Capítulo 26 - O Ponto Baixo do Submundo
Lorde Gruu acendeu um dos cigarros e tragou o gosto agridoce lentamente. Metade dos seus produtos era enviado diretamente pelos seus clientes mais acessíveis. Eram homens e mulheres espalhados pelo feudo de Luzin que procuravam uma vida mais fácil, e mesmo que isso não fosse possível nos meios tradicionais, confiavam a ele a chance de mudar seu rumo.
– Senhor – Jontar apareceu por uma das portas, carregando a bainha de uma espada em mãos. – Retornei da minha curta viagem.
– E vejo que ela foi melhor do que aparentava. – Gruu sorriu para Jontar. – Diga-me, como mestre Krill está?
O Arcano entregou a arma para um dos criados de pé ao lado de Lorde Gruu. Jontar era muito conhecido pelos domínios de Gruu. Era um subordinado leal e bem centrado. Uma missão era dada a ele, e ela poderia ser considerada feita. Nem mesmo os homens de Crawl ou de Luzin, nem criaturas medonhas que espreitavam pela floresta surtiam efeito sobre ele.
Era uma arma leal que Gruu aprendera a usar em seu máximo.
– Está fazendo armas, como qualquer ferreiro. E pelo que parece, descobriram que a doença do contador foi feita por alguém. Um outro Arcano, talvez. – Jontar pegou uma uva e comeu. – Está sendo protegido por um Adesir.
Gruu ficou aliviado ao ouvir.
– Ele levou meu conselho a sério. As oficinas ferreiras e marceneiras são as mais valiosas atualmente. Luzin está perdendo os seus trabalhadores, e Crawl não está conseguindo colocá-los em ordem.
– Qual o próximo plano, meu senhor?
– Seguiremos o mesmo. Enfraquecer o domínio de Crawl abertamente e aumentar os nossos silenciosamente. – Maneando a cabeça, apontou para a espada. – Mestre Friy terá a espada, mas sabemos bem que ele não vencerá. Esse será o presente que daremos para o Senhor da Casa Norte, de Luzin.
Jontar demonstrou certa curiosidade, mas se manteve calmo.
– E por que faria isso? Senhor da Casa Norte é um nobre que apoia Luzin e Crawl cegamente. Ele nem mesmo fez questão de nos receber para uma reunião.
– Uma negação momentânea não quer dizer que ele nos despreza, Jontar. Pelo contrário, ele não quer que falemos, se conseguirmos penetrar em sua mente, essa confiança pode desmanchar. O presente será para que ele saiba que nossos interesses são comuns em certas partes.
O Arcano não respondeu mais a sentença, e mudou de assunto.
– Quando ao Adesir, eu fiz um registro de todos os que foram convocados para a reunião na Torre Mágica. Ele não é um mestre, nem mesmo recebe o título propriamente. É um aprendiz.
– Um título é só uma forma de recriar desigualdades. Ele pode ser o que quiser ser. Krill o aceitou e não posso fazer nada além de esperar que desempenhe sua função de guarda-costas com êxito.
O desconforto que Jontar tinha com Adesir era o mesmo desde sempre. Gruu nada poderia fazer para amenizar aquela desavença. Seu irmão de sangue foi morto em um ataque fazia dez anos, e um Adesir poderia tê-lo salvo. Lembranças dolorosas são as que mais marcam um ser vivo.
– Me desculpe ir contra as suas palavras, meu senhor. – Jontar fez uma leve reverência. – Não queria ser rude.
– Não chegou nem perto de ser. Como um dos meus braços, sua função é alertar sobre qualquer perigo eminente. E a realiza com total pericia. Crawl e Luzin deveriam temer mais a você do que a mim. – E sorriu. – Tê-lo comigo é uma dádiva.
A porta lateral do salão se abriu. Wert e Lesin entraram. Os dois irmãos carregavam um rosto idêntico, sendo diferenciados apenas na cor dos olhos e nos cabelos cortados. Usavam uma mesma vestimenta, couraças e calças gibões, ambos altos.
Se curvaram diante Gruu.
– Meu senhor. – Wert ergueu a cabeça. – Chegou uma carta vinda do Vilarejo Imperial. Parece que Crawl tentou atacar outra oficina.
