Capítulo 146 — Lótus
Hope sentia uma mistura de expectativa e tensão ao começar seu primeiro dia de treinamento sob a supervisão de Elior. O garoto, com sua aparência delicada e olhar gentil, parecia um instrutor improvável, mas Hope já havia aprendido a não subestimar aquele que aparentava ser apenas uma criança. Ele parecia saber mais sobre suas habilidades do que ela mesma, o que a intrigava profundamente.
Elior caminhava em sua direção com uma prancheta, ajustando o cronograma. Seus olhos moviam-se rapidamente sobre as anotações, e ele sussurrava baixinho enquanto fazia pequenos ajustes.
“Vamos começar com o básico”, ele anunciou, sem levantar os olhos da prancheta. “Treinamento com runas de mana. Será útil para você controlar melhor suas habilidades antes de passarmos para algo mais complexo.”
Hope olhou para ele com curiosidade. “Treinamento com runas de mana? Eu nunca fiz isso antes”, ela comentou, com um tom incerto.
“É exatamente por isso que vamos começar por aí”, Elior respondeu, olhando-a com um sorriso leve.
Ela já tinha aprendido algumas formas de controlar a mana, mas runas eram um conceito avançado que exigia muita precisão e concentração.
“E sobre a minha habilidade principal?”, ela perguntou, hesitante. “Você… sabe qual é?”
Elior finalmente ergueu o olhar, seus olhos castanhos brilhando com uma sabedoria que parecia pertencer a alguém muito mais velho do que ele. Ele acenou com a cabeça calmamente.
“Sim, seu poder principal, Requien, é incrivelmente poderoso, assim como o Lótus Carmesim. Mas não é disso que estou falando.” Ele fez uma pausa, observando a reação de Hope. “Estou me referindo à sua habilidade nascente.”
Hope franziu a testa, confusa. “Habilidade nascente?.”
Elior sorriu, claramente esperando essa resposta. “A habilidade nascente é aquela com a qual você nasce, o núcleo de seu poder. É a habilidade mais poderosa de um indivíduo. E no seu caso, é uma habilidade que nunca foi vista antes em toda a existência.”
Hope sentiu uma onda de surpresa misturada com dúvida. “Nunca vista antes? O que você quer dizer com isso?”
Elior se aproximou, com um olhar sério. “Sua habilidade nascente se chama Pseudo God. Ela é a junção das três habilidades primordiais: tempo, matéria e criação. Você é a primeira pessoa na história a ter essa combinação. Enquanto outros têm uma dessas habilidades primordiais, você tem acesso a todas, ainda que em uma escala menor.”
Hope ficou em silêncio por um momento, tentando processar o que Elior havia dito. Ela sabia que tinha potencial, mas isso era algo muito além do que imaginava.
“Como… como isso funciona?”, ela perguntou, a voz embargada de curiosidade e um pouco de medo.
“Quando a Pseudo God está ativa, você pode usar todas essas três habilidades primordiais: manipulação do tempo, controle sobre a matéria e criação a partir do nada. No entanto, não é com o mesmo poder absoluto daqueles que possuem essas habilidades de forma isolada.” Elior fez uma pausa antes de continuar. “Deixe-me dar um exemplo. Eriel, por exemplo, tem a habilidade primordial do tempo. O controle dela sobre o tempo é vastamente superior ao seu, mas você ainda pode acessar todas as formas derivadas de manipulação temporal, só que com menos intensidade.”
Hope ouviu atentamente enquanto Elior continuava.
“O mesmo vale para matéria e criação. Quando você ativa a Pseudo God, você não será tão poderosa quanto alguém que nasceu com uma dessas habilidades como principal, mas sua versatilidade será sua maior força. Você poderá usar aspectos de todas as habilidades primordiais, algo que ninguém mais pode fazer.”
Ela processava o que Elior dizia, sua mente girando em torno da vastidão do que isso significava. Era quase impossível imaginar o alcance de algo tão grandioso.
“Então, eu posso manipular o tempo como a Mamãe?”, Hope perguntou, tentando entender as limitações de sua habilidade.
“Sim, mas em uma escala menor”, Elior explicou. “Enquanto Eriel pode congelar o tempo por longos períodos e em grandes áreas, você poderia, por exemplo, parar o tempo por alguns segundos, ou desacelerá-lo em uma área limitada. Da mesma forma, você pode alterar a matéria ao seu redor ou criar pequenos objetos, mas não algo gigantesco como uma cidade ou uma arma imensamente poderosa.”
Hope ficou quieta, absorvendo as informações. Era muita coisa para entender, mas a ideia de ter acesso a três habilidades primordiais era ao mesmo tempo emocionante e assustadora.
“Por que… por que eu tenho essa habilidade? Por que sou a única?”
Elior ficou em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. “Isso… eu ainda não sei. Há muito que precisamos descobrir sobre a origem da sua habilidade. Mas uma coisa é certa: você é especial, Hope. O destino escolheu você para algo grande.”
