Quando poderosas magias surgiram no céu, como um meteoro e uma imensa parede de fogo, os Adesir se uniram mais ainda. Habilidade como aquelas eram produzidas por pessoas contadas nos dedos, e aprendizes estarem sendo tão agressivos em um treino, Foton desconfiava de que não seria páreo nem para o mais fraco deles.

    Estava claramente mais afastada, cuidando de algumas tarefas que Esfinge havia dado a ele. Aumentar a força de uma armadilha ou auxiliar um dos Adesir a criação de defesas mágicas. Ele somente ficou ao lado de cada um deles, vendo as nuvens e raios descerem como se o mundo tivesse sendo destruído.

    Um Adesir combatia inimigos que nenhum Arcano poderia. Eles estudavam as artes ofensivas, para que as pessoas comuns pudessem viver em paz. O brilho dos raios, a cor das chamas, os meteoros gigantes. Era isso que o esperava do lado de fora?

    Estava preparado para uma luta assim?

    – Foton – Esfinge o chamou. – Ajude Marlo em outra defesa. Está começando a escurecer, temos que saber quem vai voltar.

    Ele acordou do seus pensamentos indecisos.

    – Sim, senhora.

    I

    Foco e Ricon se enfiaram dentro de uma esfera azulada enquanto os Arcanos os cercaram. Por quase duas horas, Foco manteve sua mana liberada. Círculos de fogo, disparos, rajadas de luz, até mesmo pressão gravitacional. Estavam sendo aterrorizados.

    A pressão em seu peito aumentava ao ponto dele começar a respirar menos do que o costume.

    – Não aguento mais – falou baixinho. – Estou no meu limite.

    Ao seu lado, Ricon ainda desenhava uma parte do círculo mágico. O rosto de Foco estava pálido, a boca seca e olhos caídos. Parecia ter perdido uns anos de vida só naquelas horas.

    – Não desfaça ainda – disse, desesperado. – Estou quase terminando. Me dê cinco minutos.

    Os Arcanos se moveram unidos. Círculos mágicos criados ao redor de seus braços e alguns preparando um golpe maior.

    – Cinco minutos, Foco – Ricon falou mais uma vez. Seus dedos começaram a se desalinhar no chão. As linhas verdes estavam quase perto de se alinharem. – Segure um pouco mais. Só mais esse. E juro pra você que vamos conseguir voltar.

    Foco fechou seus olhos lentamente e sua cabeça começou a descer. Os rachados do escudo, pouco a pouco, se espalharam. Ricon ergueu a cabeça. A parede verde que o protegia se desfez em cacos. Os Arcanos todos lançaram suas magias.

    Ricon levou sua mão ao círculo.

    Um cubo de vidro surgiu da pedra. As magias colidiram contra o escudo e foram absorvidas. Ricon sorriu. Então, o cubo brilhou e as magias foram devolvidas aos seus donos mais velozes e mais rápidas.

    – Esse é o meu ‘Espelho de Sansara’, seus babacas. – Gargalhou em vitória. – Podem fazer o que quiserem, ele não vai quebrar tão facilmente.

    Suas palavras não levaram muita confiança aos Arcanos. Entre eles, um não havia se movido até aquele momento. Era forte e usava o grande manto sobre os ombros largos, no entanto, não havia criado nenhum tipo de magia, até o momento.

    – Deixem eles comigo – disse o Arcano. – Achem a Chama Sagrada, depois voltem. Temos que nos reagrupar.

    – Certo.

    Os Arcanos começaram a pular, um por um, pelas rochas em níveis mais básicos. Aquela era a direção exata de onde o grupo estava. Ricon não tinha como parar eles, não quando seu espelho estava ativo.

    Não conseguiu segurar aquela quantidade de inimigos nem mesmo por mais de uma hora. Agora, estava em desvantagem já que Foton estava desacordado. Ele não tinha sido tirado do Jardim, então, seu corpo ainda estava aceitável para o teste.

    Perde uma pessoa era entregar três inimigos para alguém que já tem de enfrentar três inimigos. Era começar um massacre em cima de seus aliados.

    – Eu entendi como sua magia funciona – o Arcano disse. Ele descruzou os braços e atirou um feixe de ar que foi engolido pelo espelho. – Você simplesmente rebobina um ataque contra seu usuário criando recriando o alvo. Estou correto?