– Tentou? – Gruu pegou a carta e a leu em voz alta. – “Lorde Gruu, dois ladinos tentaram invadir minha oficina. Um dos bastardos teve sorte de fugir, mas o outro foi capturado pelo Adesir que tem tomado conta de tudo aqui. Creio que temos muito a conversar porque as informações que obtive são relativamente muito importantes e que não me importo de repassar. Como prova de minha verdade, o nome do homem que está preso atualmente é Mecni.”
Gruu apertou a carta, olhando para uma das paredes. Mecni era o nome do filho da puta que virou as costas para ele quando o dinheiro falou mais alto. Era um mercenário que simplesmente foi embora quando Crawl ofereceu duas vezes seu preço. Sem honra e sem lealdade.
– Senhor – Jontar o chamou. – É importante?
– Bastante. Quanto tempo temos até os preparativos do combate de Friy e Raino?
– Uma semana, eu acho. – O Arcano deu de ombros. – Por que isso é importante agora? A carta fala sobre algo dele?
– Mais importante que isso. Wert, meu querido, mande preparar uma carroça simples. Jontar e eu vamos até o Vilarejo Imperial.
Wert e Lesin tiraram seus joelhos do chão e saíram andando. Jontar ficou e não ainda não havia entendido. Gruu se juntou a ele em uma caminhada para os estábulos.
– Mecni foi pego – disse, finalmente. – O Adesir pegou ele tentando roubar a oficina.
Jontar não demonstrava nada além de indiferença, mas com o passar dos anos, Gruu havia descoberto sinais de surpresa. A sobrancelha dele fazia um pequeno arco, era ali que se escondia suas emoções.
– E está mantendo ele preso? Mecni conhece muitos meios de fugir de uma prisão.
– Estou tão surpreso quanto você. Se Mecni tem informações sobre Crawl e seus planos, podemos interceptar algumas das provisões e criar alarde nas rotas de suprimento dele. Se Luzin perder o ponto de controle dele no Vilarejo Imperial, terá que recorrer aos vilarejos menores.
– Que temos influência – Jontar ligava os pontos facilmente. – Os ferreiros são só uma forma dele tentar criar ainda mais controle nos demais. Como os mercenários precisam de armas, vai ter o domínio perfeito das milícias e dos soldados.
– E não podemos deixar isso acontecer.
II
A carruagem parou ao lado da casa de Krill. Gruu desceu e entrou pela porta lateral. Krill já o esperava, dando olhadas para todos os lados. Jontar entrou depois dele.
– Agradeço por ter vindo tão rápido, senhor – o ferreiro disse com um aceno com a cabeça. – E peço desculpas. Falei que não queria atrapalhar-
– Assuntos como esses devem ser priorizados. – Gruu abanou a mão. – Posso ver Mecni?
– Claro que pode. Ele está na oficina, Enigma estás tomando conta dele.
Entraram na sala e depois a oficina. Perto da fornalha, um homem tinha seus dois braços esticados e a parede parecia engolir suas mãos. Sentado, suas pernas tinham as mesmas condições, o solo havia engolido seus pés. Era realmente Mecni sentado? O semblante abatido não era do seu feitio. E quem tomava conta dele, de costas, a postura relaxada de pernas e braços cruzados.
– Enigma – disse, fazendo o homem se virar. Ele se levantou e veio o cumprimentar com um aperto de mãos. – Sou Lorde Gruu, sou dono de muitas propriedades pelo feudo de Luzin.
– Krill falou sobre o senhor. Conhece meu nome, então, não preciso me apresentar.
Ele falava abertamente. Gostou dele logo de cara.
– Esse é o homem que tentou invadir ontem?
– Sim. O outro conseguiu escapar com uma pedra de teletransporte. – Sua voz era uma de fracasso. – Achei que não teriam uma consigo, por isso não imobilizei os dois antes. Um erro que pode ter cobrado caro.
Gruu não concordava.
– Esse homem sentado, ele se chama Mecni, pertencia a minha antiga filiação.
– Eu sei. Foi contratado por cerca de dez moedas de ouro por mês, mas Crawl ofereceu duas vezes o seu preço. – Enigma manteve o olhar sustentado sobre o prisioneiro. – Vendeu a si mesmo por um preço. Depois de você ter acolhido ele como um dos seus. Isso é lamentável.
A pergunta estava na ponta da língua, mas quem a fez foi Jontar.
