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    Harley se viu novamente no ‘Local Proibido’, retornando precisamente ao momento em que Sergio pressionava o botão para a destruição do equipamento que possuía. 

    Em um instante aterrador, o jovem Ginsu percebeu que tinha voltado apenas alguns segundos antes da explosão iminente, exatamente no ponto onde seu bracelete, construído por Doravan, iniciava o procedimento fatal. 

    A raiva pela nova impotência o envolvia. O vaticínio da ‘Dimensão da Morte’ soava agora absoluto, confirmando que não havia tempo para mudar o curso de seu destino.

    Explosões iluminavam o caos ao redor de Harley, mas ele não desviava os olhos do bracelete. A luz pulsante da peça parecia sincronizar-se com o terror que anunciava. Pequenos flashes de luz escapavam pelas fissuras da estrutura, o prenúncio de algo terrível. 

    A tecnologia de obliteração descrita por Doravan em tons neutros agora era uma verdade incômoda, viva e pulsante em seu braço. Não havia mais especulações: a morte estava presa a ele, tão firme quanto os elos que não conseguira quebrar.

    Harley inspirava e expirava em desespero, a contagem regressiva esmagando cada segundo. O pânico descia por ele, traçando caminhos invisíveis em seu corpo. Em sua mente, fragmentos de memórias ecoavam. 

    A lembrança da voz de Doravan invadia sua mente, um sussurro sinistro que trazia consigo o presságio ruim:

    “Se ela vibrar ou mudar de cor, livre-se dela o mais rápido possível.” 

    Mas ele não conseguia encontrar uma forma de se livrar da maldita coisa. Ofegante, Harley pressionou a adaga contra o bracelete, ignorando a dor latejante que irradiava do pulso. A lâmina escorregava inutilmente sobre a superfície lisa e sólida, sem rachaduras, fechos ou qualquer ponto de fraqueza. 

    Mesmo ao cravá-la com força, abrindo um fino corte que tingia seu braço de sangue, o bracelete permanecia intacto. 

    Impaciente, e ciente de que o tempo se esgotava, Harley golpeou a peça com renovado desespero, cada movimento mais frenético que o anterior. A superfície parecia viva, repelindo qualquer tentativa de remoção, agindo como se fosse uma extensão natural de sua carne.

    Nenhum esforço fazia diferença. Por mais que tentasse, nem um traço de dano surgia no bracelete, sua superfície permanecendo inviolável, sem ceder nem ao menor arranhão. 

    Enquanto isso, a luz piscava com intensidade crescente, marcando, implacável, uma contagem regressiva silenciosa para a destruição iminente.

    Ele sabia que tinha negligenciado o perigo. A voz irritante do próprio subconsciente o repreendia: 

    “Você teve tempo, Harley. Você poderia ter tentado antes, investigado mais, insistido mais.” 

    O jovem Ginsu sabia que no caos da missão, na constante luta pela sobrevivência, o bracelete tecnológico construído por Doravan havia se tornado um fardo silencioso, quase esquecido. 

    Agora, porém, era impossível ignorá-la. As luzes piscantes estavam mais intensas, presas a um relógio que se negava a seguir adiante, com os segundos finais se esticando, carregando o peso de uma condenação iminente.

    Harley parou por um instante, absorvendo o horror ao seu redor: explosões continuavam rasgavam o ar incessantemente, enquanto o chão estava coberto de cadáveres e membros desfeitos de seus companheiros de missão, expostos como ecos macabros de um pesadelo tangível, a cena refletia a violência irrefreável da destruição.

    No vazio do Local Proibido, as rochas flutuavam, inanimadas, marcando a proximidade de um fim certo.

    Harley, ofegante e cercado pelo caos, ergueu os olhos apenas para encontrar Sergio Romanov, que ria triunfante.

    — Aposto que Doravan não explicou isso direito, não é? — Sergio riu, apontando para o bracelete no pulso de Harley — Está demorando para explodir porque está se preparando. Carregando energia para algo que vai fazer qualquer outra arma parecer uma piada. Isso aí? Não é só destruição. É o apocalipse encapsulado no seu pulso.

    O jovem líder do Clã dos Dragões de Sangue fez uma pausa, inclinando-se levemente, como se cada palavra fosse um golpe de destino, moldando o futuro de todos presentes.

    — Quando ele explodir, vai causar uma fratura dimensional. O choque não vai só destruir o ‘Local Proibido’. Ele vai rasgar a barreira que separa as realidades. Mundos inteiros serão expostos ao colapso.

    Sergio riu novamente, enquanto Harley sentia o peso esmagador da revelação. O bracelete em seu pulso parecia pulsar mais intensamente.

    — Bases secretas e áreas reservadas para pesquisas e explorações privadas deixaram de existir aqui. Pelas simulações de Doravan, metade do Mundo Mágico será transformado em um grande ‘Local Proibido’ onde todos poderão ter acesso — continuou Sergio rindo. 

    Harley apertou os punhos, o bracelete pulsando em um ritmo que parecia acelerar a contagem regressiva. Ele não morreria sozinho, disso tinha certeza, mas algo o incomodava:

    “Que razões obscuras teriam levado Doravan a confiar em Sérgio para algo tão crucial? Quais ganhos escondidos um rival tão sagaz esperaria colher de uma destruição inevitável? Ou seria tudo parte de um plano meticulosamente arquitetado por Doravan?” 

