Capítulo 65: Invisível e Pesado
Nas suas costas, Marcus esperava por uma entrada dramática. Da última vez, Dante abriu a porta do Reservatório com um chute. Dessa vez, chegando próximo do portão cheio de correntes e cadeados, Dante segurou a ligação. Apertou sem fazer muita força, e soou um chiado do metal estalando.
Quando recuou o braço, os fragmentos do que selavam a porta caíram. As correntes correram para o lado, o arranhar pelo chão pareciam lamentos do fim de um longo dever. Assim que empurrou a porta para frente, ela também rangeu.
Os três entraram. Marcus tinha a carabina ISE erguida, dando passos curtos e cautelosos, verificando ao redor. Tantas caixas, lonas e lixo jogado pelo hall. Dante e Jix encararam o mesmo ponto, um andaime na lateral que dava para um caminho mais elevado. Lá em cima, lonas ficaram erguidas contra janelas intactas.
Deram a volta nas cadeiras juntas e presas por corda. Assim que chegaram mais ao fundo, a luz que vinha da entrada já não era tão forte. Começaram a dar passos curtos, mantendo o silêncio. Cada movimento era cuidadoso, quase hesitante. E tocaram a porta que ligava o salão interno.
Dante o pressionou também, criando um pequeno estalido no ferro, mas quando o soltou, o material estava intacto.
— Consegue quebrar isso? — Marcus perguntou olhando ao redor. — Lá atrás pareceu fácil.
Realmente, tinha sido. Pressionar o metal era simples, e ele não cedeu nem mesmo fazendo bastante força.
— Não é força — disse Jix em seu ouvido. — Esse lugar tem um cheiro diferente. Não sentiram?
Dante não tinha percebido, nem quando prestou atenção nos odores. Jix fez um movimento, repetindo o cheiro para trás. Havia uma porta para onde ele apontava, oculta por caixas caídas, placas e até mesmo um pequeno armário na lateral.
Empurrando com facilidade para o lado, Dante abriu caminho. Uma nuvem de poeira ergueu-se, flutuando lentamente na luz difusa, enquanto avançava, os olhos atentos vasculhando o caminho adiante.
Passaram por um corredor que dava diretamente para o outro lado da porta trancada. A luz já não chegava mais perto de lá, e quando abriram a segunda porta, nada além da escuridão. O teto era a única parte que recebia luminosidade por causa das frestas nos panos e lonas.
Marcus tomou a dianteira com seus óculos térmicos e os guiou até o final. Dante esbarrou em duas caixas, ouviu ruídos baixos assustados que correram. Jix lhe deu dois tapinhas e mandou que continuasse.
Lá no final, Marcus achou outros seis caminhos, cada porta numa diferente posição. Eles pararam na mais próxima.
— Essa segue para um lugar mais alto — disse Marcus sentindo o ar vindo de cima. — Pode ser que esteja lá.
Dante não perdeu tempo e ativou Vick. O silêncio permaneceu entre os três até que a voz robótica soou.
“Sintetizando Energia Cósmica. Tempo até localização da Pedra Lunar: dois minutos”.
Eles sentaram nos caixotes, esperando. De tempos em tempos, um barulho soava bem longe, os ratos corriam pelos buracos nas paredes, desaparecendo em seguida. Mesmo no silêncio, Dante manteve sua atenção ao redor.
Sua audição tinha melhorado por conta dos treinos com as vendas, mas era completamente diferente quando se enfiava no meio do breu. Ali, até mesmo um vulto carregava uma forma, era estranho pensar sem enxergar nada, Dante podia determinar a localização exata de Marcus, por exemplo.
Foi por isso que meu pai me ensinou a lutar no escuro?
Vick respondeu na mesma hora.
“Sintaxe reunida, expandindo medida de procura. A Pedra Lunar tem uma concentração de Energia Cósmica o suficiente para clarear uma cidade. Irradiação iminente. Cerca de duzentos metros”.
O pulsar surgiu pelos olhos de Dante, observando um ponto amarelo atravessar a porta e subir pelas escadas. Esse era o caminho correto.
— Vamos.
Eles subiram degrau a degrau, ficando mais de cinco minutos. Viam uma luz pulsar de tempos em tempos, azulada, como céu. Chegaram mais próximo, diminuindo a velocidade, mas quanto mais se aproximavam, mais a luz ficava forte.
Dante se aproximou da beirada do andar superior com passos cuidadosos, o som das botas ecoando suavemente no piso metálico desgastado. O ar ali era pesado, carregado com o cheiro de ferrugem e poeira. Quando alcançou o limite, inclinou-se ligeiramente para espiar o andar inferior, mas foi interrompido por uma voz cortante que rompeu o silêncio.
— Eu já disse para não demorarem — a voz era rouca, carregada de irritação, e parecia vir da esquerda. — Não temos o dia inteiro. Temos que carregar o material ainda hoje.
Os três ergueram apenas a cabeça, vendo mais de trinta pessoas reunindo caixas e carregando-as para a direção contrária deles.
Pela aparência daquelas pessoas, era evidente que não pertenciam ao grupo dos trabalhadores comuns. Suas roupas estavam esfarrapadas, mas não pelo uso diário e honesto, e sim pela negligência e pelo caos. Algumas manchas escuras, talvez de graxa ou sangue seco, marcavam o tecido, enquanto os olhares desconfiados os denunciavam como sobreviventes endurecidos por situações extremas.
O homem que comandava o grupo se destacava pela postura imponente. Ele gritava ordens de forma áspera, dura. Em sua mão, uma espada lisa e bem polida refletia a fraca luz do ambiente. Quando um dos homens deixou cair uma das caixas menores, o líder imediatamente virou-se, erguendo a espada como se a qualquer momento pudesse usá-la para impor sua autoridade.
Os outros recuaram ligeiramente, como cães acuados, murmurando desculpas abafadas, mas sem ousar olhar diretamente nos olhos dele.
A chama do medo era erguida contra a imponência.
— GreamHachi — ouviu Marcus dizer ao seu lado como um rosnado. — São eles.
A roupa do líder era completamente preta, uma farda obscura com botões brancos que refletiam também da pouca iluminação do teto. A roupa, apesar de simples, carregava um ar de autoridade; o tecido grosso e bem ajustado parecia projetar tanto disciplina quanto ameaça.
Era bem semelhante aos que os Capitães e Comandantes da Capital utilizavam.
“Localização em movimento: 150 metros. Alerta de Energia Cósmica em alta quantidade. Origem: Humana”.
Marcus abaixou a cabeça, gemendo de dor. Arrancou o óculos do rosto, e tateou os olhos.
— O que houve? — Dante sussurrou preocupado. — Está tudo bem?
Jix também ficou apavorado.
— Não está sentindo, Dante? — o velhinho perguntou parecendo querer se esconder. — É uma Energia Cósmica muito forte. Bem mais do que a nossa.
Não, Dante sequer sentia essa ondulação. Os dois ao seu lado sofriam com algo invisível, mas ele sequer entendia o motivo. Ele tentou buscar um sentido na situação, mas nada fazia sentido. Era como se algo invisível, intangível, estivesse pesando sobre eles, algo que, de alguma forma, não o afetava.
— O que está acontecendo?
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