Dalia não era apenas uma Oficial em comando, era a própria Oficial em pessoa. Assim que pisou na Capital Decaída, Capitães e Tenentes vieram ao seu encontro. Cada um vestindo o branco, a cor origem que dava segmento na cadeia de comando. Com papeis e relatórios sobre as movimentações dentro e fora dos limites que tinham.

    Dante continuou seguindo, ouvindo sem entender muito dos ataques recentes aos Lagmoratos, mesmo sabendo que era um lugar importante por conta da rixa de posição. Lembrava que seu pai tinha dito, muitos anos atrás, quando começou a treinar que os Lagmoratos eram a parte principal da batalha, e que o foco do treino era para permanecer dentro dele.

    Nunca entendeu de fato porque nunca tinha visto um desses lugares, mas vendo sua importância, não poderia vacilar se estivesse em um.

    — Vamos tomar um caminho mais curto até a Retino — disse Tecno apontando para uma rua a esquerda. Menos movimentada, e sem carruagens. Dante esperava uma tecnologia mais reforçada pelas histórias que ouviu. — E ganharemos tempo com os relatórios feitos. Senhora, como quer proceder com os problemas recentes?

    — Piratas e bandidos são prioridade dos guardas de dentro da Capital — respondeu Dalia. — Não penso em tomar esse problema nosso. As infantarias estão sendo testadas porque tivemos que sair por algum tempo. Felizmente, tivemos sorte.

    Freto e Crish ergueram seus dedões para Dante mais uma vez, orgulhosos. Eles são bem diferentes quando estão lutando.

    — Temo que nosso principal objetivo vai ser trazer os mineradores de volta — continuou Dalia. — Se o que nos mostraram está correto, então temos dois problemas. A extração está sendo violada por alguma coisa, e o lugar está em rixa.

    A última parte não agradou nenhum dos ouvintes.

    — Precisamos ir de imediato — concluiu Freto. — Os mineradores podem correr perigo se ficarem lá.

    — Acalme o coração. — Dali fez outra curva. A rua se mostrou extensa, e bem no final, uma cúpula de mármore com um mastro em bandeira vermelha no topo. — Dante precisa fazer a inspeção primeiro. Tomaremos caminho assim que tudo estiver terminado. Ele será testado em rixa e combate com os outros cadetes, para vermos sua colocação corporal. Depois disso, partiremos.

    A cúpula era duas vezes maior perto. Debaixo dela era quase impossível ver sua curvatura, e o mármore era tão grosso que dava para sentir a frieza mesmo alguns metros de distância. Dalia se apresentou a um dos Cabos do dia, e entraram.

    Internamente, o lugar inteiro parecia pintado a bronze, com um imenso lustre no teto, e com poucas luzes as paredes. O sol parecia irradiar dentro, criando uma leveza e claridade natural. Dante não queria ficar impressionado, mas sua cara não facilitava muito.

    Os demais sorriram ao vê-lo animado.

    Dali os guiou até onde um Sargento chamado Marques esperava.

    — Ficha externa — disse o Sargento entregando sem encarar Dalia nos olhos. — Deixe que ele preencha os dados, senhora. Terminando, pode seguir para o campo. Ele vai ser testado no que a senhora decidir.

    A prancheta foi pega e dada a Dante.

    — E o que eu pedi a senhora, conseguiu? — Marques falou mais baixo ainda olhando os papéis em sua mesa.

    — Já está sendo posto em sua conta.

    Marques agradeceu e Dalia deu as costas. Dante não comentou nem nada, estava colocando suas informações pessoais. Agarrou na aba idade, e bufou.

    — Não quero colocar quantos anos tenho aqui. É falta de educação.

    Sua voz chegou ao Sargento que apenas esticou a mão, e riscou a pergunta.