    Sua tranquilidade não era um bom sinal. Pessoas calmas eram mais racionais. Ricon preferiria lutar contra um lunático.

    – Bom, não deixa de ser uma boa magia. – Ele deu passos na direção de Ricon e parou diante do Espelho. – Cada magia possui uma falha um tanto quanto especifica, para criar algo que rebobina, você refez para que sugasse a mana.

    Ele passou o braço para fora do manto negro, seus músculos eram perfeitamente erguidos, tensionados somente por fechar o punho. As veias se alongaram e ele mostrou seu sorriso. Ricon estremeceu.

    – Você não levou em consideração os golpes físicos.

    Seu ombro foi levado para trás e girou a cintura lateralmente. Puxou a maior quantidade de ar e prendeu. O braço que já era assustador ganhou uma energia fraca liberada. Ricon girou de costas e pulou para cima de Foco.

    O soco estremeceu o Espelho. Faíscas escapuliram da rachaduras e o tranco levou Ricon e Foton a serem lançados para longe, jogados do outro lado, em outro rocha. O Arcano segurava um dos fragmentos do espelho que se desfez lentamente.

    – Um Adesir tem uma grande quantidade de conhecimento e uma responsabilidade enorme – disse com clareza. – Ainda estou tentando entender porque as pessoas acham que somos tão diferentes.

    A imensa quantidade de tempo para criar o ‘Espelho de Sansara’ repercutiu em um baque quase completo no corpo de Ricon. Conseguiu segurar Foco e tirá-lo da linha do ataque, mas o impacto fez suas pernas dormentes. Se movimentar era impossível.

    Ele se colocou de costas para Foco, olhando para o Arcano vindo em sua direção.

    – Somos diferentes – ele admitiu. – Mas, não é porque temos títulos diferentes. Você mandou todos os seus amigos para onde os meus estão. Eu fico para assegurar que nenhum dos meus seja tirado daqui.

    – É um treinamento, não existe morte ou vida nesse lugar. – O Arcano parou dois metros deles. – Os Arcanos são mais unidos, por isso, é mais fácil para confiarmos uns dos outros. E você, a quem vai confiar agora?

    Ele pisou no peito de Ricon, pressionando não somente ele mais Foco também.

    – Onde está seus amigos? – Ele pressionou a barriga de Ricon, sufocando-o lentamente. – Vamos, ainda não ouvi sua resposta.

    A boca de Ricon se abria, não conseguia puxar o ar. A cor do seu rosto mudando para um vermelho, olhos esbugalhados. A mente começou a desligar.

    – Essa é a diferença – disse. – Lentos até mesmo para serem derrotados.

    A cabeça de Ricon tombou para trás, no peito de Foco.

    O Arcano se virou. Alguém o esperava, um Adesir, segurando o pescoço de um dos seus colegas, que o jogou para o lado. Era uma pessoa diferente, com serenidade no olhar e movimentos refinados.

    – Posso saber o que estava fazendo com eles?

    – E quem seria você? – O Arcano respondeu. Seu instinto dizia que não era muito bom ficar longe do inimigo atual. O instinto estava dizendo que o perigo era real. – Amigos desses dois?

    – Sou Enigma, é um prazer.

    O Adesir uniu as mãos e separou, criando um centelha elástica.

    – Me chamo Ourin.

    Ele usou as pernas para criar tensão na rocha e se aproximar de Enigma com velocidade. Ao começar a cair, imbuiu mana em seu braço direito e golpeou o ar. A rajada surtiu efeito, mas com um mover de dedos, a trajetória se desfez.

    Ourin usou o braço esquerdo quando ficou mais perto. Explodiu a rocha, mas Enigma saltou para trás. Ao levantar a cabeça, duas linhas partiram ao seu redor, tentando enroscá-lo. Ao repelir seus braços com um grito de guerra, as linhas se desfizeram.

    Pulou para mais perto, e pisou em algo azulado. Uma crosta de gelo subiu pelas suas pernas, congelando seus movimentos. Ourin encarou Enigma, a linha azulada estava ligada ele.

    – Não é suficiente.

    Bruscamente, ele puxou a perna de dentro do gelo. Tirou o manto grosso das costas e tensionou os músculos com tanta rigidez que liberou um urro.

