Índice de Capítulo

    — Entendo. Se você acha melhor, senhora. — Tecno abaixou a cabeça de relance e saiu da casa dos Oficiais na direção de Dante. Encontrou com ele sentado do lado do sopão de soldados. A panela gigante era mexida pelo cozinheiro Mac, e os soldados se reuniam ali.

    Dante estava gargalhando ao lado de Reilo e Haer, dois soldados jovens que tinham sido admitidos ali no acampamento fazia cerca de um mês. Os dois soldados eram novos, e mesmo assim, entrosavam muito bem com o velho.

    Normalmente, os jovens detestavam os mais antigos por conta da estranha cultura de décadas. Entretanto, Dante era muito bem com a faixa etária. Freto e Crish também sentavam ao redor do sopão, ouvindo e comentando sobre o ocorrido de meses atrás.

    Será que o problema sou eu mesmo?

    — Dante — chamou, tirando atenção de todos. — Por favor. Venha.

    Ainda com o pote soltando fumaça por conta da comida em mãos, Dante se aproximou de Tecno, um pouco sorridente ainda.

    — Pode falar, senhor.

    Tecno não queria dar aquela notícia de cara, mas era necessário que ele o fizesse.

    — Senhora Dalia conversou comigo. Vamos continuar a missão amanhã cedo. Iremos para a montanha fazer o reconhecimento, e depois iremos até um dos acampamentos para reter informações do que conseguimos com aqueles dois.

    — Certo. Então, faço patrulha hoje de novo?

    Tecno balançou a cabeça, negando.

    — Você não vai com a gente.

    O sorriso dele se perdeu na hora. O velho continuou olhando de lado, e depois concordou.

    — Entendo. Vai querer que eu volte para ajudar a escoltar os prisioneiros.

    — Dalia precisa de alguém que faça isso além de entregar o relatório para o Capitão Hermes quando chegar. — Tecno puxou o envelope de dentro de sua farda e o entregou. — Desculpa por isso. Sei que queria ir conosco.

    — Acontece. É normal que precisem que eu faça outra coisa. É pra isso que estou aqui.

    Dante pegou o envelope e guardou. Bocejou e apontou para o caldeirão.

    — Vai comer com a gente? Eles estavam contando sobre missões antigas. Deve ter uma para me contar. Alguma interessante.

    Foi uma reação melhor do que o esperado. Não sabia o motivo, mas Tecno ainda o confundia com uma pessoa bem mais nova. Era por conta das tantas pessoas mesquinhas e cheias de orgulho dentro da Capital. Claramente, não teria esse problema com um homem experiente e mais velho como Dante.

    Ele concordou em comer.

    I

    Os quatro trotavam o campo afora. Desde as dez horas, ninguém havia dito uma palavra. Nem Dalia, nem os Oficiais que a seguiam. E o silêncio era

    — Senhora, por que achou que essa seria uma boa ideia deixar Dante ir com os Cabos? — perguntou Freto. — Precisamos dele para qualquer problema no meio do caminho.

    — Por que questiona a minha ordem?

    Tecno não disse nada. Nem iria. Se Freto queria respostas, ele deveria procurar uma forma de conversar com Dalia de maneira respeitosa.

    — Porque ele é um Recruta. Demonstrou uma habilidade fenomenal e luta melhor do que todos nós juntos. Ter ele aqui seria muito mais seguro.

    — Justamente por ele ser assim que ele deve partir.

    Freto não entendeu.

    — Senhora, nos explique.

    Dalia fez seu cavalo virar lateralmente, e os outros pararam. A face dura dela era a mesma de sempre. Tecno não tinha muita dificuldade de entender o lado de Freto do questionamento, mas ele não deveria fazer isso abertamente. Se fosse algo mais sério, ele seria punido ali mesmo por Dalia.

    Houve outros antes daqueles dois que Tecno viu sendo castigados. E não aguentaram. Suas cartas de demissão de posto, saindo do batalhão, ele as tinha até hoje guardadas na Capital. Foram bons Soldados, bons Cabos, mas desistiram.

    E tudo porque questionavam ordens.

