Índice de Capítulo

    “Uma das poucas coisas que não se esqueceria foi daquele final de tarde, a última que teve antes dos seus doze anos religiosos. Muito dos vindouros foram-lhe odiosos. Foram sua manhã e seu escárnio pessoal contra e por seus deuses.”

     Izandi, a Oniromante

    Hyd deu o passo mais longo, rápido e lento da sua vida para se esconder sob a saia de Willmina. “Como reagir a isso?!” Sua mãe apertara-lhe protetivamente em sua coxa e tentara recuar, mas o zunido de espadas sendo desembainhas fora mais rápido. Antes mesmo que os homens do duque tirassem Bert de lá, os cavaleiros do rei desembainharam.

    As quietas luzinhas a se desorganizarem como não gostou de ver.

    O cavaleiro de verde, Cei Ressen, o Alegre, desembainhou sua lâmina em cruz contra Bert, mas fora parada pela lâmina vermelha com cheiro de vinho. Com a espada do adversário pressionando a sua, Conde Siward atirou-se para frente e desequilibrou o de verde e, então, com um passo leve, voltou para detrás de Bert e agarrou-o pelo braço direito.

    O cavaleiro de armadura vermelha estendeu a mão para levantar o príncipe do chão enquanto Bert chutava o ar, agarrado principalmente por um homem quase idêntico ao seu pai. “Velho tio Siward!”, comemorou consigo Hyd. Ereken pôs-se na frente de Willmina, e a filha notou sua mão vagarosamente indo à espada no cinto.

    Barão Bijik desembainhou sua espada. Os outros cavaleiros: Cei Witenier Nariz-Vermelho, Cei Cortiz Florido, Cei Kers, o Cansado, e Cei Merzt puseram-se à frente do príncipe. Hyd questionou-se, escondendo-se na saia mãe: “Por que estão assim? Não eram amigos? Seus mestres acabaram de se abraçar!”

    E então houve palmas. Hyd não compreendeu. “O duque gostou do que viu?”, pensara. “Talvez tenha enlouquecido! Está gargalhando!” 

    — Hahahahahaha! Isso sim é uma recepção calorosa!

    O cavaleiro de vermelho se levantou e retirou o elmo; atraiu olhares. Era um rapaz de cabelos ondulosos e escuros e olhos púrpuros como ametista, sem um sinal de barba na face ou espinha no nariz grande, mas vermelho como um tomate. “Jovem”, pensou o duque “, muito jovem.”

    — Deveria recatar-me dado minha posição, Vossa Graça, mas do que ri? Não há graça aqui! — apontou para o príncipe caído, que teve de erguer-se sozinho. — Sua Alteza, nosso príncipe, acaba de ser humilhado e golpeado por outrem, e deve ter seu orgulho restaurado! — Apontou para Bert! — E este deve ser punido!

    — Nisso concordo! — gritou o cavaleiro da armadura verde. “Não há cor de nenhuma luzinha nele”, percebeu Hyd. O duque deu um sorriso vermelho e uma olhadela arrogante para o rei, calmo e de olhos bem abertos, e o príncipe, sujo de neve. 

    — Se quer brigar, tô todo aqui! Não dou a mínima! — gritara Bert, soltando-se do conde, que mais parecia Ereken com algumas décadas a mais no rosto.

    — Eu não — respondeu o príncipe sem nenhuma hesitação. 

    Hyd reparou nos homens ali, principalmente no conde, e em como abaixaram suas espadas e a guarda. Willmina pegou-a pelos ombros e pernas e tentou esconder-se na multidão de nobres, porém a menina não conseguia não notar os olhos do príncipe a seguindo. E a multidão crescia. Willmina não conseguiu sair de longe daquilo. Amontoaram-se no círculo desde nobres menores que acabaram de chegar a adestradores de cães do castelo. 

    “Ao menos estão soltando suas armas”, Hyd pensou.

    — Vossa Alteza! O que pensa que está fazendo? — Continuou o de vermelho, alternando o olhar entre o príncipe, o rei e o resto da multidão. — Vai se deixar humilhar assim?

    — Eu não sou homem de armas nem cavaleiro — respondeu ao cavaleiro, tateando o lado vermelho da bochecha. — E nem queria estar aqui… — sussurrou. 

    — Então, Vossa Alteza, escolha algum cavalheiro para ti!

    — Pra mim não faz diferença. — Bert estralou os dedos.

    — Pois que seja eu o honrado!

