Capítulo 8: Poupando tempo
Nyara, terminando sua vigília sobre o acampamento, aproximou-se dos dois, ouvindo a conversa anterior. Ela tinha uma intuição aguçada e sabia que o destino os levaria a confrontos não apenas externos, mas também internos.
— Seus problemas são seus problemas… — ela disfarça, fingindo na se importar — Devemos descansar, quero receber meu pagamento o quanto antes. Amanhã será um longo dia.
Ivar assentiu.
Embora seu corpo estivesse cansado, sua mente continuava inquieta, revirando memórias e planos.
Mesmo assim, ele se levantou e caminhou até a beira da clareira, onde se sentou, de costas para o acampamento, encarando a escuridão da floresta.
Elara observou Ivar se afastar e, por um momento, sentiu o peso da solidão em seus ombros também.
Ela sabia que a luta que Ivar travava não era apenas contra os inimigos externos, mas também contra os demônios internos que o atormentavam.
Enquanto a noite avançava, o som suave do vento entre as árvores misturava-se com o crepitar das chamas da fogueira.
Elara, Nyara e o restante do grupo se acomodaram para a noite, mas a sensação de que algo grande se aproximava pairava no ar.
O caminho para Thirel seria apenas o próximo passo em uma jornada muito mais longa e perigosa…
Na manhã seguinte, o acampamento estava envolto em uma neblina fria, que pairava baixa sobre o solo, dando à floresta um aspecto quase etéreo.
O som distante de aves despertava a floresta lentamente, e os primeiros raios de sol tentavam romper as densas copas das árvores.
Ivar já estava acordado, com os olhos pesados pela falta de sono, mas sua determinação permanecia intacta. Ele se moveu silenciosamente, verificando suas armas e arrumando os pertences. Hoje seria um dia crucial.
Elara, sentindo o movimento ao redor, abriu os olhos.
Ela se espreguiçou suavemente, observando Ivar de longe e pensando que ele provavelmente não tinha dormido, consumido por pensamentos de vingança e por memórias que se recusavam a deixá-lo em paz.
Ela se levantou em silêncio, pegando seu arco e verificando o entorno, sempre em alerta.
— U-uma carroça? De onde ela surgiu?
— Sim, não consegui dormir, então peguei partes das carroças quebradas e fiz uma — respondeu Ivar, com um tom de satisfação — Ela nos ajudará na nossa locomoção, mas ainda faltam dois cavalos. Eu avistei alguns logo mais ali na frente, provavelmente são os cavalos da caravana, mas eu preciso de ajuda para pegá-los.
Nyara, já desperta há algum tempo, observava os dois com o canto dos olhos enquanto terminava de comer um pedaço de pão seco que havia trazido consigo.
Ela não gostava de se apegar a clientes, mas algo na intensidade de Ivar a fazia hesitar. Ele era imprevisível e perigoso, o tipo de pessoa que ela sabia que poderia causar uma verdadeira tempestade.
Mas, ao mesmo tempo, havia algo trágico nele que a fazia se perguntar o que aconteceria quando sua sede fosse saciada, se é que algum dia seria.
— Vamos logo com isso. Quanto mais cedo chegarmos às Montanhas Muralha, mais cedo poderei me livrar de vocês — disse Nyara, levantando-se e apagando o fogo da fogueira com o pé.
— Não vai ser tão fácil, Nyara — Elara respondeu, sorrindo de leve, tentando aliviar o ambiente, embora soubesse que o que os aguardava em Thirel estava longe de ser simples — Mas sim, é melhor nos apressarmos. Eu te ajudo com os cavalos, Ivar.
Ivar fez um gesto de concordância com a cabeça enquanto guardava sua espada e ajustava o manto ao redor dos ombros. O vento gelado da manhã carregava consigo um ar de urgência, e ele sabia que não havia tempo a perder.
Alguns minutos se passaram, e eles chegaram ao local onde Ivar havia avistado os cavalos.
— Eles estão perto, mas precisamos ser rápidos. Não sei por quanto tempo estarão parados — ele disse, começando a caminhar à frente, guiando o caminho por entre as árvores.
Elara o seguiu de perto, mantendo-se atenta ao som dos arredores. O silêncio da floresta era estranho, quebrado apenas pelo farfalhar das folhas sob seus pés e pelo ocasional canto de uma ave distante.
A neblina espessa ao redor dificultava a visão, e a tensão crescia a cada passo que davam em direção ao local onde os cavalos estavam.
Mais alguns minutos depois, chegaram a uma pequena clareira onde dois cavalos pastavam tranquilamente.
Os animais pareciam pertencer à caravana destruída da noite anterior, mas agora estavam sozinhos, sem sinais dos antigos donos.
— Lá estão eles — sussurrou Ivar, abaixando-se para observar os animais com cuidado. — Precisamos nos aproximar devagar, ou vão se assustar.
Elara concorda, movendo-se lentamente para o lado oposto da clareira, pronta para cercar os cavalos.
Suas mãos estavam firmes na corda, mas sua postura era relaxada. Se os cavalos fugissem, ela estaria pronta para agir.
Ivar, por sua vez, agachou-se e começou a caminhar lentamente na direção dos cavalos, mantendo a respiração controlada e os movimentos suaves.
Ele estendeu a mão, tentando se aproximar o suficiente para pegá-los sem provocar uma fuga. Um dos cavalos levantou a cabeça e olhou diretamente para ele, as orelhas se movendo, alertas.
— Tudo bem, está tudo bem… — murmurou em voz baixa, tentando acalmar o animal.
Quando estava a poucos metros de distância, ele fez um movimento rápido e seguro, agarrando a corda que estava presa à sela. O cavalo relinchou, mas não fugiu.
Ao mesmo tempo, Elara conseguiu pegar o segundo cavalo, guiando-o de volta para a clareira onde Nyara, o elfo e as duas crianças tieflings aguardavam com a carroça improvisada.
Com os cavalos sob controle, eles os amarraram à carroça, preparando tudo para a viagem.
— Pronto. Isso vai nos poupar muito tempo — disse Ivar, puxando as rédeas e verificando a estabilidade da carroça.
— Impressionante, devo admitir — disse Nyara, observando o trabalho com um leve sorriso de canto. — Talvez essa viagem não seja tão ruim, afinal.
— Realmente, a carroça foi muito bem feita e os cavalos parecem estar muito bem. Bom trabalho! — concordou o elfo.
Elara subiu na carroça, sentando-se ao lado de Ivar enquanto ele pegava as rédeas. Nyara e o elfo subiram logo em seguida e ajudaram as crianças a subir também.
Com a carroça pronta e os cavalos sob controle, o grupo partiu em direção a Thirel, a neblina começando a se dissipar à medida que o sol subia no céu.
A estrada à frente era incerta e cheia de riscos, mas Ivar estava focado em seu objetivo. Nada o faria desviar do caminho, nem mesmo o peso da escuridão que crescia dentro de si.
Enquanto a carroça se movia lentamente pela floresta, Elara olhou de relance para Ivar, seus pensamentos voltados para o que aconteceria quando finalmente chegassem às Montanhas Muralha.
Ela temia o que o aguardava lá, mas também sabia que, no fundo, ele não estava tão sozinho quanto pensava. A jornada apenas começava, e o destino os aguardava com desafios ainda maiores.
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