Capítulo Extra 41 - O 'Olho do Tigre' Ataca

O barco celeste chegou ao outro lado da repartida ilha flutuante. A avenida feita de pedras de mármore se revelava, parcialmente oculta pela névoa que começava a se dissipar. Aos poucos, os sinais da destruição emergiam causados pelas calamidades apareciam; os majestosos edifícios estavam reduzidos a ruínas e crateras apareciam em todos os lugares.

Um som profundo e ameaçador ecoou pelo ar. De repente, as pedras abaixo deles começaram a se mover, e vibraram como se ganhassem vida. Em um instante, um gigantesco rochedo se ergueu com violência e colidiu com o barco. O impacto brutal partiu a embarcação ao meio. Vítor foi lançado para fora da cabine, mas, num reflexo rápido, conjurou uma mão de névoa que o envolveu, e amorteceu sua queda.

Aterrissou no chão, e olhou para os lados, em busca de quem havia feito aquilo. Virou-se, e encontrou rostos familiares na sua frente. Os lacaios controlados pelo ‘Olho do Tigre’ estavam enfileirados, com sorrisos maliciosos no rosto, os encaravam como caçadores em busca de sua nova vítima, prontos para iniciar uma luta.

— Quem são esses? — Uriel pousou ao seu lado com um alto barulho de metal. O peso de sua armadura criou uma rachadura no chão ao aterrissar na avenida de mármore.

— “Olho do Tigre”. Não se preocupe, eu cuido deles… Será fácil. — Vítor avançou, decidido, enquanto atrás dele o barco era despedaçado por pedras que surgiam incessantemente do solo.

— Você é corajoso, garoto… Como ainda não se rendeu ao verdadeiro poder deste mundo? O “Olho do Tigre”? — rugiu o líder dos lacaios, um homem corpulento, de cabelos castanho-claros e olhos que cintilavam como safiras. Suas vestes de luta eram simples, mas faixas envolviam seus punhos, sinais de sua habilidade em combate corpo a corpo.

— Serei direto… Estou com pressa. Então, se puder sair do meu caminho… — Vítor invocou a névoa ao seu redor, e se preparou para a luta.

— Acho que não será tão fácil… — retrucou o líder ao sorrir com desdém.

De repente, um automóvel surgiu do nada, e avançou velozmente na direção de Vítor. Mas ele estava atento. No instante em que o veículo quase o atingiu, Vítor se dissolveu em névoa, e saltou para trás com precisão ágil.

— “Rodovia do Inferno”, uma técnica interessante, mas seus truques não são novidade para mim. — Ele reassumiu a forma humana, esticou as mãos e estralou os dedos com confiança. — Vamos lá, quem será o primeiro?

— Avancem, façam nosso mestre se orgulhar… — ordenou o líder ao apontar para Vítor, enquanto as fileiras de heróis corrompidos investiam com suas armas prontas.

Antes que pudessem sequer alcançar o Senhor da Névoa, uma chuva de destroços do barco celeste despencou sobre eles, a vanguarda foi exterminada com o ataque. E não foram apenas escombros que caíram.

— Achou mesmo que ia nos deixar de fora da luta? — rugiu Otaviano, ao aterrizar com força sobre um dos inimigos e esmagá-lo contra o chão.

Não só ele, mas todos os outros membros de elite da Dragões do Sol, e também da guilda dos Imortais, desceram do céu, diretamente do barco celeste para o campo de batalha. A careca dele brilhava com a aura branca que ele emanava, a cada momento seus músculos saltavam e marcavam a camisa, que podia se rasgar a qualquer momento.

“Idiotas, podem me ajudar se quiserem, sua ajuda é bem-vinda”, pensava Vítor ao ver os membros de elite da Dragões do Sol se unirem com ele para lutar contra um inimigo em comum. Zoe flutuava no ar, logo acima do campo de batalha, cercada por esferas negras do tamanho de uma bola de futebol.

— Se eu tivesse um coração… — murmurou ela com um suspiro melancólico, enquanto as esferas negras desciam em espiral sobre os inimigos. Assim que tocaram o solo, começaram a girar rapidamente, e criaram um vórtice poderoso que sugava tudo ao redor. Qualquer coisa que estivesse ao alcance, pedras, destroços, armas e até os oponentes, foi tragada para dentro do vazio negro das esferas.

Então, num instante, o giro das esferas mudou de direção. Com um rugido ensurdecedor, elas explodiram para fora, em uma liberação avassaladora de tudo o que haviam absorvido em uma onda devastadora de energia. O impacto foi tão forte que os destroços e corpos foram arremessados com violência, e os sobreviventes do primeiro ataque foram exterminados com o segundo ataque.

— Poderosa, mas é párea para mim? — Uma garota asiática se colocou a frente das fileiras de elite inimigas, reunidas ao redor do líder, e desafiou Zoe para uma luta.

— Com toda certeza, pirralha — afirmou Zoe, ao lançar mais e mais esferas negras sobre o campo de batalha.

Otaviano, ao lado de uma jovem espadachim que mal chegava à metade de sua altura, enfrentava as ondas de inimigos que avançavam sem trégua. Seus punhos esmagavam armaduras e ossos, enquanto a garota se movia com agilidade, desviando dos golpes e cortando os inimigos com sua espada. Atrás deles, a irmã gêmea da sua companheira dava suporte de fogo, com flechas mortais que seguiam os inimigos.

— Preciso chegar ao cofre celestial, podem cuidar deles pra mim? — questionou Vitor para Uriel.

— Sem problemas amigo. — Uriel não pode deixar de se alegrar com o pedido, sem saber as implicações de ajudar Vítor.

— Ficarei te devendo uma. — Vítor juntou sua névoa e saltou por cima dos inimigos, com uma aterrissagem perfeita atrás das linhas inimigas, diretamente no outro lado do campo de batalha.

— Mas o quê? Peguem ele! — O líder inimigo se virou, e logo investiu contra Vítor.

Uriel lançou uma rajada de luz da sua lança, em instantes, os oponentes próximos a Vítor foram evaporados.

— Lutem contra mim primeiro, depois vocês podem atacar o meu amigo. — Ele bateu a lança no escudo, em um grito de guerra.

— Será um prazer presentear o ‘Olho do Tigre’ com a sua morte! — O oponente girou os braços, e uma bola azul de energia voou até Uriel.

O paladino defendeu levantou o escudo e defendeu o golpe. Abaixou o escudo e observou seu oponente lançar outras bolas de energia, nenhuma na direção dele, parecia que ele as lançava aleatoriamente no ar.

— Vamos começar! — Em um movimento tão rápido, incapaz de ser captado por um olho humano destreinado, o lutador desapareceu no ar e deu um chute voador no exato local que o escudo havia bloqueado a bola de energia.

Uriel não era qualquer herói, apesar de ter chegado recentemente a Testfeld, havia treinado diariamente, era alguém dedicado, faminto por poder. Ele conseguiu ver o oponente se aproximar, e entrou em uma posição de defesa para minimizar o impacto sobre o seu corpo. Apesar de sua postura, o golpe ainda o empurrou por diversos metros.

— É… não sou o único que tem talento — Uriel sentiu o desejo de batalha arder dentro de si, e aquele inimigo era um forte adversário a ser derrotado.