Capítulo 84: Momento de paz com Cogumelos
Tristan acenou e disse para Zahira.
“Está bem.” Ele havia decidido escutar o seu corpo. Era bom aproveitar qualquer oportunidade para recuperar sua energia vital, antes de avançar pelos túneis novamente.
Além disso, aquele lugar parecia seguro para ele. Graças aos habitantes daquela vila ele poderia descansar em um lugar sem estar rodeado por bestas loucas e famintas.
“Certo, hora de comer! Esses cogumelos são deliciosos faz muito tempo que eu não como um.” Ela falou lambendo os lábios. “Você já comeu algo assim antes?”
“Cogumelos?”, ele inclinou a cabeça para o lado e olhou para os pequenos cogumelos cinzentos no chão.”Eles vão deixar você pegar isso sem problemas?
Ela sacudiu a cabeça.
“Sim, eles não se importam.”
Havia um brilho de ansiedade em seus olhos e então ela perguntou. “Você poderia colocar aquelas coisas que deixam a comida mais gostosa? Por favor?”
“Tudo bem.”
Com aquela resposta ela comemorou dando pulinhos de alegria.
“Mas é seguro comer essas coisas?” Ele questionou.
“Claro, eu já comi vários e nunca tive dor de barriga.”
Ele cerrou os olhos e olhou para ela com suspeita.
“Não é porque você é metade Dríade? Não tô afim de comer isso e ver um pequeno cogumelo explodir meu intestino logo em seguida.”
O rosto dela revelava claramente que ela não havia considerado esse fato. Ela ficou em silêncio por um tempo com uma expressão séria em seu rosto, depois de pensar um pouco ela falou novamente. “Buk também já comeu vários, acho que você deve ser mais resistente que ele.”
Tristan olhou para o pequeno coelho-salamandra no ombro dela, ele precisou admitir que ela tinha um ponto válido.
“Certo, colete os cogumelos eu vou acender o fogo.”
Ele olhou ao redor para os incontáveis cogumelos humanóides que andavam de um lado para o outro o tempo todo.
“Tem algum lugar aqui que a gente possa descansar em paz?”
Zahira apontou seu dedo para o topo da cabeça dos cogumelos gigantes. “Aqueles são os lugares menos movimentados.”
Eles marcaram um ponto de encontro e depois se despediram. Tristan coletou os pedaços de madeira secos que estavam no chão, como os cogumelos usavam bastante pedra e galhos para bater nas coisas ou arremessar em alguém, isso estava por toda a parte.
Ele subiu no topo de um grande Fungelite e criou uma fogueira, depois abriu sua mochila e começou a organizar as especiarias.
Não demorou muito para ele ouvir o som de Zahira retornando.
‘Mas que porr…’ O que ele viu o deixou tão surpreso que ele não conseguiu evitar xingar em sua mente.
Completamente contra suas expectativas, o que Zahira trouxe não foram os pequenos cogumelos cinzentos. Mas um Fungelite real, tão grande quanto um humano adulto. Ela jogou aquela criatura no chão amarrado com os cipós do corpo dela.
A criatura caída no chão se debateu e lutou para se soltar.
Tristan virou seu rosto rapidamente de um lado para o outro observando o chão da Vila, assim como suas paredes e o teto. Seu corpo estava em alerta, ele esperava encontrar um exército de Cogumelos marchando na direção deles.
Surpreendentemente para ele, a Vila continuava tão barulhenta e movimentada quanto antes.
Vendo seu comportamento estranho Zahira perguntou. “O que foi? Aconteceu algo de errado?”
“Não entendo, por que eles não estão vindo até nós para esmagar nossas cabeças? Eles não perceberam que você sequestrou um deles?”
“Oh, é isso? Eles perceberam mas não se importam.” Ela disse como se isso fosse algo normal.
Tristan franziu a testa. ‘Eles não se importam?’ De repente uma ideia ousada passou pela sua cabeça.
“Não vai me dizer que é por causa do pó amarelo? Isso nos permite matar eles sem que eles reajam?” Ele perguntou animado, a ideia de ter a chave da destruição de uma espécie era muito interessante.
Infelizmente, tudo que ele ouviu foi a risada bestial de Zahira.
“Céus. Claro que não, eles são burros mas nem tanto.” Depois de mais algumas risadas ela continuou. “É por causa do nosso acordo.”
Ele se lembrou que ela havia dito algo sobre isso anteriormente.
“Dei um saco de nutrientes para eles, aquilo vai enriquecer suas terras permitindo que eles criem muito mais cogumelos. Por isso eles não ligam se eu matar alguns deles.”
Ele ouviu as palavras dela atentamente, guardando aquelas informações em uma área especial em sua mente.
“Diferente de nós eles não tem apego emocional. Tudo que eles se importam é em crescer e expandir sua espécie.”
“Entendo.” Tristan disse.
Depois de sanar suas dúvidas, Zahira se aproximou do Fungelite e transformou seu braço esquerdo em um monte de raízes.
