Depois de terminarem a refeição, o grupo se reuniu perto do balcão onde o taverneiro anão estava organizando alguns canecos e limpando a superfície com um pano gasto.

    Ele levantou os olhos para eles, analisando cada um com seu olhar experiente, antes de abrir um sorriso amigável.

    — Então, prontos pra se ajeitarem nos quartos? — disse em um tom caloroso.

    Elara foi a primeira a responder, inclinando ligeiramente a cabeça em agradecimento.

    — Sim, agradecemos pela hospitalidade. Pode nos mostrar onde ficaremos?

    O anão assentiu, secando as mãos no avental.

    — Claro, claro! Vou pegar as chaves — ele virou-se para uma pequena prateleira atrás do balcão, de onde retirou algumas chaves de ferro presas a etiquetas de madeira com a numeração dos quartos — Agora, deixa eu ver… Quartos pra quatro adultos e duas crianças, não é?

    — Isso mesmo, mestre anão — disse Nyara, casualmente apoiando-se no balcão e dando um sorriso que parecia ao mesmo tempo amigável e travesso.

    — É Balrik, se faz questão de saber, gata — Ele devolveu o sorriso com um brilho no olhar — E, veja bem, não sou mestre de nada, só o dono deste lugar.

    Nyara deu de ombros, ainda sorrindo.

    — Então, mestre Balrik, onde ficaremos?

    O anão bufou, mas parecia divertido. Ele colocou as chaves no balcão e as empurrou para o grupo.
    — Tenho dois quartos, um com quatro camas para uma pessoa, o quarto 20, e outro com uma cama grande, geralmente usado por casais, o quarto 13. Vocês podem dividir como acharem melhor. O quarto 20 fica ao lado da minha despensa, mas é aconchegante.

    — Perfeito! — respondeu Nyara. Ela pegou as duas chaves e entregou uma a Ivar — Eu, o elfo e as crianças ficaremos com o quarto 20, ao lado da despensa — disse, balançando chave — Vocês dois podem dividir o 13.

    Elara fica vermelha de vergonha e começa a gaguejar.

    — E-eu d-di-dividir com o I-ivar???

    Nyara faz um joinha da um sorriso malicioso para Elara.

    — Vai que é tua! — ela cochicha no ouvido de Elara enquanto ia em direção ao quarto.

    O elfo, que estava silencioso até então, vai com as crianças em direção ao quarto também.

    — Bem, pelo visto ficaremos ao lado da despensa, vamos crianças. E uma boa noite a todos!

    — I-ivar… se quiser… posso deixar o quarto só para você… — suas palavras estavam cheias de nervosismo.

    — Não Elara, não vejo problema nenhum em dividirmos o quarto, afinal, a cama é grande — respondeu ele, sua voz calma e com um tom relaxante.

    Balrik olhou para todos, assentindo.

    — Então está decidido. Vou preparar o chá da noite pra quem quiser. Se precisarem de algo, estarei aqui até a vela da entrada apagar.

    — Muito obrigado, Balrik — disse Ivar, apertando a mão dele — Tome a chave, Elara. Vai indo na frente, irei logo atrás de você.

    — T-tudo bem, estou indo…

    O grupo começou a se dispersar pelos corredores da estalagem, levando consigo as chaves e um pouco da tensão que pairava entre eles.

    As crianças pareciam mais relaxadas, enquanto Nyara ainda mantinha seu habitual ar despreocupado.

    Ivar, entretanto, ficou para trás por um momento, observando o anão antes de falar.

    — Você viu algo incomum por aqui recentemente? — perguntou, sua voz baixa o suficiente para não chamar atenção.

    Balrik parou de organizar os canecos e encarou Ivar, suas sobrancelhas grossas franzindo ligeiramente.

    — Isso depende. Que tipo de “incomum” você está falando?

    — Humanos? Talvez carregando coisas que não deveriam? — A expressão de Ivar endureceu — Ou algum boato interessante?

    O anão esfregou o queixo, pensativo.

    — Bem, Humanos são raros de se ver por esses lados. Por conta dessa guerra idiota deles contra o mundo inteiro, eles ainda continuam nos reinos ao norte, onde ficam sua terra Natal. Também ouvi disser sobre mercadores que desapareceram, trilhas que terminam em nada. Mas… isso não é incomum nos tempos de hoje.

    Ivar apenas assentiu.

    — Entendido, obrigado.

    Sem esperar mais, ele seguiu para o quarto, deixando o anão intrigado, mas não surpreso.

    Ivar subiu os degraus de madeira que rangiam sob seu peso, mantendo sua postura ereta e seu olhar focado.