    – Você é um usuário de magia corporal. – Enigma puxou duas estacas do solo rochoso. – Vai aumentar força e velocidade em ataques a curta distância. Sua fraqueza é a distância de um golpe para outro.

    Enigma era perigoso. Já tinha entendido como sua magia funcionava. Só não podia ceder diante dele.

    – Outros já disseram isso para mim, acabaram do mesmo modo que seus amigos.

    – Não são meus amigos.

    Aquilo o surpreendeu.

    – Então, realmente não liga se eu tirá-los do treino? Suas forças vão diminuir e nada conseguirão a noite. Outro grupo está indo agora para onde a Chama está. Estou somente pegando os desgarrados.

    – Que interessante pensar isso. Acabei por destruir um grupo de dez pessoas faz pouco tempo, e contando com os que estavam com você, acho que são quinze agora. – O Adesir girou a estaca em cima da própria palma em uma velocidade que suas pontas sumiam. – Mas, tem uma pessoa esperando que eu volte. E não vou decepcioná-lo.

    – Que bonito – Oriun zombou. – Não tive um oponente a altura, Enigma. Por favor, me entretenha.

    II

    – Está quase na hora – Esfinge gritou para os restantes. O ataque dos Arcanos não era impressionante. Estavam usando magias por cima dos rochedos, tentando criar uma fenda entre eles. Ela conseguia segurar muito bem as magias já que boa parte delas acertava o solo ao redor.

    Os sete Adesir simplesmente se espalharam e estavam contragolpeando. As pedras começaram a serem explodidas e os gritos de ordens dos Arcanos soava em ritmos acelerados. O silêncio dos Adesir era uma afiada espada mirada para seus corações.

    Mestre Hambo a ensinou que ninguém poderia ser inteligente se gritasse como louco. A mente estratégica lidava com o momento atual e como o futuro incerto poderia ser moldado. Colocar três sentinelas foi arriscado, mas os números dos inimigos foram cortados quase pela metade.

    Dos trinta Arcanos, somente uns quinze estavam presentes. Era um milagre sendo realizado.

    – Trapo, agora.

    O Adesir de robe laranjado liberou o ‘Sopro da Repulsa’, fazendo as magias dos Arcanos perderem a direção e voltarem contra as rochas. O vendaval foi parado por um dos Arcanos que dissipou o ar com uma esfera de água gigante.

    – Elefant – Enfinge berrou mais uma vez.

    A mulher bateu as duas palmas e pilares de chamas subiram ao seu redor, colidindo contra o vórtice gigante. O contato dos dois elementos explodiu em uma camada de vapor.

    A fumaça fez com que os golpes parassem. Esfinge buscou seus companheiros ao redor. Estavam todos de pé ainda, alguns mais afastados. Foton, no entanto, estava com uma jovem, fazendo algo estranho com as mãos.

    A mulher se levantou depois, era Bellana. Tinha caído por pressão de magias de vento, mas seu pé parecia bem melhor depois de Foton conversar com ela.

    Ele tinha alguma magia para aliviar a dor? Era isso que Enigma o protegia tanto?

    Outro grito dos Arcanos de cima. Esfinge focou-se novamente na batalha.

    – Mais uma vez – gritou ao redor. – Segurem por mais uma hora. Conseguiremos segurar-

    Uma das rochas estourou acima dela. As pedras se libertaram. Esfinge não se moveu. Estava vendo ser esmagada completamente. Alguém foi lançado contra as pedras, a quebrando em outras peças menores.

    O baque ao seu lado. Ela se desequilibrou e caiu sentada. As pedras ao seu redor. Encarou o homem ao seu lado. Era musculoso, estava sem camisa, com cortes nos braços e pernas. Ele se levantou sem ligar para ela e urrou como um urso.

    Ele tensionou as pernas e saltou para o meio da fumaça novamente. Chamas brilharam no meio do caos e os Arcanos começaram a lançar magias novamente. Os berros e urros continuaram a aumentar.

    – O que é aquilo? – Bellana se aproximou com Foton. – Alguém está lá? Você não disse que os sentinelas tinham caído?

    Esfinge se levantou.

    – Acha que eu sei? Mas, aquele era Oriun. Ele é um dos aprendizes do Mestre Piey. É uma máquina de lutar.

