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    — Vai realmente fazer isso? — Anzu, o demônio que habitava em meu interior, questionou em seu bar.

    — Ele é o tipo de cara que não adianta conversar… uma troca de socos é a única coisa que vai fazer ele me ouvir.

    — Devo te lembrar… se eu morrer, você segue a sua vida… mas, se você morrer, eu vou junto.

    — Relaxa! — respondi com um sorriso confiante — Eu não vou morrer!

    Algumas horas depois, me encontrei sendo esmagada pela pressão mágica de Gilgamesh, fazendo meus joelhos lutarem para me manterem de pé.

    — EU MENTI! — gritei para dentro de mim.

    Respirando fundo o pouco de oxigênio que meus pulmões conseguiam puxar, liberei toda a minha mana, criando uma camada mágica ao meu redor que me fazia suportar a pressão que Gilgamesh exercia.

    Em uma fração de segundos, seu punho afundou o chão a minha frente. Eu não sabia dizer se meu corpo agiu por puro instinto de sobrevivência ou se ele havia me deixado escapar, mas de qualquer forma, aquilo me deu a chance de contra-atacar.

    Fortalecendo meus membros inferiores com a Manipulação do Caos, finquei meu calcanhar no solo, me dando apoio e estabilidade para chutá-lo com toda a minha força.

    — É só isso que tem? — perguntou, segurando meu chute com o seu braço.

    — Eu fiz você defender… — brinquei.

    Gilgamesh segurou meu tornozelo com ignorância, me arremessando para o outro lado da sala. Em meio aos destroços caídos após o impacto, disparei ferozmente em sua direção, com a Chama Púrpura envolvendo meus braços.

    Meu soco foi interrompido com extrema facilidade no momento em que meu oponente impôs seu bíceps contra mim, mesmo assim, eu continuava a atacar incessantemente.

    O cavaleiro arrogante ergueu seu braço prestes a balançá-lo como um leque e ao ver suas intenções, logo recuei.

    — Seus golpes… todos eles são vazios.

    — É, você já disse algo parecido — eu desapareci e reapareci rapidamente nas suas costas.

    — Lento demais… — Gilgamesh me olhou por cima dos ombros, com toda sua arrogância.

    De repente, uma lança brilhante de ouro emergiu da terra através de um portal dourado.

    — QUÊ? — um simples salto para trás não me tornou capaz de desviar de seu golpe por inteiro, deixando um corte raso no rosto, rasgando a alça da minha mochila e a derrubando.

    Eu pus a mão rapidamente no corte, percebendo a pequena quantidade de sangue escorrendo.

    — Cê tá tentando me matar? — gritei enfurecida.

    — Duvido que consiga levantar a cabeça se não tiver uma… — ele me olhava com um olhar de humilhação, quase como um babaca fazendo bullying na escola.

    — Tsc… — eu me via em uma cilada, buscando uma forma de vencer — Primeira Instância!

    A mana ao meu redor se reunia ao meu redor, assim como o metal se junta ao ímã, e começou a preencher o meu corpo. Pude sentir a magia dentro de mim com mais clareza, me concedendo mais força, velocidade e resistência.

    — Essa é a sua magia? Força bruta?

    Mais uma vez, avancei em uma sequência de socos e chutes, todos eles bloqueados. 

    Os minutos se passaram sem uma única palavra dita.

    — Está mais rápida e mais forte, talvez aquela mochila estivesse muito pesada, não? — disse com um olhar de zombaria.

    — Nem um pouco, mas eu até agradeço por isso.

    Chegando rapidamente em seu ponto cego, estendi minha mão aos céus, chamando a minha querida arma.

    “Eu prefiro usar os punhos, mas não tô vendo outra escolha” pensei brevemente.

    A foice girou da minha mochila até minha direção em alta velocidade, cortando todo o ar que estava em seu caminho.

    No que acreditava ser uma medida desesperada, Gilgamesh saltou próximo ao teto, desviando do corte da foice.

    — Então você tem uma arma… — com um sorriso surpreso.

    Antes mesmo que ele pudesse cair no chão, joguei a minha foice na trajetória de sua queda, mas o mesmo a bloqueou com a parte inferior da sua armadura.

    Eu avancei repetidas vezes, lançando minha arma para frente e a puxando de volta com a mana, como se fossemos duas pessoas dançando no meio da luta. Passos apressados subiram as escadas até nós, mas eu sabia que se desviasse o olhar por apenas um segundo, seria o meu fim.

    — Antes que termine com sua dança de balé, vou te dar a oportunidade de responder — declarou enquanto bloqueava meus golpes como se não fosse nada — Por quê luta?

    — O meu pai me enviou aqui! Disse que tenho uma missão importante!