    Ele não tinha pressa, mas tampouco hesitava. Quando chegou ao corredor do segundo andar, viu Elara parada na frente da porta do quarto, segurando a chave com as duas mãos como se fosse um artefato sagrado.

    Ela olhou para ele assim que ele se aproximou, seus olhos brilhando sob a luz amarelada das lamparinas.

    — V-você demorou… — disse ela, nervosa.

    — Estava conversando com o taverneiro. Precisamos estar atentos a qualquer movimentação estranha — respondeu ele, sua voz firme e baixa. Ele indicou a porta com um movimento da cabeça — Vai abrir ou prefere que eu faça isso?

    — Ah, claro! Vou abrir… — Elara rapidamente destrancou a porta, tentando parecer calma, mas seus dedos tremiam levemente.

    O quarto era simples, mas confortável. Uma cama grande ocupava o centro do cômodo, com lençóis limpos e uma colcha de lã grossa.

    Havia uma pequena mesa com uma cadeira de madeira e uma bacia para lavar o rosto. O ambiente tinha o cheiro de madeira polida e ervas secas.

    Elara entrou primeiro, ainda segurando a chave como se não soubesse o que fazer com ela.

    Ivar fechou a porta atrás de si e caminhou até a janela, verificando rapidamente o lado de fora. Ele não esperava problemas, mas a cautela era um hábito que não conseguia abandonar.

    — É um bom quarto — disse ele, virando-se para Elara, que estava parada ao lado da cama, ainda visivelmente desconfortável.

    — Sim… é… é aconchegante — ela respondeu, desviando o olhar.

    Ivar caminhou até a mesa e começou a retirar suas armas, colocando-as cuidadosamente sobre a superfície. Ele tirou o manto em seguida, revelando a camisa preta ajustada ao corpo e os ombros largos.

    Elara parecia tentar não olhar, mas seus olhos insistiam em desobedecer.

    — Então… você acha que estamos seguros aqui? — perguntou, mais para quebrar o silêncio do que por preocupação real.

    — Por enquanto, sim — respondeu ele, sentando-se na cadeira. Ele observou Elara por um momento antes de continuar — Você está nervosa?

    Ela quase derrubou a chave ao ouvir isso.
    — O-o quê? Não, não estou! Só… cansada, eu acho.

    Ivar sorriu de lado, um sorriso quase imperceptível.

    — Elara, você não precisa se justificar. Estamos aqui para descansar. Pode ficar tranquila.

    Elara respirou fundo e assentiu, tentando relaxar. Ela se sentou na beira da cama e tirou as botas, mas ainda parecia inquieta.

    — Obrigada, Ivar. Por tudo. Não só hoje, mas… por sempre estar cuidando de todos nós.

    Ele inclinou a cabeça, surpreso com o tom sincero dela.
    — É o que faço. Cuidar do grupo é a minha prioridade.

    Elara sorriu suavemente, finalmente parecendo menos tensa.

    — Mesmo assim, agradeço…

    Depois disso, o silêncio se instalou no quarto, mas era um silêncio confortável.

    Elara sentou-se na cama, e começou a tirar sua espada e suas roupas de viagem, ficando apenas com uma roupa leve, depois ela se deitou e fechou seus olhos, enquanto Ivar continuava na cadeira, observando a porta e a janela.

    A noite prometia ser tranquila, mas para Ivar, descansar nunca era completo. Ele estava sempre à espreita, esperando pelo que viria a seguir.

    Um tempo depois Elara acorda e vê que Ivar está sem suas roupas de viagem e sem camisa, mas que ainda estava sentado na cadeira, olhando para a porta.

    Elara se levantou lentamente, suas pernas um pouco trêmulas pelo movimento repentino.

    O quarto estava mais escuro agora, as lamparinas apagadas e apenas a luz fraca da lua entrando pela janela iluminando os contornos do ambiente.

    Ela olhou para Ivar, que ainda estava sentado na cadeira, agora sem seu manto, com sua real aparência e com o torso nu.

    O brilho de sua pele parecia se misturar com a escuridão, a única coisa visível sendo o seu olhar concentrado e atento.

    Ela parou por um momento, observando-o, antes de tomar coragem e caminhar até ele.

    Seus passos eram silenciosos, mas seu coração batia mais rápido a cada passo.

    — Ivar… — sua a voz baixa e hesitante, como se ele fosse uma presença distante.

    Ele virou a cabeça ligeiramente, mas não se moveu, como se já estivesse esperando por ela.

    Seus olhos estavam calmos, mas havia algo ali, uma intensidade silenciosa que Elara não conseguia decifrar completamente.

    — O que foi? — ele perguntou com suavidade, mas sua voz ainda carregava aquele tom de alerta, como se ele estivesse pronto para qualquer coisa, mesmo naquele momento aparentemente pacífico.