Hope engoliu em seco, sentindo o peso daquelas palavras. Ela sempre soube que havia algo diferente nela, mas isso era algo que ela jamais teria imaginado. Sua mente estava cheia de perguntas e incertezas, mas também de uma nova determinação.
“Então, o treinamento com runas de mana é só o começo, não é?”, ela perguntou, sua voz mais firme agora.
“Exatamente”, Elior respondeu com um leve sorriso. “Esse é o primeiro passo para que você comece a controlar toda essa energia. Com o tempo, vamos trabalhar em cada aspecto das suas habilidades, mas por enquanto, você precisa aprender a canalizar a mana corretamente.”
Os dias que se seguiram foram um teste constante para Hope. No início, o treinamento com runas de mana era frustrante; as formas precisas e intrincadas que precisavam ser desenhadas no ar a faziam perder a paciência. As runas se dissipavam antes que ela pudesse canalizar a mana corretamente. Mas Elior, sempre observador, corrigia cada erro com uma calma quase sobrenatural.
“Você está se esforçando demais. Relaxe, a mana é parte de você, não algo que precisa ser forçado”, ele disse em um dos dias de treino, observando enquanto Hope tentava invocar uma das runas mais simples.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e tentou de novo, dessa vez deixando sua energia fluir mais suavemente. Quando abriu os olhos, a runa brilhava suavemente diante dela.
“Isso! Agora mantenha”, Elior encorajou, sorrindo.
Com o tempo, ela começou a se ajustar aos diferentes aspectos do cronograma. O treino com a espada era mais natural para ela, e logo Elior a desafiava com duelos rápidos para testar sua habilidade em misturar combate físico e magia. A cada luta, ela melhorava, aprendendo a alternar entre o uso da espada e ataques mágicos com maior fluidez.
Durante uma tarde de treino, enquanto ela e Elior se preparavam para praticar com o Lótus Carmesim, Elior lhe entregou um amuleto de cor prateada.
“Isso vai te ajudar a canalizar a energia da Lótus. Você ainda não está pronta para liberar toda a sua força, então, por enquanto, o amuleto vai conter parte do poder.”
Hope pegou o amuleto, estudando-o com curiosidade. Ele parecia um artefato simples, mas ao segurá-lo, ela sentiu uma onda de energia passar por seu corpo.
“Obrigada”, ela murmurou, colocando o amuleto ao redor do pescoço.
Quando o treinamento com o Lótus Carmesim começou, Hope percebeu que o amuleto realmente fazia a diferença. Embora ainda fosse um esforço manter as pétalas e a energia sob controle, o peso da mana parecia mais suportável, permitindo-lhe treinar por mais tempo sem se esgotar completamente.
“Está melhorando”, Elior disse após mais uma sessão. “Ainda tem um longo caminho pela frente, mas sua evolução está clara. Continue assim.”
O progresso de Hope, embora lento no início, estava se tornando evidente. Os espíritos de Requien ainda pareciam distantes, mas ela sentia que, com cada dia, ficava mais próxima de entender a verdadeira natureza de sua habilidade. Ela sabia que o futuro seria desafiador, mas a determinação em seu coração crescia a cada novo obstáculo superado.
Elior observava tudo em silêncio, satisfeito com o avanço. Ele sabia que os dias de treinamento ainda trariam desafios mais árduos, mas Hope estava se moldando para algo muito maior do que ela imaginava.
O treinamento havia apenas começado.
Cinco meses. Esse era o tempo que Ethan havia passado fora, em uma longa e complexa missão da qual poucos sabiam os detalhes. O cansaço ainda pesava em seus ombros, mas a animação em seu coração era clara. Enquanto caminhava pelos corredores da facção humana, sua mente estava focada em uma coisa: sua sobrinha, Hope. Ethan sempre teve um carinho especial por ela, e agora, após tantos meses longe, tudo o que ele queria era vê-la novamente e passar algum tempo divertido com ela.
Ele imaginava a cena em sua mente — Hope correndo até ele, com um sorriso radiante no rosto, talvez contando como estava se saindo em seus treinos ou algum acontecimento engraçado com a equipe. Ethan suspirou, ansioso para revê-la. “Será que ela cresceu mais?”, pensava, sorrindo com a ideia.
Assim que virou o corredor, ele avistou uma das agentes da facção, que saía de uma sala de comando.
“Com licença”, ele a chamou, sua voz amigável. “Você viu minha sobrinha, Hope, por aqui? Faz cinco meses que estou fora, e estou doido para vê-la.”
A agente olhou para ele com uma expressão ligeiramente surpresa, antes de responder. “Ah, a equipe da Hope? Eles estão treinando na sala isolada já faz uma semana inteira.”
