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    O velho Jix tinha uma agilidade que Dante ficou impressionado. Ele não somente atacava com sua bengala, mas as pernas curtas dele vinham de um lado para o outro, tentando acertar seu pescoço de qualquer jeito. Dante era veloz, conduzia bem a deflexão e também a esquiva, mas quando atacava em um ângulo aberto, a própria bengala aparecia para bloquear.

    Claramente, não colocava força nos movimentos. Quando levantou os punhos para a guarda, Jix voou pra frente como uma bala, e tentou golpear sua cabeça. Dante recuou um passo, esquivou jogando o ombro pra direita e inclinou num soco lateral.

    Os olhos do velhinho arregalaram, e ele teve que recuar em saltos curtos e velozes para trás.

    — Quem lhe ensinou a lutar sabia bem das suas falhas e as corrigiu de maneira excepcional. — A bengala voltou ao chão, e ele caminhou lentamente até Dante. Mesmo sendo baixinho, sua postura era elegante, e sentou em um bloco de pedra. — Seu corpo é forte, sua mente e espírito estão sincronizados. Isso já melhora muita coisa. A base dos movimentos não vou precisar ensinar.

    — Meu pai me ensinou a lutar quando eu era bem novo, e usava uma arma de bambu. — Dante sorriu ao lembrar de tantas vezes que apanhou. — Sempre me disse que a melhor defesa é aquela onde seu oponente não pode encontrar falhas.

    — Um homem sábio, por isso o filho dele é tão forte. — Jix deu uma risadinha. — Antes de começar a ensinar alguns garotos novos, tive que demonstrar a base. Você conhece muitos estilos de luta, por isso seus ataques são tão confusos.

    Dante ficou orgulhoso. Demorou muito para aprender alguns do que seu pai quis passar, e mesmo assim, nunca tinha vencido seu velho. Sentia falta dos dias que morava com eles, porque quanto mais tempo ele aprendia, melhor eram os desafios.

    Sentir saudades era natural, mas precisava focar no presente, e fazia mais vezes do que gostaria realmente.

    — Entendi bastante sobre seus movimentos, agora vamos aprimorar eles. — Jix esticou a bengala e bateu na perna de Dante. — Irei passar algo que te fará mais forte, creio que não tem problema pra alguém como você.

    Dante o olhou de lado, sem entender.

    — E o que seria?

    — É a minha habilidade, mas não é literalmente passar — Jix deu uma risadinha. — Seria mais emprestar ela. Eu compreendi que sua habilidade converte energia, e eu já conheci alguém assim. Uma pena, que Deus o tenha, acabou falecendo ao se explodir.

    Ele falava sério, não houve risadas ou sorriso depois.

    — Ele era até mais forte que você, sabia? Uma conversão tão grande, mas seu corpo nunca se adaptou direito. Quando encontrou um dos Felroz, acabou por usar demais e explodiu. — Jix fez um certo voto de respeito com a mão. — Sei que pode parecer estranho, mas pessoas que carregam habilidades mais corporais estão em desvantagem. O que quero te fazer passar é um pouco do que um dia pude fazer por eles, mas não puderam aguentar o suficiente para avançar.

    A curiosidade de Dante era imensa, ele ficou esperando Jix terminar de falar, mas o velho coçava a barba rala.

    — Dante — ele fez uma pausa —, minha habilidade é ‘Ato Gravitacional’. Já ouviu falar?

    — Não, nunca vi ninguém com esse tipo. — Ele se aproximou. — Como ela é?

    As duas mãos de Jix tocaram lentamente o topo da bengala. Ele respirou fundo e fechou os olhos, e abriu.

    Dante sentiu uma imensa pressão sobre seu corpo. Ele gemeu de dor, mas foi se erguendo. Era uma montanha imensa contra seu corpo, o forçando para baixo. Suas pernas tremiam, mas ele mudou a postura para uma ereta. Seus ombros foram torcidos para o lado, os braços também.

