Kino olhou ao redor, desesperado por qualquer coisa que pudesse ajudá-lo. A pressão em sua cabeça aumentava a cada segundo.

    O sangue acumulado o deixava tonto, e ele tinha certeza de que seu rosto estava vermelho como o cabelo das irmãs. Falando nelas, tentou se convencer de que ainda estariam por perto, bolando um plano para resgatá-lo.

    Mas quem ele estava enganando? Elas provavelmente já tinham fugido para bem longe. No fim, era cada um por si, e ele sabia disso.

    Crack! Crack!

    O som dos passos da criatura se aproximava rapidamente. Kino tentou puxar o fio viscoso que o prendia mais uma vez, mas sem sucesso. Suas mãos tremiam, e o desespero só crescia.

    Faltava pouco para que ela aparecesse. E então, lá estava ela.

    Quando surgiu em seu campo de visão, seu coração quase parou. Se fosse cardíaco, certamente teria morrido na hora.

    A criatura lembrava uma aranha gigante, mas possuía apenas duas patas, longas e curvadas. Sua pele marrom-escura era rugosa, semelhante à casca de uma árvore velha.

    Ela abriu o que parecia ser a boca, revelando duas presas amarelas e afiadas, de onde escorria um líquido verde e viscoso, pingando lentamente no chão.

    Pelo cheiro, era fácil imaginar que aquilo era tóxico. Um fedor insuportável se espalhou pelo ar, como queijo podre deixado ao sol. Kino tentou não pensar no que aquele veneno faria ao seu corpo.

    Mas isso nem era o pior. O verdadeiro problema era o tamanho da criatura e a velocidade com que avançava. Se não encontrasse uma saída logo, seria partido ao meio como um kit-kat.

    E a criatura parecia ansiosa para que isso acontecesse.

    A aranha de duas patas parou bem abaixo dele, imóvel. Por um instante, parecia alheia à sua presença, como se estivesse esperando o momento exato para atacar.

    O coração de Kino batia tão rápido que parecia querer saltar do peito. Preso na rede, tudo o que podia fazer era encarar seu provável fim.

    A criatura permaneceu parada, como se estivesse escutando algo. De repente, uma pedrinha caiu a poucos metros de distância, e ela disparou na direção do som com uma velocidade assustadora.

    Bingo! Ela se guiava pelo som. Ele precisava de um plano para sair daquela rede. Seus olhos se voltaram instintivamente para o bolso.

    “Se ao menos o objeto tivesse aparecido…”

    Mas o tempo parecia se arrastar, e cada segundo preso ali era uma tortura.

    A criatura voltou, agora se movendo lentamente. Parou a poucos centímetros de seu rosto, e ele prendeu a respiração, fazendo o máximo para não emitir nenhum som. O cheiro que vinha de sua boca era insuportável.

    Os olhos de Kino começaram a lacrimejar, e um calafrio percorreu sua espinha. A mandíbula da criatura, cheia de presas afiadas, se abriu devagar. Ele podia sentir que ela estava ansiosa para mastigar sua carne.

    De repente, knoc! Um som à sua esquerda. A criatura girou na mesma hora e correu atrás do ruído. Ele soltou o ar preso nos pulmões, aliviado por um instante, até perceber algo brilhando no chão: uma pedra havia sido lançada.

    Ele olhou para o lado e viu a irmã mais velha, agachada, segurando outra pedra. Por um breve momento, seus olhares se cruzaram.

    “Ela estava tentando me salvar…”

    Foi então que sentiu algo no bolso.

    Ele mal podia acreditar.

    “Finalmente!”

    Suas mãos tremiam enquanto sentia o peso do objeto no bolso, quase escorregando. Seu coração disparou e, por um instante, pensou que fosse deixá-lo cair. Se isso acontecesse, seria seu fim.

    Com cuidado, puxou o isqueiro para fora. Não podia errar. Suas chances de escapar com o corpo inteiro dependiam disso.

    Ao acender a chama, um clarão laranja iluminou seu rosto. A rede era resistente? Sim, mas não era à prova de fogo. A chama começou a lamber as fibras, que se retorciam e queimavam lentamente.
    “É só uma questão de tempo.”

    Ele olhou para baixo: cinco metros. Não era o suficiente para matá-lo, mas podia quebrar um osso ou deixá-lo vulnerável. E ele não podia se dar esse luxo.

    “Qualquer coisa seria melhor do que ser partido ao meio.”

    A garota lançou outra pedra. O monstro disparou na direção do novo barulho, mas ele sabia que isso não duraria muito.

    O calor crescente começou a queimar seus dedos, mas ele não podia parar. A dor era insignificante comparada ao que o esperava se falhasse.

    A rede começou a ceder. Primeiro, um estalo. A criatura virou o olhar em sua direção. Depois, outro estalo. A aranha começou a correr em sua direção.

    Percebeu que o estoque de pedras dela tinha acabado. Ela se agachava, desesperada, procurando algo no chão, enquanto o monstro mudava de direção novamente, agora vindo direto para ele.

    CRACK!

    A rede finalmente se rompeu, e Kino caiu no chão com um baque seco. Seu braço explodiu em dor. Parecia deslocado ou, pior, quebrado.

    Sem pensar, rolou para o lado, escapando por pouco de uma das patas gigantes que desceu com força exatamente onde ele estava.

    — Corre! — gritou para a garota.

    — Não me diga! — retrucou ela, já disparando em fuga.

    Kino Levantou-se cambaleando, ignorando a dor no braço, e começou a correr atrás dela. A aranha escorregou na rede, o que deu um pouco de tempo para aumentar a distância.

    Ele agradeceu por ela não saltar como uma aranha comum.

    Kino não sabia por quanto tempo conseguiriam continuar correndo. O monstro estava cada vez mais perto.

    — Precisamos de um lugar estreito! — gritou a garota, olhando para trás.

    A mente de Kino girava, buscando uma solução. Ele precisava de um plano. Tinha uma ideia, mas as chances de funcionar eram mínimas.

    ” E se não desse certo? Bem… eu seria dilacerado ou pior devorado de uma só vez…”

    “Não, ser dilacerado seria pior…”

    Sem aviso, parou de correr e começou a tirar o sapato do pé.

    Ela parou no mesmo instante, olhando-o como se tivesse perdido a cabeça. Talvez ele tivesse.

    — O que você tá fazendo?! — perguntou.

    O ombro de Kino doía como nunca, mas ele não podia deixar isso atrapalhá-lo. Precisava colocar seu plano em prática. Só faltava uma coisa. Levou a mão ao bolso e, para sua sorte, o isqueiro ainda estava lá.

    — Corra o mais rápido que puder — ordenou.

    — E você?

    — Apenas faça isso! — insistiu ele.

    Depois de um instante de dúvida, ela respirou fundo e começou a correr novamente.

    Ele ficou parado, encarando o monstro que vinha na sua direção a toda velocidade. Cada passo fazia o chão tremer.

    “Se meu plano não funcionasse…Bem, é melhor não pensar nisso agora.”

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