    O príncipe levou a mão ao queixo, parando por segundos até apontar para um cavaleiro completamente coberto de ferro. Um homem enorme. Era facilmente o maior homem que Hyd já vira e, se fosse da guarda real, tinha a armadura mais simples que já pôde ver: metal forjado e reforjado para proteção. Não vestia decorações, e seu elmo tinha asas pequenas na região das orelhas. Não conseguiu observar nenhuma cor saindo dele. Nenhuma. Forçou a vista e continuou a não ver nada.

    A escolha deixou Cei Witernier mordendo o lábio de baixo. Levantou-se e pôs o elmo alado novamente.

    — Parem com isso! — o rei bravejou, com as papas do pescoço tremendo. Hyd viu o mexer de cada uma, mesmo que já estivessem muito atrás na multidão. 

    — Ah, Rheider! Tenha paciência! — aplaudiu o duque. — Envelheceu e perdeu o senso de humor?

    — Infelizmente cresci em bom senso.

    — E chatice, pelo jeito! — abriu os braços, permitindo boa vista do símbolo de sua Casa, entalhada no colete de linho. — Veja, sempre quis ver seus homens em ação; agora tenho uma oportunidade. — Cruzou os braços. — Mas não seria justo, creio eu… Já sei: vendo que alguém representará seu filho, escolho alguém para representar o filho de meu amigo: Ereken! Lute pelo rapaz!

    Hyd engoliu em seco. 

    — Mãe…

    — Vai ficar tudo bem, estrelinha — ela sussurrou. — Vai ficar tudo bem. Seu pai é invencível. — Sorriu e deu um beijo na sua bochecha. — Nenhum Homem pode contra ele.

    — Então por que estão fazendo isso?

    — Homens são tolos. Vem, vam…

    — A garota ruiva de antes — falara o rei, e Hyd viu que era observada por ele. — Ela é filha do homem de armas que tanto me falou, certo, duque?

    — Sim, por quê?

    — Nada relevante. Cei Witernier, Cei Ressen, auxiliem meu filho Howan a entregar o ovo à senhorita Nianna — o rei brandou, com os olhos contra o filho, que fitava o chão por trás do ombro. — Deixemos o duelo para amanhã.

    Theolor Beesh observou o rei com os olhos tilintando confusão e desgosto. 

    — O que fazes, meu amigo? …Pensei ser uma piada. Acaso enlouqueceu?!

    — … — Coçou o queixo embebe. — Força.

    “Minha amiga virará rainha?” Fitou-a de longe; o rosto de Nianna, que considerava tão inteligente e claro, estava turvo, as sobrancelhas caídas como um desastre. Ao seu lado, o grande Rheider Beesh cerrava seus dentes em dúvida, prestes a quebrá-los. 

    Mas a confusão se acalmou depois que o príncipe entregou o ovo e pediu a jovem Beesh em casamento, na frente de quase todos os nobres vassalos do duque e dos que vieram com os Bloemennen. Ereken fora chamado por seu mestre e, pouco depois, retornou à esposa e filha. Bert logo sumiu da vista de todos da família. 

    — Sire pediu para que fôssemos ao jantar.

    O vento frio do inverno engrossava.

    Os servos rapidamente correram para o salão. Quando chegaram lá, Hyd notou que o lugar fora preparado muito as pressas. Dois cadeirões foram montados no estrado, onde a família ducal e real sentaram lado a lado.

    Os cozinheiros ainda levavam pratos para o mesão no estrado, os serviçais acabavam de por todas as cadeiras nas longas mesas envernizadas. As lareiras ardiam e o cheiro de gordura assada flutuava. Ergueram um segundo cadeirão no estrado, onde Rheider Bloemennen, com Theolor Beesh à sua esquerda, sentou-se. Rheider Beesh recusou-se a sentar com eles, indo para uma mesa farta com conde Siward.

    À direita do pai, o príncipe Howan estava sentado ao lado da princesa Salile e Nianna, com suas duas tranças unidas numa só, à frente do decote do vestido azul e simples. A única vez que Hyd vira Nianna usando um vestido com decote foi no falho terceiro batismo de Bert. 

    Servos passearam com bandejas de doces ainda quentes, bolinhos de queijo rosa, iscas de carne apimentada, tortas de lichia, vinhos condimentados e creme de neve; Hyd babava só de sentir o cheiro. Os Zwaarkind presentes sentaram-se longe dos grandes nobres que propuseram brindes e honras a cada gole. “Estão fazendo comida para cem”, pensou “, todavia ouvi os servos falando que não havia comida para cinquenta guardada no castelo. Desse jeito o inverno será cruel.”