    Jix ficou impressionado. Tanto que ficou de boca aberta. A sua gravidade era uma das piores, se não a pior habilidade para alguém do tipo corporal. Os músculos poderiam ser fortes, treinados por anos, mas quando ele recebia um soco de todos os lados para baixo, deveriam se submeter.

    O que via era Dante tremendo violentamente, mas não cedendo de jeito algum.

    — É só isso? — Dante travou no mesmo lugar. Não tremia mais. Jix procurou sinais de conversão, mas nada além do físico estava sendo apurado. A gravidade exercia somente traços menores, mas ele estava completamente livre da primeira remessa. — Eu treinava com isso quando estava em casa. Pode vir com tudo, Jix.

    Os dois riram um pro outro. Jix, então, aumentou a pressão ao redor deles dois, criando um estado de paralisia. Os membros de Dante voltaram a tremer, sendo controlados com tanta vontade. Esse senhor que Jix via não era normal, não mesmo.

    Sua Energia Cósmica nem mesmo oscilou quando recebeu a gravidade. O que indicava duas coisas: Dante conhecia tanto seu próprio corpo que a Energia não auxiliava de maneira inconsciente. A segunda, ainda mais perturbadora, era de que Dante tinha dominado uma força de vontade tão grande que nem mesmo precisava recorrer a sua Energia.

    E vendo como ele sorria para uma ocasião tão destrutiva, tão caótica, Jix sabia que era a segunda.

    — Está sentindo como é a sensação de ter o corpo esmagado, senhor Dante? — Jix mostrou um sorriso perverso. — Consegue sentir essa sensação de que pode morrer a qualquer momento?

    Dante deu uma risada e inclinou o braço. A cor ao redor de ambos foi se tornando mais roxa, num tom bem escuro.

    — Se quer me matar, vai ter que usar mais do que isso.

    — A minha habilidade marca a pessoa para que ela esteja em constante pressão da gravidade. Aumentar a gravidade somente de um corpo é algo que consegui depois de anos praticando. — Jix apontou a bengala para Dante. — Então, como um presente, te darei todo ele. Se aprimore até estar em perfeito estado, e não deixe nenhum daqueles desgraçados tomar a cidade.

    Dante assentiu com força ao receber mais uma terceira camada de pressão. Jix fez a que estava em si ser dada a ele. A perna de Dante cedeu para frente, e ele caiu ajoelhado de uma perna, mas mantinha a força para não cair de jeito algum.

    — Ficaremos aqui até que possa caminhar com ela, Dante.

    — Subestimar alguém é assinar sua carta de suicídio.

    Contrariando as expectativas de antes, Dante forçou a perna dobrada para se levantar. Um esforço tão grande que quando ele ficou de pé novamente, ele balançava como bambus em tornados. Jix nunca tinha visto alguém além dele conseguir ser tão forte comparado a gravidade, Dante era simplesmente uma criatura absurdamente fora da curva.

    Tanto anos andando de um lado para o outro. Tantas florestas e cidades que visitou, tantos povos com capacidades diferentes, e nenhum deles tinha a força necessária para aumentar seus níveis. Desistiam no meio do caminho ou nem começavam. Jix já estava desistindo quando ouviu sobre o homem que havia limpado um Lagmorato com um atirador.

    Agora, vendo de perto, como ele era, sua personalidade risonha, seu poder destrutivo, Jix sabia que tinha a chance. Ele podia viver em um mundo interessante, um que não se destruiria com seu toque. Ele podia… parar de querer morrer a cada segundo que passava.

    — Dante — sua voz parecia leve —, me mostre que você é diferente dos caras que diziam muito e faziam pouco. Vamos, treine comigo. Venha. Vamos lutar.

    Os punhos dele, mesmo tremendo, foram se erguendo. Dante rangia os dentes mesmo sorrindo, e seus olhos não perdiam o brilho. Esse era o espírito, esse era o conflito que buscava. A paz residia no coração, mas o corpo queria a luta e a batalha para sobreviver.

    Algumas pessoas nasceram para guerrear. Jix tinha certeza de que Dante era um desses, um corpo e uma mente focados em destruir seu inimigo.

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