    – Droga – Bellana praguejou. – Se ele também está aqui, então, temos que recuar mais. Junte todo mundo, vamos levar a Chama para longe.

    Esfinge continuou observando a estranha comoção dos Arcanos.

    – Espere. – Ela apontou. – As magias deles, não somos o alvo.

    – Por isso temos que levar a Chama agora. – Bellana reuniu todos os outros. – Vamos avançar mais a fundo do desfiladeiro. Preciso de alguém para carregar a Chama.

    Trapo foi em frente.

    – Eu levo.

    A capsula foi jogada em cima das costas dele. O grupo começou a se movimentar rapidamente para fora da área, mas Esfinge ficou recuada. Era Enigma ou Foco que estava brigando contra Oriun daquela forma?

    Ela tinha que saber.

    Quando outra explosão aconteceu no solo, era o Adesir quem tinha sido arremessado, mas manteve-se de pé, somente arrastando os pés pelo terreno arenoso. Ela bateu na própria roupa, tirando a poeira.

    Era Enigma.

    – Está durando bastante – disse. – O que aconteceu, Oriun? Está cansado?

    Esfinge olhou para o Arcano agarrado em um dos buracos das paredes de pedra. As marcas de punhos e socos eram recentes e sangue escorria de sua boca. Ele apertava o maxilar, bem irritado.

    – Você está acabado, Enigma.

    – Seu corpo pode ser forte contra golpes físicos, mas quem diria que sua fraqueza é tão alarmante.

    Oriun era um dos poucos aprendizes com o potencial de chegar a ser um Adesir em três anos. Tinha conseguido ganhar a confiança do Mestre Piey com sua força e coragem, e nunca tinha sido derrotado em um combate a curta distância.

    Qualquer coisa que Enigma estivesse fazendo, o efeito era devastador. A pele do Arcano parecia amassada e remendada.

    Novamente, Oriun se jogou para baixo. Seu punho erguido com um brilho avermelhado. Enigma não se mexeu. Ele ia bater de frente contra aquele soco? Oriun era quase uma máquina de destruição. Idiota era quem achava que poderia vencê-lo no corpo a corpo.

    Mas, ele separou as pernas e puxou o braço para trás.

    – Nem que eu tenha que perdeu meu braço, Enigma. Ganharei de você.

    Os dois punhos se encontraram. O abalo criou rachaduras abaixo dos pés de Enigma. Oriun tocou o solo e armou mais um soco. Eles competiram novamente. Os Arcanos pararam de usar magia, Esfinge também ficou estagnada. Os Adesir que ficaram para trás voltaram.

    A luta entre Oriun e Enigma estava sendo o palco principal. Nunca antes o aprendiz do Mestre Piey tinha sido pressionado a usar tantos golpes diferentes. Diante de Enigma, eles competiam entre um embate de forças.

    Cada movimento era agoniante para o ar que parecia gritar. Os dois pareciam feras selvagens em busca do prêmio mais alto, a glória eterna. Eram invencíveis.

    Oriun, então, mudou a postura de sua mão, ajeitando para a garra. Seus dedos se contorciam mirando rasgar o adversário em várias partes com sua força. Enigma respondeu abrindo sua palma, unindo seus dedos lado a lado.

    – ‘Destroços de Piey’.

    A garra desceu com lâminas afiadas materializadas pela mana.

    – ‘Repressão’.

    Os dedos de Oriun se contorceram para o lado contrário. Ele soltou um grito que assustou os que assistiam. Enigma se aproximou agilmente e segurou seu pescoço, mas seu rosto também foi agarrado por Oriun.

    Os dois começaram a trocar socos e chutes perto um do outro, como animais loucos procurando sobreviver a qualquer custo. Ambos pareciam se unir e separar em diversos momentos, como tintas jogadas em um mesmo quadro e limpa com água despejada por cima.

    Assim, quando Oriun fez Enigma soltar um grito de dor, Esfinge engoliu em seco. E na mesma medida, Oriun berrou desesperado.

    – Eles vão continuar assim até quando? – Marlo questionou tão assustado quanto os outros. – O corpo deles vão quebrar dessa maneira.

    – Acho que sabem disso – Esfinge respondeu, atônita. – Acho que sabem muito bem.