    De tempos em tempos, a menina dava olhadelas à Nianna. Suas pálpebras semicerradas acompanhavam os olhos caídos e sorriso falso. E toda vez, era retribuída, porém pelos olhos do príncipe Howan. Sentia como se sua barriga revirasse de dentro para fora. “Feia e magra”, repetia. Não deixava de notar como seu semblante também se retorcia de tristeza.

    — Vamos voltar para casa — ordenou Willmina, que não deixara Hyd sair de seus braços por mais que ela pedisse.

    — Não podemos. Não posso — respondeu Ereken, pela terceira vez. Sua esposa já estava furiosa. “Pare de agir feito soldado!”, pensara Willmina.

    — Quero ver minha amiga! — respondeu Hyd.  

    — Deixe que eles resolvam seus problemas, filha! Estamos voltan…

    — Cei Ereken — chamou uma serva —, Vossa Majestade lhe chama. A você e sua família. — E foi embora.

    — Deveríamos ter saído quando tivemos chance.

    Willmina suspirou e estendeu a mão para Hyd, mas a filha levantou-se da cadeira sozinha e segurou a mão de seu pai. 

    A mesa do rei era de madeira de aureira, dourada como ouro e farta em pratos que não foram servidos em outras mesas. Duque Beesh estava com as mãos sujas com o óleo de um prato de porco assado mais comum ao norte do reino, já o rei nem parecia ter tocado em seus pratos. Os Zwaarkind logo se aproximaram. 

    Os três ficaram lado a lado em frente do rei, então Ereken prestou ajoelhamento. Willmina abaixou a cabeça, suavizando seu olhar para com os à sua frente. Mas Hyd não fez como eles: reparou um olhar ansioso vindo do príncipe, mas um ainda mais intenso vindo de Nianna e da princesa. “Querem que faça algo?”, imaginou. Nianna gesticulava com os dedos e sussurrava algo que não conseguiria entender se não fosse pela amizade — sua única amiga.

    Por isso levou as mãos à barra do vestido e segurou delicadamente com as pontas dos dedos, como se segurasse uma fina seda abençoada pelos Deuses. Com as costas e queixo eretos, fechou os olhos com um sorriso suave e gracioso, então dobrou os joelhos com a leveza de uma folha caindo em brisa calma — por mais que eles tremessem de cansaço. Mas se esforçara; percebia de soslaio o olhar de aprovação da amiga.

    May hrot in goete nas, Minnen Mafest at Heird — saudara Hyd, de um modo que espantara o rei e deixara os Bloemennen homens particularmente animados. Nianna rira e a princesa fitava a mais baixa ali com uma intensidade ainda maior, com um sorriso que parecia chegar as pálpebras dos olhos.

    — Levantem-se! São estes os Zwaarkind? — questionou rei Rheider Bloemennen, ainda com a coroa sobre a cabeça. — Quem diria que haveria crianças conhecedoras da fala antiga em terras do meu amigo. Este foi um ótimo saber! Ter ed minnen gamad! Contara-me que eram quatro. Onde está?

    — …Ele é o rapaz que bateu no seu filho imbecil — respondeu o duque, limpando a boca em seguida —, mas parece que não está aqui.

    — …Uma lástima. — Segurou uma taça, mas não pareceu que a beberia. — Não faz diferença. Apresentem-se.

    Ereken adiantou-se e prestou uma mesura, dizendo-lhes seus nomes. Nomes comuns, com exceção do nome de Hyd.

    — Soube da sua proeza há quatorze anos, na Barragem, Cei Ereken Zwaarkind. Se metade do que Theolor contou-me for verdade, é mais do que merecedor de seu sobrenome e futuro título.

    — Sou grato — respondeu Ereken.

    — Vai ver isso ama…

    — Soube que canta, senhorita Hydele — a princesa interrompeu o duque, e imediatamente os olhos do príncipe Howan ficaram abertos como nunca. Ela se levantou, sem dar tempo para a resposta de Hyd. — Sinto-me cansada, Vossa Majestade. 

    — Certo. Cei Ressen! Cei Witernier! — Bateu as mãos aos cavaleiros, que estavam em guarda nas pilastras do salão. — Levem-na para os aposentos oferecidos.

    — Quer vir comigo, senhorita Nianna? Também está convidada, senhorita Hydele Zwaarkind. Trouxe comigo uma harpa tão linda, feita de osso de dragão-real, cujo som é tão doce que pode acompanhar sua voz. Soube por Nianna que é linda, e agora percebo que não é somente a voz! Ser-me-á uma graça a tua companhia.

    Hyd observou o rosto de negação de sua mãe. Seus olhos pesavam. Mais azuis e pesados do que qualquer tempestade de trovões que já ouvira. “Estou fazendo mal a minha mãe?”, pensara. “Então é melhor voltarmos para casa.” E olhou à Nianna, que retornou com o sorriso falso. “Por que, Deuses, esse sentimento de revolta está em mim?” 