– Como você sabe disso? – O Arcano se apresentou, mais sério do que calmo. – Essa não é uma informação que ele daria a bom grado.
O ferreiro se colocou entre Jontar e Enigma.
– Se acalme, por favor.
– Enigma – Gruu disse – como você conseguiu essa informação dele?
– É minha magia. Posso arrancar qualquer informação de alguém simplesmente tocando nela. – Sua mão estava protegida por uma luva, mas ele fez questão de tirá-la. – E posso ver qualquer coisa. Assim, eu soube o motivo dele ter traído vocês, sobre uma rota de fuga, sobre os planos que Crawl tinha com os ferreiros, sobre as pessoas do Vilarejo que são contratados para tomar conta do comércio e sobre o estoque de armas que ele guarda.
Magias ocultas realmente existiam. Pessoas que nasciam abençoados e amaldiçoados por uma magia que era diferente de todas as outras. Conjurações, criações absurdas, transmutações, até mesmo a imortalidade. Nunca tinha conhecido alguém com uma habilidade de ler os outros.
O quão isso era importante, o quão era preciosa.
– Eu pedi para anotar todos os postos que Crawl tem no Vilarejo e as estradas que ele usa para chegar a capital sem que vocês consigam interceptá-los. – Com um puxão, o rolo saiu de uma bancada e caiu em sua mão.
– Senhor Gruu – Krill permanecia nervoso. – Por favor, eu sei que é um pouco difícil de entender que esse idiota possa fazer essas coisas, mas leia.
– Uma prova. – Jontar tomou a iniciativa de entregar o braço. – Quero que me leia e diga algo que somente eu sei.
Enigma não pareceu muito aberto aquele pedido. Um Adesir era somente uma pequena parcela dos grupos mágicos que viviam no Grande Continente, e menor ainda estando ao sul. A probabilidade de que um deles tivesse uma magia oculta era pequena até demais.
O Adesir simplesmente fez o que foi pedido. Demorou somente cinco segundos, e a face dele mudou. Enigma encarou Jontar com um pouco de rigidez.
– Seu desgosto por um Adesir é bem largo. Conheço a história de sua perda e conheço o nome que você procura. – Ele voltou a pôr a luva. – O Miserável é procurado até hoje
pelos Adesir.
Não era falso. O ódio de Jontar era simplesmente mirado para um único homem, e o título que ele carregava era só um pretexto para que não se misturasse a iguais. O Miserável deixou seu irmão para morrer em seu lugar.
Jontar permaneceu parado, como se processasse o que havia sido dito. E recuou de cabeça baixa.
– Você tem uma habilidade que outros dariam a vida – Gruu falou. – Por que você se tornou um Adesir? Com ela, poderia ser qualquer pessoa, poderia ser quem quisesse.
– Não tenho interesse nisso. Meu pedido era proteger Krill, e estou fazendo isso. Esse Crawl deve ser derrubado, e tenho certeza que ele já deve estar se preparando para alguma coisa.
– Ele pode tentar. Agora que temos as rotas deles, podemos cortar a linha com Luzin. Ele é somente um peixe pequeno que deve ser apagado. – Gruu esticou a mão para ele e se cumprimentaram ligeiramente. – Seus atos renderam muitos frutos hoje. Sua habilidade é algo que muitos gostariam de ter, se precisar de algum trabalho, qualquer dia, estou a sua disposição.
– Meu objetivo é o mesmo que o seu, Lorde Gruu. Ainda tenho alguém para achar, um Arcano que está injetando veneno em pessoas do Vilarejo.
– Ah, então você já sabe sobre a intoxicação que Crawl vem criando? – Gruu estava realmente impressionado com a velocidade de recolha de informações. – O que descobriu? Existe algo que possamos fazer para ajudar?
– A Terra de Suan – respondeu.
Jontar ergueu a sobrancelha, descaradamente.
– Suan, o Deserto Negro?
– Eu tenho somente um pequeno frasco que usei para ajudar o pai de Cristine. – Calmo, ele fez uma pausa. – A Torre Mágica é muito restrita quanto a encomendas, mas meu antigo mestre me deixou trazer um pouco. É impossível reproduzir seus atributos.
