Capítulo 52 - Domo
Davi conduziu o grupo por ruas estreitas e becos sombreados, evitando as avenidas principais onde a presença do Conclave era mais evidente. Enquanto caminhavam, Koji, Saik, Tovah e Nahome começaram a discutir as possíveis consequências de enfrentar os portadores do Conclave.
— Não sei se estamos prontos para isso — Koji olhou para Davi com preocupação — A batalha com Alaric foi difícil. Ele parecia invencível.
Saik não discordou — A técnica do Alaric era mais ampla que a nossa, só não morremos porque fomos salvos pelo Spherea. Se o Conclave tiver mais pessoas assim, estamos complicados.
Tovah cruzou os braços, sempre calmo — Precisamos ser estratégicos. Não podemos simplesmente invadir o esconderijo deles sem um plano sólido.
Nahome, pragmático, acrescentou — Além disso, o Conclave parece não diminuir. Cada dia que passa, eles demonstram estar maiores do que imaginamos. Precisamos pensar em como minimizar os riscos antes de qualquer confronto direto.
Davi continuou guiando o grupo até que pararam em frente a um terreno de mato alto, semelhante aos terrenos abandonados de uma cidade grande. Ele olhou para os quatro.
— Está aqui — disse Davi, apontando para o terreno — É aqui que o Conclave está escondido.
Nahome olhou para o matagal com desconfiança — Isso parece mais um terreno abandonado. Por que estamos confiando nesse menino mesmo?
— Porque vocês não têm outra escolha. Venham logo.
Koji decidiu seguir adiante — Melhor do que ficar aqui sem fazer nada.
Davi começou a adentrar o matagal, seguido relutantemente pelos quatro. O mato era denso e difícil de atravessar, mas Davi parecia conhecer cada atalho e esconderijo. Após alguns minutos, eles chegaram a um ponto onde Davi parou e se ajoelhou.
— Aqui — ele disse, colocando as mãos no chão em uma posição estranha. Com um puxão firme, uma porta subterrânea foi revelada, quase invisível entre a vegetação.
— Bem escondido — Nahome murmurou, observando a abertura com atenção.
— Vamos lá — Koji incentivou, dando o primeiro passo em direção à porta.
— Cuidado — Tovah alertou, mas logo seguiu Davi.
Nahome hesitou por um momento antes de seguir, enquanto Saik dava uma última olhada ao redor, certificando-se de que ninguém os observava.
Eles desceram uma escada estreita e mal iluminada, seguindo Davi até chegarem a uma pequena morada subterrânea. A luz laranja simples iluminava uma sala modesta com duas camas, um armário de cozinha cinza e um banheiro no canto.
— Isso é incrível — Koji olhou ao redor — Como vocês conseguiram esconder algo assim?
— Foi meu pai quem construiu com pressa — Davi explicou — Quando o Conclave começou a chegar, ele sabia que precisávamos de um lugar seguro.
— O que aconteceu com eles?
Davi respirou fundo antes de responder a Koji — Meus pais foram levados pelo Conclave para o Domo.
Saik, que até então estava em silêncio, entrou na conversa — Domo? O que é isso?
Davi apontou para um espaço apertado no fundo da morada subterrânea onde um aparelho estranho estava instalado — Vejam ali. Esse é o telescópio adaptado. Para monitorar a cidade.
Koji caminhou até o aparelho, ajustando a posição para ter uma visão clara. Após alguns momentos, uma imagem surgiu na tela; era um Domo de energia que brilhava no horizonte, a quilômetros de distância.
— Saik, olha isso — Koji chamou, apontando para a tela.
Saik aproximou-se para observar também — O que você acha que eles estão fazendo lá? — a sua pergunta foi totalmente ignorada.
Koji voltou a olhar para Davi — Por que os seus pais foram levados para dentro daquele Domo?
— Não sei também. Tudo o que sei é que eles foram levados para dentro do domo e nunca mais voltaram.
Tovah então perguntou — Até onde sabe, só você conseguiu escapar de ser capturado?
Davi respondeu com um simples — Sim.
— Como você fez isso? — insistiu Koji.
— Conheço bem a cidade. Sei onde se esconder e como evitar os olhos do Conclave.
— E o Domo? — Saik repetiu sua pergunta, antes ignorada, para Davi, voltando a atenção para a tela — O que exatamente está acontecendo lá?
— Eu não sei.
— E em qual canto da cidade está esse domo?
— No centro da cidade. É onde o domo está localizado.
Nahome olhou para os quatro — Precisamos nos aproximar do Domo sem sermos notados. Se formos vistos, o Conclave pode nos eliminar antes que possamos agir.
— Concordo — Tovah disse, pensando alto — Precisamos de um plano para nos infiltrar sem chamar atenção. Talvez usando as sombras e os túneis subterrâneos da cidade.
— E se alguém nos vir como portadores do Conclave antes de conseguirmos chegar ao domo? — acrescentou Koji, com certa preocupação.
— Precisamos ser rápidos e eficientes — Saik respondeu — Não podemos perder tempo.
Davi então perguntou a Koji — Você consegue sentir algo do Conclave?
— Isso não é da minha alçada. Não tenho essa habilidade.
Mas Saik logo interveio sobre o questionamento do garoto.
— Eu sim consigo. Mas no momento, não sinto nada relacionado a um portador. Talvez isso tenha a ver com a importância do domo.
Enquanto conversavam, a noite começava a cair sobre Cuiabá. A morada subterrânea estava tranquila, cada um ocupando seu espaço; Davi com fome, fazendo uma comida no fogão, Nahome de pé encostado na parede, Tovah em um colchão no chão, Saik observando o aparelho e, Koji estava deitado de barriga para cima em uma das camas.