    O jovem Ginsu finalmente enxergava a traição: o que antes era uma sombra discreta agora se mostrava tal qual uma verdade inevitável. Doravan o usara como um artifício disfarçado, uma bomba ambulante embutida em seu próprio ser, pronta para detonar no momento perfeito.

    O olhar do velho professor voltou à mente de Harley, junto com a memória de sua própria hesitação em examinar as repercussões do uso das armas. Ele o enganara, não por malícia, mas por pragmatismo. O jovem Ginsu era descartável.

    Seu braço começou a formigar, dispersando seus pensamentos, enquanto o calor do bracelete aquecia seu pulso.

    O som de algo se rompendo fez seus olhos se arregalarem: pequenas rachaduras começaram a se espalhar pelo bracelete, liberando um brilho azul-esbranquiçado. Ele sabia o que isso significava. 

    Inesperadamente, a Energia Sombria, começou a se mover. No fundo de sua consciência, Harley sentiu um tremor, uma ondulação, sinal de que algo havia acordado após uma longa espera.

    O braço substituto, formado pela mesma energia, reagiu primeiro, irradiando faíscas negras que se entrelaçavam com o brilho mortal do bracelete em seu pulso. Ele caiu de joelhos, sentindo a luta começar dentro de si.

    Era uma batalha interna, feroz e primitiva. A explosão tentava se expandir, consumir, enquanto a Energia Sombria resistia, tentando conter o colapso. Harley não entendia completamente a lógica por trás disso, mas sentia o instinto da Energia Sombria: ela era atraída pelo quebrado, pelo imperfeito. E naquele momento, o bracelete era tudo isso.

    O chão ao redor começou a tremer, e Harley sentiu o peso do fardo. Ele não tinha controle sobre a Energia Sombria. Ela era uma força caótica, imprevisível. Mas, ao mesmo tempo, ela parecia entender o que estava em jogo. 

    As faíscas negras penetraram no bracelete em seu pulso, infiltrando-se em suas rachaduras. Era um ato de possessão, um predador reivindicando algo para si.

    A pressão em seu braço era insuportável. Harley gritou, um som primal que ecoou no vazio ao seu redor. Seus pensamentos estavam fragmentados, e ele não conseguia mais discernir onde terminava seu corpo e onde começava a Energia Sombria, fundindo-se com sua essência.

    Aquela sensação esmagadora se tornava mais clara a cada segundo fazendo esquecer de tudo a sua volta, e ele agora sabia: não foi uma coincidência. Não foi um caso fortuito ou único. A energia havia se fundido à sua adaga prateada no passado, e o mesmo destino voltava a se repetir. 

    “Não posso falhar” — o pensamento ressoou dentro de sua mente, implacável. E, mesmo no meio da luta, sua concentração não vacilava. Reafirmou para si mesmo, com raiva ardente e uma determinação implacável:

    “Não vou deixar o Sergio vencer, nem permitir que o plano do Doravan se complete”

    O tempo parecia desacelerar. Harley viu imagens de sua vida passarem diante de seus olhos: rostos de aliados caídos, momentos de triunfo e fracasso, e finalmente, a lembrança do aviso de Doravan, ecoando com ironia cruel. 

    Ele se perguntou se era o fim. Se sua consciência seria apagada no instante em que a explosão fosse contida. Ou se não houvesse nada para conter.

    Então, um clarão negro explodiu de seu braço.

    Finalmente a Energia Sombria engoliu o bracelete tecnológico por completo, suas faíscas devorando o brilho azul e transformando-o em um espectro de sombras. Harley sentiu seu corpo estremecer com a transferência de energia. 

    O bracelete se desintegrava e se reformava ao mesmo tempo, suas peças se amalgamando com o braço de Energia Sombria.

    Quando o brilho cessou, ele olhou para baixo e viu algo novo: o bracelete não estava mais lá. Em seu lugar, um aro negro pulsava suavemente, uma extensão viva de sua própria carne.

    O jovem Ginsu nem havia reparado. Sua concentração estava voltada para conter aquela força avassaladora, mas, sem saber, havia criado uma densa neblina sombria ao seu redor. 

    Algo dentro de si, talvez a própria Energia Sombria, parecia ter se manifestado de maneira instintiva, formando uma camada protetora facilitando o processo de assimilação do bracelete tecnológico.  

    Foi apenas quando a pressão começou a ceder e a neblina escura foi desaparecendo diante de seus olhos que ele compreendeu, de forma vaga, a proteção e o ocultamento que aquela neblina misteriosa lhe havia proporcionado.

    Harley caiu para trás, exausto, sentindo o mundo girar ao seu redor. Ele sabia que ainda não estava seguro, que o Local Proibido continuava a ser uma ameaça, mas por um breve momento, ele permitiu que a vitória preenchesse seu peito. Ele havia sobrevivido. Contra todas as probabilidades, havia resistido.

    Mas o preço ainda não estava claro.

    A voz de Sérgio Romanov irrompeu, selvagem e cheia de raiva:

    — Bravo! Novamente você me surpreendeu. Agora terei que eliminá-lo com minhas próprias mãos.

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