Capítulo 17: Sparring (I)
Dante atravessou metade da Capital com Rutteo. Ele dizia que odiava a Capital com todas as suas forças, mas eram sempre saudado por onde passavam. As ruas eram largas, cheias de carroças indo e vindo, e eles usavam a calçada curta onde comerciantes ficavam a espera de seus clientes. Mesmo afirmando estar mais de seis meses sem aparecer na Capital, cada um dos homens apertava sua mão e perguntava se poderia escutá-los.
No entanto, Rutteo escolheu apenas um comerciante para visitar. Eles entraram em uma loja de pedra escondida entre os becos da rua principal. Haviam armas espalhadas atrás das vitrines nas paredes, armas brancas, e algumas de disparo que Dante tinha ouvido falar bastante por seu pai.
Eram armas de média a longo alcance que disparava balas. Um avanço do arco.
— Não mexa em nada — comentou Dante se aproximando do balcão vazio. — Ei, Dimitri. Está aí? Vim te trazer um velhote igual você.
— Velhote? — a voz veio alarmante do fundo. E uma gargalhada. — Ele é do Alto Escalão? Manda ele vazar da minha loja.
Rutteo apontou pra dentro, se divertindo.
— Olha só — disse a Dante, ainda apontando. — É um Recruta, Dimitri.
O som da martelada parou. E os passos largos foram se aproximando. Saiu um homem do tamanho de uma porta, com braços largos iguais ao de Dante e uma barba fechada. As duas sobrancelhas se fecharam, e ele mastigava alguma coisa.
— Recruta?
Dante concordou.
— Cheguei faz alguns dias. Sou Dante.
— Dimitri.
Eles apertaram a mão. E o lojista encarou Rutteo.
— O que veio fazer com velharia aqui? Já basta eu de cabelos brancos.
— Dante precisa de dinheiro. Ele é um bom guerreiro. — E mostrou o punho, torcendo um pouco a cara. — Daqueles que a gente precisa numa boa luta. Ouvi quando voltei que perdeu seu garoto dos punhos de ouro para um dos Comandos. Ai te trouxe um Recruta. Ele é verde ainda. Não conhece nada por aqui ainda, só o que Dalia explica.
— Cacetada, hein. — Dimitri puxou uma cadeira para si. Mesmo sentado, era imenso. — Eu perdi mesmo o Rubbem, mas ele não parou de lutar. Escolheu um Comandante para patrocinar nas lutas, mas eu mesmo fiquei de mão abanando. Ele levou tudo que dei, até os equipamentos.
Rutteo segurou o ombro de Dante e piscou um dos olhos.
— O Dante aqui luta sem armas. Claro, você pode fazer ele lutar, se quiser. Quer testar um velhinho e impressionar os patrocinadores?
— Ah, Rutteo. — Dimitri coçou o pescoço, nada muito confortável. — Depois do que fizeram comigo, eu não queria nem mais voltar para lá. As lutas dão dinheiro, e os Comandantes gostam de manter porque sempre tem apostas. É que eu fico de mão atada. Como vou ter certeza de que esse aí não vai fazer o mesmo?
— Está me comparando a alguns moleques melequentos? — perguntou Dante. — Não faço ideia do que seja essas lutas, mas se estiver disposto a me pagar, eu estou dentro.
— Mesmo que eu te pague, o valor não vem de mim, vem de quanto você consegue lutar. São rodadas contínuas, eles te anunciam e você vai ficando até alguém te derrubar. — Dimitri bateu na testa algumas vezes e apontou para Dante. — Conhece Ashi Du?
— Sim.
— E Ariado Tse Te?
— Sim.
Dimitri encarou Rutteo.
— Você não faz ideia do que é, né?
Rutteo negou como se fosse óbvio.
— Eu não sou um bom lutador. Mas, já que estão se alinhando, vou deixar Dante aqui. Tenho que ver as duas Damas.
Dimitri sorriu de canto e balançou a cabeça para ele.
— Você nunca aprende, Rutteo. Tome cuidado, amigo.
O Oficial saiu pela porta acenando, os deixando. Dimitri fez menção para Dante entrar. E os dois seguiram para dentro da loja. No interior, o espaço era bem maior, cheio de armas empilhadas, guardadas e escudos também erguidos e presos na parede.
Dimitri apontou para um banco e os dois se sentaram frente a frente. Ele coçou o nariz e ajeitou a barba.
— Vou ser sincero, mesmo que conheça as artes de batalhar e faça isso como Recruta, tem muita coisa que envolve essas lutas. A própria Dalia uma vez participou, mas decidiu sair antes de fazer um nome. É algo que levanta o espírito das pessoas, todo mundo lá fora gosta de ver e tem um público mais comercial que assiste.
— Seriam os patrocinadores?
— Isso.
Dimitri esticou-se todo e pegou uma cuba cheia de sopa. Ele entregou uma para Dante e também um copo com vinho.
— Pode comer, fiz agora. — Os dois deram uma colherada. — Eu não tenho mais desde que o garoto foi embora. Não o culpo, ele tem uma carreira boa pela frente. Mas, ele levou uma arma muito especial para mim. Foi criada pelo meu avô, quase cem anos atrás, e não consegui de volta com o Comando.
Dante o entendia. Se perdesse uma das armas do seu pai, ele ficaria do mesmo jeito.
— E ele continua usando?