De repente, Davi, distraído com as panelas no fogão, acabou derramando um pouco de óleo, que pingou sobre sua pele, causando uma pequena queimadura. Ele se assustou e soltou um grito baixo.
— Droga! Você pode me ajudar? — exclamou o menino, retirando a mão que segurava a panela e falando para o Tovah.
Tovah levantou-se do colchão no chão e foi até Davi — Ajudo sim.
Enquanto Tovah ajudava Davi a limpar a queimadura com um pano branco, ele provou uma das panelas — Não está tão bom. Falta mais sal.
— Dá uma olhada naquele armário pequeno — Davi apontou — Não tem sal. Vou precisar que dois de vocês vão lá fora atrás de sal.
— Quem vai? — Koji perguntou, olhando para Saik.
— Acho que você e eu devemos ir — Saik respondeu sem hesitar.
— Por mim, de boa.
— Espera, eu também posso ir — Tovah sugeriu, mas Nahome logo interveio, gesticulando negativamente com a mão esquerda — Deixa os dois irem. Nós vamos ficar para cuidar daqui — ele disse.
— Tem um mercadinho a um quarteirão daqui. Eu vou, aí vocês não perdem tempo procurando — Davi ofereceu.
— Tudo bem — tanto Koji quanto Saik concordaram tranquilamente.
Eles saíram na noite, com as luzes dos postes lançando sombras longas nas ruas desertas, até que chegaram ao mercadinho. As vitrines estavam iluminadas, mas algo parecia errado. Os clientes caminhavam de maneira robótica, e os atendentes moviam-se com lentidão estranha.
— Vamos rápido — sussurrou Davi, em meio ao ambiente tenso.
Dentro do mercado, não havia ninguém, apesar da energia ligada no local, até mesmo nos freezers. O garoto foi atrás do sal, pois já sabia onde estava, enquanto Koji e Saik ficaram na porta, somente esperando.
— Isso aqui parece cenário de filme de terror — comentou Koji, com os braços cruzados e encostado no lado direito da porta do mercadinho.
Saik soltou um riso baixo, mas sem humor — Você seria o primeiro a morrer.
Koji estreitou os olhos para ele — Engraçado. Quem lutou contra Alaric quase sozinho foi você, e olha como terminou.
— Aquilo foi necessário. E se não fosse por mim, você teria sido esmagado por aquelas partículas dele.
Davi voltou com três sacos de sal nas mãos e interrompeu a conversa — Vocês dois brigam sempre assim?
Koji sorriu de lado, enquanto Saik respondeu sem entusiasmo — Não. Essa é a primeira.
Depois de alguns minutos de tensão, conseguiram pegar o sal e sair do mercado sem chamar muita atenção. As ruas estavam ainda mais silenciosas quando retornaram à morada subterrânea.
O caminho de volta foi tão silencioso quanto a ida. Os três se mantinham em alerta, mas nada de suspeito aconteceu. Quando chegaram à morada subterrânea, encontraram Nahome e Tovah exatamente como haviam deixado; Nahome encostado na parede, mexendo em um dispositivo de comunicação, e Tovah ainda sentado no colchão improvisado no chão..
Davi foi direto para o fogão, adicionando o sal à comida enquanto os outros se acomodavam novamente.
— Não foi tão ruim lá fora, afinal — comentou Koji, jogando-se na cama.
— Talvez tenha sido sorte. Ou talvez a coisa fique feia nos próximos dias — respondeu Saik, voltando ao telescópio improvisado para observar o Domo ao longe.
Tovah levantou-se com um suspiro exagerado e foi ajudar Davi no fogão.
— Vocês podiam se oferecer para ajudar em vez de mandar a criança fazer tudo sozinho — criticou ele, enquanto pegava um pano para limpar a pequena bagunça que o garoto tinha feito.
— Se o Davi pediu ajuda, é porque confia em você, Tovah — provocou Nahome, sem desviar os olhos do dispositivo que manuseava.
Tovah riu baixo, balançando a cabeça, e Davi experimentou a comida novamente e fez uma careta.
— Acho que agora tá bom. Pelo menos não tá tão ruim.
Koji levantou uma sobrancelha — Não tão ruim? Espero que esteja sendo modesto.
O garoto deu um leve sorriso antes de começar a servir porções para todos. Enquanto comiam, Nahome trouxe à tona um ponto que ninguém queria mencionar.
— Amanhã, a gente precisa decidir como vamos abordar o Domo. Não dá pra ficar aqui muito tempo.
Tovah concordou, olhando de soslaio para Koji e Saik — Precisamos de um plano. Se aquilo for o centro do Conclave, é provável que esteja cheio de drones e portadores.
Koji, ainda mastigando, comentou — Não podemos nos mover sem saber como entrar. Além disso, não sabemos o que tem lá dentro.
Saik, do outro lado, parecia concentrado. Ele finalmente falou — Pode ser que o Domo seja mais do que só um centro de operações. Se não sinto nenhum portador por perto, talvez o Domo esteja suprimindo ou mascarando presenças.
Davi, sentado em um canto, ouviu tudo atentamente. Depois de um momento, ele perguntou.
— Vocês acham que vão conseguir?
Os quatro trocaram olhares. Foi Nahome quem respondeu — Vamos salvar a sua irmã, achar seus pais e acabar com o Conclave. Isso tudo e um pouco mais, precisaremos fazer rapidamente para que eles não tenham tempo de reação suficiente… Talvez assim, conseguiremos uma vantagem inicial…
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