Índice de Capítulo

    Uma mulher morena apareceu na arena de pedra. Ela tinha uma foice em mãos, e uma roupa bem elástica.

    — Me chamo Senna Esmeralda, sou uma Soldada do Terceiro Pelotão, do Capitão Jun.

    Dante estava bem acima, na pedra mais alta da torre em ruínas. Se levantou com dificuldade, mantendo o rosto sereno.

    — Certo, certo. Me mostre o que sabe fazer, Senna.

    Dante se jogou na direção dela e usou o atrito do ar para criar uma barreira de Energia Cósmica ao redor de si. Ele caiu bem na frente dela e sem ver sua arma vindo, rotacionou os calcanhares para a direita, e aplicou um soco no vazio.

    Senna deu uma risada e bloqueou o movimento com o cabo da foice. Fazendo uso do movimento errado de Dante, fez a foice descer velozmente, mas não o acertou por muito. No segundo ataque, a lâmina curvada foi estapeada e seu braço foi junto. A pressão do movimento foi tanta que ela se desequilibrou.

    Assim que percebeu seu erro, o punho do velho desceu em seu rosto, a lançando quase dez metros para trás, rodando e girando contras as pedras.

    — Divertido. — Dante colocou o pé debaixo da foice e a jogou para cima, pegando a arma e girando no dedo algumas vezes. — Tem um alcance bom, mas não faz o meu tipo. Toma.

    Senna viu a arma voltando para o seu lado. Mesmo sendo acertada por um soco apenas, não foi somente seu queixo que ardia, era o corpo todo. Sua mão, ao pegar na foice novamente, tremia igual folha de bambu no meio do outono.

    De pé, respirou fundo e deixou sua mente calma.

    — Você é um Veterano, não é?

    — Eu? — Dante negou na hora. — Sou um Recruta. Mas, essa é a primeira vez que tenho que fazer isso de lutar contra alguém que não sou inimigo. Bom, tirando o meu pai que sempre me bateu. — E deu uma risada. — Mas, não vem ao caso, mocinha. Vamos, vamos, quero que teste tudo que sabe nesse velho aqui.

    Senna saltou como um peão com a foice, girando em alta velocidade. O risco da lâmina no chão criou um estalido, e ela esperou um recuo. No entanto, o velho apenas curvou o braço e socou de baixo pra cima.

    Senna foi enviada para trás mais uma vez, batendo contra o chão de peito e largando a arma. Seu estômago foi remexido pelo impacto. Ela cuspiu sangue e saliva. Dante ficou imóvel, observando a mulher se levantar mais uma vez e agarrar sua foice como se aquilo fosse salvar a batalha.

    Haviam armas que prejudicavam seus pares, e ela não parecia entender que uma foice era taxada como uma das piores, se não a pior arma que podia ter em mãos naquele momento. A abertura dela era imensa, por ser algo de longo alcance, e tinha sua lâmina, que precisava ter uma curvatura que se assemelhasse ao seu usuário.

    Senna não era alguém que tinha força no braço como os soldados comuns, mas era ágil. Ter brandido uma foice daquele jeito, ela tinha treinado mais do que o costume pra chegar nesse nível.

    Mesmo assim, algumas travas nasciam quando bloqueios se tornavam invisíveis aos olhos.

    — Não quero dizer o que deve fazer ou não, mas já pensou em trocar de arma? — Dante chutou a foice de leve, não sendo agressivo nem desrespeitoso. — Todo mundo tem um gosto, entendo o seu, mas isso aqui não é pra você.

    Ela se apoiou nas próprias pernas e se levantou aos poucos.

    — E o que sabe sobre isso? Apenas lute, senhor.

    — Estou apenas avisando. Essa foice ai não extrai tudo o que sua capacidade tem para ser explorada.

    Senna olhou para a arma e depois para Dante. Ah, ela tem apreço pela foice.

    Dante a segurou e jogou outra vez. Ela pegou, e se endireitou, batendo a ponta da arma no chão, criando um estalido.

    — Por que me subestima, senhor?

    Dante torceu as sobrancelhas.