    — Também estou cansada… Perdoe-me, princesa.

    — Não há problemas, mas peço que fales comigo outrora, então. — Juntou as mãos. — Sinto que gostaremos muito uma da outra ainda.

    Vendo que as duas pararam de conversar, Cei Witernier estendeu a mão como o belo cavaleiro que era e Cei Ressen ficara atrás das donzelas, que saíram devagar. Continuaram as observando até saírem do salão… Hyd apertou a anágua de Willmina, logo então sentiu a mão de fada tocar-lhe o ombro.

    — Vai, mas volte. Vou te buscar mais tarde, viu? — dissera Willmina, beijando sua bochecha e sorrindo-lhe como as fadas dos contos doces.

    Hyd caminhou devagar, com a bengala, em direção à Nianna e a princesa, que não pararam para esperá-la. Deu poucos passos após poder vê-las, reparando que a permissão fora dada porque havia outra pessoa entre os guardas.

    — Cresceu bastante, garota.

    — Nem a décima parte do que queria, tio Siward! — “É um conde, e de onde vem meu vinho.” Tinha planos muito alegres de visitar Árvore Vermelha em breve, seus campos de lichia e casas de mel.

    Hyd fitou o conde com um solavanco feliz dos ombros. Conde Siward tinha as mesmas feições aquilinas do seu pai, mesmo que seu nariz fosse muito mais adunco e seus olhos não fossem dos tons de âmbar. No entanto, vestia-se muito mais formalmente do que seu pai costumava: um manto de pelagem escura sobre um jaquetão de linho branco e lã vermelha trançada como a Árvore Vermelha.

    — Quer ir atrás daquelas duas, não?

    — Por favor… E obrigado por mais cedo, por proteger meu irmão. — Fez mais uma mesura. — Ele é meio… burro.

    — Homens bons são quase sempre assim. Quando o ver, agradeça. — Um bom sorriso se formou no semblante velho do homem.

    — Hehe… — riu sem graça. “Um homem bom não dispensa uma garota que se vestiu especialmente para ele no seu dia.”

    Hyd gostou de como o conde retardava seu passo para acompanhá-la, e de como sua voz, mesmo rouca e áspera, não pesava nos seus ouvidos, e ela ponderou sobre o que ele disse sobre o banquete: foi tão agitado quanto um lago congelado. “Imaginei que seria pior.” Adentram mais uma vez no escuro reino da noite, passaram por um cadafalso de pedra e Hyd percebeu antes de todos Cei Witernier Nariz-Vermelho e Cei Ressen com uma pequena vela, acompanhado da princesa e de Nianna Beesh.

    — Ora se não é a plebeia! — bravejou Cei Ressen, cheirando a vinho e gordura como também sem seu elmo; tinha um rosto desconcertante. — E o velho maldito de mais cedo! — Virou-se para o colega e entregou-lhe a vela. — A que devo a honra?! Veio apetecer nosso príncipe? Pois ele ainda está, burp!, no salão! 

    — Cei Ressen! — bravejou Nianna. O cavaleiro de imediato se abaixou, com seu rosto corado ao frio. O grito do tapa ecoou, e ele a fitou com os olhos trêmulos. — Retire o que disse, agora.

    Cei Ressen levantou-se de supetão e levou a mão para onde não havia uma espada, todavia o conde tinha uma e apontou-a tocando a carótida destacada no pescoço grosso. Cei Witernier o segurava no ombro com força para deixá-lo roxo, se não houvesse a armadura. O cavaleiro com cicatriz na boca grunhiu e arrotou, então se jogou para frente como se desafiasse a lâmina com cheiro de vinho do conde, mas fora parado por Cei Witernier, que bateu fraco em seu peito e desembainhou sua espada.

    — Retire o que disse, Ressen, se clama por sua vida — falara a princesa, com as mãos juntas e um olhar taciturno. O Alegre franziu o cenho cheio de veias saltantes, cuspiu no chão e se ajoelhou perante Hyd.

    — Peço perdão pelas, burp!, minhas palavras, senhorita — levantou suas mãos, tomou a mão esquerda de Hyd e beijou-a com cuidado. Nunca teve tanto desgosto de receber um beijo. — Posso ter a, buurp!, honra de saber seu nome?

    — Já me apresentei… lá atrás. — Seus olhos pesavam de fitar o homem; a barriga doía. — Me chamo Hydele Zwaarkind.

    — De?

    — Despeça-te e saia logo. Ficaremos somente com Cei Witernier.

