Capítulo 39: Último de Pé (II)
Mais de cinco Felroz saltaram como se fossem pássaros no ar, e seus braços esticaram. Peles se uniram entre seus membros, forçando o ar contra e eles subirem rapidamente, planando em rasante para as laterais.
Dante se inclinou pro lado, desviando de algo que passou rasgando o ar e acertou o solo. Ele teve poucos segundos para averiguar. Queimava o solo tanto quanto o fogo queimava o óleo, criando um buraco.
Outro rasante na sua direção. Dante pulou dando um mortal de lado e unindo os dois punhos pra frente, liberando uma rajada. Seus disparos não estavam mais sendo tão eficientes, as criaturas se mexiam assim que sentiam que eram mirados.
Mais três e quatro disparos, e parou, respirando um pouco cansado.
O suor escorria pela sua bochecha, mas não parava de sorrir. Todo aquele joguete era como um quebra-cabeça. Quanto mais inimigos diferentes, melhor era para processar para onde deveria atacar e onde ficar.
Ele mudou o ângulo da sua perna, e correu na direção da parede. Passou pisando em uma imensa pedra e pulou. Suas mãos agarraram um buraco e ele se jogou. A escuridão era aliada dos Felroz não tinha dúvida disso, eles tinham a vantagem de estarem nos seus ninhos, tinham vantagem por estarem voando.
Se uma vantagem era tão alta quanto uma montanha, era necessário escalar. Sua única opção.
Marcus viu o velho saltar no meio do ar e agarrar a criatura. Eles giraram juntos, a luminária de Dante clareando os pontos que voavam, mas com uma empunhadura de ferro, ele fechou os dedos na garganta dela, conseguindo conduzir no ar de maneira brusca.
Ele estava simplesmente voando montado em um Felroz.
— Cacete! — Marcus não tinha dúvida de que era uma das cenas mais impressionantes que já tinha presenciado. — Clara nunca vai acreditar nisso.
Dante gargalhou no ar e saltou. Seu disparo pelo pé perfurou a carcaça do demônio, e ele desceu igual uma mosca morta. Marcus usava a pilastra como cobertura ainda observando, mas a situação parecia bem controlada.
Mais dois haviam caído e pareciam chegar ao fim. Dante saltou mais uma vez e agarrou dois ao mesmo tempo, descendo com ele e rindo. Ele pousou bem à frente da bateria e esmagou ambos contra o chão. Suas cabeças encaixaram e eles ficaram com seus membros tremendo, em espasmos.
— Acabou. — Marcus abaixou o fuzil, e massageou o próprio braço. Queria sentar, mas o velho não havia parado.
Dante finalmente segurou o dispositivo de energia. Estava apenas a um passo de ter sua primeira missão completa. Encaixou o objeto, e ele foi puxado rapidamente.
“Para que eu possa estar em conexão com a bateria, preciso que insira Energia Cósmica, Dante”.
— Ah, certo.
Pondo a mão em cima, libertou o restante que havia convertido. A bateria pulsou duas vezes, e um ronco alto de motor ecoou. Eles pararam para observar, Marcus foi se aproximando.
— O que é pra acontecer agora? — Marcus ainda olhava para o tanque. — Se o que estiver no tanque de água está vivo, ele não vai deixar que a gente leve a bateria assim de graça.
— Se Vick conseguir acesso à bateria, podemos usar a energia para eletrocutar o que estiver aí dentro.
Marcus fez silêncio. O motor ainda rugia. Ele deu um passo para trás, e parou.
— Ah, merda.
Dante rapidamente virou e um punho do tamanho do seu corpo rugiu na sua direção. Marcus pulou rapidamente, mas ele teve que cruzar os braços e corrigir completamente sua postura para uma defesa. O choque o enviou contra o tanque, batendo contra as grades de ferro e amassando para trás.
Tinha sido muito forte. Dante não tinha sentido nenhuma intenção assassina até aquele momento, mas estava vendo um Felroz duas vezes maior do que tinha enfrentado no vilarejo, na Capital. Entretanto, esse tinha olhos, um nariz e uma boca torcida para a esquerda. O que mais deixou Dante angustiado era o fato de que ele tinha seis braços, grandes e maiores do que até mesmo a bateria.
— Dante…
Marcus o chamou da ponta. Caído entre os escombros, seu braço estava preso debaixo de uma pedra. Fez força e conseguiu tirar, mas parecia impossibilitado de levantar.
— Consegue usar a arma? — perguntou Dante saindo da grade. — Esse ai parece pior do que os outros.
— Posso tentar.
Marcus segurou a arma, e inclinou o braço um pouco pra frente. Mesmo com tanta força, ainda não dava para colocar no ângulo correto. O máximo era um pouco inclinada.
— Só dá pra fazer isso.
Dante não gostava da situação, mas o monstro não parecia estar focando no Marcus, e sim nele. O primeiro passo da criatura pra fora de um imenso buraco na parede fez o chão tremular um pouco, e então, ouviram um imenso berro de dor e medo. Era dentro do tanque.
Marcus mirou sua visão de calor para o tanque, e viu algo subindo rapidamente contra ele.
— Dante, atrás de você.
Sem tempo para reagir depois daquele golpe, cerca de dois tentáculos saíram da água e seguraram os braços de Dante. Mesmo sendo puxado pelos braços, ele forçava a frente arrastando seu pé. Mesmo sua habilidade não tinha tanto atrito para ser gerada. Dante viu o Felroz vindo na sua direção, um passo de cada vez, enorme, pronto para dar mais um dos seus golpes.
Marcus praguejava contra si. Seus braços não queriam parar de mexer, ele mesmo não conseguia se colocar de pé. Encostado ali, sua única função era ver seu colega ser sentenciado de uma maneira cruel.
Outro tentáculo se libertou do tanque e prendeu a perna direita. Depois mais um, a perna esquerda. Mesmo sendo atormentado com os puxões, Dante não desistia. Marcus gritou por ele.
O soco do Felroz desceu. Um dos braços de Dante se libertou. Defletiu o soco para o lado, numa atitude desesperada. Via a cara do velho desestabilizada, mas Marcus não acreditou.
— Você… está rindo?
Aquele velho miserável estava rindo da situação. Simplesmente dava uma risada quando o Felroz gigante tombou para frente, desequilibrado pelo jato de ar. E viu Dante se jogar para trás junto dele.
Os dois afundaram, e uma luta dentro do tanque de água iniciou.
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