    — Subestimar? Não faço isso. Na verdade, eu só confio em mim mesmo. Vamos, use sua habilidade ou o que tiver ai a mais e vamos acabar com isso.

    Senna respirou fundo e ergueu a foice para frente. Cansada, Dante percebeu a respiração e a falta de uso da força para erguer a arma. Ela não iria durar muito, não se continuasse nesse ritmo. Ele acertou dois golpes porque ficou um pouco apreensivo de ter acabado com o primeiro de uma só vez, mas daria a chance dela brilhar.

    — Venha logo, garota. — Dante ergueu o charuto e sorriu. — Mostre pra todo mundo que está te vendo o que pode fazer.

    Dante observou um quadro bem ao lado dela. Tinha se formado a partir do nada, e dentro dele, seu reflexo. Ele virou a cabeça para a direita, mas ela foi para a esquerda. E ergueu as sobrancelhas. Merda, merda.

    Senna avançou e Dante deu um passo para trás, no entanto, seu corpo se mexeu adiante. Ela está espelhando o meu movimento.

    A foice veio por cima, tomando uma coloração vermelha. Dante abaixou o braço, e ele subiu rapidamente. O bloqueio surgiu e a expressão de Senna ficou alarmada. O velhote lhe deu um sorriso torto.

    — Extraordinária — elogiou Dante. — Você pode alterar a concepção da realidade. Assim, se eu me mover para frente, meu corpo vai para trás. É incrível, garota. Simplesmente incrível.

    — E você conseguiu perceber isso em poucos segundos.

    Dante não queria expor, mas ele era testado da pior maneira do mundo em casa. Dentro do Bosque de Bambus, o sofrimento diário era angustiante. Se mover em todos os ângulos possíveis, entendi agora o que meu pai quis me dizer.

    A foice foi afastada com um impulso. E um segundo quadro se formou ao redor de Senna, dessa vez, mostrando as costas de Dante. Ele novamente ficou excitado, e quando se moveu um passo, seu corpo inteiro demorou meio segundo a mais para reagir.

    — Sua habilidade é… impressionante mesmo. — Observando o tempo de reação dos músculos, dos dedos, era quase certo de que demorava cerca de um segundo. — Tempo suficiente para morrer.

    Senna novamente ficou chocada.

    — Como você… faz isso?

    — É costume. Eu já tive muitos treinos na minha vida, e ter os sentidos trocados foi um deles. — Dante entrou em posição de ataque. — Mesmo assim, é divertido e intrigante ver alguém com uma habilidade tão bem desenvolvida.

    Dante avançou e Senna foi pega de surpresa. Teve que recuar dois passos e usou a foice para o fazer recuar, mas o velhote brandiu o braço para a lateral antes mesmo dela completar o movimento. Que reação é essa?

    O velho espalmou a lâmina para a lateral, fez um giro completo e usou a palma aberta contra seu ombro. A pressão fez Senna quase desmaiar, mas ela usou a rotação para girar completamente e tentar um golpe direto. Mas, aquele idoso desgraçado já estava abaixado e esticou a perna pra frente.

    Senna foi humilhada dentro da sua própria habilidade.

    Sem equilíbrio algum, sem força restante, ela pisou no pé de Dante e tropeçou em seguida, indo de cara no chão. Atrás de si, os dois quadros se desfizeram. Senna respirava profundamente, e viu Dante sentar bem ao seu lado.

    — Tem potencial para melhorar. Continue assim.

    Por que estou dizendo coisas como meu pai diria?, Dante bufou vendo que estava mesmo começando a agir igual um Veterano.

    — Vou melhorar.

    A pele de Senna ganhou a cor branco, sendo puxada para fora do Campo de Pedra. Dante acenou, sorrindo.

    — Bom, se algum dia precisar de um parceiro de treino, eu estou no ringue nos últimos dias. — Ele ergueu a mão. — Pode aparecer que eu não bato tanto quanto faço aqui.

    A risada de Senna foi aliviadora. Antes do seu corpo inteiro se transformar em flocos brancos, sua mão foi erguida.

    — Obrigada por me respeitar, senhor…

    — Dante. — Eles chocaram os punhos. — Me chamo Dante, garota da foice. 

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Nota