Capítulo Extra 44 - Imortais contra o Tigre
— Você é irritante, pirralha! — gritou Zoe, enquanto flutuava no ar. Ela lutava para manter o equilíbrio ao mesmo tempo que desviava da chuva de pedras que caía sobre ela.
As rochas caiam uma atrás da outra, vindas de lugar nenhum, simplesmente apareciam no ar sobre ela. A fonte do ataque era clara, era a pequena garota que havia sumido de vista, e a sua visão era obstruída pelo pó e poeira das pedras.
— Zoe, o que está esperando? A vitória não vai cair do céu! — provocou Otaviano, ao se virar para ela ao mesmo tempo que segurava e esmagava a cabeça de um inimigo que ousara se aproximar com um golpe bruto.
— No dia que eu precisar da sua ajuda, eu juro que vou implorar por ela! — retrucou Zoe com sarcasmo, girando os braços enquanto conjurava uma nova esfera negra, a maior até então.
A chuva de pedras foi sugada pela esfera com uma força gravitacional esmagadora. O globo crescia, engolindo tudo ao seu redor, até atingir o tamanho de uma pessoa. Zoe ergueu a mão, encarando o céu como se desafiasse sua oponente.
— Vamos ver se você consegue desviar disso, pirralha!
Ela lançou a esfera, e a explosão que se seguiu foi colossal. Fragmentos de destroços voaram em todas as direções, obrigando Otaviano e as gêmeas a recuarem para evitar serem atingidos. Quando a nuvem de poeiro diminuiu, a devastação ficou evidente. Todos, com exceção da guilda dos imortais, estavam mortos, contorcidos em uma massa disforme de carne.
— Impressionante, quanto poder… — Um homem, vestido como um cowboy americano surgiu, intacto no meio dos corpos, tinha alguns fios brancos no meio dos seus bigodes e cabelos negros. — E todo esse poder está sendo desperdiçado. Junte-se a nós, e revele seu verdadeiro eu!
— Chega de papo furado. — Zoe estralou os dedos da mão direita, e uma nova esfera começou a se formar.
— Somos semelhantes, nosso poder se atraí! — proclamou ele, com um sorriso sedutor.
Antes que Zoe pudesse lançar sua magia, sentiu uma força invisível começar a puxá-la em direção ao homem. Era como se o espaço ao seu redor estivesse se dobrando, empurrando-a para mais perto dele. A sensação era perturbadora, e ela se distraiu, tentando entender a origem daquele poder.
— Esqueceu de mim? — disse uma voz feminina atrás dela, cortando seus pensamentos.
A garota asiática conjuradora de pedras surgiu atrás dela, flutuando em cima de um bloco de pedra. Um enorme pedregulho surgiu das mãos da garota, que atravessou o ombro de Zoe, derrubando-a no chão.
— Pirralha… — Zoe gemeu de dor, irritada consigo mesma por cair em um golpe tão básico.
Ela estava vulnerável, caída e impossibilitada de se levantar, e o sangue começava a formar uma poça ao seu redor. Foi quando o som de uma buzina quebrou o silêncio, seguido pelo rugido de um motor. Um caminhão surgia à distância, acelerando diretamente na direção de Zoe.
— Hoje não! — Otaviano colocou-se entre Zoe e o veículo, cerrando os punhos. Com um golpe poderoso, ele atingiu o caminhão antes que ele pudesse causar dano. O veículo se desintegrou instantaneamente.
— Chato. — Um segundo jovem apareceu, ao lado do primeiro. Vestia-se como um motoqueiro, com um casaco de couro com uma caveira de pirata bordada nas costas. Possuía dentes ligeiramente tortos e cabelo loiro desgrenhado.
Uma das gêmeas, Dália, puxou seu arco e mirou contra os inimigos. Nenhum dos dois se moveu, apenas encararam o projétil se aproximar deles, e quando este chegou a uma distância próxima, virou pó, esmagado por uma força desconhecida.
— Quando somos crianças, muitos de nós tem sonhos — falou o homem mais velho, ao caminhar até eles a passos lentos.
— Cala a boca, eu esmagarei seu rosto até que ele fique irreconhecível para sua mãe, seu verme desprezível, traidor, se curvando a besta que fomos enviados para destruir! — Otaviano cuspiu no chão, na frente deles, em forma de protesto.
O homem não tomou as dores da ofensa, em vez disso continuou a falar em seu tom compassado e calmo.
— Alguns querem ser bombeiros, médicos, cientistas, mas há um desejo em comum na humanidade, conhecer o espaço, descobrir o que há além da Terra. No fim, todo mundo quer ser um astronauta. Então, por que não dar um gostinho?
A gravidade desapareceu de repente. Tudo começou a flutuar no ar, pedras, cadáveres e qualquer objeto solto. O caos parecia completo, exceto pelos três inimigos do Olho do Tigre. A garota estava presa a uma rocha flutuante, enquanto os dois homens permaneciam firmes no chão, como se estivessem imunes às mudanças ao redor.
— Meu nome é Aether, e vocês estão no meu domínio… — Sorriu ele ao tirar o revólver do coldre. — Agora, vamos para o ato final do meu show grandioso.
Ele ergueu a arma e, com um movimento rápido, disparou em direção à gêmea arqueira, de forma tão precisa quanto havia feito antes contra Cassandra.
