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    — Isso parece um pouco estranho se levar em consideração que somos dois velhos, Jix.

    — O que você queria? Que eu corresse junto com você todos os dias? Não, não. Assim é melhor. Eu tenho praticamente 80 anos, não posso ficar fazendo tanto esforço assim.

    Dante tinha deixado Jix em suas costas, preso por uma cama de suspensórios que facilitava sua permanência. O velho não se importava, os dois braços ficavam acima dos ombros, e encarava adiante, com a cabeça mais afastada.

    A ideia partiu do próprio Jix de ajudar com a preparação para recursos. A primeira missão dada foi que Dante organizasse os recursos o mais rápido possível. Marcus e Clara souberam por Simone de que ele estaria pela cidade nos próximos dias, vagando entre os prédios.

    O que não esperava que Jix fizesse uma lista para que ele recuperasse objetos e suprimentos. A lista ficou gravada em sua mente, o que facilitou o processo para Vick. A IA tinha a função de recursos, mas Dante ainda não sabia como aumentar essa eficiência na área.

    Então, no começo da manhã, ele saiu com Jix em suas costas, como uma mochila. Por Vick lhe dar o sonar de reconhecimento em quase cinquenta metros, Dante saltou usando os jatos de ar dos pés e mãos, navegando entre as ruas em alta velocidade.

    — Você não me disse que podia fazer isso. — O ar colidia contra o rosto de Jix, o deixando incapacitado de ficar muito mais a frente do que podia. — Quando aprendeu a fazer isso?

    — Muitos anos atrás, com meu pai.

    Ele avançou a rua até que o prédio onde ficava sumiu de sua vista. Nas primeiras três horas, Dante parou em locais isolados. Em lojas e bares, entrava com cautela, dando uma olhada ao redor. Prateleiras sujas, o chão destroçado. Pegadas humanas e não-humanas lamacentas subindo os degraus até o segundo e terceiro andar.

    Vick deixou três marcações amarelas. Dante foi até os cômodos do fundo, abriu a porta de um banheiro até a metade. Ela agarrou em algo sólido. Dante enfiou a cabeça e viu o corpo de uma mulher jogado, sem vida.

    — Pelo tom da pele, já está ai há bastante tempo – disse Jix olhando por cima de seus ombros. — Ela está segurando algo bem precioso.

    Dante entrou e fechou a porta, pegando a mochila envolta dos seus braços. Ela abraçava com força. Assim que a pegou, abriu o fecho.

    — São roupas.

    Jix sugeriu que Dante levasse de volta. E o fez. Saiu da loja com ela amarrada em seu suspensório que cortava o peito. Assim que deu dois passos pela rua, mais marcadores amarelos surgiram. Ele começou a fazer o caminho para lá, se atirando com velocidade.

    Em poucas horas, tinha recolhido cerca de 4 garrafas, cerca de seis cobertores pesados e mais de vinte latas de suprimentos. Vick ainda alertava mais de dez pontos ao redor onde teria mais suprimentos, Dante só não tinha uma mochila para carregar tantos objetos de uma só vez.

    — O intuito é deixá-los cientes de que podemos fazer mais – explicou Jix sem demonstrar emoção alguma pelo que foi coletado. — Vamos voltar.

    Um dos cobertores foi usado como bolsa. Dante segurou sentindo o pouco peso, e se jogou para frente. A sola dos seus pés impulsionavam e a mão coordenava o trajeto de direita o esquerda. Os prédios foram deixados para trás, e Dante subiu um pouco mais a altura para não esbarrar nos carros.

    Ao se aproximar do prédio principal, avistou alguns moradores puxando alguns carros para mais perto da entrada, fortificando as paredes quebradas com metal pesado. Assim que pôs os pés perto, avistou Clerk em um dos carros. Ele tocava o veículo e as bordas de metal se espalhavam para onde a parede tinha buracos.

    Era uma ligação quase perfeita. O processo era lento e incrível. Dante não esperava que a habilidade dele fosse tão formidável para reconstruir.

    — Clara quer ele como responsável para refazer o prédio, uma pena que sua Energia Cósmica é tão pouca – disse Jix apoiando os dois braços nos ombros de Dante. — Ele precisaria ter mais três ajudantes para conseguir terminar esse mês ainda.