    Enigma, então, se desvincilhou do aperto de Oriun, mas não se afastou. Acertou um tapa em sua cara e recebeu um soco no peito, o fazendo recuando dois passos curtos. Fechou a mão e pagou com a costela sendo acertado na mesma medida no rosto.

    Por um segundo, os dois pararam de se bater e respiraram fundo, voltando logo em seguida a agressão.

    – Isso não vai terminar – Esfinge estava convicta. – Eles vão se matar.

    Sequencialmente, Oriun levou os dois braços ao redor de Enigma e o agarrou, levantando-o do chão. Começou a apertá-lo ao ponto de fazer com que seus gritos continuassem aumentando e aumentando.

    – É o ‘Aperto de Tons’ – Bellana disse. – Ele vai esmagar Enigma até que ele perca a consciência ou morra.

    O que fazer? Era a melhor luta entre aprendizes que eles tinham visto em anos. Uma disputa acirrada de golpes atrás de golpes, entre um aprendiz que era perito em combate corpo a corpo e um que nem mesmo era conhecido.

    Enigma tocou em seu próprio corpo e Oriun foi forçado a colocá-lo no chão. Tinha aumentado seu peso e agora encostou a mão na barriga dele.

    – Se quer tanto me jogar para fora do Jardim, então vamos juntos.

    Oriun olhou para baixo e viu as linhas vermelhas crescendo sobre sua pele.

    – O quê?

    – ‘Explosão de Quinto Grau’.

    Oriun encarou Enigma. A explosão.

    O terreno balançou em um terremoto violento. O desfiladeiro sacudia de um lado para o outro enquanto os rochedos eram varridos pelo ar. A explosão lançou os Adesir e os Arcanos para longe, sendo pegos no processo.

    Um buraco de quase trinta metros tinha sido deixado no chão e ninguém estava lá para ter a vitória. Não era a magia em si, mas a descarga de mana liberada junto do fogo e do ar foram suficientes para levar todos os demais para fora do Jardim.

    Quem tinha ganhado?

    III

    Grison não estava impressionado pela batalha. Em Senbom, Enigma tinha lido o irmão morto que era perito em combate corpo a corpo. O que ele estava fazendo contra Oriun era simplesmente uma réplica de suas memórias mais profundas.

    Ele usava os movimentos para ganhar vantagem, mas o final, Oriun teve a oportunidade de abraçá-lo. Usar a explosão era simplesmente um ato de suicídio, de sacrificar a si mesmo para um objetivo maior, que era a Chama Sagrada.

    Bom, pelo menos se os outros aprendizes tivessem fugido para longe. A explosão arremessou todos presentes para a enfermaria.

    Enigma tinha que ter sido menos destrutivo. Mas, perfeitamente racional quanto suas escolhas.

    Os Arcanos, do outro lado da sala, falavam constantemente contra Piey. Mestre Kona tinha retornado com mais reclamações. A mulher não se calava nem mesmo quando não havia outros tentando debater.

    – Está me dizendo que aquilo é normal? – Quando ela gritava, todos os outros se calavam. – Aquele homem simplesmente explodiu todos ao seu redor como se não fossem nada. Ele é um psicopata. Um maníaco.

    – Senhor Piey – Urik, Mestre Arcano, falou pela primeira vez. – Detesto ter que concordar, mas Mestre Kona tem um ponto especial. Esse Adesir não considerou nada além de si mesmo. As magias usadas, a forma como tirou os aprendizes do Jardim, e isso agora.

    – Ele nem parece pensar como um Adesir – Vinica, outra Mestre Arcana, disse, calmamente. – Sabemos o que acontece quando se treina alguém com uma mentalidade dessas.

    Piey usava as mãos para apaziguar as locomotivas, mas não estava surtando efeito.

    – Por que simplesmente não falam sobre ele? – Julis ficou de pé, mais irritado do que antes. – O Miserável era um Arcano antes de se tornar um Adesir. Não usem a culpa do passado para simplesmente dizer sobre a mentalidade de alguém.

    Hambo e Ipon, ambos Mestres Adesir, ficaram do lado de Julis.

    – Se não me engano, são os Arcanos com a maior taxa de expulsão por métodos irracionais – Hambo manteve o tom agradável e respeitoso. – Enigma é treinado por Mestre Grison, e creio que ninguém aqui tem maior controle de um aprendiz do que ele.