    — Sim, princesa. Adeus, senhorita. — Prestou uma saudação. — Que o dia de amanhã seja vermelho de tão apaixonante. Espero que seu papai saiba implorar. 

    Hyd sentiu seu peito arder como nunca sentiu antes. Cerrou os dentes e notou sua bengala caindo.

    — Meu pai não vai perder! — bravejara com toda sua força.

    Cei Ressen cuspiu no chão, com um sorriso tão torto quanto suas sobrancelhas e cicatriz nos lábios.

    — Vá embora, Cei Ressen! — ordenou a princesa, mais uma e última vez.

    Ele cuspiu no chão e foi embora, gritando para um gato que cruzou seu caminho.

    — Encarecida e culposamente peço desculpas pelos atos de Cei Ressen e pelos meus, senhorita Hydele — pedira o Cei restante, ajoelhando e com a cabeça tocando o joelho. — Não imaginava que meus atos fossem causar tamanha confusão! Tenho de rever meu código e minhas ações, pois creio que não sou digno de perdão.

    — Está… — “Ele… Ele é bem mais bonito do que tinha visto. Não deve ser muito mais velho do que eu…”, pensou, notando que estava ficando com as bochechas quentes. — Está tudo… bem. — E sorriu.

    — Espero que esteja correta quanto sua afirmação — respondeu o Cavaleiro Galante, presenteando-a com um sorriso e uma saudação longa. Hyd sentira uma batida mais forte no peito, e ele batera no próprio, ressoando brevemente com o metal. — Minha lealdade me exprime o dever de rezar ao meu príncipe. — Ergueu-se, fitando a Zwaarkind como se numa vênia. — Ainda assim, torço para que vossa afirmação esteja correta, Bela Senhorita do Ducado. Meu coração há de vacilar por ti amanhã… 

    Hyd cobriu o rosto com a mão. Sentia o rosto em chamas e o coração ardendo. 

    — Conde Estekenn Siward, Cei Witernier, poderiam nos deixar a sós? — a princesa pediu, sua voz era tão sedosa que a tornava mais feminina do que sua idade permitia. — Nós três podemos voltar a sós, e estamos prestes a ter uma conversa de mulheres.

    — Sua Majestade pediu que eu as levasse…

    — Por favor, Cei — pedira Silale mais uma vez, inclinando a cabeça.

    O cavaleiro fechou os olhos. Hyd não gostou. Os queria abertos. “É um ametista tão belo”, se viu pensando. Suas bochechas ficaram mais quentes. O Cei suspirou e abaixou a guarda por um instante. 

    — Visto que nada acontecerá a vós — olhou de soslaio para o conde —, irei me retirar. — Prestou uma mesura profunda e entregou a vela para a princesa, que se propôs a pegá-la. — Tenham todas uma ótima noite, senhoritas. Que Ilasis proteja seus sonhos.

    — Que assim façam — suspirou o conde, fitando o céu escuro. — Voltem para seus quartos logo. Não têm idade para ficar no escuro assim. 

    “Mas estou enxergando muito bem, tio.” O conde prestou uma longa e digna saudação, então fora embora junto do Cei em direção ao sul. A princesa deu um sorriso alegre enquanto via os dois indo embora. As três cores de cabelo misturados como um novelo de lã nas tranças deixavam Hyd encantada.

    — Obrigada por vir, senhorita Hydele Zwaarkind — princesa Salile começou; fitando Hyd descridamente em como suportava o frio com tão pouco. Salile vestia uma longa e grossa capa de pelagem sobre o corpo e protegia a cabeça com uma enfeitada crespina.

    — E-eu que agradeço. 

    — Bem, em breve será eu. — Ela juntou as mãos, sorrindo e pouco corada. — A verdade é que não lembro onde ficam meus aposentos.

    — Fff! — rira Nianna. Fitou o salão, que não muito longe estava, e suas luzes e músicas cada vez mais fracas. — Querem ir ao meu quarto? Posso servi-las algum chá, se ainda tiverem espaço na barriga.

    O estômago da princesa lhe envergonhou com um grito em voz de sussurro.

    — Pff! Haha! — Nianna coçou os olhos. “Não parece tão madura, agora”, pensou Hyd. 

    — Serei muito grata pelo chá. — Levou a mão ao peitoril do vestido. — Mas posso pedir que vá na frente? Tenho sussurros a dar para a donzela dos belos olhos aqui.

    Nianna não se importou e foi.

    — Não desejas que eles se casem, não? Vejo isso nos seus olhos. Não posso desfazer isso, mas eu sei como podes fazer.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 96% (5 votos)

    Nota