– Gosto de coisas impossíveis. – Gruu encarou Jontar. – Mande uma mensagem para Wert, diga a ele para que nossos amigos ao norte achem essa Terra de Suan. Se conseguirmos produzir um antídoto para essas maluquices de Crawl, podemos vencê-lo sem fazer muito esforço.
O Arcano obedeceu a ordem saindo imediatamente. Mecni, aos poucos, ergueu a cabeça. Aqueles olhos, Gruu lembrava bem da primeira vez que o viu.
– Lastimável. – Sentou na cadeira, decepcionado. – Eu te encontrei dessa mesma maneira, cerca de três anos atrás. Um cordeiro amarrado jogado contra os lobos, pronto para ser devorado em uma guerra que sequer conhecia. O acolhi como um filho, como a minha família. E onde enfiou a sua lealdade? No meio da bunda.
O ladino ainda permanecia o encarando, os cabelos jogados sobre o rosto e cansado, suado.
– Mesmo que eu tenha raiva de você, seu mestre é duas vezes pior. Por isso, vou deixar que Enigma escolha o que vai fazer. – Esperou o Adesir passar ao seu lado. – E então, o que vai ser?
– Para os Adesir, a penalidade para os traidores é a morte. Mas… – pareceu desistir da ideia – minha missão não envolve nada sobre matar um homem. Assim como aqueles que te deixaram viver, eu deixo essa opção para Lorde Gruu.
Os olhos de Mecni voltaram para Gruu.
– Consegue perceber, Mecni? Isso é lealdade. Um homem que deixa de lado sua emoção porque a missão dele está acima de qualquer coisa. O dinheiro ou uma vida, o que define seu preço é sua escolha.
Jontar havia retornado para a oficina. Gruu o recebeu de pé, já pronto.
– Prenda-o. Vamos levá-lo de volta e lá faremos o que for preciso. – Gruu foi até Enigma. – Muitas pessoas gostariam de tê-lo como um amigo. Sua capacidade de coletar dados é acima de qualquer média, de qualquer batedor, de qualquer um que eu pudesse contratá-lo. Eu sou uma dessas pessoas que faria de tudo para ter alguém assim ao meu lado.
– Sei o que quer dizer. Minha estadia no Grande Continente será longa, se precisar de mim para algo, me contate.
Gruu aceitava aqueles termos. Em apenas uma semana, um problema que se arrastava por quase três anos estava sendo quebrada ao meio. Seu mentor, um antigo general, sempre dizia que quando uma peça do tabuleiro era ignorada, ela se tornava a mais perigosa.
Se o continente fosse um tabuleiro, ignorar uma peça como Enigma era suicídio.
– E sobre os doentes – continuou Gruu – eu farei o necessário para trazer a quantidade para que todos sejam levados. Eu espero que você possa interceptar o Arcano que está adoecendo eles.
– Cristine disse que ele sempre vem no final da semana. Se eu considerar algo importante, eu enviarei uma carta direto a você. – Enigma era como uma pedra, sua face indiferente e seus olhos gélidos. – Depois disso, espero que possa acabar com Crawl para que pessoas como Krill não sejam mais feridos.
– Não se preocupe. Os dias daquele homem estão contados. Minha estadia aqui não pode ser demorada e já estou passando do ponto. Os olhos de Crawl estarão nessa casa, então, tomem o dobro de cuidado.
Krill se despediu com certa resistência e Cristine sequer o colocou em seus olhos. Gruu conhecia a fama que carregava, do infame e cruel, daquele que governava pequenas áreas pelo feudo simplesmente por puro prazer.
A fama e a verdade eram duas linhas paralelas. Se possível, manter a fama como crueldade era a melhor opção. Homens temiam a morte e amavam a vida, e apenas a crueldade tinha o poder de ordenar ambas.
O Vilarejo Imperial era comandado por um homem cruel, Crawl Luzin. Um bastardo do rei Luzin. Ele enviou seu pequeno ratinho para tomar um lugar, e a máscara de crueldade se formou ali. Crawl podia ordenar que matassem, que incendiasse, escravizasse. A única ponta que ele deixou fora era que seu adversário era ele.
A máscara de crueldade era posta na frente do rosto em momentos como aquele.
Ao entrar na carroça, Jontar e Mecni já estavam sentados, esperando. A porta se fechou e os cavalos trotaram adiante de volta para casa.
– Pode matá-lo, Jontar.
