Capítulo 82 – Volta para casa
por SnowBearDesde que Lith foi oficialmente admitido na academia Grifo Branco, a vida dos habitantes da vila de Lutia se tornou mais fácil e segura, especialmente para Nana. Quando se espalhou a notícia de que a vila era o local de nascimento de um mago, os nobres se tornaram mais amigáveis, evitando infringir a lei ou causar qualquer problema.
Até mesmo os comerciantes de passagem estariam mais propensos a oferecer descontos, sem mais assédio aos ferreiros locais. A multidão habitual de bandidos e encrenqueiros, que geralmente ficavam na taverna durante a noite, se tornou dócil ou foi embora completamente.
Claro, tal comportamento não vinha da bondade de seus corações, nem do medo do jovem de que talvez no futuro se tornasse um grande mago. Todos sabiam que ele estava fora, e levaria nada menos que dois anos para que ele retornasse.
O motivo para essa mudança repentina de atitude deveu-se ao fato de que aqueles que não se comportaram tinham o estranho hábito de desaparecer sem deixar rastros, de se matar deixando um bilhete de suicídio confessando seus crimes ou simplesmente morriam em acidentes.
O que todos, exceto Nana, ignoravam era que o local de nascimento de um mago era seu feudo inicial. Sendo Lith avaliado como um aluno de Rank A, uma das unidades pessoais da Rainha estava constantemente monitorando a vila, eliminando os problemas pela raiz.
Eles não tinham como distinguir um simples criminoso de alguém que, por vontade própria ou por manipulação, estava tentando prejudicar a família de Lith. Mais importante, eles não se importavam.
Assim que alguém era identificado como uma ameaça potencial, mesmo que as investigações não dessem resultados, eles se livravam do problema, só por segurança.
A Rainha os manteve atualizados sobre o desempenho e o potencial de Lith, enfatizando a importância de não lhe dar mais motivos para se ressentir do Reino Griffon e desertar.
Após os resultados do exame simulado, foi somente por causa da obediência do Duque Héstia às regras da escola, deixando sua filha sozinha em águas turbulentas e não tentando se vingar, que ele mal conseguiu manter seu ducado e seu pescoço.
(AN: Duke Hestia é o pai do líder do trio que tentou assediar Lith durante o primeiro dia. Veja o Cap. 57)
Com base no que seus contatos disseram a Nana, quando o talento de Lith foi reconhecido pelo próprio Manohar, tanto a Corte quanto a Associação de Magos levaram a sério seu bem-estar.
Para Nana, isso significava a chance de manter um alto preço por seus serviços, apesar de não ter mais nada para fazer além de seu papel de curandeira.
— Oh! Oh! Oh! — Ela riu aproveitando outra manhã ensolarada. — Quem imaginaria que ajudar aquele jovem espírito do seu irmão poderia trazer o novo apogeu da minha vida. Nunca foi tão tranquilo em anos.
— Como meu irmãozinho pode ter algo a ver com isso? — Tista riu, enquanto usava magia para limpar o quarto.
Nana balançou a cabeça.
— Tista, minha menina, você supera seu irmão em muitas coisas. Aparência, gentileza, maneiras de tratar os pacientes. Há apenas duas coisas que você realmente deveria puxar dele.
— Um é talento. E o outro? — Apesar de ter aprendido magias até o nível três, Tista ainda não tinha ideia de como Lith conseguiu curá-la. Ela só conseguia explicar isso com uma lacuna abismal em seu dom para magia.
— Não, eu nunca criticaria alguém sobre algo inato. Eu estava falando sobre ser cínico e prático. Você é muito ingênua para sua idade.
— Se seu irmão estivesse aqui, ele olharia para mim com aquele olhar arrepiante, faria algumas perguntas às quais eu responderia enigmaticamente, e tenho certeza de que ele entenderia o que quero dizer.
— Lith não tem um olhar que arrepie a alma! — Tista repreendeu sua mentora.
— Ele é o irmão mais novo mais amoroso e atencioso que alguém poderia desejar.
Nana zombou.
— Porque ele sempre te tratou como uma joia preciosa. Tente perguntar ao seu futuro cunhado o que ele pensa sobre Lith. E quando fizer isso, olhe-o diretamente nos olhos e não o deixe mudar de assunto.
Tista estava prestes a rebater, quando a porta do escritório em casa se abriu. Ambas as mulheres viraram suas cabeças, descobrindo que não era um paciente, Lith havia retornado.
— Maninho! — Tista o recebeu com um abraço caloroso.
— Você não mudou nada!
Ele a abraçou com força, desejando poder beijá-la na cabeça, mas ela era sete centímetros mais alta que ele.
— Eu fui embora por um mês, não um ano! Ou você esperava que eu voltasse com cicatrizes da frente de batalha?
— Malvado! — Ela o empurrou com raiva falsa, dando um pequeno soco em seu ombro.
— Obrigado por tudo que você fez por mim, Mestre Nana. Eu não estaria na academia sem você. — Lith abraçou sua antiga mentora também.
Nana aproveitou o abraço por um momento, perguntando a si mesma se não tinha sido um erro escolher não ter filhos. Depois de sua queda em desgraça, ela se retraiu, evitando qualquer relacionamento significativo para não se machucar novamente.
Talvez fosse só a idade, ou talvez andar com aqueles dois pirralhos tivesse quebrado sua armadura. De qualquer forma, era tarde demais.
— Por que você está perdendo tempo com esse velho morcego? — Nana o repreendeu, cutucando-o na cabeça com sua bengala.