    — Existe outro modo. — Dante lembrou quando Dalia ordenou que ele transmitisse sua Energia para Crish. A Balsa foi reconstruída extremamente rápida. A passagem de Energia não era algo usual ali também?

    Dante não sabia até onde ia os conhecimentos dos demais a sua volta. Render lhe ensinou tudo que sabia sobre o poder que mudaria suas vidas, a Energia Cósmica sempre representou a magnitude mesmo diante dos mais ignorantes de seu vilarejo.

    Ali em Kappz, no entanto, parecia ser pouco difundido esse nível de conhecimento. Dante não sabia se ensinar seria o ideal. Algumas coisas não necessariamente são feitas para serem mostradas.

    — Não precisa pensar muito – disse Jix. — As pessoas precisam entender seus limites. No momento, você tem uma missão mais importante.

    Dante subiu para o terraço e parou afastado de Clara e Marcus. Eles tinham colocado uma mesa bem no meio e cadeiras, discutindo. Um mapa tinha sido erguido, e não somente os dois, como Simone e mais dois homens sentavam ao redor.

    Não os reconhecia de imediato, mas vendo a proximidade que tinham com Marcus e Clara, ele não questionou.

    — Nós temos apenas três quadras limpas de recursos – dizia Clara mirando o dedo na direção de um dos pontos. — Isso abre margem para termos acesso aos demais prédios. Nosso primeiro objetivo será remodelar o prédio para suportar a quantidade de pessoas que temos e mais algumas dezenas que podem chegar. Não quero poupar nada, temos todos os recursos aqui na palma da nossa mão.

    — Concordo – um dos homens disse sorrindo para Clara. — Se tivermos mão de obra, podemos começar a criar as pontes que vão interligar as Ilhas Prediais. O nome é bom o suficiente?

    Marcus e o outro assentiram.

    — O senhor Blayk vai ser responsável pelo gerenciamento do projeto – disse Clara apontando para o sorridente homem.

    Dante notou que ele sorria demais para Clara. Muitos dentes numa boca pequena.

    — Marcus e Traul ficaram responsáveis pela contagem de recursos – continuou Clara Silver. — Simone para organização pessoal junto comigo. E temos Dante e Jix que vão ficar com a coleta diária de recursos. Não colocamos muita ênfase na coleta porque sabemos que o inverno vai chegar e as coisas vão ficar mais difíceis. Teremos que ter algum tipo de apoio, irei marcar uma reunião com Luma para vermos até onde podemos negociar comida por água.

    Dante colocou o cobertor em cima da bancada lateral chamando atenção dos demais. Quando abriu, espalhou a comida enlatada para um canto, os cobertores para o outro, remédios e seringas juntas, e depois colocou as garrafas separadas e por fim as roupas.

    O comentário que ouviu sobre os suprimentos serem a última coisa era um pouco desgastante. Não porque era de menos importância, mas porque Clara parecia querer que fosse a sua última preocupação.

    Assim que tomou a descer, ouviu Marcus, mas o ignorou, partindo novamente para a rua.

    Jix olhou para trás, o atirador tinha ficado no prédio enquanto Dante usou os disparos para ir adiante. No meio da rua, o velho perguntou.

    — Parece um pouco chateado de como as coisas estão sendo feitas.

    — Não estou chateado. Eles precisam focar em suas próprias missões. Quanto tempo temos até o inverno?

    Jix não respondeu, mas Vick soou em sua cabeça.

    Pelo clima e tempo previstos, teremos apenas mais 3 semanas até que o primeiro floco caía. Talvez, menos”.

    Dante já estava no meio da rua quando aumentou a velocidade.

    — Vamos acelerar. Jix, se segure.

    O velho nem havia se mexido direito.

    — Estou bem confortável aqui. Pode seguir como quiser.

    Os jatos aumentaram e ele foi mais longe do que antes, atravessando mais de quinhentos metros em poucos minutos. Vick soava a cada segundo, indicando pontos amarelos em determinadas localizações; casas, lojas, pequenos postos destruídos, dentro dos carros, no trem jogado em um prédio, até mesmo no alto de outros arranha-céus.

    Havia um mundo para ser descoberto. Um mundo que salvaria o seu.

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