    Elara ficou de pé em frente a cadeira, olhando para ele.

    Era difícil lidar com a proximidade, especialmente com a tensão que ainda pairava no ar, mas ela não conseguia mais fingir que não estava sentindo a mesma coisa.

    O que era aquela sensação? Algo a atraía, algo que a fazia querer entender mais de quem ele realmente era por trás daquela fachada de guerreiro incansável.

    — Você… parece estar sempre alerta — disse ela, suas palavras saindo mais suaves do que pretendia. Ela deu um passo em direção a ele, os olhos buscando os dele. — Por que não descansa?

    Ivar a observou por um momento, seu olhar profundo e pensativo.

    Ele não respondeu de imediato, e o silêncio entre eles cresceu, carregado de um peso que nem mesmo as palavras pareciam ser capazes de aliviar.

    — O descanso não me traz paz — ele finalmente respondeu, sua voz calma, mas com uma pitada de melancolia — Eu nunca soube o que é isso. Sempre houve algo no horizonte, algo que me chama. Eu não posso… Eu não posso me permitir esquecer.

    Elara engoliu em seco, seu olhar suavizando ao perceber a vulnerabilidade que se escondia por trás de suas palavras.

    Ela tinha ouvido rumores, histórias de guerreiros implacáveis e de corações partidos, mas nunca imaginou que o próprio Ivar, o homem em quem todos confiavam para proteger o grupo, pudesse carregar uma dor tão profunda.

    — Eu… eu entendo —  seu tom mais suave agora. Ela hesitou por um momento, então deu outro passo, mais perto — Mas, por favor, pelo menos aqui… com a gente… tente descansar um pouco. Todos precisamos disso.

    Ivar não respondeu imediatamente, mas seus olhos estavam fixos nela. Era como se ele estivesse tentando decifrar a verdade por trás de suas palavras, procurando por algo mais.

    O silêncio entre os dois foi profundo, mas não desconfortável.

    Elara, sentindo-se um pouco mais corajosa, se inclinou ligeiramente para ele, com um olhar sincero.

    — Não estou dizendo que você deve deixar sua guarda baixa… mas… talvez, por uma noite, você possa confiar que estamos todos aqui, ao seu lado.

    Ivar se levantou lentamente, seus músculos rígidos se movendo com precisão e graça.

    Ele parecia ainda muito alerta, mas algo na gentileza de Elara, algo nas palavras dela, fez com que ele se sentisse, por um breve momento, menos sozinho.

    Ele a observou por um momento antes de falar, seu tom agora mais suave, quase imperceptível.

    — Eu farei o possível, Elara. Por você e pelo grupo. Não prometo descansar, mas… vou tentar.

    Elara sorriu levemente, sentindo um alívio inesperado ao ouvir isso. Ela deu mais um passo para frente, indo em direção à ele e o abraçou.

    — Isso já é o suficiente… — ela disse com um tom de agradecimento, que soou sincero e caloroso.

    Ivar permaneceu em pé, não acreditando no que estava acontecendo. Algumas lágrimas saíram de seus olhos, ele retribuiu o abraço, abraçando ela forte, como se fosse o primeiro abraço de sua vida.

    Depois de um tempo se abraçando, eles se olharam, seus olhos brilhavam e seus lábios se aproximavam.

    Eles se beijaram novamente, mas diferente do primeiro, esse foi mais intenso. Eles andaram pelo quarto se beijando e se abraçando. Era uma sensação que ele não sentia há anos.

    — E-elara… — ele diz ofegante — tem certeza? Você quer isso?

    — Eu quero… Ivar, eu quero você. Mas seja gentil, você será o meu primeiro…

    — Tudo bem… não se preocupe, irei com calma…

    Eles então começam a se despir, tocando suavemente um no outro. Eles foram até a cama, onde Elara se deitou e Ivar ficou por cima dela.

    A noite de amor durou até o amanhecer, mas eles não aparentavam estarem cansados, mas sim renovados. Uma renovação que nem mesmo a mais eficiente poção os traria.

    A manhã estava bela, pássaros cantavam do lado fora e era possível sentir o cheiro de pão fresco sendo assado.

    Elara acordou primeiro, surpresa. Ivar sempre era o primeiro a acordar, mas dessa vez, era ele quem estava em um sono profundo.

    Ela ficou ali deitada, observando ele dormir, com um grande e lindo sorriso.

    Tempos depois ele acordou, viu Elara ao seu lado, com quem passará a melhor noite de sua vida depois de anos.

    Agora ele tinha certeza de que não podia ficar sem ela, pois é ela é quem o tiraria da escuridão, das sombras de seu passado, e é ela que trará luz a sua vida.

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