Ethan parou por um momento, franzindo o cenho. “Sala isolada?” Ele repetiu, surpreso. A sala isolada era um dos locais mais protegidos da facção, equipada com barreiras extremamente poderosas para conter treinamentos de alto nível e poderes destrutivos. “Isso parece… um pouco demais para a equipe da Hope, não acha?” Ele riu, tentando imaginar por que uma equipe tão jovem estaria em um lugar projetado para forças de elite.
A agente apenas deu de ombros. “É o que ouvi, senhor. Eles estão lá há dias. Talvez seja melhor você dar uma olhada.”
Ethan agradeceu com um aceno e seguiu na direção da sala isolada. Conforme se aproximava, a sensação de estranheza aumentava. Ele conhecia bem as capacidades da equipe de Hope — fortes, mas ainda em desenvolvimento. A sala isolada sempre fora destinada para equipes que já tinham dominado seu poder ao ponto de representar uma ameaça às instalações comuns. “Por que eles precisariam de tanto?”, ele pensou, enquanto seus passos ecoavam pelos corredores vazios.
Chegando diante da porta imensa de aço da sala isolada, Ethan parou por um momento, respirando fundo antes de abri-la. Assim que empurrou a pesada porta para entrar, ele foi atingido por uma pressão que o fez recuar por um instante. Seus instintos se ativaram, colocando-o em guarda quase automaticamente. A aura que emanava do interior da sala era poderosa, intensa, o suficiente para que qualquer um se mantivesse alerta.
“Isso… isso está errado”, ele murmurou para si mesmo, olhando para o interior da sala. A pressão que sentia era digna dos guerreiros de elite da facção, talvez até de um grupo de combate de alta patente. “Eu entrei na sala errada?”, ele se perguntou, confuso. Mas então, ele ouviu uma voz familiar.
“Tio Ethan!” A voz de Hope ecoou pela sala, trazendo consigo uma onda de alívio e, ao mesmo tempo, surpresa. Ela estava lá, com seu sorriso habitual, mas algo nela parecia diferente… mais forte.
Ethan arregalou os olhos ao vê-la. “Hope? Isso é… essa aura toda é sua?” Ele olhou ao redor, percebendo outra presença. Ao lado de Hope, estava Aiden, o jovem brincalhão que ele conhecia. No entanto, a energia emanando dele também era massiva.
Ethan ficou atônito por alguns segundos. “Essa aura… é deles?”, pensou, quase sem acreditar. A sala estava imersa em uma combinação de poderes que ele jamais esperaria de dois adolescentes. Ele sabia que ambos tinham grande potencial, mas isso… isso estava em outro nível.
“Elior!”, ele chamou, sua voz carregada de surpresa. O jovem garoto, que parecia sempre saber mais do que dizia, estava encostado em uma das paredes, observando a cena com um sorriso divertido. “O que você fez com a minha sobrinha?!”, Ethan perguntou, com um tom que misturava incredulidade e curiosidade.
Elior deu uma risada suave antes de responder. “Eu? Eu não fiz nada, Ethan. Eles apenas treinaram… bastante.”
“Isso não é só treinamento”, Ethan disse, ainda tentando entender. “Eles estão incrivelmente fortes. Essa aura… é quase como a de alguns dos guerreiros mais poderosos da facção.”
Elior balançou a cabeça, como se o comentário de Ethan fosse previsível. “Bem, eu avisei que você se surpreenderia com o potencial deles. Contínua em desenvolvimento, claro, mas acredite, Hope e Aiden têm muito mais a mostrar.”
Ethan ainda estava absorvendo a nova realidade quando Elior pareceu se lembrar de algo. Seus olhos brilharam com animação, e ele fez uma proposta inesperada.
“Ei, já que está aqui, o que acha de uma luta simulada com Hope e Aiden?” Ele disse, quase casualmente. “Vai ser divertido.”
Ethan levantou uma sobrancelha, inicialmente surpreso pela sugestão. “Você quer que eu lute contra… eles?” Ele riu, cruzando os braços. “Eles são crianças, Elior. Eu os derrotaria antes mesmo que pudessem reagir.”
Elior, no entanto, continuou com o sorriso no rosto. “Você acha? Posso garantir que vai se surpreender. Além disso, será uma boa chance de ver o quanto eles evoluíram.”
Ethan olhou para Hope e Aiden, que o encaravam com expressões determinadas. Ele sentiu uma pontada de curiosidade. “Eles realmente ficaram tão fortes assim?” Ele pensou por um momento antes de tomar sua decisão. Um sorriso animado se espalhou por seu rosto.
“Está bem. Aceito o desafio”, Ethan respondeu, confiante. “Vamos ver do que esses dois são capazes.”
“Se eles vencerem, quero que a nossa equipe se torne uma equipe oficial. Ser cadete em treinamento é chato.”, disse Elior confiante.
“Sei que você é mais do que qualificado, mas as crianças…” Ethan olhou para sua sobrinha e Aiden ao lado dela. “Ah, tudo bem.”, Ethan respondeu com expectativas. “
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