar. Foi o suficiente para que o caos começasse a se desenrolar.

    As armas no campo começaram a pulsar. No exército de Harley, rifles e equipamentos pareciam iluminar-se, como se uma faísca de vida surgisse em cada um deles. 

    — Doravan — murmurou o Mestre Arcano para si mesmo, reconhecendo a assinatura das armas projetadas por aquele que um dia fora um aliado de Sergio.

    Do alto, os dois continuavam apenas observando, enquanto a intensidade das luzes nas armas aumentava. Ele reconhecia o perigo. Doravan não fora apenas um criador de armas, mas um gênio capaz de transformar qualquer ferramenta em um desastre iminente. 

    E agora, ao ver cada peça do arsenal dos guerreiros ao lado de Harley brilhar com intensidade crescente, o Mestre Arcano entendeu a extensão da armadilha.

    — As armas… estão prestes a explodir — gritou o jovem Ginsu como um aviso para todos próximos, mas direcionado para Milenium e seu pai. 

    Antes que Harley pudesse reagir, as explosões começaram e os acontecimentos continuavam seguindo a mesma tragédia que tinha visto anteriormente. Era como se uma sequência de estrelas estivesse sendo apagada uma a uma, numa onda destrutiva que se alastrava por todo o campo de batalha. 

    Cada arma, cada rifle, cada equipamento engolido em um clarão, destruindo soldados, erguendo a poeira como um véu de destroços que terminaria tudo com a sua morte.

    Harley recuou, sabendo que se tudo ocorresse como na visão que invadira sua mente anteriormente, ele logo também seria atingido por uma explosão. 

    A cada segundo que passava, o campo era tomado por uma série de estampidos que não cessavam, como se o inferno tivesse se libertado.

    Do alto, o Mestre Arcano, em silêncio, estudou Harley, que ainda se erguia em meio às explosões, os olhos fixos em Sergio. Mesmo com as perdas, ele não vacilava. A postura, os gestos, tudo em Harley gritava resiliência, um ímpeto que nem mesmo a morte ao redor poderia apagar.

    Finalmente, em meio ao caos, Harley reencontrou o olhar de Sergio, que o encarava, imune ao horror à sua volta. O homem permanecia impassível, como se as vidas ao seu redor não passassem de cifras em um cálculo de vitória. 

    Lentamente, Sergio começou a caminhar, passando pela fileira de seus soldados que, em um movimento quase coreografado, abriram um corredor para ele. Harley reconheceu o gesto. O corredor se estendia como uma passagem cerimonial, pavimentada pelas próprias sombras de Sergio, um caminho para o confronto definitivo.

    Harley respirou fundo, sentindo o peso da escolha. Estava claro para ele que aquele era o momento em que o destino seria selado. Todo o seu corpo clamava pela batalha, e, mesmo que a incerteza nublasse suas decisões, ele sentia em sua alma que aquela era a luta pela qual vivera.

    Cada soldado, cada guerreiro, permaneceu imóvel, os olhos fixos nos dois líderes. As explosões cessaram, deixando um rastro de fumaça e destroços. A quietude se estabeleceu, mas era uma calma tensa, como o silêncio antes de uma tempestade.

    Abaixo, no centro do corredor, Sergio parou. Harley avançou, passando pelos soldados de seu próprio exército que ainda permaneciam, os olhares carregados de temor. O espaço entre eles parecia diminuir e aumentar ao mesmo tempo, como se o próprio universo hesitasse em ver aquele embate se concretizar.

    Finalmente, eles estavam frente a frente, e o olhar de Sergio brilhava com a certeza de um predador. Ele tinha os lábios curvados em um sorriso, o semblante de alguém que acreditava ter o controle de cada detalhe, de cada consequência.

    Harley não disse uma palavra, mas sua expressão falava por ele. Cada músculo em seu corpo estava preparado, cada pensamento focado na batalha iminente.

    Sergio ergueu o queixo, olhando Harley de cima abaixo, como se avaliasse sua força, a intensidade de sua presença. E então, num sussurro cheio de veneno e expectativa, deixou suas últimas palavras se desdobrarem no ar:

    — Mas isso… se você sobreviver.

    Antes que Harley pudesse processar, Sergio pressionou outro botão na pulseira.

    Harley, percebendo o perigo, levou os olhos para o próprio braço, onde uma pulseira semelhante, com três botões, reluzia. Sentiu o calor invadir a pele, como se a pulseira estivesse ganhando vida própria, pronta para uma ação de autodestruição que ele não comandara.

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