    Irada, Kona gritou de onde estava.

    – E por que eu deveria acreditar em um Adesir? Vocês são simplesmente caçadores de monstros que não existem mais. Agora, começaram um cativeiro de aprendizes sem cérebros. Vocês não são nada além de ferramentas.

    – Ficar com raiva não vai adiantar em nada. – Grison levantou-se do banco. – Mestre Piey, declare um empate ou vitória para os Arcanos, se eles quiserem. Não tenho interesse em permanecer ouvindo sobre a capacidade dos meus aprendizes ou da minha. É perda de tempo.

    Piey concedeu a afirmação em um gesto de mãos.

    – A diferença entre um Arcano e um Adesir nunca vai ser o que fazemos, Kona – Grison disse ao chegar a porta em direção para a enfermaria. – Mas como fazemos. Quer tanto ganhar esse treinamento, fique com ele e peça um troféu.

    Ele saiu.

    Não somente ele, mas todos os Adesir saíram da sala. Grison fez o caminho curto até a enfermaria. Ao entrar, Enigma e Foton estavam juntos, sentados em uma cadeira enquanto curativos eram colocados no peito do primeiro.

    Eles eram fortes, os dois. Aprendizes como aqueles dois, corajosos e dispostos, não se via todos os dias. A sorte de ter encontrá-los, Grison sabia bem o quão abençoado tinha sido. Duas criaturas com um potencial que ia longe.

    A lição mais dura não era ensinar a derrota, era ensinar sobre um vitória vazia.

    No quarto, todos os outros aprendizes eram tratados por enfermeiras e alguns médicos, incluindo Oriun e Katrina, os dois afastados dos demais. Habilidades diferentes e ótimas, com limites ainda não definidos, mas completamente mal treinados.

    – Os dois – chamou alto seus dois aprendizes, andando em suas direções. Enigma e Foton ergueram-se. – Esse treinamento só funcionou para me mostrar que os dois ainda possuem falhas que devem ser reparadas. Não preciso dizer que explodir todas as pessoas custou não somente a derrota, mas também uma dor de cabeça que terei que reter por uma semana. Enigma, sua ação é completamente fora dos padrões que a Torre Mágica aceita. Seus métodos fora da curva deixaram Arcanos tão furiosos que estão até agora reclamando.

    Pela primeira vez, Grison viu seu aprendiz meio receoso ao levar um bronca.

    – Isso se dá pelo fato de que você é um Adesir. – Grison pressionou ainda mais. – Quanto mais você for diferente, mais vão falar sobre seus métodos. Eles não enxergam seus méritos, então, como seu mestre, terei que reconhecê-los. Entretanto, sua punição é estudar todas as formas as plantas medicinais que estão na biblioteca.

    Enigma encarou Grison, temeroso.

    – Não, por favor, não, mestre. Me perdoe, por favor. Não faça isso.

    – Não existe volta.

    Enigma abaixou a cabeça, entristecido.

    Ervas medicinais, na biblioteca, existiam cerca de 500 livros diferentes, sendo que cada um deles possuí plantas e folhas iguais, com propriedades diferentes. Ou seja, era como ler a mesma coisa centenas de vezes.

    Para alguém que amava ler, era a própria morte.

    – Mestre – Foton falou abertamente. – Eu irei ajudar Enigma.

    – Não. Nem pensar. Sua defesa ainda é falha. Continuará praticando sua defesa em combates comigo.

    Grison deu de costas, prestes a sair.

    – Darei um dia para que se recuperem de seus ferimentos, se não estiverem prontos, eu vou carregá-los como animais em cativeiro. Se querem ser um Adesir, então, terão que ser me superar. – Ele olhou para trás, como se buscassem todas as pessoas na enfermaria. – Ultrapassem seus mestres e sejam melhores do que eles. Não em poder, mas aqui.

    Seu dedo tocando a testa gerou uma comoção entre os aprendizes.

    A diferença não era o que fazer, mas como fazer. Criar uma centelha de ordem na mente de aprendizes que perderam isso durante os anos de treino, mostrar um caminho onde ainda não se trilhou, perpetuar com firmeza.

    Vão além, aprendizes. Além da fenda que separa a nossa antiga geração.

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