— Seus pais estão muito preocupados com você. Tista, você pode ter o resto do dia de folga. Traga-o para casa, use a força se for preciso.
Tista deu uma risadinha, pegando o braço do irmão antes de sair.
— Alguém se sente carente hoje. Desde quando você gosta de ser mimado? — Lith riu do gesto afetuoso.
— Desde sempre, duh!
Durante a caminhada, Lith notou muitos jovens mudando de direção repentinamente ou atravessando a rua.
Entre sua beleza, seu status e renda como futura curandeira da vila, Tista era uma das donzelas mais cobiçadas. Pouquíssimos se importavam com o fato de que ela ainda estava a dois anos da idade de se casar.
Antes da partida de Lith, a maioria estava com muito medo de se aproximar dela. Ele havia matado homens aos seis anos, uma besta mágica aos oito, e era infame por ser superprotetor de sua família.
Enquanto mães e meninas elogiavam sua determinação, isso causava medo nos corações dos pretendentes, que agora acreditavam finalmente ter liberdade com ela.
— Tem alguém em particular incomodando você?
Tista deu um de seus sorrisos radiantes que iluminariam uma sala.
—;Não, obrigado. Eu posso me defender. Além disso, eles são inofensivos.
— Você tem certeza? Acidentes acontecem. Você só precisa dizer a palavra.
Solus estremeceu. Apesar do tom casual e do sorriso brilhante, ele não estava brincando.
Tista não percebeu e riu da “piada”.
— Falando em acidentes, a vila ultimamente tem se tornado bem quieta. Eu temia que depois que você partisse, bandidos atacariam assim que Nana deixasse a vila. Em vez disso, a região inteira nunca esteve tão segura em anos.
Lith levantou uma sobrancelha em descrença. Não fazia sentido até que ele se lembrou das palavras de Linjos.
“Eu quase tinha esquecido que minha família está sob vigilância. Devo ter cuidado para não ser seguido quando eu realizar meus experimentos.”
Como eles falavam diariamente com o amuleto de comunicação, Tista perguntou a ele por que ele havia desaparecido nos últimos três dias. Lith contou a ela tudo sobre o exame simulado, deixando-a pasma.
— Cinco magos lutando juntos contra feras mágicas malignas? Que experiência! Aposto que vocês pareciam os heróis das histórias que o papai sempre nos contava quando éramos pequenos.
— Bestas mágicas não são más. Algumas são boas, outras más, assim como os humanos. E nós não parecíamos heróis, mais como adolescentes assustados. Além disso, eu sou péssimo com pessoas, e você sabe disso. Você não estava ouvindo ou está apenas tentando me bajular?
Tista deu outro soco no braço dele em resposta.
Quando chegaram em casa, Lith notou que os campos cultivados eram maiores do que ele se lembrava, havia trabalhadores rurais ajudando seus pais. Agora que todos os seus filhos tinham se tornado independentes, Elina e Raaz decidiram expandir o negócio da família.
Quando o viram, correram para o seu lado, abraçaram-no e choraram incontrolavelmente.
— Meu bebê, meu bebezinho está de volta. — Foi a única coisa que conseguiram dizer.
Lith se sentiu incrivelmente feliz e estranho ao mesmo tempo. Feliz pelo amor infinito deles, estranho porque ainda não tinha se acostumado e porque não sabia se merecia.
O verdadeiro Lith, o filho deles, havia morrido há doze anos, substituído por uma mente alienígena. Ele sabia que não era culpa dele. Ele não matou o bebê, nem os escolheu voluntariamente.
Claro, Orpal e Trion tinham se condenado com suas ações, mas foi a sobrevivência milagrosa do bebê que os levou a esses eventos. Lith se sentiu responsável por separar aquela família maravilhosa.
“Você não está esquecendo de nada?” Solus interferiu em seus pensamentos.
“Sem você, sua mãe poderia ter morrido no parto. Lembra-se de quão fraca ela estava na época? Se ela estivesse aflita, ela poderia não ter sobrevivido, deixando-se ir sem lutar.
Sem mencionar que não sabemos o que teria acontecido. Orpal poderia muito bem ter começado a mirar em Tista em vez de você, e nós dois sabemos como ela não seria capaz de se defender. Ela poderia ter morrido, seja por doença ou pelas mãos do seu irmão perturbado.
Posso facilmente vê-lo ensinando-lhe uma lição, resultando em sua condição piorando. Claro, ele mais tarde se desculparia e perceberia seu erro, mas ainda acho que ele teria sido deserdado.
Você de alguma forma o forçou a dizer todas essas coisas ruins para Tista, fazendo ela, sua mãe e Eliza chorarem o tempo todo? Você o manipulou para mandar aqueles cinco capangas te espancarem até virar polpa? Não. Foi tudo culpa dele, e ele pagou o preço.
É muito melhor ter dois filhos bons e saudáveis, em vez de um babaca cabeça quente e convencido. A única maneira que Orpal tinha de ser feliz era ser filho único.”
Conhecendo a natureza humana, Lith estava propenso a concordar com ela. Roubar a comida de um recém-nascido, sua necessidade obsessiva por atenção, eram todos indicadores de uma personalidade distorcida. Lith não havia perdoado Orpal, nem sentia pena dele. Apenas por sua família.
Sentir o abraço caloroso de Tista, vê-la segura e feliz, rapidamente dissipou as dúvidas que estavam nublando sua mente. Para salvar uma única Tista ou Eliza, valia a pena matar mil Orpals.