O Arcano o olhou. Sem piedade, ele retirou uma faca escondida por debaixo do manto e enfiou no peito do ladino. Sem soltar um pio, a boca de Mecni se encheu de sangue. Gruu assistiu a morte lenta de um dos homens que mais confiou em vida.
A lealdade era só uma parte do acordo. A vitória era o todo. E não a daria para ninguém.
III
Haivor esperou o Arcano no dia seguinte. Sentado no chão da sala, ele não desgrudou os olhos do livro sobre Alquimia Básica, do renomado Spirit Samo. Um dos Magos mais incríveis da história. Doenças e ervas, minérios e elementos da tabela periódica. Spirit tinha sido o pioneiro em moldes reacionários, que envolviam mudanças na composição de remédios.
O Arcano, não importava quem ele era, estava sendo pago para espalhar aquela doença. Era um homem sem honra, sem coragem, que estava indo por meios sombrios. A vitória era tão importante assim para que métodos tão sujos fossem usados?
O mundo das sombras, de poderes maiores que um Adesir, eram combatidos com feitos e efeitos sem um pingo de dignidade? Não era diferente de como as pessoas de Senbom faziam, gostava de roubar, de tentar uma vida fácil, sem ao menos dialogar.
O poder era tão importante?
A porta recebeu duas batidas.
– Entre – disse.
O homem entrou. Enigma o reconheceu na mesma hora. Era o Arcano que tinha esbarrado em Krill na praça, quando chegou ao Vilarejo. Olhos fundos e um queixo quadrado. O manto mais escuro do que a maioria, e seus braços escondiam-se abaixo dele.
– Soube que o senhor Kauros foi enviado para cá.
Enigma se levantou, lentamente.
– Você que tem tomado conta dos doentes do Vilarejo?
– Faço o que posso. – Sua voz não saiu tão convincente. – Eles possuem algo que ainda não descobri. Ter trazido ele para cá foi arriscado. O corpo dele ainda está fraco, pode ser que piore.
– Não acho isso. – Enigma enfiou o livro de alquimia de volta no anel. – Ele tem estado muito melhor do que nos outros dias. Por isso, queria encerrar sua vinda. Tomaremos conta dele de agora em diante.
O Arcano piscou algumas vezes, confuso.
– Como ele tem melhorado? O que fizeram?
– Eu ainda não tenho certeza, mas usamos algo que os Adesir chamam de Terra de Suan. – A cara dele se contorceu. – Falei com um antigo amigo meu e ele disse que a doença pode ser menos contagiosa do que parece.
– Isso é estranho. Nunca tinha ouvido de algo parecido. A Terra de Suan não faz parte do Deserto Negro?
Enigma assentiu.
– E também é incrível como uma doença que ninguém sabe o nome ter se espalhado dessa maneira. Se fosse contagiosa, ela deveria ter afetado a todos os moradores, não foi o que aconteceu. – Enigma fingiu uma certa preocupação. – Meu amigo diz que pode ser pior do que parece. Por isso, ele pediu para que você não venha mais.
– Eu poderia falar com o senhor Kauros?
– Infelizmente, não.
Enigma fez um movimento de dedo. O Arcano nem teve tempo de reação. O solo se deformou ao redor dele velozmente, o prendeu dos pés ao pescoço. Ele tentou se debater, até mesmo criar círculos mágicos, nada ocorreu.
– Nem precisa se esforçar em sair dai. Eu anulei o espaço entre a madeira e os seus braços. Sem espaço, nenhum círculo mágico poderá ser criado. Isso te deixa preso. – Ele se aproximou do Arcano. – Quando te encontrei na primeira vez, eu tive certeza que vocês são todos parecidos, desde a Torre Mágica até aqui no Grande Continente. Achei errado.
– O quê?
– Os Arcanos da Torre Mágica podem ser insuportáveis, mas eles são corajosos para lutar de frente, usando armas mais claras. Vocês gostam de brincar com a vida dos outros para serem melhores, para estarem acima dos outros.
– Certo, certo. – O homem se acalmou. – Eu falo o que quiser. Não me mate, por favor.
– Te matar? – ele riu. – Por que eu faria isso? E não precisa dizer nada. Tudo o que eu preciso – sua mão foi direta para a testa do Arcano – está aqui. Obrigado por vir até mim. Caçar formigas é cansativo.
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