Percebendo a intenção dela, Tristan focou toda a sua atenção nos movimentos de Zahira, ele não tinha ideia de como matar aquele tipo de ser, por isso ele estava muito curioso sobre o método que ela usaria.
Zahira virou a criatura deitada no chão para cima, e então seu braço disparou para baixo. Suas raízes entraram no corpo da criatura como se isso fosse feito de gelatina.
Olhando aquilo, Tristan tinha quase certeza que a área que ela atingiu deveria ser o equivalente ao plexo solar em um ser com aquela constituição.
Em apenas um instante o braço dela subiu novamente, havia algo de formato esférico com tamanho semelhante ao de um coração preso nas raízes dela.
Os movimentos do Fungelite pararam.
“Eu posso ver isso?” Tristan perguntou e Zahira jogou a coisa estranha para ele.
Passando seus dedos pela superfície da esfera ele sentiu uma textura macia e esponjosa.
[Tyrannical Eye]
Com sua habilidade de diagnóstico ele analisou o órgão estranho e o cadáver da criatura, Tristan percebeu que a esfera era mais complexa que todo o resto do corpo do Fungelite reunido. Ele olhou aquilo como se estivesse vendo um filme sobre alienígenas.
Tristan teve que reconhecer que não conseguiria entender muita coisa sobre o funcionamento daquele órgão, tudo que ele poderia adivinhar com toda a sua ignorância era que aquilo seria algum tipo de cérebro.
‘Agora que eu sei que essa coisa existe, talvez eu encontre algo nos Contos que me esclareçam sobre isso.’ Sua prioridade era ver se isso funcionaria para outras espécies de Fungelites, esse conhecimento poderia ser vital em algum momento no futuro. Quanto a outras questões ele considerou não prioritárias, e colocou em sua lista mental de coisas para ver quando ele tivesse muito tempo disponível.
“Então essa é fraqueza deles?”
“Algo do tipo.” Zahira disse. “Se você conseguir destruir uma grande parte do corpo deles eles irão morrer, mas poderá demorar um tempo. Por outro lado, se você conseguir danificar esse órgão na área do plexo solar eles irão definhar imediatamente.”
“Hmmm”, Zahira fazia sons de satisfação enquanto comia o tronco da criatura.
“O sabor é muito mais intenso e a textura é mais firme que os cogumelos normais.”
Ela dava grandes mordidas enchendo suas bochechas com aquela coisa.
“Tem certeza… que não vai querer … experimentar?” Ela perguntou para ele enquanto comia.
“Talvez em uma próxima vez.” Tristan preferiu comer o restante da besta pássaro que ele havia enfrentado.
Depois da refeição ele e Zahira sentaram no chão e assumiram suas posições de meditação.
Ele fechou seus olhos e relaxou sua mente repetindo seus mantras, entrando em um estado de calma e concentração profunda. Em apenas alguns instantes seu instinto o guiou em direção a parte da energia mundial que ele estava sincronizado. Através de sua respiração a essência do mundo lentamente entrou em seu núcleo recuperando a vitalidade de seu corpo.
Muito lentamente.
Em sua mente Tristan sonhou novamente com o dia que ele não precisaria gastar horas para recarregar seu núcleo.
Algumas dezenas de minutos depois que ele entrou em estado de transe ele ouviu o barulho de Zahira levantado. Para sua surpresa ela não voltou a meditar e sim se deitou segurando seu mascote nos braços para dormir.
“Você já recarregou seu núcleo?” Ele perguntou surpreso.
“Sim?”, ela respondeu, havia um pouco de confusão em sua voz. “Há algo estranho com isso?”
“Nada demais. Eu só achei rápido.”
Ele disse isso mas em sua mente ele reclamou. ‘Que vida injusta. Ela consegue recarregar um núcleo mais poderoso em tão pouco tempo, o sangue de seres das lendas é realmente quebrado.’
Tristan voltou a se concentrar em sua meditação.
Mais de seis horas haviam se passado, seu núcleo não estava nem na metade da sua capacidade máxima, porém ele estava se sentindo muito bem. Nós últimos dias ele não teve outra escolha além de manter seus sentidos em alerta o tempo topo. No entanto, naquela vila de criaturas estranhas ele estava cercado por incontáveis seres que praticamente ignoravam sua existência.
Ele achou aquele ambiente muito confortável.
Até que abruptamente sua paz foi rasgada por um som estrondoso.
Tristan levantou com a agilidade de um gato guiando toda a sua atenção para a fonte daquele caos.
Ele olhou para cima e viu as rochas do topo da caverna despencando. De um buraco recém-aberto, uma criatura colossal irrompeu – uma centopeia monstruosa. Mesmo que o monstro estivesse longe com seus olhos aprimorados ele foi capaz de ver perfeitamente que na superfície de seu exoesqueleto preto havia uma série de desenhos estranhos gravados.
Tristan achou aquelas símbolos familiares.
‘Runas?’

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