    — Cortesia para a Oficial. — Ele ainda não tinha erguido a cabeça, mas Dante agradeceu de qualquer jeito devolvendo a prancheta. Marques analisou e repassou para outro canto. — Tenho certeza de que está pronto para ir pro campo, mas temos procedimentos. Lagmorato é uma estadia onde os Felroz e nós temos conflitos faz mais de um século. Deve ter ouvido muito sobre esses rumores. Nossa tecnologia atual recria um campo de batalha com outros cadetes para que possamos averiguar mais o limite do que cada um pode alcançar. Esse problema é remetido justamente porque quando estamos enfrentando essas criaturas medonhas, elas não atacam sem pensar. No portal a minha esquerda, vai ser colocado a prova contra elas. Permanecer ou não dentro do campo é uma decisão sua, mas não espere nada fácil.

    — Está na hora, então — disse Dalia a Dante. — Se quiser passar, fique o máximo que puder. Posso ter escolhido você, mas não quer dizer que aceitarei qualquer resultado. Não precisa vencer, mas não seja derrotado de maneira ridícula. Estaremos todos observando.

    Marques soltou um sorriso leve, e esticou a mão para a esquerda.

    — Por favor. Espero seu retorno.

    Dante foi entrando quando Tecno o parou, rindo.

    — Ei, vai entrar de mãos vazias? — A pergunta deixou Dante um pouco perdido. — Mesmo que seja uma simulação, são Felroz ainda. Você pode escolher alguma arma que achar necessário. Já deve ter usado alguma antes, certo?

    Dante concordou.

    — Usei bastão e espadas de madeira. — Seu pai sempre batia nele quando era mais novo por causa disso. Se eles soubessem o quanto apanhou, nem ligariam de perguntar de armas. — Mas prefiro usar o braço mesmo.

    Tecno achou divertido, mas negou na hora. Ele foi até um dos balcões e puxou de dentro um bastão de ferro. Ele girou no dedo algumas vezes e jogou. Dante o segurou.

    — Mesmo que seja confiante, não se deixe levar por ela. Precisa estar na sua melhor performance. Agora, vai. Quero ver você em ação de novo.

    Dante acenou agradecendo e entrou rapidamente. A luz do outro lado foi uma opaca, se tornando verde em seguida, depois seguindo para o azul. Ele pisou em algo fofo, com um ar calorento, e respirou fundo sentindo um imenso cheiro de terra molhada.

    Seus olhos foram se acostumando, tomando o formato de uma planície com inclinações e planaltos menores ao longo do espaço.

    Ele abaixou e tocou o solo. A grama era real, o cheiro também. Ele viu outras pessoas aparecendo, mas nada impressionadas. Armas em mãos e rostos determinados. Dante não se levantou e pediu informações de Vick.

    Com base no que está vendo, tudo está inclinado para uma batalha direta. Aconselho a se manter dentro da área designada para que consiga manter a rixa ativa”.

    — Vai ser da seguinte forma. — Uma mulher passou a frente de todos e apontou adiante. — Já fiz isso cerca de dez vezes. Vamos vencer de maneira certa. Os Felroz vão vir de todas as partes, então temos que mantê-los fora da área. Vocês podem observar no céu a numeração.

    Dante ergueu o olhar. Havia uma tela, algo grande, marcando 30% em azul.

    — Nós somos o azul — a mulher continuou. — Se sairmos da área, esse número cai. Se eles entrarem, nós perdemos. Se morrermos, nós perdemos. Os novos cadetes, precisam estar sincronizados com a gente. A simulação é mais tranquila do que uma batalha normal, mas não se deixem levar. Aquelas merdas não veem a gente, mas nos escutam.

    A numeração em azul caiu para 29%, e Dante franziu o cenho. Ninguém saiu da área.

    — Quanto mais deles tiverem, menos pra gente — a mulher explicou aos rostos confusos pela nova numeração. — Precisamos caçá-los. Agora, vamos.

    Dante viu os cadetes todos seguindo a mulher. Ela usou algum tipo de habilidade que aumentava a velocidade deles. Começaram a chegar mais para o meio quando um imenso barulho soou da esquerda. Uma explosão no solo, a criatura saiu com sua boca aberta, cheia de dentes, a língua balançando de um lado para o outro, e os quatro braços desesperados para escapar do chão. O cadete mais perto caiu sentado, tremendo quando o braço do Felroz se transformou em uma garra.

