Capítulo 14
24 de dezembro de 21XX, 19:30h — Estacionamento Externo do Hospital Central.
— Boa noite, Patroa! Como você está? — disse uma figura masculina adulta, de cabelos grisalhos e olhos gentis, enquanto fazia uma breve reverência para Lycoris.
— Senhor Galdino! Boa noite! — exclamou a garota, animada, enquanto cumprimentava o rapaz. — Estou muito bem, obrigada!
— Minha senhorita Kaiserin, Galatéia! — acrescentou Carlos, dessa vez, se curvando para as outras.
Com um aceno de cabeça, a Serva de Lycoris respondeu:
— Boa noite, nobre Carlos! Obrigada por vir nos buscar!
E a Galatéia — feliz por se encontrar com um velho conhecido — o saudou, calorosamente.
— Olá mais uma vez, mestre Carlos! — disse a fadinha, erguendo as suas mãos. — É muito bom revê-lo! (*’▽’*)/
Após cumprimentar cada uma delas, o rapaz de cabelos grisalhos abriu a porta do carro, estendeu a sua mão e, de maneira elegante, convidou as garotas para entrarem.
— Aqui, por gentileza, senhoritas! — disse ele, com uma expressão gentil.
— Obrigada, senhor Galdino! — respondeu Lycoris, entrando no carro.
— Você tem a minha estima, nobre Carlos! — Kaiserin falou, enquanto passava por ele.
E Galatéia — animada como sempre — completou, enquanto flutuava até as de pernas de Lycoris:
— Licencinha! o(^▽^)o
Em seguida, Carlos fechou a porta do carro, assumiu o banco do motorista e ligou o motor.
— Minha Patroa, a nossa primeira parada, será na entrada do Centro Administrativo do Comitê Olímpico — disse ele, enquanto olhava a garota pelo retrovisor. — A madame Mikaela tem aguardado ansiosamente pela nossa chegada!
Com uma expressão corada, Lycoris pronunciou, sorrindo:
— Mamãe!
E não perdendo tempo, Galatéia tagarelou:
— A Lyco está feliz! (≧◡≦) — disse ela, enquanto cutucava a bochecha da primeira.
— Por gentileza, apreciem a viagem! — proferiu o motorista, dando risada.
E Kaiserin, de maneira educada, completou:
— Estamos aos seus cuidados, nobre Carlos!
Carlos Galdino, como era chamado o motorista, tinha uma idade por volta dos seus quarenta e cinco anos. Possuía uma pele morena, olhos escuros, cabelos grisalhos e físico magro. Ele aparentava ser uma pessoa bastante alegre e carismática, ao passo que seus modos, destacavam a sua persona profissional e respeitável.
Enquanto o automóvel seguia em movimento, saindo das imensas instalações do Hospital Central; a vista deslumbrante daquela parte da Cidade — repleta de apartamentos de luxo, estabelecimentos de primeira classe e, diversos pontos turísticos — refletiu nos olhos cor-de-rosa de Lycoris.
Diferente da megametrópole do porto — que foi projetada pensando nas necessidades das massas — o bairro de classe média-alta; a Arena Olímpica, foi construída para promover, e divulgar, competições e eventos do mais alto nível.
E o evento da vez, que não saía da boca do povo; eram as Olimpíadas de Inverno.
A fadinha Galatéia — como de costume — era uma criatura bastante enérgica e animada. E por conta de sua natureza livre, espírito aventureiro e curiosidade extrapolada; ela não conseguia ficar por muito tempo parada.
E tendo se passado apenas alguns poucos minutos — desde que a viagem havia começado — ela já estava praticamente entediada. E querendo se distrair um pouco; voou na direção de Carlos.
— Mestre Carlos! Mestre Carlos! Como você está? Tem passado bem? Como vai a família? E o trabalho? σ(^○^) — disse ela, lançando uma enxurrada de perguntas para o motorista.
O rapaz de cabelos grisalhos, contente com a presença dela, abriu um sorriso largo e respondeu:
— Estou agradavelmente bem, chefinha Galatéia! E apesar dos dias corridos, tenho conseguido passar mais tempo com a minha família!
— E como elas estão, senhor Galdino? Sua esposa e filha?! — Lycoris perguntou, intrigada.
Com uma expressão alegre, o motorista Carlos respondeu:
— Estão muito bem, Patroa! A minha esposa voltou a trabalhar em sua loja de perfumes e, a minha filha, como sempre, tem se esforçado bastante na cafeteria de sua irmã mais velha!
— As duas se tornaram grandes amigas, hihi! — comentou a primeira, sorrindo.
E Carlos, concordando com a fala dela, acrescentou:
— De fato! Elas não se desgrudam por nada! Hahaha! Apareça na cafeteria a qualquer hora, Patroa. Tenho certeza, de que a minha filha ficará muito feliz em vê-la!
— Irei amanhã mesmo, senhor Galdino! O meu organismo precisa de doces, rs! — disse Lycoris, saboreando mentalmente as sobremesas.
Em seguida, querendo saciar a sua própria curiosidade, Kaiserin perguntou:
— A propósito, nobre Carlos. O que ficou decidido, quanto ao seu processo no Tribunal? Confesso que desde que saímos da cidade, não tivemos mais notícias.