— Não ouse! — gritou a irmã dela, Daisy, avançando com a espada em punho.
O projétil cruzou o ar em um segundo, e o fio da lâmina encontrou seu caminho no momento exato, cortando a bala ao meio em um movimento protetor e impecável. O brilho do impacto reluziu brevemente, como uma faísca no vazio sem gravidade.
— Impressionante, — murmurou Aether, girando o revólver entre os dedos, encantado com a habilidade demonstrada. — Vocês sabem como deixar o espetáculo mais interessante.
— Se é um espetáculo que você quer, — proclamava Otaviano, flutuando de ponta cabeça enquanto apontava o dedo para Aether, — o gran finale será a sua cabeça esmagada na minha mão! Seu covarde! Desative essa porcaria de habilidade e lute como um homem!
Antes que Aether pudesse responder, o outro homem deu um passo à frente. Seu sorriso era carregado de autoconfiança, e o brilho em seus olhos sugeria que ele estava ansioso para entrar em ação.
— Não se preocupe, ele é meu. — O homem estalou os dedos, sua postura exalava arrogância, as mãos no bolso da jaqueta e um olhar perdido para o longe, sem olhar de forma séria para ninguém. — Quer um gran finale? Eu, Sergei Speed, vou garantir o espetáculo que você jamais esquecerá!
— Vem tranquilo — respondeu, com um tom que misturava desafio e expectativa.
De repente, uma grande pedra ergueu Sergei no ar, elevando-o acima do campo de batalha. Otaviano não tirava os olhos dele, contudo a sensação de alguma coisa errada o incomodava profundamente. Cada instinto lhe dizia que aquele oponente escondia algum truque, uma jogada imprevisível que poderia virar o jogo no momento perfeito para desestabilizá-lo.
— É um pássaro? É um avião? — provocou Sergei, com um sorriso travesso, equilibrado no topo da pedra que flutuava. Ele ergueu os braços dramaticamente, como se apresentasse uma peça teatral.
Abaixo, ninguém conseguiu ouvir o que Sergei havia dito inicialmente. Ele estava distante, sua figura envolta pela neblina cinza que obscurecia a visão da cidade celestial. No entanto, sua voz cortou o ar como um trovão:
— Sim, é a porcaria de um avião!
O som ecoou por toda a cidade, penetrante e impossível de ignorar. No mesmo instante, um avião se materializou no céu, colossal e ameaçador. Com o retorno abrupto da gravidade, o veículo começou a despencar de uma altura considerável, rumando diretamente para esmagá-los.
— Vou te dar algo inesquecível, palhaço! — Otaviano se levantou do chão, ainda um pouco tonto pela gravidade alterada, entretanto com determinação dobrada.
— O que você vai fazer? — gritou Dália para ele.
— Algo idiota, como sempre — respondeu Zoe, ofegante e ferida, porém confiante na habilidade de seu companheiro.
Otaviano saltou no ar, em direção à aeronave, ainda no ar. Ele murmurou alguma coisa, inaudível pela altura, e começou a brilhar em uma cor dourada intensa. Um único golpe, foi tudo que ele precisou para obliterar a aeronave em mil pedaços. Destruída, o avião desapareceu no ar como fumaça, da mesma forma que apareceu.
Em um pouso teatral, ele caiu no chão, criando uma cratera ao redor dele. Ele limpou o pó de suas roupas. O olhar frio e superior transmitia um desprezo por seus adversários, ele caminhava com confiança, pronto para arrebentar o rosto daqueles sujeitos.
— Muito bem! — Aplaudiu Sergei, impressionado pela demonstração de força de seu adversário. — Vamos tentar novamente… — Ele sorriu ao lamber os beiços e mostrar os dentes tortos para Otaviano. — É um pássaro? É um avião? Não, é a porcaria de uma bola de demolição!
Otaviano franziu as sobrancelhas, confuso, e antes que pudesse reagir, ouviu um som metálico massivo ecoando atrás de si. O gigantesco guindaste se materializou do lado dele, com a esfera de dezesseis toneladas se aproximando mortalmente. Ele tentou agarrar a esfera, todavia, aquilo já era demais. O objeto simplesmente o jogou no ar, fazendo-o desaparecer na névoa a distância.
— Aplausos por favor — Sergei fez uma reverência pomposa em forma de zombaria.
Distraída ao observar a luta de Otaviano, Zoe nem notou a garota se aproximar dela pela segunda vez.
— Um último presente para minha querida amiga! — A garota levantou os braços com um brilho vingativo nos olhos. Uma pedra gigantesca e pontuda se formou diante dela, disparando em direção ao coração de Zoe.
Em um ato desesperado, Zoe reuniu o que restava de sua força e conjurou uma esfera negra, que sugou o projétil mortal para longe, e desviou do ataque por um triz. Com suas últimas forças, ela voltou a levitar no ar, o ferimento no ombro ainda pingava sangue na rua de mármore.
— Pirralha! — Ela tentou revidar o ataque ao lançar novas esferas, inútil, a garota simplesmente conjurava mais pedras para bloquear os ataques, e as forças de Zoe começavam a se esgotar.
— E quanto a vocês? Ainda temos um show para encerrar… — provocou Aether, ao sacar seu revólver novamente e apontar para as gêmeas. — O show nunca pode parar!
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