    O peito dele foi atravessado na hora. Ninguém teve tempo de fazer nada.

    Dante abriu a boca. O tamanho da criatura, sua força, até sua velocidade. Estava muito fora do que estava nos livros. As batalhas que ouviu do seu pai, sobre a fúria, sobre a desordem, até mesmo as guerras. Os contos dos soldados que se enfiaram para salvar as pessoas. A força de vontade para aqueles que se mantiveram dentro do Lagmorato para que a civilização pudesse expandir.

    A Capital era a última parte que combatia esses monstros.

    Isso não era mais do que motivador? Dante fechou a mão lentamente em torno do bastão, seus olhos arregalados encarando a criatura se libertar rapidamente do gelo lançado em seu peito.

    Todo o seu treino foi para isso…

    Ele soltou uma risada, e virou o braço inteiro para trás, ajeitando a postura.

    — Vamos ver até onde eles aguentam esse velho. — Não importava mais, ele seria um novato veterano. Estava decidido.

    O bastão passou o ar num piscar de olhos e explodiu o peito do Felroz de uma só vez. Dante não deixou aquilo barato e tensionou as pernas. A energia foi liberada e ele saltou para frente, encurtando o espaço de uma só vez. A criatura ainda balançava os braços, cuspindo sangue, e tentando encontrar alguma vítima. Dante segurou um dos braços, fez o movimento para baixo e a enfiou contra o solo. Num pisão, quebrou o braço endurecido dela e enfincou contra a cabeça dele.

    O Felroz parou de se mover.

    Dante pegou o bastão que tinha jogado e encarou a outra ponta.

    — Tem mais vindo.

    — Ei, você. — A mulher gritou apontando o dedo. — Não faça mais isso. Quer nos matar?

    — Ah, cala a boca. — Dante virou de costas. — Sai fora.

    O rosto dela ficou extremamente vermelho. E ergueu a mão, mas Dante reagiu com o bastão.

    — Se levantar a mão para mim, eu acabo com você também. — Deu uma risada bem quebrada. — Quer testar, jovenzinha?

    O velhote foi se distanciando. E os cadetes ficaram bem assustados pela forma como ele tinha dito. Independente se ele tinha acabado ou não com um dos Felroz sozinho, sua índole não era das melhores. E isso foi reforçada quando a mulher tremeu na base e recuou.

    Do lado de fora, Dalia e os demais observavam.

    — Ele acabou com aquele sozinho mesmo — disse Tecno, impressionado. — Dar o bastão pra ele foi bom.

    — Não importa a arma, ele pode fazer aquilo com as mãos nuas. — Dalia não descruzou os braços. — Eu quero saber qual a sua fraqueza.

    Os três olharam para a Oficial ao mesmo tempo.

    — Fraqueza? — a pergunta parecia idiota saindo da boca de Freto. — Por que está procurando por isso?

    — Todos nós temos uma. Mesmo que estejamos melhorando nossa tecnologia, ainda precisamos saber qual a nossa principal fraqueza. Ele gosta de batalhar, deve ter vivido uma vida inteira treinando contra pessoas, mas agora mostrou que não tem importância se for um monstro. Ele destruiu um Felroz simulado em questão de segundos. Velocidade, força, mentalidade, capacidade. — Dalia fez uma pequena pausa olhando mais concentrada. — A habilidade dele converte energia cinética, então pode sobrecarregar se chegar ao máximo. Por isso ele tem costumes estranhos como coçar a própria mão ou estalar os dedos do nada.

    Era impressionante o fato de Dalia ter conseguido perceber algo tão trivial. Tecno achou divertido.

    — Está mesmo interessado nele, senhora.

    — Um bom guerreiro. Se ele apenas se baseia no uso da individualidade, então não deve ter aprendido a batalhar com armas, por isso não queria uma. — Os dedos da Oficial arrastavam sobre a própria malha. Ela queria saber o que era. — Me mostre onde você peca, Dante.

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