    — O seu pai te mandou? Uma missão importante em um mundo distante? Esses são os seus propósitos? Eu não sei de onde você vem e nem me importo com isso, mas- 

    — Esse é o meu mundo! — o interrompi brutalmente — O meu mundo inteiro está aqui! — eu olhei para o lado, encarando Noelle, Akira e Mika, que haviam chegado há pouco — Tenho pessoas a quais devo salvar! Sonhos que devo proteger! E também… TEM UMA BARANGA VAGABUNDA QUE VIVE ME ENCHENDO O SACO! ELA É RAZÃO PARA QUE EU LUTO! Sim… talvez sejam motivações simplistas até demais, mas eu tô pouco me fudendo pro que você acha!

    Um olhar nostálgico formou-se sobre a expressão surpresa do cavaleiro, durando pouquíssimos segundos.

    — Muito bem… — respondeu com um sorriso convencido — se é assim, será que está disposta a morrer por seus objetivos? — atacando minha foice com seu cotovelo, estilhaçando sua lâmina.

    — O QUÊ? — desacreditando de suas palavras.

    Gilgamesh deu um pequeno passo para trás, estendendo seus dois braços aos céus.

    — GILGAMESH! JÁ CHEGA! — Mika gritou desesperado.

    – Saki! — Meus amigos berraram para mim.

    Técnica Divina: Enkidu! — Esbravejou com glória.

    No alto da enorme sala, quase atravessando o teto, metros acima de nós, um portal dourado se abriu no ar.

    Correntes de ouro surgiram de dentro do portal (cerca de oito), arrancando com rapidez em minha direção. Eu tentava me esquivar agilmente, saltando entre a destruição da sala enquanto as correntes me perseguiam. Meu corpo suava e sangrava com a sensação de quase morte constante, passando rapidamente pelo fio da vida cada vez que eu desviava dos ataques por pouco.

    Subitamente, as oito correntes se juntaram acima de Gilgamesh, se tornando apenas uma lança. Apontada para mim, eu já sabia o que estava por vir.

    — Não dá pra desviar! — exclamei vendo a lança quebrar a barreira do som ao mirar na minha cabeça — PODE VIR!

    Imbuí minhas mãos com a mais pura mana caótica, numa busca desesperada de me defender. A lança tentava me dilacerar a qualquer custo. Eu tentava empurrar a lança de volta, mas seu poder surreal me fazia sucumbir à força.

    “Então esse é o nível de um herói? Aquele cara parecia ainda mais forte…” me recordando do demônio que me presenteou com uma cicatriz enorme no peito “eu não vou conseguir…”

    Nos meus últimos momentos, eu não deixava de pensar no quão fraca eu ainda era, o quanto ainda continuava ser a mesma garota impotente de anos atrás.

    “Será que está disposta a morrer por seus objetivos?” as palavras de Gilgamesh ecoaram na minha mente.

    “Morrer? Não ainda…”

    — AÍ ANZU! — chamei o demônio.

    — Você quer conversar agora? — perguntou eufórico e confuso — É melhor você não morrer!

    — Eu tenho uma oferta! — ainda lutando contra a minha vida.

    — O quê?

    — Você quer uma parte do meu corpo, não é? Um olho, uma perna, tanto faz! — perguntei, dentro de seu bar, organizado e calmo como sempre.

    — S-Sim…

    — Ele é todo seu! — Nossas mãos se abraçaram, firmando um trato.

    — Não vá se arrepender depois…

    Voltando para o mundo real, onde estava prestes a encontrar o fim, eu me joguei para o lado, com certa dificuldade, sacrificando meu braço esquerdo.

    A Lança atravessou a parede da sala super resistente de treinamento, no processo, arrancando o meu braço.

    — SAKI! — Noelle gritou, correndo em minha direção.

    — NÃO INTERFIRA! — Gilgamesh a interrompeu — Ainda não acabou.

    A medida que a poeira abaixava, eu levantava meu corpo caído, apertando o restante do meu braço decapitado.

    — Então foi o só braço?

    De pé, meus joelhos tremiam, buscando força para me manter firme. A perda de sangue estava deixando minha visão turva, aniquilando meu senso de equilíbrio.

    — Huh? — O cavaleiro arrogante parecia surpreso.

    A pele solta do restante do braço, pouco abaixo do ombro esquerdo, começou a se regenerar gradativamente, em um tom preto como a noite. Minha consciência já estava me abandonando, tudo que eu conseguia enxergar através da vista embaçada, era uma mão revestida por uma camada preta de energia, com garras e alguns círculos e linhas violeta desenhados por toda a extensão do meu braço, foi assim, com essa dúvida e confusão, que meus olhos se fecharam, mergulhando no vazio do subconsciente.

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