    — Se quer tanto respostas, deveria falar mais, Freto — disse Dalia. — O que eu faço é entender que uma missão da nossa categoria não precisa de alguém com as habilidades de Dante. Ele é um guerreiro habilidoso, sim, eu também notei. Acho que esqueceu que eu estava na Balsa ou que eu vi o teste dele. Antes de questionar uma ordem, pense no que um líder faria para não precisar perder uma missão. Eu mandei Dante de volta para a Capital porque a missão de Rutteo é dez, se não cem vezes, mais perigosa que a minha. Cristais, olhe para onde estamos indo. Agora, olhe para trás. Aqueles são prisioneiros que queriam uma Jade de Harde, um item que pode condensar Energia Cósmica. Eles não fizeram aquilo por conta própria.

    Ninguém respondeu, ainda travados pela longa resposta da Oficial. Dalia puxou a rédea, voltando o cavalo para a estrada.

    — Pensem antes de perguntar. Me pouparia tempo e o de vocês.

    II

    — Dante. — Rutteo o chamou erguendo o braço bem na frente. — Venha, venha. Eu quero conversar mais com você.

    Na verdade, o que Dante mais queria era ficar afastado dele. Desde que tinha visto a atitude dele com Dalia, ficou um pouco irritado. Mesmo que não gostasse dele, tinha que o respeitar, Dalia e ele eram iguais em posto.

    Arrastou o cavalo num trote mais rápido e igualou sua velocidade a dele.

    — Diga, senhor.

    — Sem essa formalidade toda. Estamos aqui como homens, certo? Eu queria ter um pouco de noção de como funciona essa sua habilidade. — Ele abriu o braço para o lado contrário de onde Dante estava. — Essa é uma imensa área, seria bem desastroso se algum inimigo atacasse e eu não soubesse o que você pode fazer.

    Mesmo sendo só isso, Dante ainda não queria falar muito. Infelizmente, soube do que se tratava a habilidade de Rutteo. Fugir não era uma opção, nem mesmo ocultar.

    — Consigo converter energia em força, praticamente. Aprimoro meus ataques e defesa de maneira que o inimigo sempre fique confuso. — Dante resumiu bem.

    Esperou que Rutteo falasse algo, mas ele não o fez. Ele ainda fitava Dante, em silêncio, e depois riu.

    — Por que veio para a Capital?

    — O quê?

    Rutteo piscou duas vezes e esticou a mão, pedindo para responder.

    — Eu vim porque era o sonho do meu pai. Eu vim realizar algo que ele quis, e também devolver tudo que fizeram por mim.

    — Sim, eu soube. Mandar dinheiro para seu vilarejo e tudo mais. Mas, por que escolheu Dalia pra isso? Ela não recebe pagamento grande, nem mesmo recebe os honorários do Alto Escalão. Ela não faz dinheiro, nem mesmo tem uma reputação decente. O que viu nela que te fez tão leal?

    Dante não deixou de encará-lo.

    — Pode ter me entendido errado, senhor. Vim para a Capital por dinheiro e um sonho, mas não escolhi a senhora Dalia por isso. Na verdade, lealdade e caráter são valores que aprendi a respeitar desde pequeno. Posso parecer velho, e sou bastante, mas nunca fiz nada que contrariasse esses dois. Se quer me perguntar algo, seja direto e não tente me enrolar, senhor.

    — Ora, que falácia agradável a sua. — Rutteo aprovou com um sorriso. — A verdade é que eu não faço ideia de quem seja você. Nem mesmo sei da sua história. Mas, eu percebi muito bem o quão especial você é para Dalia.

    — Especial? — Dante não quis parecer debochar dele. — Ser especial é só uma representação que damos a algo ou alguém por algo que não podemos ter. Não sou especial, sou um Recruta. Apenas isso.

    Rutteo concordou dando uma risada e falando alto.

    — E um Recruta dos bons. Disso tenho certeza. Olha, quando chegarmos na Capital, vamos conversar sobre melhorar seu empenho em ganhar dinheiro. Conheço algumas coisas que podem nos beneficiar. E melhor ainda, é tudo legal. Nada clandestino.

    Dante deu uma risada e assentiu em silêncio. Aposto que vou ficar lavando a roupa dos outros.

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