— Sim. Hoje vai ter um treino teste. É onde vou te alistar. Tem alguma roupa de combate sobrando? Posso te encaixar pra eu ver como você se sai. Dependendo, te coloco numa luta de noite. Deve ganhar umas duas moedas de prata por cada um que conseguir ganhar, e tem as apostas.
Dante bebeu do vinho, era doce. Gostoso por sinal. Nunca tinha provado desse no vilarejo.
— Vai apostar em mim?
— Não, nunca aposto. Eu parei com essa vida faz alguns anos. Hoje em dia eu consigo fazer as pessoas apostarem em um conselho meu, e elas me pagam. Só preciso que entenda que nessas lutas, as habilidades podem ser usadas, mas nunca feitas para matar o outro.
— Não tenho intenção de matar alguém — disse Dante, sorrindo. — Rutteo me trouxe aqui para ganhar dinheiro. Se for apenas isso, eu consigo. E vai ser bom, preciso treinar com pessoas de verdade. Tem sido difícil arranjar tempo pra mim mesmo.
Dimitri assentiu. Levou a cumbuca ao lado e esticou a mão para Dante.
— Esse é um negócio temporário. Não vamos lutar pra sempre. Mas, pra um velho como eu para um velho como você, é um prazer te conhecer, Dante.
As mãos se apertaram. Dante também sorriu.
— É um prazer, Dimitri.
I
— Certo, é o seguinte. — Dimiti segurou Dante pelos ombros. — Dentro desse ringue, é você e ele. Apenas isso. Não precisa ficar focado nas apostas ou no dinheiro. Foca no treino que tá fazendo porque o rapaz que tá aí é casca grossa.
O ringue era mais elevado, com cadeiras e bancos espalhados. Era um ambiente bem fechado com uma luz acima, pegando apenas o centro. Quando pisou ali, ficou animado. Estava praticamente pronto para duelar contra outra pessoa por puro prazer.
No Vilarejo onde morava, seu pai nunca o deixou participar de qualquer tipo de teste ou competição. Para Render, competir era uma perda de tempo. Batalhas foram feitas para serem travadas para que um lado perdesse completamente, ele nunca iria gostar de ver seu filho presente.
Dante tinha posto o traje de batalha que Dimitri havia arrumado, e uma luva para amaciar seus golpes.
— Ele vem vencendo quatro a cinco pessoas a cada duas noites — explicou Dimitri. — Não deixe ele te pegar de guarda baixa. A habilidade dele é camuflar golpe, consegue te fazer sentir a Energia Cósmica de um lado e te ataca do outro. É o que sei.
Dante concordou e ergueu os punhos. Dimitri bateu os seus no dele e mandou Dante ir pro meio.
— Calton — alguém chamou o rapaz do outro lado —, você tem reunião com o Oficial James daqui a trinta minutos. Não podemos atrasar.
— Certo, pode deixar.
Calton caminhou pro centro e ergueu a mão para Dante.
— Esse é o sinal de que podemos começar. — Esperou Dante bater e recuou um passo. — Sei que é novo, mas meu chefe disse que eu não podia pegar leve. Sei que é mais velho e tal, mas se puder não cair de primeira. Tenho uma luta hoje a noite, queria poder me aquecer melhor do que da última vez.
Dante recuou um passo também.
— O seu treino não foi bom?
— O cara caiu com dois golpes. — Calton deu de ombros. — Eu queria poder ser acertado de vez em quando. Só faça o seu melhor, senhor Dante.
Só queria ser acertado? Que tipo de criação esse garoto teve para achar que as coisas eram tão levianas? Dante não escondeu o gosto por aquelas palavras, e ergueu os punhos para perto do rosto.
Quando o sino soou, Calton saltou com uma bala e chutou em linha reta. Dante desviou apenas inclinando metade do corpo pro lado, ainda fitando o olhar arregalado do rapaz. E subiu no gancho seco.
O impacto soou na costela. Calton caiu rolando e segurando o lugar afetado. Gemeu e cuspiu saliva ainda no chão. Dante coçou a cabeça e olhou para Dimitri, o homem estava de boca aberta.
Merda, eu nem usei a habilidade.
— Eu devia ter pegado mais leve, Dimitri?
— Não. — Calton havia conseguido se levantar e respirava com dificuldade. — Eu me descuidei. Pensei que você fosse mais um que queria brigar.
O braço dele tremia um pouco, e fez careta.
— Acho que… — Calton voltou a cair no chão, sentado e segurando a dor numa expressão difícil. — Não vou conseguir continuar.
Dante engoliu em seco. E foi adiante.
— Desculpa, não foi intencional. Achei que como tinha dito que queria ser acertado, eu podia pegar um pouco mais pesado.
Os soldados subiram no ringue para ajudar o rapaz. Levantaram e também puseram um gel no lugar afetado. Calton não saiu dali, entretanto.
— Senhor Dante. — E levantou a mão. — Se puder, gostaria de treinar novamente com você.
— Claro, claro. E me desculpe de novo. Sei que você tinha uma luta hoje.
Calton deu uma risada.
— Não importa. Achei algo mais divertido hoje.
E carregado, ele saiu. Dante ficou com pena. Tinha estragado o dia do garoto. Tão novo. Mas, o golpe que deu nem foi tão forte. Apenas tinha subido o corpo girando os ombros e as costas. No máximo, um giro corporal que pegou mais firme.
Ou… o rapaz tinha um corpo fraco demais.
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