Com a sua sobrancelha erguida, o rapaz de cabelos grisalhos respondeu:
— Ah, sim! Muito bem lembrado, minha senhorita, Kaiserin! Ainda não atualizei vocês, quanto a minha condição.
— Hum?! — Lycoris balbuciou, curiosa.
— Patroa, a quanto tempo nos conhecemos mesmo? — questionou Carlos, voltando a sua atenção para a primeira.
Confusa com aquela pergunta repentina, Lycoris refletiu por um momento.
— Eu?! Bem, deixe-me ver. Acredito que… uns sete anos, talvez?! — respondeu a garota, desajeitada, sentindo que a sua memória estava uma bagunça.
— Talvez?! Hahaha! Sim. De fato! Já faz ‘sete anos’, desde que a minha vida virou de ponta cabeça.
A mente de Carlos foi levada para o passado e, por alguns segundos, ele reviveu diversas memórias traumáticas.
— Como vocês bem sabem — continuou ele, com a sua voz soando aflita. — Naquela época, a minha única filha, se envolveu com um certo rapaz…
Lycoris observou a expressão de Carlos mudar por um instante e, enquanto ele falava, era possível perceber, em cada uma de suas palavras, o seu imenso desgosto.
— À primeira vista, ele parecia ser uma pessoa responsável e carismática. Era empresário, sempre falava de negócios e projetos ambiciosos. Porém, por trás de toda a sua postura calma e enigmática, havia uma persona suja e bastante problemática!
Ele suspirou por um segundo, recuperou o fôlego e acrescentou:
— E na minha própria ignorância, apesar de me sentir desconfortável próximo a ele, suprimi aquele sentimento, por imaginar, que fosse algum tipo de impulso superprotetor paterno.
Com uma expressão curiosa, Galatéia perguntou:
— Aquele sentimento, que dizem, todos os pais, sem exceção, terem por suas filhas, mestre Carlos?! De não quererem entregar a sua preciosa menininha, para nenhum homem?!「(°ヘ°)?! — questionou a fadinha, adotando uma entonação engraçada.
— Hahaha! Sim! Esse mesmo, chefinha Galatéia! — respondeu o rapaz, dando risada. — Os pais são criaturas bastante ciumentas!
— E perigosas… — acrescentou Kaiserin, enchendo o clima de tensão.
“Ruler! O que você pensa que está fazendo?!”, disse Lycoris, em seu íntimo, lançando um olhar afiado na direção de sua Serva.
— Não vou negar… — murmurou o rapaz, angustiado, se autocondenando. — O desespero faz um homem santo cometer atrocidades!
Lycoris não sabia onde Carlos queria chegar com aquela conversa e, muito menos, o motivo oculto por trás dela. Ainda assim, a garota ouviu cada palavra em silêncio.
— Naquela época, logo após perder o meu emprego, passei a trabalhar como um taxista freelancer na cidade — continuou o motorista, recuperando a compostura. — E por causa do meu trabalho, sempre ouvi todo tipo de conversa entre os meus passageiros. Desde as fofocas mais absurdas, até à rumores da conspiração!
— Devo dizer, nobre Carlos, que muitas dessas histórias sempre me divertiram! — disse Kaiserin, enquanto ria. — Nunca me esqueci daquele boato, sobre uma megacorporação estrangeira, que vigiava as pessoas da cidade, por meio de nano-máquinas presentes no ar!
Ela abriu um sorriso largo e acrescentou:
— Também havia aquela, sobre uma escadaria que dava acesso à uma Estação Espacial em órbita, e, outra, que mencionava uma Pintora capaz de dar forma e vida às suas artes! Sendo ela, a responsável por moldar todos os aspectos da Cidade Portuária.
— A maioria não tinha nem pé ou cabeça! Hahaha! — bradou o rapaz, bem humorado. — Porém, um deles se provou real… e eu senti, na própria pele, o terror do boato de Jack, o Estripador!
Uma memória dolorosa passou pela mente de Carlos e, enquanto ele revivia aquela cena, a sua voz estremeceu.
— Durante uma de minhas viagens pela cidade, conduzi um infeliz casal até o Hospital Oeste… Lembro-me até hoje, da aflição, e do pesar, estampado em cada um de seus rostos.
Lycoris observou — mais uma vez — a expressão do motorista Carlos mudar. E a medida em que ele falava, o seu jeito humorado, era ofuscado por um tom desolado.
— E durante toda a viagem — continuou ele. — Os dois não paravam de implorar, e de suplicar a Deusa; que sua filha estivesse a salvo e bem.
“O senhor Galdino está chorando?!”, pensou Lycoris, enquanto observava o rosto do rapaz pelo retrovisor.
— Infelizmente, tudo o que eu podia fazer por eles, era apenas dirigir. E após deixá-los em segurança no seu destino, que a propósito, estava repleta de policiais; pude escutar, por meio da conversa entre os agentes, diversos murmúrios a respeito daquele incidente…
Em seguida, Carlos cerrou o punho, prendeu a respiração e, completou, com o seu coração partido:
— Sobre uma garota, de aproximadamente dezessete anos de idade, que havia sido sequestrada, violentada e assassinada na noite anterior.
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